Outubro Rosa na NFL


Começa na semana 4 da temporada 2011-12 a terceira campanha anual da NFL na luta contra o câncer de mama e incentivo à sua prevenção, em conjunto com a Amercian Cancer Society (ACS). A parceria entre as instituições começou em 2009 e gerou certo espanto pela maneira agressiva que a liga aderiu a causa, inserindo a cor rosa em todos os equipamentos usados no campo de jogo e permitindo que o público tivesse acesso a eles através de lojas, com o dinheiro das vendas revertido para a ACS. Os jogadores abraçaram a proposta, agiram como líderes e o movimento ganha força a cada ano.

Os resultados são nítidos e a ACS tem conseguido cumprir a meta de alertar as mulheres de fazerem anualmente uma mamografia ou exame de toque e, caso seja notado uma anormalidade, que busque um médico para tratar enquanto é tempo. Somente no ano passado, as campanhas da ACS, incluindo o palco maior que é a NFL, evitaram a morte de 898 mil pessoas em todo o EUA, o que a associação chama de “celebrações de aniversários” - os Estados Unidos têm cerca de 12 milhões de sobreviventes de câncer.

A liga trabalha como um todo neste trabalho e conta com a ajuda de grandes empresas que patrocinam as atividades e propagandas; entre elas estão a Procter & Gamble, Eletronic Arts, Barclays, PepsiCo., Topps e Panini. Além destas tem as que patrocinam todos os clubes e colocam rosa em seus produtos:

- Adidas: luvas
- Gatorade: toalhas, copos, squeezes
- Nike: chuteiras, luvas
- Reebok: chuteira, luvas, faixas e bonés
- Riddell: Capacetes
- Under Armour: luvas
- Wilson: bolas e toalhas dos quartebacks

Grande parte destes produtos recebe o autógrafo dos atletas e entram num leilão dentro do site oficial da NFL. No ano passado, somente nesta ação, foram arrecadados mais de US$ 1 milhão de dólares.

Cada franquia também desenvolve seu trabalho particular e começa a realizá-lo a partir do primeiro domingo do mês (dia 2). Eis alguns exemplos do que acontecerá:

- No jogo de domingo à noite (2) entre o Baltimore Ravens e New York Jets, o hino nacional americano será interpretado pela estrela da country music Martina McBride. Seu atual single, “I’m Gonna Love You Through it”, do álbum "Eleven", é tido como um hino pelos que lutam (lutaram) contra o câncer de mama – no campo estará ao seu lado 50 sobreviventes de câncer. Baltimore vai entrar na campanha num gesto adotado por várias cidades do mundo, iluminando os principais monumentos do município com a cor rosa.

- Também neste domingo (2), o Cleveland Browns vai a data para fazer um evento especial ao receber o Tennessee Titans no Cleveland Browns Stadium. Aliás, o estádio foi sede da caminhada anual contra o câncer de mama organizado pela ACS em Maio deste ano.

- Na sexta (7), anterior ao jogo contra o Philadelphia Eagles em casa, o Buffalo Bills dará inicio na sua participação unindo forças com o governo local e prefeituras da região oeste do estado de New York. Neste dia os jogadores da franquia serão os responsáveis por ligarem as luzes rosa que iluminará em Outubro as Cataratas do Niágara.


- O Indianapolis Colts vai aproveitar o jogo em casa contra o New Orleans Saints em 23 de Outubro para iniciar sua parte na campanha - duelo transmitido para todo o EUA através da rede NBC. Antes da partida haverá uma homenagem a sobreviventes do câncer de mama. Os torcedores que entrarem no Lucas Oil Stadium ganharão como cortesia um laço rosa, símbolo da campanha, assim como pins e cards.

Serão 5 semanas de intensa promoção, uma digna ajuda da NFL e seus membros, colaborand para este alerta que a cada 12 meses é lembrado. O mais legal disso tudo é que os jogadores apóiam a ideia sem receio e usam rosa normalmente, o que fora considerado reprovável em tempos passados. Confira alguns dos itens* que você ira ver em campo neste mês de Outubro na NFL:













*Propriedade da NFL. Direitos reservados.
(GL)
Escrito por João da Paz

Os sérios problemas das concussões no futebol americano sintetizados em Nolan Brewster

A carreira do safety Nolan Brewster, da Universidade Texas, terminou nesta segunda 26 de Setembro. O departamento médico dos Longhorns comunicou a imprensa o afastamento definitivo do atleta do gridiron. Lesões no cérebro que o acompanham desde os jogos no high school (ensino médio), foram agravadas nesta curta temporada da NCAA, sua terceira (junior). Na partida contra a UCLA em 17 deste mês, Brewster saiu de campo após uma super pancada que causou dolorosas concussões. Exames detalhados foram realizados e o DM recomendou que, para o bem da sua saúde, abandonasses o esporte.

Uma decisão extremamente delicada para um garoto que viveu sempre com uma bola oval em mãos. Porém o lado agressivo do football o afetou drasticamente. Se continuasse, o futuro seria pior do que passar os dias com a certeza de que escolher não ser mais jogador foi a opção sábia. Entretanto as enxaquecas e dores de cabeça lhe farão visitas periodicamente

Brewster sentiu fortes dores após o encontro contra UCLA em Los Angeles. Kenny Boyd, preparador físico de Texas, passou a fazer repetidos exames com o safety, justamente por saber do seu passado de concussões. Conversas com a família e com o treinador Mack Brown fizeram que Brewster, bem ciente da situação, optasse por desistir do football.

Isto mostra o quanto pode ser grave e nocivo as inúmeras pancadas que são distribuídas durante um duelo de football. Se no profissional (NFL) esta preocupação é gigantesca e lesões cerebrais ocorrem com frequência, no universitário (NCAA) e no nível escolar (high school) a proporção chega a ser maior. Pesquisas de universidades americanas indicam que por ano são diagnosticadas cerca de 67 mil concussões em atletas no nível escolar.

O capacete é utilizado para proteger e questões são abertas para ver se isso é posto em prática pelas empresas fabricantes. As três plataformas de football nos EUA são alvos de testes para melhorar a resistência deles e o mais recente tem sido realizado na NFL nesta temporada 2011-12. Alguns jogadores estão usando capacetes com sensores que calculam a força exercida na cabeça a cada pancada recebida. Estes dados são transmitidos diretamente a uma central que analisa se esta força passou do limite considerado normal. A ideia é ver se cada jogador de uma posição específica precisa de uma proteção maior em determinada região do capacete do que os de outra posição. Assim podem ser criados capacetes diferentes para linebackers, para receivers, para safeties...

Estas apurações são levadas a sério porque pode salvar vidas. Em 2007 o jornal The New York Times fez uma busca de dados e reportou que em 10 anos, de 1997 a 2006, 50 jogadores do high school em mais de 20 estados americanos morreram devido a lesões na cabeça. Um número preocupante.

Fora isso há os que ao envelhecer passam a sofrer problemas mentais, falta de memória, enxaquecas, depressão... Sintomas que estão presentes no cotidiano de Adrian Arrington, ex-jogador de football que processa a NCAA por negligência - ação protocolada neste mês. Nos autos é prescrito que a NCAA não sabe lidar com as concussões por possuir um ineficiente programa para educar os jogadores sobre os riscos vitais destas lesões. Arrington, além de buscar ressarcimento financeiro, pede que estas políticas da NCAA mudem e que seja criado um programa que cuide dos atletas machucados durante sua vida, uma espécie de monitoramento; alerta também para que se criem novas diretrizes sobre as concussões.

A NCAA responde mostrando que faz um lembrete as universidades sobre o plano que têm sobre as lesões cerebrais. Este informa aos jogadores e times sobre os sintomas indicadores de concussão e ordenam que nenhum atleta permaneça em campo após sofrer uma pancada forte na cabeça; e nem exerça sua atividade em campo neste mesmo dia.

Nesta crescente preocupação sobre as concussões e o mal que pode trazer a quem é vitima de uma delas, é esquecido um detalhe: existem as pequenas lesões na cabeça que passam despercebidas, aquelas que não chegam a nocautear um jogador, mas causam um danoso impacto no cérebro. Quem colocou este debate em voga foi um professor de engenharia biomédica da Universidade Purdue (West Lafayette, Indiana) chamado Eric Nauman. Ele verificou em alguns alunos de nível escolar, graves lesões cerebrais; o que chamou atenção dele é que nenhum destes atletas que seguiu de perto foi vítima de uma super pancada, são contatos corriqueiros e que fazem parte do jogo, como um encontro na linha de scrimmage ou um simples tackle ou bloqueio.

Boa discussão a ser posta, já que o cuidado com a cabeça não deve só ser advertido ou acompanhado com cautela naqueles que são agentes ou vítimas de super pancadas – embora são estes últimos que chamam mais a atenção.

Brewster treinava para distribuir estas pancadas. Fazia isto bem e, apesar de não ser titular, era considerado um coringa no jogo defensivo de Texas – por estar em ano de NFL, os olheiros o viam promissoriamente. Desafiado a dar 100% em campo e o melhor de si dentro das quatro linhas, Brewster fazia o que lhe era ordenado e exigido. Fatalidades o levaram a ter concussões que ameaçavam sua qualidade de vida. Assim disse à imprensa “Sei que no meu coração isto [abandonar o football] é a melhor coisa a se fazer. Simplesmente sei que não posso continuar me preocupando sobre isto [concussões] piorar, sabendo que posso arriscar meu futuro”.

Há um empenho massivo nos três estágios do football nos EUA para controlar estas super pancadas e cuidar melhor das vítimas – assim como punir com braço forte os culpados. A NFL é que tem de administrar com cuidado esta situação por ser o principal exemplo. A liga profissional, representada pelo comissário Roger Goodell, procura avisar suas franquias sobre as políticas de concussões e punir rigorosamente os responsáveis em causar estas lesões.

Um notório caso mostra bem contra o quê a NFL tem que lutar. No mais recente confronto entre Atlanta Falcons e Philadelphia Eagles, Dunta Robinson, safety dos Falcons, atingiu com violência o receiver Jeremy Maclin, lance que lembrou uma pancada de Robinson contra outro receiver dos Eagles, DeSean Jackson, em 2010 – ambas jogadas são mostradas no vídeo abaixo:



Como Cris Collinsworth, comentarista da NBC, diz no final deste take: “É assim que as pessoas se machucam seriamente neste jogo”.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Longhorns Media

Moneyball: outro livro que virou filme

O jornalista e escritor Michael Lewis volta a ser assunto. Depois de ter sua obra “The Blind Side” transformada em filme (“Um Sonho Possível”), outro trabalho seu ganha formato cinematográfico: Moneyball: The Art of Winning a Unfair Game (tr. Moneyball: A Arte de Ganhar um Jogo Injusto). A estreia do filme - Moneyball - nos EUA será nesta sexta feira (23). O protagonista da película é Brad Pitt, no papel de Billy Beane (foto acima), principal foco do livro que conta como foi a temporada 2002 do Oakland Athletics, time da MLB.

Lewis decidiu acompanhar um campeonato inteiro junto do clube da Califórnia após ver dados interessantes publicados no site Baseball Prospectus. Doug Pappas escrevia por lá ideias que defendiam a eficiência de alguns clubes da MLB baseado na construção do elenco não necessariamente com jogadores de renomes, famosos. Ele destacava os Athletics por fazer este trabalho muito bem, dedicando-se as estatísticas para buscar uma melhor formação da equipe. Lewis achou isso tudo fascinante e encarou passar a temporada 2002 completa com o time verde e amarelo.

Em 2001 os Athletics fizeram uma ótima campanha: 102 vitórias – 60 derrotas. Lewis torcia pela manutenção desta performance e assim aconteceu, terminando a temporada seguinte com uma vitória a mais. Então muitas experiências foram vividas neste período e algumas estão relatadas no livro. Porém a perspectiva tomada de concentrar a hipótese em números não atraiu, logo após o seu lançamento, os fãs mais fiéis do beisebol. Mesmo os dirigentes não entendiam muito do que se tratava. Depois de avaliações de críticos e assimilação da mensagem pela mídia, que reportou a qualidade do livro, as pessoas passaram a comprá-lo, a falar dele nas conversas informais e assim o sucesso (enorme) pegou carona.

Moneyball foi best-seller da prestigiada lista do jornal “The New York Times” por meses e sua vendagem ultrapassou a marca de 1 milhão de cópias. Lançado em 2003, hoje o livro é exigido em muitas universidades americanas, leitura obrigatória nos cursos de economia, administração e gestão.

Estes aspectos geraram uma dúvida quando o assunto filme foi mencionado. Como fazê-lo? A dificuldade seria criar um roteiro bem compacto, adequado as histórias contadas nas páginas de Moneyball. A produção do filme teve problemas com roteiristas e seus rascunhos; num deles a própria MLB teve que intervir por achar que elementos inadequados estariam sidos associados à liga (sexo, aposta, excesso de bebidas...).


O que sustentou o projeto foi Brad Pitt, super astro de Hollywood que abraçou (literalmente e em sentido figurado) o personagem Billy Beane e não o deixou escapar. Esta aproximação o ajudou a entender mais o que pensava Beane naquele ano de 2002. Pitt conviveu com o diretor de beisebol dos Athletics observando seu comportamento no âmbito profissional e pessoal. Absorveu traços e gestos, atitudes e manias, tudo para interpretá-lo de uma forma bem realista. Beane gostou da ideia, deu muitas dicas e assim ganhou um novo torcedor para os A´s.

A direção do filme buscou qualificar bem as principais características daquele tempo para não encaixar a película na “caixinha-de-filmes-que-não-são-tão-bons-quanto-os-livros”. Um detalhe curioso foi o cuidado com o estádio nas filmagens, procurando manter os traços de 2002. Para tanto até os patrocínios da época foram recolocados em seus lugares, o mesmo com as estruturas de arquibancada que sofreram modificações ao longo de 9 anos.

Na meta de transmitir através das imagens e sons o máximo de realismo possível, a produção convidou para uma participação especial os profissionais Ken Korach (atual narrador oficial dos A’s - rádio), Greg Pappa (atual narrador oficial do Oakland Raiders – NFL) e Glen Kuiper (atual narrador oficial dos A’s - televisão) e não entregou script a eles. Pediu que falassem sobre os jogos que aparecem no filme de forma natural, mais fluente, na tentativa de recriar o clima que acontece num jogo de verdade.

Claro que não dá para fazer um filme sem pequenas adaptações, não tem como ser estritamente fiel a um livro, por exemplo. São necessários dramas, emoções e suspenses extras. Contudo uma das cenas mais empolgantes pode até parecer coisa de roteirista hollywoodiano causador de momentos só possíveis no cinema, mas de fato aconteceu.

Os Athletics estavam numa incrível série de 19 jogos invictos. Na partida da provável vigésima vitória na sequencia, Oakland vencia fácil, em casa, o Kansas City Royals e na terceira entrada estava 11 corridas à frente (11 a 0). Porém, inesperadamente, os Royals empataram e a corrida que igualou o placar aconteceu na primeira parte da nona entrada. Ainda restava uma chance de virada por parte dos A’s antes da prorrogação. E ela veio, num home run de Scott Hatteberg... Com a vitória, a 20ª seguida, os Athletics estabeleceram um novo recorde na Liga Americana, bem difícil de ser batido – o anterior de 19 vitórias pertencia ao Chicago White Sox de 1906 e New York Yankees de 1947.


O registro cinematográfico vai perpetuar este conceito criado por Billy Beane, mostrado no livro, aplicado (hoje) por todos os clubes da MLB e agora exemplificado em encenação. Moneyball virou sinônimo de tão popular que o termo ficou, explicando as ações das franquias em montar seus respectivos elencos no alicerce chamado sabermetrics, conjunto de estatísticas mais avançadas e cheias de minúcias. É tanto pormenor que chega a deixar o jogo de beisebol chato ao invés de descomplicá-lo – embora o intuito seja o contrário.

Mas o filme não se desgastará muito nessa de sabermetrics, apesar de ser importante para a trama. Não fará para não se tornar de complexa compreensão. De qualquer modo, é mais um grande marco nesta relação Hollywood e beisebol, que nos entregou grandes filmes para o deleite dos amantes (ou não) do esporte. Com Brad Pitt estrelando, Moneyball ganha status de blockbuster e tem tudo para ser um estouro de bilheteria.



(GL)
Escrito por João da Paz


*Veja o trailer*

Ryan Fitzpatrick atravessou a porta estreita e passa pelo caminho apertado

Dizem que toda brincadeira tem um ponto de verdade.

Em 2005, um técnico de um dos clubes da NFL disse na semana do draft que não escolheria o quarterback Ryan Fitzpatrick “porque não quero alguém no elenco mais inteligente do que eu”. A frase foi seguida de risadas, mas a “piada” gerou um sorriso amarelo e sem graça. Os dias daquele draft foram se estendendo até que na sétima rodada, escolha número 250, o Saint Louis Rams pegou o QB formado em Economia pela conceituadíssima Universidade Harvard.

Assim Fitz era conhecido: “o QB de Harvard”. O prestígio de estudar numa das melhores universidades do mundo lhe trouxe prejuízos por justamente, como ele mesmo brinca, escolher o emprego que ser formado em Harvard não acrescenta muita coisa – ou pior, subtrai.

Não deu certo com os Rams nos dois danos que lá ficou. Ingressou em Cincinnati, mas também não vingou nos Bengals por mais de dois anos. Até que chegou em Buffalo, só que nada de luxo no começo: tinha que lutar por uma vaga no elenco final do time da temporada 2009-10 composto por 53 jogadores.

Conseguiu um espaço no time como terceiro QB. Os treinos o fizeram ser o QB número 2. Então vem os rótulos de reserva veterano. Em 2009 jogou como titular em 8 partidas, nada suficiente para garantir o emprego na temporada seguinte. O QB Trent Edwards começa o campeonato de 2010 como titular, porém perde a posição no final do mês de Setembro e num duelo contra o New England Patriots, Fitz volta à titularidade.

Levou três jogos para a prorrogação (perdeu todos) e venceu quatro partidas. Aquele cara que veio para completar o elenco mostrou em campo a qualidade de um grande QB e em 2011 os Bills decidiram fazer dele o quarterback titular na semana 1, algo inédito em sete anos de carreira.

Só a diretoria e comissão técnica dos Bills acreditavam que Ryan tinha competência para guiar o clube rumo às vitórias. Os torcedores mostravam receio, a mídia desconfiança. Uma equipe da ESPN especialista em NFL, chamada de Scouts INC., colocou Fitz antes do início da temporada como o 32º melhor QB da liga (composta por 32 clubes). Dúvidas que proviam de um olhar crítico; bastava ver ser ele seria afetado.

Após as duas primeiras semanas desta temporada, Fitz está em sexto lugar em toda a NFL na categoria “QB rating” à frente de Michael Vick, Philip Rivers e Matt Schaub. Os Bills estão com duas vitórias na classificação e não tem um começo tão empolgante desde os áureos anos 90, time comandado pelo QB Hall da Fama Jim Kelly. Foram anotados 79 pontos combinando o jogo 1 e 2, segunda melhor marca na história da franquia – a primeira é 87 pontos na temporada 1991-92.

O jogo de domingo contra o Oakland Raiders foi um claro exemplo da diferença de comportamento do elenco. Mesmo sendo contra os Raiders, a vitória valeu pela recuperação construída no segundo tempo. Perdendo por 21 a 3, os Bills marcaram um touchdown em cada posse de bola na segunda metade do jogo (5 vezes – partida terminou 38 a 35). Foi o primeiro clube desde o Pittsburgh Steelers em 2007 a marcar um TD em cada posse de bola no segundo tempo; dos clubes que fizeram isto nos últimos 15 anos, os Bills são os únicos a marcar 5 TD’s.


Fitz foi extremamente eficiente completando 69% dos passes para 10 jardas ou menos, um ponto fraco em anos passados. Seu melhor jogo se mostrou no momento que mais precisou, faltando 3m41s para o término do confronto e os Bills perdendo (35 a 31). Fitz completou um incrível drive de 80 jardas/14 jogadas, convertendo duas 4 descidas, incluindo a que deu o TD da vitória.

Esta atuação serviu de resposta à bela performance de Ryan na estreia fora de casa contra o Kansas City Chiefs. Argumentavam por aí que ele produziu bons números sim, mas será que manteria o nível? Agora o questionamento é como Fitz vai jogar contra um time de verdade, encontro da próxima semana contra os Patriots em Buffalo.

O resultado natural é perder, isto se espera. No máximo pode ficar em terceiro na forte divisão Lesta da Conferência Americana. Mas será o Buffalo um time com condições de ir aos playoffs (última aparição em 1999)? Se nem tanto, Fitz pode levar sua equipe a computar mais vitórias que derrotas ao final da temporada (última vez que aconteceu foi em 2004)? Tudo o que estava a cargo de Fitz ele fez, além de executar um plano B que o ajudou a se aproximar dos seus receivers.

Durante o lockout 2011, Steve Johnson e Donald Jones foram convidados para se hospedarem por uma semana na casa que Fitz tem na cidade de Gilbert, estado do Arizona. Sua esposa e filhos cederam o lar para os marmanjos poderem se familiarizar um com outro e assimilar melhor o livro de jogadas (playbook). O trabalho extra rendeu boas gargalhadas e mostra que tem possibilidade de produzir bons frutos. E ambos os WR’s tem uma origem similar a de Fitz: Johnson foi draftado também na 7ª rodada e Jones sequer foi escolhido.

O QB camisa 14 gosta de reafirmar que seus companheiros são caras que necessitam provar alguma coisa. Muitos preteridos por outros clubes se juntaram em Buffalo e podem formar uma unidade capaz de surpreender. Nesta lista de jogadores estão David Nelson, WR (não draftado) e Scott Chandler, TE (ex-membro da equipe de treinos do Dallas Cowboys e cortado em Dezembro de 2010).


Para aliviar a pressão de Fitz e de seus companheiros no jogo aéreo, os Bills têm outro não draftado que está produzindo ótimos números. Fred Jackson (foto acima) é hoje o running back com mais jardas na liga (224), uma média de 6.5 jardas por corrida. O que dá uma variedade grande pro ataque, deixando Fitz com mais uma excelente alternativa na execução do jogo ofensivo.

A diretoria dos Bills acredita que a melhor opção para comandar o time em campo é Fitzpatrick. Mesmo com a 3ª escolha no draft deste ano, optaram pela defesa e pegaram o DE Marcell Dareus. Não arriscaram num QB, imaginando que uma situação como a atual tinha plena probabilidade de ser concretizada. Com apenas estes dois jogos de Fitz em 2011, as conversas para renovação de contrato brotam pelos quatro cantos. Alguns apostam que um acordo deve ser feito logo antes que o preço do jogador aumente; outros defendem uma espera para observar o que acontece nas próximas rodadas. Uma tabela duríssima vem pela frente e dos 14 jogos restantes, só quatro se apresentam como provável vitória (em casa contra os Redskins, Titans, Dolphins e Broncos).

Como precipitação não é saudável, Fitz vai encarar uma partida por vez e mostrar o seu melhor. E em duas semanas pôde-se perceber que este melhor é oriundo de um caminho percorrido com muitas dificuldades, precisamente o percurso que poucos fazem.

Sabedor que a cada dia cabe o seu mal.



(GL)
Escrito por João da Paz


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Anel de campeão à venda: quem paga mais?

Nesses últimos dois anos e meio do Grandes Ligas acompanhamos diversos times alcançarem o ponto máximo da glória ao conseguirem o título: Los Angeles Lakers (2008-09, 2009-10) e Dallas Mavericks (2010-11); New York Yankees (2009) e San Francisco Giants (2010); New Orleans Saints (2009-10) e Green Bay Packers (2010-11). Conquistas coletivas, mas que premiam o indivíduo com um objeto que almejam impetuosamente: um anel com diamantes, ouro e afins.

A joia em si tem um valor enorme por ser de matérias primas valorizada no mercado, que não sofrem tanta queda assim em suas cotações, mesmo em época de crise econômica. As peças ganham uma alta em seu preço ao se associar com um grande time e/ou grande jogador. Quem os tem guarda da forma que entendem ser a melhor, fazendo uso quando necessário. Afinal, foi uma batalha vital para por no dedo um destes. Mas, por que então muitos jogadores vendem anéis de campeão?

Os pindaibanos são inúmeros, atletas cheios da fortuna enquanto profissionais, porém vão à falência quando se aposentam por não saber administrar os milhões e milhões de dólares. O jeito nesta ocasião é, se tiver um, recorrer ao objeto que tanto lutou para alcançar – aproveitar que vale uma quantia boa de verdinhas.

Vejamos alguns casos na história das grandes ligas de atletas que venderam seus anéis de campeão para resolver problemas particulares, entretanto vamos começar com um caso à parte.

Ron Artest
Anel conquistado em 2009-10 com os Los Angeles Lakers (NBA)

Artest decidiu leiloar sua joia que demorou 11 anos para pegá-la, reverter a quantia levantada para instituições de caridade. Ele disse o seguinte sobre fazer este gesto:

“Você trabalha tão duro para conseguir um anel, e agora você tem a chance de ajudar o outro ao invés de auto satisfazer. O quê é melhor que isso? Para mim é muito importante."

Este anel é especial, feito em ouro 15 quilates (geralmente são 14 quilates) e com 15 diamantes nele. Especialistas estipularam que, na época da sua fabricação, o preço da peça valia pouco mais que US$ 30 mil. A “rifa” criada por Artest teve até investimentos (apostas) do seu treinador Phil Jackson. No final o dinheiro recolhido foi US$ 630 mil, todo ele revertido à instituições que cuidam de crianças com problemas mentais. O vencedor da “rifa” recebeu o anel na caixa especial customizada, entregue pessoalmente por Artest.

Ted Williams
Anel conquistado em 1946 com o Boston Red Sox (MLB)

Claudia, filha do falecido atleta, ícone do beisebol, anunciou esta semana que fará um leilão em Boston, numa data a ser determinada, de alguns pertences de seu pai usados na época em que atuava no diamond. Entre os souvenires há o anel recebido por ganhar a Liga Americana de 1946.

Este item é precioso e Claudia recebia muitos pedidos de colecionadores e admiradores do seu pai para ver esta raridade. Ela disponibilizará a joia num leilão no qual terá parte da verba doada para a instituição de caridade oficial do Boston Red Sox.

Steve Wright
Anel conquistado no Super Bowl I com o Green Bay Packers (NFL)


A comoção em Green Bay foi grande em Maio deste ano quando a notícia apareceu nas manchetes dos jornais locais que Wright, membro do time campeão do primeiro Super Bowl, leiloou seu anel de campeão. Acredita-se que seja o único caso de um jogador deste elenco que tenha colocado à disposição do público o prêmio da pioneira decisão da NFL.

A oferta vencedora pagou US$ 73 mil dólares. Wright optou por ficar com o dinheiro do que guardar o anel num cofre.

John Milton “Mickey” Rivers
Anéis conquistados em 1977 e 1978 com o New York Yankees (MLB)


Quem joga nos Yankees é estrela, se o time for campeão então... Rivers gozava do privilégio que jogar de center field nos Yankees trazia. Era conhecido por festejar bastante e gastar dinheiro sem remorso. Pessoas próximas a ele diziam que sua generosidade o atrapalhava, “dando” dinheiro aos “amigos” ao invés de “emprestar” (ou não fazê-lo). Sempre sai com um grupo grande de colegas e quem bancava tudo? Rivers. Quando a aposentadoria veio, pouco restava nas finanças.

O divórcio fez com que Rivers deixasse os dois anéis com sua ex-esposa. Ela vendeu na primeira oportunidade dada, pois Rivers a abandonou sem nada, a deixando ao léu – pelo menos tinha os anéis consigo.

Lenny Dykstra
Anel conquistado em 1986 com o New York Mets (MLB)


Dykstra tinha fama de bom administrador. Aposentou o bastão e vivia a boa vida pós-beisebol. Seu último jogo na MLB foi em 1996 e em 2009 só tinha 50 mil dólares em sua conta bancária. Em Agosto deste mesmo ano o jogador declarou falência e passou a vender tudo o que possuía com a meta de destravar suas finanças que estavam sendo controladas pela Corte Judicial de New York – até que as dividas fossem quitadas.

Entre as coisas que Dykstra pôs à venda estavam bolas autografadas, bastões, réplicas de troféus e a mansão na Califórnia que comprara do Wayne Gretzky (estimada em US$ 25 milhões). Claro, o anel de campeão da World Series também participou do lance, talvez o último que virá com o nome “Mets” e “Champions” no mesmo lugar.

Ray Guy
Anéis conquistados com a franquia Raiders em 1977, 1981 e 1984


A falência fez com que o ex-punter leiloasse esta joias de um suposto alto valor com 28, 35 e 23 diamantes respectivamente. Porém talvez por ser um chutador e pertencer aos Raiders, o valor agregado da peça não chegou a um nível considerado satisfatório.

Os três anéis foram comprados por uma fã (não-identificado) em 2010, pagando por eles um total de US$ 80.100 – uma média baixíssima para os padrões deste mercado.



(GL)
Escrito por João da Paz

Mesmo com a ruindade dos Colts, Tom Brady ainda é melhor que Peyton Manning

A sova que o Indianapolis Colts levou no último domingo foi histórica. Ao final dos 30 minutos iniciais perdia para o Houston Texans por 34 pontos, maior número de pontos sofridos num primeiro tempo em toda história da franquia. Jogaram sem o QB Peyton Manning, que está no departamento médico se recuperando de uma cirurgia no pescoço, a terceira em 19 meses. O péssimo desempenho do time em campo pode ser creditado a ausência do camisa 18?

Mesmo com excelentes jogadores no elenco (Reggie Wayne, Dallas Clark, Dwight Freeney...) a equipe mostrou uma forte dependência do quarterback 4 vezes MVP da NFL. O reserva Kerry Collins não teve muitos treinos para pegar entrosamento e no jogo cometeu dois fumbles – Manning cometeu dois fumbles em toda a temporada 2010-11.

Esta atuação é passível de uso por aqueles que acham Manning um QB da mais alta elite da liga. A comparação natural vem com Tom Brady, QB do New England Patriots, e sua contusão que o tirou da temporada 2008-09 após a partida de abertura do campeonato. Sem Brady, os Patriots fizeram uma ótima campanha com 11v e 5d, porém insuficiente para chegar aos playoffs.

Diziam que os Patriots são mais que Brady, que o sistema do time era o alicerce da qualidade ofensiva apresentada e não o talento do principal jogador do clube. Questionamentos surgiram e Brady passou receber certo destrato dos fãs e imprensa. Colts tem uma estrutura similar, com boa e experiente base no elenco, franquia bem administrada e treinador familiar com sistema – Jim Caldwell antes de assumir o cargo de técnico em 2009 foi comandante dos quarterbacks e assistente entre 2002 e 2008 no próprio Colts. A derrota acachapante no último domingo se deve então a simples ausência de Manning?

Com Peyton em campo, tudo pode acontecer. Esta frase é um tipo de lema em Indianápolis. Contudo agora será necessário aprender a jogar sem ele. A estreia em 2011 serve como alerta e como um puxão de orelha: por mais que seja Peyton Manning de quem se estar falando, um clube não pode depender tanto assim de um cara. O sucesso dos Patriots sem Brady só o prejudicou segundo avaliações do ponto de vista externo. Se os Colts continuarem péssimos, isto só ajudará a moral de Manning.


Embora isto não ajude os defensores dele em colocá-lo a frente de Brady numa qualquer lista produzida para indicar os melhores jogadores (ou quarterbacks) da história. É possível criar um embate, mas no final das contas o mais vencedor e com mais domínio de jogo prevalece: não aquele que foi escolhido como número 1 no draft '98, e sim a escolha de número 199 em 2000.

Em 2010, antes do começo da temporada, a NFL Network fez junto com especialistas uma relação com os 100 melhores jogadores da NFL de todos os tempos. Manning ficou em oitavo e Brady foi o vigésimo primeiro... Entre os quarterbacks, Manning foi o terceiro e Brady o sétimo... Apesar de Brady ter, até esse instante, 3 anéis de campeão, uma temporada regular invicta e uma temporada com 50 passes para touchdown.

Veio a temporada 2010 (indíce de QB: 111.0, 36 TD’s, 66% de conversão no passe) e sua reputação mudou um pouquinho. A própria NFL Network fez um ranking para classificar os melhores jogadores da liga para a temporada 2011-12 e os especialistas votaram em Tom Brady como o número 1; Peyton Manning o segundo. Os fãs não seguiram o raciocínio e colocaram Manning em primeiro, Aaron Rodgers (QB Green Bay Packers) em segundo e só então Brady em terceiro.

Após a lesão no tornozelo, Brady voltou bem e fez duas temporadas de alto nível. Como vai voltar Manning? Essas cirurgias no pescoço feitas pelo QB dos Colts são corriqueiras em atletas, inclusive os de football. O desejo e amor que Peyton tem pelo esporte o fará quebrar prognósticos e treinar com bola antes do prazo estipulado pelos médicos. Todavia, voltará ele com o mesmo gás, o mesmo timming? A recuperação dele será acompanhada de perto, pois os resultados dirão se ele permanecerá um colt ou se a franquia recebe o sinal verde para ir atrás de um substituto. Caso mantenha no retorno a mesma pegada e ritmo, será criado mais um tópico que esquentará o debate Manning vs Brady.

À medida que o tempo traz suas surpresas, e a provável (ou não) volta de Peyton, resta assisti-lo em engraçadíssimos comerciais – enquanto Brady passa para 517 jardas no seu primeiro jogo da temporada 2011-12 (veja vídeo do passe de Brady para Wes Welker, um touchdown de 99 jardas – numa arriscada formação shotgun dentro da própria end zone).



(GL)
Escrito por João da Paz

A coisa mais importante entre as coisas menos importantes

11 de Setembro de 2001.

Neste dia faltei na escola, um direcionamento do destino para que pudesse acompanhar uma fatalidade que marcou minha vida até hoje; e marcará sempre. A visão da CNN me transportou até New York e mesmo de longe senti a dor, o baque de um inescrupuloso ataque. Assistir aquela tragédia se desenrolar, as Torres Gêmeas caindo... Agora são tristes lembranças.

No dia seguinte fui à escola, as duas primeiras aulas foram de inglês. Lógico, nada de verbo “to be” na lousa e sim um debate sobre a representatividade de tamanha atrocidade e impacto que iria desencadear. Lembro com clareza das manchetes dos principais jornais paulistanos, das fotos estampadas na capa... Agora são lúgubres memórias.

Entre as notícias sobre o ataque terrorista, me interessava uma óbvia coisa: e os esportes americanos? Os jogos serão interrompidos ou não? Conforme o desenrolar das informações, o inevitável aconteceu: um final de semana completo sem jogos profissionais.

Cada liga principal dos EUA tomou uma atitude, eis as mais notórias:

NBA: Eventos que seriam organizados no domingo (16) foram cancelados – ente eles o encontro anual dos novatos. As reuniões da liga que começariam naquela semana foram adiadas para o dia 20/09. O dono do Dallas Mavericks, Mark Cuban, doou US$ 1 milhão para as famílias vitimadas.

MLB: 6 dias sem jogos (de 11 a 16 de Setembro). Durante o restante da temporada todos jogadores usaram uma bandeira americana no boné e nas costas do uniforme. O New York Mets doou US$ 1 milhão de dólares às vitimas, mesma quantia doada pelo New York Yankees.

NFL: Cancelou todos os jogos da semana 2.


Ficar sem esportes é uma ocasião rara nos EUA, só ocorrendo em casos graves. Em 1918 a temporada da MLB foi resumida devido a Primeira Guerra Mundial. Alguns jogos foram cancelados por luto à morte do presidente Franklin Delano Roosevelt em 1945. Porem quando John Kennedy morreu, em 1963, o esporte não parou. Impedir a disputa de partidas esportivas pós 11 de Setembro foi uma atitude correta?

Há o argumento válido de que o esporte é um escape, um lazer que tira da rotina, causa entretenimento. Então os jogos poderiam aliviar a dor que os americanos sentiam naquele momento? Caso sim, como fica o respeito às vitimas e ao país, alvo de um furioso ataque? Suspender os eventos acabou sendo a atitude mais viável e admirada.

Ao retomar às atividades, foi possível atentar para a importância do esporte no cotidiano de algumas pessoas. Claro que há prioridades mais essenciais, contudo ir à um estádio e torcer para seu time de coração tem uma emoção complicada de mensurar; quem gosta sabe. O curioso é que com os times de New York participantes da MLB (Yankees e Mets), houve uma recepção inédita e carregada de comoção.

O primeiro jogo realizado em New York pós-ataque foi numa sexta, dia 21 de Setembro. Quem recebeu a partida foram os Mets, atuando contra o rival Atlanta Braves. Ver este confronto pela televisão foi especial, pois algo fantástico aconteceu naquela noite.

A atmosfera no antigo Shea Stadium era peculiar. Os que não torciam para os Braves olhavam para o time azul e laranja e não gritavam por “Mets” e sim pelo que estava escrito antes do apelido: New York. O espírito forte de união sondava o time local, mas perdia por 2 a 1 até a oitava entrada. Aí a mágica surgiu e um dos momentos mais emocionantes da história do esporte mundial estava sendo escrito:



Mike Piazza, catcher, anotou um HR de duas corridas colocando os Mets à frente (3 a 2), resultado final da partida. A comemoração dos torcedores é chamativa pela explosão de alegria misturada com uma ponta de indignação guardada no peito, ambas expulsas de dentro através de um uníssono grito.

Os Yankees, uma das franquias mais valiosas dos EUA e de enorme torcida, odiada pelos rivais em proporção similar ao sucesso que tem, foram recebidos em estádios fora de casa com um calor incomparável. A primeira série dos Yankees pós-ataque foi contra os White Sox em Chicago e lá se viu um emblemático cartaz: “We are all Yankees” (tr. “Somos todos Yankees”).

O esporte cura; tem este poder. Apesar do descaso que há, de pobres atitudes comportamentais daqueles que estão no meio, essa mística não será perdida. Dez anos após a queda das torres, os mesmos esportes que pararam vão prestar homenagens e recordarão a horrorosa tragédia. Gesto que diretamente pode não ter valor, mas carrega consigo um incalculável preço de honra e respeito.

O esporte não é tudo, mas também não é nada. Não é fundamental, mas é necessário. Não é caso de vida ou morte, mas a vida e morte são representadas nele. 11 de Setembro traz em si pavor, perturbação, espanto. Não importam quantos anos se passaram. Neste final de semana as ligas vão buscar venerar os heróis daquele dia e mencionar os que partiram de forma tão calamitosa.

Por mais que seja tão distante de mim e de alcance tão longínquo, as lembranças ainda são tristes e as memórias ainda são lúgubres.


(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Ravens Media

Michael Vick, o perdão e o esquecimento


Quando você olha para o rosto de Michael Vick, qual primeiro pensamento que vem à mente: um jogador de football? Quarterback do Philadelphia Eagles? Popular personalidade esportiva? Vil ser humano que maltratava cachorros em rinhas?

Se esta última imagem aparece na sua memória prontamente, pode ser que você ainda não o perdoou. Mas será possível isto, mesmo de longe? É necessário esquecer o que ele fez para perdoar?

Difícil. As lembranças da vida/carreira de Vick passarão pelo cominho que o levou à prisão por organizar "lutas" entre os animais. Porém a pena foi cumprida, mostrou ações de arrependimento e os Eagles decidiram seguir em frente com o time alicerçado no camisa 7. Para tanto, na semana passada, fechou um contrato com o jogador que gira em torno dos US$ 100 milhões por 6 anos. A franquia pode não ter esquecido o que ele fez, mas mostra que perdoou.

Michael é o primeiro atleta da NFL a assinar dois contratos no valor igual ou maior que US$ 100 milhões – em 2004 com o Atlanta Falcons: US$ 130 milhões por 10 anos. Na história dos esportes americanos, ele é apenas o terceiro jogador a firmar dois contratos neste valor: os outros são Shaquille O’Neal (NBA) e Alex Rodriguez (MLB). Seu salário anual é similar ao que recebem os QB’s Peyton Manning (Indianapolis Colts) e Tom Brady (New England Patriots). Porém resquícios do passado estão vivos e irão afetar esta grana toda destinada a Vick.

Uma das intenções dos Eagles era renovar com seu QB para dá tranquilidade a ele, dando recursos para quitar as dívidas que tem com muitos credores. O valor estipulado destes débitos é de US$ 20 milhões. Existe uma determinação judicial que limita o recebimento mensal (gastos pessoais) de Vick à US$ 300 mil até que toda sua dívida seja paga. Então Michael, por mais que desejasse, não poderia gastar seu dinheiro á vontade (e nem deve fazer isto quando for permitido).

Mais do que a enorme quantia de dólares, é emblemático o apoio que o seu atual clube dá, não apenas por acreditar no seu potencial dentro de campo, mas na renovação vivida fora dele. Os Eagles participaram como elo principal na “Operação Michael Vick” e mostram integridade ao continuar apoiando a ousada iniciativa tomada em 2009.


Grandes patrocinadores, como Coca-Cola, Nike e Kraft cancelaram seus acordos com Vick assim que foi divulgada as informações sobre rinhas e descaso com os cães da raça pit bull. Observavam claramente a perda da credibilidade e de uma idônea imagem para relacionar os produtos. Vick ficou sem caixa nenhum, contudo sua transformação iria trazer de volta os contratos publicitários; questão de tempo.

Coloca-se na posição de uma grande corporação que um dia teve trabalhos com Michael e que, após ver o sucesso da sua recuperação, quer retomar a antiga parceria. Como aproximar dele sem causar rejeição do público? Como aproximar dele e associar novamente o logo da empresa à imagem do atleta? Quem esteve numa situação similar a essa foi a Nike que a menos de um ano assinou novamente com Vick – os atuais patrocínios dele são: Nissan, MusclePharm e Unequal Techonologies.

Estas empresas que fizeram um novo vínculo com Vick esqueceram ou perdoaram?

Nestes dois anos de retorno à NFL e assinatura do novo contrato, as atitudes do QB foram vigiadas de perto. Ele mostrou se cuidar mais (apesar de isolados incidentes), a ter mais respeito por si próprio, a focar mais na oportunidade de transmitir uma lição. Este último quesito foi exercido no meio do semestre de 2011 num discurso dado à cinco colégios da Filadélfia na formatura de alunos oriundos de uma infância problemática, envolvidos com drogas, armas e álcool. Os estudantes escolheram Vick para fazer o discurso com o intuito de ser um testemunho que situações delicadas e adversas podem ser transformadas em momentos felizes e prósperos.


A dúvida sobre o novo comportamento paira na mente de alguns, mas uma confissão de alguém especial faz com que, no mínimo, seja considerado o lado da redenção. Desde a saída de Vick da cadeia, Tony Dungy (foto acima), ex-treinador do Indianapolis Colts (campeão do Super Bowl XLI - 2006), atual comentarista da rede NBC, agiu como um tutor para Michael. Sua função consistia em mostrar o caminho luminoso para Vick andar e defendia seu pupilo perante quem quisesse o questionar sobre. Logo criava a seguinte associação: “Se Dungy, homem integro e de caráter, está do lado de Michael Vick, então algo de bom está acontecendo”.

Dungy diz sobre esta recuperação de Vick: “Foi uma história de sucesso desde o começo. Sempre vi Michael como uma pessoa transformada. Filadélfia deu a ele a chance de ser o quarterback número 3 e ele administrou bem esta situação, fazendo o que fora determinado e exigido dele”.

Dungy trabalhou com Vick uma meta de mudança de atitude, de uma nova perspectiva de vida. Em nenhum momento a ideia de apagar os erros do passado foi cogitada - estes estão registrados e ao alcance de todos. O foco era ser um homem responsável, ciente da sua representatividade e ações. Michael busca no seu cotidiano aplicar isto e o fruto está sendo colhido agora: novo contrato milionário, quatro novos patrocínios...

O perdoar e o esquecer ficam ao cargo de cada um.


(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Kevin C. Cox / Getty Images

Loira e Inteligente

A cor preta esteve presente por muitos dias na vida de Erin Andrews (foto acima), repórter da ESPN. Símbolo de tristeza, exemplificava seu sentimento perante o ataque sofrido por um perverso rapaz que a filmou nua num quarto de hotel. Símbolo de auto-análise, serviu para rever a carreira e olhar o caminho existencial traçado até então. Por forças estimuladas sem sua vontade, teve que se posicionar e decidir como seria seu futuro.

Em Julho de 2009 foram divulgadas estas infelizes imagens na internet (primeiro num blog da Europa, depois nos EUA). Dois anos passaram e links direcionados para o vídeo aparecem no topo das buscas do Google relacionadas a Erin Andrews. No instante que soube da divulgação das imagens, sua mente planejou este atual cenário, assim como visualizou o declínio e término da sua carreira.

Antes dos ESPY´s 2009 (cerimônia de premiação esportiva da emissora), Erin recebeu uma ligação de um amigo seu sobre a invasão de privacidade que sofrera. Não acreditou no início, mas depois foi conferir a verdade. Num bom momento da vida, negociando a participação no “Dancing With The Stars” (mãe do “Dança dos Famosos”), ela ficou sem chão, não sabia o que fazer. Pior, os vulgares suspeitos que duvidam da sua capacidade jornalística, acreditando que o espaço de destaque conseguido veio através da beleza, insinuaram que a própria Erin tinha vazado o vídeo para gerar publicidade/atenção.

É, o sensacionalismo chegou a esse ponto.

A investigação policial encontrou o cara que cometeu a barbárie e a justiça o condenou à prisão. Antes de entrar no cárcere Erin encarou o criminoso frente a frente e deixou aflorar a revolta dizendo a ele que logo a pena será cumprida e a liberdade novamente desfrutada, porém o vídeo está aí, não deve desaparecer e Erin terá que explicar para seus filhos o que aconteceu...

Optar por continuar a trabalhar foi a melhor escolha, a mais sábia. A distração proveniente das arquibancadas de fãs inconsequentes deveria ser ignorada. Isso foi feito. O carro chefe da cobertura esportiva de Andrews é o football universitário (NCAA) e treinadores, jogadores e muitas pessoas envolvidas a apoiaram nessa decisão, dando força e ânimo para seguir em frente.

Contudo o vídeo está aí... Aconselhada por advogados, Erin tenta no judiciário assumir os direitos autorais (de imagem) do vídeo e, se assim conseguir, poderá por lei impedir que qualquer mídia o reproduza, com ameaça de processo e multa.

Esta é atual batalha que enfrenta na área pessoal. No profissional sua concentração está para abertura da temporada 2011 do football universitário que começa hoje. Conhecida pelo seu trabalho na linha lateral de campo, desde o ano passado Erin participa do “College Game Day”, prestigiado e tradicional programa da ESPN. Esta promoção é uma autenticação da qualidade do seu trabalho.


A beleza ajuda a atrair audiência? Claro que sim, entretanto há mais que isso, algo que Erin precisa provar a cada dia. Muitos diminuem a importância desta “repórter-bonita-da-linha-lateral-que-irrita-o-treinador-com-duas-perguntas-antes-do-intervalo”, mas existe sim valor neste trabalho. Erin gosta de citar um exemplo ocorrido em 2007.

O favorito para vencer o Heisman (troféu entregue ao melhor jogador de football da NCAA) era o quarterback Dennis Dixon da Universidade Oregon, favorita ao título daquele campeonato. Num jogo no qual ela estava trabalhando, Dixon estoura o joelho em uma jogada. As câmeras nâo flagraram, os narradores não viram, mas Erin estava do lado do jogador e do médico e percebeu o semblante abatido de ambos. O preparador físico começou a chorar, ela ouviu a conversa e entrou no ar dizendo: “A temporada acabou para Dixon”. Uma notícia de extrema relevância que só alguém por perto poderia perceber, entender e reportar.

O sucesso de Erin Andrews extrapola qualquer limite criado. A facilidade que ela tem em conseguir informações é notória e treinadores que não lidam bem com a imprensa têm facilidade em falar com ela. Formada na Universidade Florida, o aprendizado até chegar a este patamar foi grande. Começou como repórter da rede de TV que transmitia os jogos do Tampa Bay Lightning (NHL). O problema é que ela não conhecia nada da liga muito menos do esporte e do time. Estudou, aprendeu como funcionava e se adaptou bem ao estranho ambiente de trabalho. Ela traz consigo lições daquele tempo que contribuem para a excelente jornalista que é hoje.

A ESPN sabe do tesouro que tem em mãos e a expõe bastante. Isto quebra mais barreiras, a colocando como VIP no “clube do bolinha”. A mais recente empreitada foi o convite da Reebok para protagonizar uma campanha de marketing do tênis ZigTech. Única mulher e única “não atleta” do cast que conta com Chad Ochocinco, Peyton Manning, Sidney Crosby, John Wall, entre outros.


Voz presente no jogo da EA Sports, NCAA football, Erin tem estabelecida sua posição no mundo dos fãs de esporte. É um conjunto de experiências que moldaram esta magnífica jornalista que superou pedras jogadas no caminho e as usou como calço para alcançar posições mais altas.

Dizem que a cor preta remove obstáculos. Dizem também que a cor preta ajuda nas eliminações de incômodos sentimentos. Alguns afirmam que a cor preta é capaz de transformar tristeza em alegria. Usada como luto, a cor preta auxiliou Erin Andrews a crescer e ser mais forte que o problema surgido na sua frente há dois anos. Uma lúcida observação dos próprios pensamentos para não errar, não estacionar e continuar firme na caminhada. O uso do intelecto mais uma vez lhe trouxe benefícios.



(GL)
Escrito por João da Paz


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