Moneyball: outro livro que virou filme

O jornalista e escritor Michael Lewis volta a ser assunto. Depois de ter sua obra “The Blind Side” transformada em filme (“Um Sonho Possível”), outro trabalho seu ganha formato cinematográfico: Moneyball: The Art of Winning a Unfair Game (tr. Moneyball: A Arte de Ganhar um Jogo Injusto). A estreia do filme - Moneyball - nos EUA será nesta sexta feira (23). O protagonista da película é Brad Pitt, no papel de Billy Beane (foto acima), principal foco do livro que conta como foi a temporada 2002 do Oakland Athletics, time da MLB.

Lewis decidiu acompanhar um campeonato inteiro junto do clube da Califórnia após ver dados interessantes publicados no site Baseball Prospectus. Doug Pappas escrevia por lá ideias que defendiam a eficiência de alguns clubes da MLB baseado na construção do elenco não necessariamente com jogadores de renomes, famosos. Ele destacava os Athletics por fazer este trabalho muito bem, dedicando-se as estatísticas para buscar uma melhor formação da equipe. Lewis achou isso tudo fascinante e encarou passar a temporada 2002 completa com o time verde e amarelo.

Em 2001 os Athletics fizeram uma ótima campanha: 102 vitórias – 60 derrotas. Lewis torcia pela manutenção desta performance e assim aconteceu, terminando a temporada seguinte com uma vitória a mais. Então muitas experiências foram vividas neste período e algumas estão relatadas no livro. Porém a perspectiva tomada de concentrar a hipótese em números não atraiu, logo após o seu lançamento, os fãs mais fiéis do beisebol. Mesmo os dirigentes não entendiam muito do que se tratava. Depois de avaliações de críticos e assimilação da mensagem pela mídia, que reportou a qualidade do livro, as pessoas passaram a comprá-lo, a falar dele nas conversas informais e assim o sucesso (enorme) pegou carona.

Moneyball foi best-seller da prestigiada lista do jornal “The New York Times” por meses e sua vendagem ultrapassou a marca de 1 milhão de cópias. Lançado em 2003, hoje o livro é exigido em muitas universidades americanas, leitura obrigatória nos cursos de economia, administração e gestão.

Estes aspectos geraram uma dúvida quando o assunto filme foi mencionado. Como fazê-lo? A dificuldade seria criar um roteiro bem compacto, adequado as histórias contadas nas páginas de Moneyball. A produção do filme teve problemas com roteiristas e seus rascunhos; num deles a própria MLB teve que intervir por achar que elementos inadequados estariam sidos associados à liga (sexo, aposta, excesso de bebidas...).


O que sustentou o projeto foi Brad Pitt, super astro de Hollywood que abraçou (literalmente e em sentido figurado) o personagem Billy Beane e não o deixou escapar. Esta aproximação o ajudou a entender mais o que pensava Beane naquele ano de 2002. Pitt conviveu com o diretor de beisebol dos Athletics observando seu comportamento no âmbito profissional e pessoal. Absorveu traços e gestos, atitudes e manias, tudo para interpretá-lo de uma forma bem realista. Beane gostou da ideia, deu muitas dicas e assim ganhou um novo torcedor para os A´s.

A direção do filme buscou qualificar bem as principais características daquele tempo para não encaixar a película na “caixinha-de-filmes-que-não-são-tão-bons-quanto-os-livros”. Um detalhe curioso foi o cuidado com o estádio nas filmagens, procurando manter os traços de 2002. Para tanto até os patrocínios da época foram recolocados em seus lugares, o mesmo com as estruturas de arquibancada que sofreram modificações ao longo de 9 anos.

Na meta de transmitir através das imagens e sons o máximo de realismo possível, a produção convidou para uma participação especial os profissionais Ken Korach (atual narrador oficial dos A’s - rádio), Greg Pappa (atual narrador oficial do Oakland Raiders – NFL) e Glen Kuiper (atual narrador oficial dos A’s - televisão) e não entregou script a eles. Pediu que falassem sobre os jogos que aparecem no filme de forma natural, mais fluente, na tentativa de recriar o clima que acontece num jogo de verdade.

Claro que não dá para fazer um filme sem pequenas adaptações, não tem como ser estritamente fiel a um livro, por exemplo. São necessários dramas, emoções e suspenses extras. Contudo uma das cenas mais empolgantes pode até parecer coisa de roteirista hollywoodiano causador de momentos só possíveis no cinema, mas de fato aconteceu.

Os Athletics estavam numa incrível série de 19 jogos invictos. Na partida da provável vigésima vitória na sequencia, Oakland vencia fácil, em casa, o Kansas City Royals e na terceira entrada estava 11 corridas à frente (11 a 0). Porém, inesperadamente, os Royals empataram e a corrida que igualou o placar aconteceu na primeira parte da nona entrada. Ainda restava uma chance de virada por parte dos A’s antes da prorrogação. E ela veio, num home run de Scott Hatteberg... Com a vitória, a 20ª seguida, os Athletics estabeleceram um novo recorde na Liga Americana, bem difícil de ser batido – o anterior de 19 vitórias pertencia ao Chicago White Sox de 1906 e New York Yankees de 1947.


O registro cinematográfico vai perpetuar este conceito criado por Billy Beane, mostrado no livro, aplicado (hoje) por todos os clubes da MLB e agora exemplificado em encenação. Moneyball virou sinônimo de tão popular que o termo ficou, explicando as ações das franquias em montar seus respectivos elencos no alicerce chamado sabermetrics, conjunto de estatísticas mais avançadas e cheias de minúcias. É tanto pormenor que chega a deixar o jogo de beisebol chato ao invés de descomplicá-lo – embora o intuito seja o contrário.

Mas o filme não se desgastará muito nessa de sabermetrics, apesar de ser importante para a trama. Não fará para não se tornar de complexa compreensão. De qualquer modo, é mais um grande marco nesta relação Hollywood e beisebol, que nos entregou grandes filmes para o deleite dos amantes (ou não) do esporte. Com Brad Pitt estrelando, Moneyball ganha status de blockbuster e tem tudo para ser um estouro de bilheteria.



(GL)
Escrito por João da Paz


*Veja o trailer*

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