O lockout da NBA chega ao fim; os donos venceram e estão com a responsabilidade

A bola está em jogo e os donos controlam a partida.

Entre os players, a NBA tem no seu time homens de alta qualidade: Adam Silver, Chefe Operacional da associação e Michael Jordan, dono do Charlotte Bobcats. Comandado por David Stern, comissário, arquitetaram uma grande vitória para as franquias e para a NBA, pondo fim a 149 dias de paralisação da melhor liga de basquete do mundo.

Os jogadores, mimados, queriam manter o mesmo acordo outrora em vigor, ficando com 57% dos lucros relacionados ao basquete produzidos pela associação; e para os donos os 43% restantes. Nada disto. Estes últimos firmaram forte nas negociações, se impuseram como lideres e os jogadores não sabiam o que fazer. Mais perdidos ainda por serem liderados pelo advogado David Boies, que no lockout da NFL defendeu os donos e agora estar do outro lado.

Boies aconselhou erroneamente a dissolução do sindicato, com os membros entrando em grupos na justiça contra a NBA reclamando por negociações injustas. Ele, do lado da NFL, não viu o que acontecera? Neste caso, os jogadores também processaram a liga, num tribunal no estado de Minnesota, e ganharam. Mas na seguinte instância, e em outros tribunais, os juízes favoreceram a NFL. Assim o publico se posicionou contra os jogadores, forçados a ceder e entrar num acordo com o comissário Roger Goodell e os donos dos clubes.

O mesmo ocorreria com a NBA: os jogadores poderiam até ganhar uma instância, porém no final das contas a razão estaria com os donos. Melhor então acertar o impasse antes de isto acontecer.

O que colaborou para o enfraquecimento dos jogadores a ter pouco poder nas discussões do novo acordo trabalhista foi a tímida participação dos membros. Alguns estiveram presentes todos os dias? Sim. Havia jogadores que sabiam de tudo que se passava? Sim. Grandes nomes da liga sentaram-se na mesa de negociações (LeBron James, Dwyane Wade e Carmelo Anthony)? Sim. Contudo muitos não estavam nem aí e outros tantos estavam se preocupando em acertar contratos com times europeus; inclusive Kobe Bryant, que só entrou no debate nos últimos instantes.

Eles, os jogadores, tentaram colocar na mídia que os donos estavam sendo gananciosos por quererem ganhar mais, ter maior parte nos lucros. Mas quem começou a negociação querendo 57% da fatia foram os jogadores... A estratégia não deu certo. A conclusão distribui os lucros de forma igual, 50-50, porém a favor dos donos. É, mesmo que os jogadores possam, hipoteticamente, ficar uma temporada com 1% a mais, o que só vai acontecer se o crescimento anual da liga exceder a meta, ou seja, se os donos conseguirem arrecadar o que pretendem - caso não, os donos ficam com 1% a mais.

Neste novo acordo os donos vão economizar anualmente US$ 300 milhões ao reduzir os salários dos jogadores. As franquias que mais fazem dinheiro terão que dividir uma parcela maior dos lucros com as franquias de médio/pequeno porte. Uma forma de tentar igualar a competição, o que não vai funcionar.

A NBA quer valorizar os times médios/pequenos, dá força a eles. De certa forma isto foi conseguido com esta divisão de lucros, mas a atenção ainda ficará com as franquias mais potentes e tradicionais. Este novo acordo de 10 anos, com os donos ou jogadores podendo rescindir após 6, cria uma tranquilidade nas redes de TV e patrocinadores ao saber que podem fazer um longo contrato por este determinado tempo. Não querem, entretanto, times de médio/pequeno porte nas finais, pois não atrai público, não atrai audiência.


Para a NBA a temporada passada foi um esplendor, com o trio de super amigos do Miami Heat (LeBron, Wade e Chris Bosh) chegando até à decisão. Isto trouxe para os ginásios e para os televisores torcedores que apoiavam as estrelas (muitos), assim como os que queriam que eles fracassassem (muitos também). Gerou na mídia uma grande cobertura que excedeu o âmbito esportivo – que para os patrocinadores significa mais exposição, mais grana.

Quem gosta de basquete admira o estilo de jogo do San Antonio Spurs e curtiu a dinastia texana na década passada – e os títulos em anos ímpares. Basquete bem jogado, tática perfeita... Porém sem atrativo algum ao grande público, com duas finais com a participação dos Spurs tendo as piores médias de audiência das finais na história da NBA: 2007 contra o Cleveland Cavaliers (6.2) e 2003 contra o New Jersey Nets (6.5) – como efeito comparativo, a média de audiência da decisão da temporada passada entre Dallas Mavericks versus Heat foi de 10.2.

O sucesso da NBA está atrelado ao bom desempenho das estrelas e das grandes equipes. Toda brincadeira tem um fundo de verdade, notório, e David Stern disse certa vez que a final ideal da NBA é o Los Angeles Lakers contra qualquer outro time... O que é verdade, apesar de que os Lakers podem ser substituídos por um clube grande e de tradição. Uma das alegrias do comissário é ver os Knicks com Amare Stoudemire, Carmelo Anthony e com o desejo de trazer Chris Paul. É imprescindível que o time de New York esteja bem para a NBA também estar bem. Isto vale para o pulo que os Bulls deram com o talento e fama de Derrick Rose; a NBA também precisa de um time competitivo em Chicago.

As franquias estão com uma meta: gerar lucro. Esta pressão vem com a assinatura deste novo acordo. Tudo foi moldado para isto ocorrer. Se for diferente, o plano B pode ser acionado.

As grandes franquias não vão ficar simplesmente "doando dinheiro" para os médios/pequenos e estes não fazerem nada, não colocarem em quadra um time forte e não conseguirem levar público ao ginásio para consumir produtos. O temido assunto da contração, que vem a ser a eliminação de franquias da NBA, surgirá com força. Por isso a responsabilidade dos times menores é considerável, sabem que estão lutando pele sobrevivência – lembrando que uma franquia está sob o controle da NBA por motivos de má gerência: o New Orleans Hornets.

A volta da NBA trouxe júbilo aos jogadores que pensaram que corresponderiam o amor ao basquete jogando em outras partes do mundo, mas só encontraram longas viagens de ônibus, hoteis paupérrimos, nível baixo de competição e goteiras em ginásios. O esporte era o mesmo. Basquete. Só que não era o basquete da NBA. Salário semelhante. Só que não era dinheiro da NBA.

Após esta parada na relação, um tempo para reavaliar a vida e para onde ela guia, os donos receberam a confirmação que os jogadores irão se sentir melhor em franquias como Toronto Raptors e New Jersey Nets do que em clubes como Flamengo e Besiktas.


(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Streeter Lecka / Getty Images

A melhor temporada regular dos esportes americanos


O sistema BCS é confuso, mas cria um campeonato empolgante.

Querendo ou não, gostando ou não, invariavelmente os melhores times do football universitário se encontram na final do BCS, que dá ao vencedor o rótulo de “Campeão Nacional”. Apesar da NCAA, órgão que organiza os jogos da temporada regular, não determinar um campeão para os times de football, ela se beneficia pelo sistema BCS que provoca 15 semanas de partidas atraentes e um tropeço qualquer serve para tirar o perdedor da chance de disputar o título.

Esta recente semana foi prova do motivo real de que a temporada regular do football universitário é a melhor entre os esportes americanos. Um jogo de certa forma irrelevante, Oklahoma State versus Iowa State, teve um resultado que mudou a ordem do ranking. Oklahoma State estava em 2º lugar, mas perdeu o jogo (foto acima) e caiu várias posições. A universidade estava invicta, porém a derrota tira qualquer chance dos Cowboys conseguir uma passagem para a decisão do BCS.

Só na NCAAf que partidas da 12ª rodada podem influenciar definitivamente a concepção dos dois melhores times do campeonato. Além de Oklahoma State, outras universidades fortes perderam jogos e minaram qualquer oportunidade de ser uma das 2 melhores equipes dos EUA ao fim da temporada: Oklahoma, Oregon e Clemson.

Querem criar um modo de playoffs na NCAAf; não precisa. Pensam que assim as injustiças serão menores; mentira. Veja o que acontece no basquete universitário, que tem a pior temporada regular entre os esportes americanos: 68 clubes vão para os playoffs e no dia da seleção muitas universidades “choram” e reclamam por não terem sido incluídas no March Madness... Logo, que diferença faz uma partida em Dezembro, Janeiro? Por mais que uma escola perca vários jogos, é possível se classificar para a pós-temporada.

Nos esportes profissionais não é diferente:

MLB: 162 jogos? Com duração de +3horas? Fala sério! Quem vai acompanhar a liga em Julho, Agosto? O público vai ficar sintonizado no final de Setembro e no mês de Outubro, tempo de decisão.

NBA: Similar. O grande público só acompanha os playoffs...

NFL: Pode parecer que é diferente destas outras duas, mas não. Após a metade do campeonato, 12/13 times estão fora da disputa de vagas na pós-temporada.

Expandindo este exemplo da NFL, perceba o que aconteceu nesta temporada 2011-12: o Jacksonville Jaguars e o Seattle Seahawks venceram o Baltimore Ravens (Semana 7 e 10 respectivamente); os dois primeiros não vão para os playoffs, Baltimore estará lá. Na Semana 3, o Buffalo Bills derrotou o New England Patriots; Buffalo não vai para os playoffs, New England estará lá. Na Semana 6 o Tampa Bay Buccaneers derrotou o New Orleans Saints; Tampa não vai para os playoffs, New Orleans estará lá.

Estas foram belas vitórias, grandes feitos, mas quem saiu com o resultado positivo não gozou nada mais que os louros da específica partida. Os derrotados seguem fortes e com condições de disputar o Super Bowl.

Na NCAAf uma derrota pode ser fatal, principalmente para quem foi a derrota. Da mesma forma que uma vitória não vale muita coisa, desde que seja contra times fortes e competitivos. Derrotas e vitórias não são meras estatísticas no football universitário, depende de como o time se comportou nestas ocasiões. Por isso todo jogo é válido e pode afetar a forma do ranking BCS, ou seja, das escolas que vão estar na grande final.


Alabama Crimson Tide deste ano tem uma derrota e é a 2ª colocada do ranking. Esta derrota foi para a 1ª colocada, LSU (foto acima). Após o encontro entre eles, ‘Bama caiu um pouco no ranking, mas voltou à posição que não deveria ter saído após os resultados deste final de semana. Uma derrota para uma universidade da Conferência SEC vale mais que vitórias em outras conferências.

O domínio da SEC* é justificado em campo, incontestável. Dos últimos 12 campeões do BCS, sete são membros da conferência. Abaixo está o recorde, nas finais nacionais, das outras cinco conferências que formam o BCS:

Big East: 1v-2d / Big Ten: 1v-2d / ACC: 1v-2d / Big XII: 2v-5d / Pac-12: 0v-1d

Viu o porquê do domínio da SEC no football universitário? (uma das razões...)

Pela primeira vez nos 14 anos de história do ranking BCS, três escolas da mesma conferência estão nas primeiras posições: 1 LSU, 2 Alabama e 3 Arkansas – e não só isso, estas universidades fazem parte da mesma divisão, a SEC Oeste.

Na próxima sexta, 25, acaba a temporada regular da SEC. LSU enfrenta Arkansas. E se Arkansas vencer, como ficará o ranking? As três vão ter uma derrota e cada uma sendo pelos rivais: LSU perdeu para Arkansas (neste caso hipotético), Arkansas perdeu para Alabama e Alabama perdeu para LSU. Mesmo para quem não é fã de football, muito menos da NCAAf, mas gosta de drama, este jogo do dia 25 é imperdível.

Após tudo, os dois melhores times chegarão à final. Os últimos três campeões (Florida Gators – 2008/09, Alabama Crimson Tide – 2009/10 e Auburn Tigers – 2010/11) venceram 6 times rankeados em suas respectivas campanhas. Uma afirmação da qualidade das equipes.

Nesta temporada, se Arkansas ou Alabama forem as campeãs, também terão 6 vitórias contra times rankeados – LSU não, se for campeão serão 8 vitórias contra times rankeados.

Uma derrota na SEC vale muito? Sim. E o que os times das outras conferências precisam fazer para chegar ao título? Não perder seus jogos, ora! Cinco times têm uma derrota e poderiam estar invictos, dois deles são Alabama e Arkansas. Como foram as derrotas dos outros três?

Stanford (Pac-12) perdeu para um rival de conferência, Oregon. O detalhe é que Oregon tem duas derrotas... Oklahoma State também perdeu para um rival, Iowa State, que, mesmo com a vitória, tem aproveitamento negativo na própria conferência Big XII (3v-4d)... Virginia Tech também perdeu para um rival de conferência (ACC), Clemson, que na época estava em 13º no ranking; VTech só jogou com dois times rankeados – o outro foi Georgia Tech...

Para ser um dos top na NCAAf, é preciso vencer os rivais, os times fracos, médios... Não pode vacilar. Todo jogo importa, toda partida tem um significado. Faltam duas semanas para o término da temporada regular, depois vem às finais de conferência, e muita coisa pode acontecer que mudará a parte de cima do ranking definindo os dois melhores times. Seja como for, serão os dois melhores times. Numa conquista que não vem de última hora, mas construída rodada após rodada.

Então aproveite! Acompanhe os momentos cruciais da competição que proporciona a melhor temporada regular dos esportes americanos.


(GL)
Escrito por João da Paz


*Universidades que integram a SEC (Southeastern Conference): Georgia Bulldogs, Florida Gators, South Carolina Gamecocks, Vanderbilt Commodores, Tennessee Volunteers, Kentucky Wildcats, Auburn Tigers, Alabama Crimson Tide, Louisiana State Tigers, Arkansas Razorbacks, Mississippi State Bulldogs e Ole Miss Rebels.

Brilhante Tony Romo! – até que provem o contrário, ou seja, até a próxima rodada


Uma estrela no campo.

Sim, o QB do Dallas Cowboys carrega este prestígio que vem junto com a sina da rica história da franquia mais popular da NFL. Não basta vencer, tem que vencer bem. Não basta ganhar jogos de temporada regular, tem que ser de playoffs. É preciso vencer o Super Bowl!

O foco dos 32 clubes é este, chegar à grande final. Uns com uma perspectiva mais real, outros na ilusão. Mas com os Cowboys não importam quais sejam as circunstâncias, a expectativa é sempre a mais alta possível. A responsabilidade de levar o time até o nível mais top é depositada no QB, parte central de qualquer time de football.

Só que nos Cowboys, é claro, ser QB traz comparações aos nomes hall da fama que passaram pelo clube e Romo sofre com os seus antecessores: Roger Staubach, Troy Aikman... Este comparativo, na maioria dos casos, pesa contra Romo. Porém no último domingo (13), no jogo contra o Buffalo Bills, Romo teve uma performance épica: completou 23 passes de 26 tentados. Um aproveitamento de 88.5%, o maior na história da franquia Cowboys, franquia esta que teve Roger Staubach, Troy Aikman...

Em 9 jogos da temporada 2011-12 deu para notar como Romo oscila suas atuações, dando margem para criticas (justas). Cometeu erros bobos nos minutos finais na estreia contra os Jets em New York; respondeu com uma heroica atuação contra os 49ers em San Francisco, dando a equipe da Califórnia a única derrota da temporada; fez um bom jogo contra os Redskins; e contra os Lions na semana seguinte teve um dos piores 30 minutos finais da carreira. Nestes quatro primeiros jogos dos Cowboys o time bem que poderia ter conseguido 0v-4d ou 4v-0d... Mas venceu 2 jogos em 4 partidas, o que estava muito bom pelo que o elenco tinha apresentado até então.

O sucesso de uma equipe depende do QB, mas ele precisa da ajuda dos companheiros. Romo não tinha proteção satisfatória da linha ofensiva e sem jogo corrido para ajudá-lo. Não podia fazer muito. A semana 7 veio, jogo contra o Saint Louis Rams, e um auxílio fundamental mostrou seu potencial. O RB DeMarco Murray tinha um total de 73 jardas corridas em 5 partidas. Contra os Rams Murray correu para 253 jardas. 2-5-3!

Para manter as comparações dentro da franquia, foi uma atuação a lá Emmit Smith. Essas 253 jardas corridas é a maior marca da história do clube em uma única partida, o topo pertencia ao lendário RB Emmit Smith. Era a certeza que os Cowboys ganharam poder no jogo corrido.


Romo precisava desta força. A linha ofensiva melhorou na proteção ao QB e na abertura de espaços para as corridas de Murray, dando confiança ao ataque e criando preocupações nos sistemas defensivos adversários. Contra os Bills o “time da estrela” pôde fazer um desempenho próximo ao ideal.

A defesa ficava dividida: concentração no jogo corrido de Murray ou nos passes de Romo? O QB do Dallas aproveitou esta indecisão e teve uma atuação perto da perfeição. Leu muito bem as coberturas defensivas, olhou as principais vantagens dos seus receivers contra os defensive backs e marcou 3 TD’s nas quatro primeiras descidas (na outra o TD foi pelo chão - Murray). Os drives na ocasião foram de 80, 78, 58 e 80 jardas. O primeiro tempo de Romo foi fantástico: 18 passes de 19 tentados, 3 passes para TD, 2 TD’s nas duas vezes que chegou à red zone, 7 passes completos de 7 tentados em terceiras descidas... Lembrou o que fez contra os Lions também no primeiro tempo.

Contra o Detroit a segunda metade foi um desastre para Romo. Já contra os Bills não. Ele passou menos, arriscou menos e concentrou a movimentação ofensiva pelo chão entregando a bola para Murray. Sem cometer riscos e sem desgaste a vitória veio fácil: 44 a 7.

O debate logo sobrevém: Romo é um QB vencedor? Os torcedores do Dallas têm dezenas de respostas para esta pergunta, uns o exaltando e outros o menosprezando. Longe da realidade está o amor incondicional dos fãs dos Cowboys para Romo. Mesmo vencendo jogos, atuando bem, sempre haverá alguém pra vaiar. Na partida contra os Seahawks em Dallas (semana 9) ocorreu um exemplo nítido do relacionamento turbulento entre Romo e torcedores.

Os Cowboys venceram o jogo, 23 a 13. Na segunda vez com a bola, a equipe começou o ataque na jarda de número 2. Romo levou seu time até o outro lado do campo num drive de 96 jardas. Na última terceira descida deste drive (para 5 jardas), Romo decide correr com a bola e dá um carrinho quando percebe que não conseguirá a primeira descida. Vaias (fortes vaias) saíram das arquibancadas. Talvez lembrando o que aconteceu lá na semana 1, quando Romo fez um scramble parecido, mas cometeu um fumble perto da goal line. Contra os Seahawks ele aprendeu a lição, ao invés ir de cabeça foi com o pé primeiro e escolheu garantir 3 pontos pelo FG (convertido na sequência) do que arriscar perder a bola. Nesta partida, houve momentos em que o torcedor poderia vaiar, mas nada aconteceu: um fumble do WR Dez Bryant próximo a end zone, as faltas (4) cometidas no primeiro período... Porém as vaias estavam sendo guardadas para uso exclusivo.

Romo vencedor? Claro. Evidente. Só de estar na NFL já é uma vitória, fora o que conquistou em 8 anos de carreira. Por sorte que ele recebeu um convite para o Combine de 2003, graduado por uma universidade da segunda divisão da NCAAf (Eastern Illinois). Nenhum clube da NFL gostou do que viu. Dois treinadores mostram um pequeno interesse no QB: Sean Payton e Mike Shanahan – ambos ex-alunos de Eastern Illinois. Payton, hoje treinador do New Orleans Saints, vencedor de Super Bowl, trabalhava nos Cowboys como assistente técnico de Bill Parcells e cuidava também dos QB’s. Payton tentou convencer Parcells a gastar uma escolha do draft de 2003 em Romo; nada feito. Só que, como agente livre não escolhido no draft, Romo assinou com os Cowboys.

Amargou a parte de baixo na lista de QB’s, ficando atrás de nomes como Quincy Carter, Chad Hutchinson, Vinny Testaverde e Drew Henson. Em 2006 Romo conseguiu ser reserva direto do titular Drew Bledsoe, o substituiu em um jogo contra o New York Giants e assumiu a posição de QB 1.

Na baixa temporada de 2006, Payton deixou os Cowboys para ser treinador dos Saints. Queria levar junto Romo, mas Jerry Jones, dono do Dallas, não aceitou a proposta feita para troca (terceira escolha de draft). Payton não insistiu e se concentrou na sua segunda opção: Drew Brees, que não renovou com o San Diego Chargers e, numa disputa com o Miami Dolphins, os Saints levaram a melhor.

Romo vencedor? Claro. Evidente. Ter uma vitória em quatro jogos de playoffs não ajuda, mas quem é melhor?

Peyton Manning, QB do Indianapolis Colts, é considerado um vencedor. Tem um anel de campeão, mas demorou nove temporadas para ganhá-lo. É considerado mito; nos playoffs participou de 19 jogos: perdeu 10 e ganhou 9... John Elway só ganhou seus dois anéis de campeão com a chegada do RB Terrell Davis em 1995 (venceu o Super Bowl com o Denver Broncos, treinado por Mike Shanahan, em 1998 e 1999)... E Dan Marino, que tem 18 jogos de playoffs, perdeu 10 e venceu 8?


Críticas a Romo são válidas, mas muitas delas são desnecessárias. Questionam sua habilidade, poder de decisão, gana... mas não fazem o mesmo com outros jogadores da posição (em atividade ou não). As oscilações de Romo podem voltar às manchetes; acontece com qualquer um, acontece com ele também.

Qual estatística que melhor define um bom QB? Passer rating. É difícil de entender, mas agrupa as principais ações de um QB em campo. Nesta temporada, por exemplo, é usada para exaltar as magníficas performances de Aaron Rodgers (Green Bay Packers), tida como uma das melhores que a NFL já viu. Eis a lista dos QB´s com o melhor passer rating na história da liga (somando todos os campeonatos da carreira de cada um)

1 – Aaron Rodgers: 103.4 (2005-2011)
2 – Steve Young: 96.8 (1985-1994)
3- Tony Romo: 95.8 (2004-2011)
4 – Tom Brady: 95.7 (2000-2011)
(...)

Ao menos Romo está à frente de Roger Staubach, Troy Aikman...


(GL)
Escrito por João da Paz


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© 2 Wesley Hitt / Getty Images
© 3 Ronald Martinez / Getty Images

Michael Jordan, a hipocrisia e o julgamento de valor


Que mundo é este? Aquele registrado nos comerciais de margarina?

Qual ideal? Quem não busca o seu próprio bem qualquer que seja a ocasião?

Neste interminável lockout que a NBA sofre, criado pelos donos das franquias, um destes se sobressaiu nas últimas discussões por defender com veemência seu lado em detrimento dos jogadores. Normal, se o nome do cidadão não fosse Michael Jordan. Uma meia dúzia de três ou quatro logo proferiu: 'Hipócrita! Quando era jogador defendia sua classe e agora está traindo?".

Jordan defendia a classe ou interesses pessoais? Para ter mais vantagem na última paralisação da associação em 1998, ele foi linha de frente nas negociações com os donos, estendendo o que fez com o chefão do Chicago Bulls, Jerry Reinsdorf, clube que atuou em grande parte da carreira. Nos dois anos finais de contrato com os Bulls, Jordan recebeu US$ 30 milhões/ano, que veio de muita conversa pra lá e pra cá. Este tipo de experiência, e por ser uma figura emblemática, fez com que ele fosse um personagem central no lockout daquele ano.

Em prol das necessidades, Jordan batalhou para que os jogadores saíssem vencedores do acordo feito. Por que faria o mesmo agora? Na verdade ele está sendo quem sempre foi: um cara que quer vencer custe o que custar, não quer ser membro dos perdedores. Só que seu lado em 2011 é dos donos e fará de tudo para que a vantagem favoreça sua atual classe.

Não há como agradar a todos. Não tem como o dono Jordan lembrar os tempos de jogador e defender os atletas na negociação deste ano. A posição partidária dele é correta: lutar pelo que é do seu interesse. E nesta guerra, nada de empate, Jordan que vencer e bem!

Hoje o acordo na mesa de negociação é de uma divisão nos lucros da NBA em 50% para cada lado. Esta proposta foi entregue pelo comissário David Stern ao Sindicato dos Atletas (NBPA). Stern alertou para o pior, dando uma espécie de ultimato via entrevista ao SportsCenter da ESPN:

Entendo que esta é uma ótima proposta [50-50]. Dissemos aos atletas que está ficando tarde, a opção mais racional para nós é concordar com esta oferta, tendo em vista o que tem acontecido com os nossos negócios e nossa indústria; daqui em diante a coisa só irá piorar”.

Os jogadores iniciaram as negociações querendo 57% da fatia – reduzida para 52, e agora 50. Michael Jordan é líder de um grupo de donos, entre 10 e 14 segundo o jornal The New York Times, que não aceita este acordo 50-50 e quer mais para seu lado: 53-47 a favor dos donos (esta deve ser a proposta discutida se os jogadores não aceitarem o 50-50 até amanhã). Todos estes donos que estão com Jordan são de franquias de médio ou de pequeno mercado, Herb Kohl do Milwaukee Bucks e Paul Allen do Portland Trail Blazers são exemplos. Não é a toa que querem estar do lado positivo da divisão.

Aceitar algo menos que 53-47 a favor dos donos é uma derrota para Jordan. Então por que ele iria fazer diferente? Não era pra ninguém se espantar com tal posição.

Isto ganhou uma proporção maior pela reação de alguns jogadores da NBA que criticaram Jordan através da rede social Twitter. Todos os que se manifestaram estão na faixa dos 20-26 anos, cresceram vendo Jordan dando show em quadra, imitavam sua ginga nas quadras e o idolatravam. Porém Jordan é um ex-jogador, atual dono. Não tem motivo de ser procurador de atleta nenhum. Para ele sua opinião e decisão são favoráveis ao basquete, tanto em 1998 quanto em 2011.


Seu clube, o Charlotte Bobcats, na temporada 2010-11, gastou por mês na folha salarial US$ 47.4 milhões; só o trio base do Miami Heat (Dwyane Wade, LeBron James e Chris Bosh) recebeu US$ 47.5 milhões/mês... De alguma forma Jordan quer amenizar este abismo de diferença – excluindo a incompetência na gerência, diga-se.

Nestas negociações entre sindicato, donos e comissário, calorosas e ríspidas discussões foram travadas. Certa vez Wade chegou a gritar contra Stern. As feras da NBA estão presentes e esperam o momento de dizer para Jordan o que ele disse em 1998 ao então dono do Washington Wizards, Abe Pollin: “Se você não consegue lucrar, deveria vender o clube”. Contudo, podem aguardar uma boa resposta de Jordan...

Esta declaração foi dita quando defender os jogadores tinha mais valor para Jordan do que hoje - Outro Reinado, Outras Leis. Defender os jogadores não é algo em si importante, depende do valor que cada um impõe a causa. Antes era de extremo valor para Jordan buscar tudo o que pudesse a favor dos seus companheiros. O jogo mudou, menos o apetite. Jordan vai sim buscar tudo o que puder a favor dos seus companheiros; estes foram anteriormente os jogadores, agora são os donos de clubes médios/pequenos da NBA.

Michael Jordan não luta por conceitos, não levanta a bandeira de princípios belos no papel, mas distorcidos na prática. Quem o critica por ser tão inflexível com os jogadores neste lockout 2011, vai experimentar (ou já experimentou) uma situação na qual teve que ser esperto o bastante para pensar em si e agir conforme a sua vontade.

Não vivemos num mundo ideal. Nem aqueles que supostamente devem ser exemplos vão tomar atitudes nobres como se fossem obras de um script de uma obra “não-real”. Muito menos aqueles que condenam o dono Michael Jordan e são incapazes de fazer um bem ao próximo.

Querem tirar o cisco do olho de quem está perto e/ou longe, mas não tiram a trave que está no próprio olho.

Para avançar, crescer, é preciso pensar grande, sem se prender a coisa alguma. O Brasil, por mais que tenha mazelas e imperfeições, avançou, cresceu... porque pensou grande. O presidente que moldou a carreira política discursando para companheiros trabalhadores defendendo os seus direitos contra os patrões, mudou de visão ao discursar para outros companheiros e defendê-los (os patrões no caso). Aquilo que poderia ser um desastre, antecipação do apocalipse, "foi uma marola que passou...". Quem brigou contra os empresários antigamente, defendeu os interesses destes na crise econômica no final da década passada.

O propósito? O mesmo de sempre.

Nada mudou.


(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 e 2 Kent Smith / Getty Images

Prisioneiros do Momento – A História da World Series no Século XX

A World Series 2011 deixou marcas: boas e ruins. Mostrou como o beisebol pode ser vulnerável a surpresas desagradáveis, por mais que estas surpresas entreguem em campo atuações memoráveis. A MLB, representada pela sua TV (MLB Network), propagou em alto e bom som, de maneira legítima, a “beleza fantástica” da série entre o campeão da Liga Nacional (Saint Louis Cardinals) e o campeão da Liga Americana (Texas Rangers). Não adiantou muito porque o público que assiste a emissora é admirador do esporte e conhecedor da magnitude do jogo decisivo, não importa quais times lá estejam.

Mas o outro público, aquele necessário para agradar patrocinadores e gerar renda para todos os envolvidos, não ligou muito. O grande jogo da final, o de número 6, só teve uma audiência acima da média nos momentos decisivos, nas entradas finais e extras. Quem assistiu presenciou um momento único: a virada histórica dos Cardinals que marcou corridas decisivas tendo contra, por duas vezes, 2 strikes e 2 jogadores eliminados – na 9ª e 11ª entrada.

Na manhã seguinte foi possível ouvir que aquele tinha sido o “melhor jogo de World Series da história”. Quem acreditou, sinto muito, mas será isso mesmo? Contra quais momentos/jogos estaria concorrendo para este título de “melhor”? Sem ficar limitado a empolgação pós-jogo, anestesiado pela energia criada e ciente da audiência abaixo das expectativas, vamos lembrar alguns momentos importantes da World Series no século XX – na maioria deles o esporte era o mais popular dos EUA e a grande final tinha média de audiência de +40 milhões (ex: World Series de 1986).

Não há o intuito de compilar aqui os principais momentos e nem de resumi-los em poucos. Serve de exercício para reviver estes grandes lances da história da World Series e de colocar em debate, sem uso do fanatismo, se o que aconteceu no jogo 6 da WS 2011 pode ser listado entre os de mais destaque – ou os 3 home runs de Albert Pujols no jogo 3, se juntando a Baby Ruth (WS 1926, WS 1928) e Reggie Jackson (WS 1977) como os únicos com 3 home runs numa mesma partida de WS.

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Bobby Richardson (Jogo 7 – New York Yankees x San Francisco Giants – 1962)

Os Yankees venciam por 1 a 0 na nona entrada e o arremessador de NY, Ralph Terry, estava a uma eliminação de vencer o jogo e a World Series fora de casa – público total de 43.948 pessoas no Candlestick Park. No bastão estava Willie McCovey e nas bases Matty Alou (3ª) e Willie Mays (2ª). McCovey rebateu um forte arremesso, um foguete para o lado direito do campo, mas o 2B dos Yankees, Bobby Richardson, fez a defesa que finalizou o campeonato.



O lance ficou famoso e foi tema de uma tira do Minduim numa história publicada em 22 de Dezembro de 1962. No último quadrinho Charlie Brown diz: “Por que McCovey não rebateu a bola 90 cm mais alto?!



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Kirk Gibson (Jogo 1 – Los Angeles Dodgers x Oakland Athletics – 1988)

Na série vencida pelos Dodgers por 4 a 1, esta foi a única vez que Gibson rebateu (jogou machucado). Ele entrou na nona entrada enfrentando uma situação que seu time perdia por 4 a 3 e tinha dois jogadores eliminados. No at-bat, ficou com a contagem cheia com 3 bolas e 2 strikes, porém conseguiu marcar o home run da vitória (Mike Davis estava na 1B após um walk). A imagem de Gibson cruzando às bases mancando é uma das mais emocionantes do beisebol.

Gibson é o atual treinador do Arizona Diamondbacks.

Nota: É deste jogo que o narrador da TV FOX, Joe Buck, resgatou a frase usada no final do jogo 6 da WS 2011. O autor do original foi seu pai, Jack Buck, que narrou a partida para a rádio da CBS.



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Mookie Wilson (Jogo 6 – New York Mets x Boston Red Sox – 1986)

O 1B dos Red Sox, Bill Buckner, tinha problemas no jogo defensivo e estava com os dois tornozelos lesionados. Por isso, durante os playoffs, o treinador John McNamara o substituía quando seu time estava à frente no placar e precisava segurar o resultado. Nesta ocasião Buckner permaneceu em campo para celebrar o possível título que estava por vir.

Pois é... Na contagem, 3 bolas e 2 strikes. Jogo empatado (5 a 5), dois jogadores eliminados e uma rebatida fraca em direção da primeira base. A bola passa de baixo das pernas de Buckner e Ray Knight chegou ao home plate partindo da segunda base. Os Mets forçaram o jogo 7 e venceram a World Series.



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Bill Mazeroski (Jogo 7 – New York Yankees x Pittsburgh Pirates – 1960)

Mazeroski rebateu o home run da vitória na parte de baixo da nona entrada como leadoff – a contagem era 1 bola e 0 strike. O 2B dos Pirates foi o primeiro jogador a anotar um walk-off home run na World Series em um jogo 7. O feito foi repetido apenas mais uma vez na história; veja abaixo.



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Joe Carter (Jogo 7 – Toronto Blue Jays x Philadelphia Phillies – 1993)

Os Phillies venciam a partida por 6 a 5 na nona entrada, graças a 5 corridas anotadas na sétima. Toronto, então defendendo o título da WS 1992, estava com dois jogadores na base assim que Joe Carter iniciou seu at-bat. O home run da vitória veio quando a contagem estava 2 bolas e 2 strikes. Esta foi a última vez (a segunda da história) que uma World Series acabou com um walk-off home run no sétimo jogo.



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Don Larsen (Jogo 5 – New York Yankees x Brooklyn Dodgers – 1956)

Este é o único jogo perfeito da história dos playoffs da MLB e o primeiro no-hitter – o segundo foi de Roy Halladay em 2010 com os Phillies.

O vídeo mostra uma defesa chave de Mickey Mantle na quinta entrada, correndo para pegar a bola rebatida por Gil Hodges.



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Carlton Fisk (Jogo 6 – Boston Red Sox x Cincinnati Reds – 1975)

Mais uma vez o Boston Red Sox perdeu uma World Series... Mas o catcher do time, Carlton Fisk, estendeu a série ao marcar este home run na 12ª entrada para desempatar o jogo (6 a 6) e forçar um jogo 7 também no Fenway Park – quem venceu esta WS foi o Cincinnati Reds, apelidado na época de “Big Red Machine” (tr. “A Grande Máquina Vermelha”).

Assim como no lance de Gibson visto anteriormente, este tem uma imagem marcante: o gesto de Fisk desejando que a bola passasse pelo lado de dentro do poste que limita o campo de jogo; assim aconteceu. Existe uma lenda sobre esta tomada de câmera, visto que não era para o operador que estava na 3B focar em Fisk e sim na bola. Porém, segundo o conto, um rato o distraiu e o rapaz não acompanhou a trajetória dela pelo ar passando sobre a parede – imagem registrada pela câmera atrás do home plate.



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Willie Mays (Jogo 1 – New York Giants x Cleveland Indians – 1954)

A jogada em sim não resultou em vitória, mas mesmo sendo no primeiro jogo da série, esta defesa de Mays entrou para a história pelo alto grau de dificuldade. Até hoje a série é lembrada por este lance.

Alguns detalhes: os Indians eram os super favoritos desta WS; tiveram 111 vitórias na temporada regular. Porém os Giants venceram a decisão em Cleveland sem perder nenhuma partida (4 a 0). Este foi o último título dos Giants em New York e o último da franquia até 2010.



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Reggie Jackson (Jogo 6 – New York Yankees x Los Angeles Dodgers – 1977)

Foram três home runs no jogo 6 que deu o título aos Yankees. O do vídeo é o terceiro, que veio na primeira bola que Jackson recebeu do arremessador Charlie Hough. Aliás, pegando o jogo 5, Jackson converteu um home run nas últimas quatro at-bats dele na WS, todos anotados no primeiro arremesso recebido.

Vimos no começo que outros dois jogadores na história da MLB conseguiram três home runs em uma partida da World Series, mas só Jackson e Baby Ruth, em 1928, alcançaram o feito em jogos decisivos.



(GL)
Escrito por João da Paz