Especial NBA - Feito no Brasil


Quem passou a acompanhar a NBA nesta década se acostumou a ver brasileiros em quadra e a percepção de quanto Leandrinho (armador do Phoenix Suns), Anderson Varejão (ala-pivô do Cleveland Cavaliers) e Nenê (pivô do Denver Nuggets) são peças relevantes no melhor basquete do mundo talvez seja um pouco ofuscada.

O que os três tem feito nestes últimos anos é louvável. Hoje há um tratamento diferenciado com os jogadores brasileiros por parte dos scouts (olheiros) da NBA que olham os atletas daqui da terrinha com mais carinho. O sucesso individual deles coincidiu com o ostracismo da seleção nacional e, de certa forma, alguns culpam os brazucas pelo fracasso, por buscarem mais o interesse pessoal do que o coletivo.

Ué?! Quem faria diferente? Quer dizer, eles são estrelas por lá, respeitados por todos e estão em busca de uma carreira de sucesso. Não há outra saída: o basquete brasileiro só voltará a se importante a nível internacional com os três participando, basta encontrar um meio termo que favoreça os dois lados da questão.

Outros jogadores poderiam estar neta mesma posição, mas um ficou marcado como uma das maiores decepções da história do draft (Rafael “Baby” Araujo, 8ª escolha em 2004 pelo Toronto Raptors, ficando a frente de Andre Iguodala e Al Jefferson) e outro preferiu, por enquanto, os euros ao invés dos dólares (Thiago Splitter, 28ª escolha em 2007 pelo San Antonio Spurs). Daqui a alguns anos, Jonathan Tavernari (universidade de BYU) e Fab Melo (iniciará a carreira universitária ano que vem em Syracuse) poderão figurar na associação.

No momento, Leandrinho, Varejão e Nenê representam muito bem o Brasil na NBA. As performances excepcionais de cada um os colocam em um patamar de respeito, que parte dos dirigentes, companheiros de time, adversários e torcedores. Em uma parceria inédita, o Grandes Ligas junto com o Bola Presa se unem para refletir sobre a representatividade do trio, criando um debate saudável e construtivo sobre quem são estes caras, o que eles vem fazendo e qual será o legado deles. O objetivo é fazer com que os fãs brasileiros da NBA, independente da preferência por qualquer um dos brazucas, compreenda os valores tangíveis e abstratos que os três apresentam em quadra a cada rodada.



Bola Presa: O Leandrinho tem condição de ser titular na NBA um dia ou está condenado a ser somente o cara que bota fogo no jogo vindo do banco?


João da Paz: Assim que o Mike D´Antoni foi para New York, pensei que ele levaria junto o Leandro, já que havia (e ainda há) a possibilidade dele ser titular com os Knicks. Ele tem jogo e condições para manter boas médias de pontos se caso isto ocorrer, mas não acontecerá com qualquer treinador ou com qualquer time. D´Antoni sempre admirou as habilidades do Leandrinho – que se encaixam perfeitamente no desenho tático do treinador – e a ida do brasileiro para NY, a meu ver, seria uma boa para ambas as partes.

Dênis: Da maneira que ele tem jogado nos últimos anos, só tem condição de ser titular em um time que não prioriza a defesa. Nos Suns sem Jason Richardson ele seria titular e jogaria bem; no Warriors era capaz dele ser usado como pivô, mas seria titular. Em qualquer outra equipe ele seria o elo mais fraco da defesa e os adversários iriam explorar isso. Se o Leandrinho quer se tornar um titular na NBA precisa melhorar a sua defesa.





Grandes Ligas: Qual jogador brasileiro é mais importante pro seu time?


Dênis: O Varejão é muito importante para o lado defensivo dos Cavs, com as faltas de ataque que cava e com os seus rebotes principalmente, mas no ataque contribui apenas com rebotes ofensivos e eventuais bandejas em pick-and-rolls. O Leandrinho já foi essencial para os Suns, mas hoje, quando não está machucado, está na sombra do Jason Richardson. Por isso o mais importante brasileiro para a sua equipe é o Nenê. Com um jogo balanceado entre ataque e defesa, sempre contribuindo com assistências, roubos e tocos, o pivô brasileiro tem sido um dos mais completos da temporada e a base para que os Nuggets tenham um dos melhores garrafões da NBA.

João da Paz: Nenê. Ano passado ele foi titular em 76 dos 77 jogos que disputou. Teve as melhores média da carreira em pontos e rebotes, dados que fizeram alguns especialistas da NBA escolherem o brasileiro como Jogador de Maior Evolução da temporada 2008-09. Neste campeonato ele está melhor nos rebotes – média de 8.6 por jogo –, estatística fundamental para conseguir se dar bem nos playoffs.



Bola Presa: Alguns jogadores do Denver tem incentivado o Nenê a ser mais agressivo nos jogos, ele respondeu dizendo que seu estilo de jogo é mais solidário do que agressivo. Ele deveria mudar o jeito de jogar?


João da Paz: Estas reclamações têm base em números, pois a média de pontos do Nenê nesta temporada é menor no segundo tempo em comparação com o primeiro. A agressividade que se pede do brasileiro é requisitada nos finais das partidas, nos momentos que ele tem condições de usar mais a sua força e explosão para marcar pontos e ser um fator de preocupação a mais para o treinador adversário que, se assim for, terá que se concentrar em marcar também o garrafão e não só o perímetro. Ele não precisa deixar de ser solidário, o que seus companheiros pedem é que, em certas ocasiões, ele ataque a cesta ao invés de forçar um passe para alguém

Dênis: Uma das grandes virtudes do Nenê é passar a bola. Não só ele tem a mentalidade de passador como sabe fazer isto muito bem (não adianta ter a boa vontade e não ter o talento!). Mas entendo a crítica dos jogadores dos Nuggets. Em alguns momentos ele está com condição de finalizar e mesmo assim passa a bola. O Nenê é bom o bastante para atacar um pouco mais do que já ataca, ao encontrar esse equilíbrio ele se tornará ainda melhor.



Grandes Ligas: Qual jogador brasileiro tem mais potencial para crescer?


Dênis: Eu vejo o Nenê já chegando perto do seu auge e o Leandrinho já deveria ter se tornado um jogador mais completo nos últimos anos – sua estagnação é uma decepção. Quem não para de evoluir e quem eu acho que mais vai crescer nos próximos anos é o Varejão. Embora ainda contribua pouco no ataque, já é bem mais do que feito no passado e em um futuro próximo ele pode ser peça importante em todos os setores do jogo para os Cavaliers.

João da Paz: Varejão. O que acontece com ele é curioso. Começou apenas 6 dos 27 jogos desta temporada, mas tem a maior média de minutos por partida dos cinco anos de carreira: 30. Em recente entrevista ao jornal local Cleveland Plain-Dealer, ele disse não se incomodar com a reserva: "...o importante não é começar em quadra a partida e sim terminar...”. Toda a diretoria e comissão técnica gostam da vontade que Varejão demonstra a todo momento que entra em quadra e reconhecem o seu valor, sabendo o quanto ele pode melhorar em diversos fundamentos – o contrato de 6 anos (US$ 42 milhões) assinado depois da temporada passada exemplifica isso.



Bola Presa: Você reconheceria o Anderson Varejão na rua se ele cortasse o cabelo?


João da Paz: Eu diria: Você é o Sandro Varejão, certo?

A cabeleira do Varejão é uma marca registrada e ele JAMAIS poderá cortá-la. Em entrevista recente a NBA TV, ele disse que quando fizeram pela primeira vez o “Dia da Peruca” – quando todos da Q Arena ganharam uma peruca imitando o cabelo do Varejão (foto acima) –, olhou todos do ginásio usando a cabeleira e pensou consigo: ”Será que eu estou olhando um espelho? (risos)”. A idéia da diretoria dos Cavaliers foi (é) fantástica e me emocionou na primeira vez que vi. O mascote, comentaristas e até as cheerleaders estavam com a peruca fazendo uma singela homenagem, porém inesquecível.

Dênis: De jeito nenhum! Eu ia parar ele na rua e falar o que eu falo para todas as pessoas altas que eu conheço: Com essa altura eu tava na NBA!



Grandes Ligas: Qual jogador brasileiro será mais lembrado daqui a 20 anos?


Dênis: Depende, lembrado por quem? Se for no mundo da NBA, será preciso montar uma história mais vitoriosa nos playoffs, Varejão tem a vantagem de já ter disputado uma final. Porém para a torcida brasileira marca muito o desempenho dos atletas na seleção e lá quem é o líder da equipe é o Leandrinho. Se nos próximos mundiais e olimpíadas o Brasil conseguir boas colocações quem ficará na memória do brasileiro será o Barbosa.

João da Paz: Leandrinho e Nenê. O fato de Leandrinho ter ganhado na temporada 2006-07 o Prêmio de Melhor Reserva da temporada (foto acima) já é suficiente para entrar na história. Ele teve bons anos no Brasil e se adaptou bem na associação – deve ser eternamente grato por ter ido para os Suns e não para o San Antonio Spurs (time que o escolheu no draft de 2003), porque sua maneira de jogar não se adaptaria ao pragmatismo do vitorioso time de Greg Popovich.

Nenê será sempre lembrado por ter voltado a atuar na NBA depois de passar por um problema grave de saúde (câncer). George Karl, treinador dos Nuggets, gosta de ressaltar a garra do brasileiro, atitude que contagia todos do elenco. Ter sido a 7ª escolha no draft de 2002 (a frente de Amare Stoudemire e Caron Butler) é também algo bastante significativo.


(GL)



© 1 Elsa / Getty Images
© 2 Garrett Ellwood / Getty Images
© 3 Brian Babineau / Getty Images
© 4 Paul Connors / AP



PS: Leia "Ele Não Foi Deixado Para Trás" artigo sobre o Nenê (publicado no dia 27/05)

Personalidade


Tem pessoas que são únicas mesmo... Aquelas que têm vida própria, com uma trajetória de vida incomparável. Aquelas que têm um comportamento diferente, um linguajar diferente, uma postura diferente. Aquelas que experimentaram a vida nos extremos: do nada para o tudo; do lixo para o luxo; do desprezo para o reconhecimento. Se existe alguém neste planeta que passou por tudo isso, este ser tem nome e sobrenome: Michael Oher.

O filme que mostra a sua vida – baseado no livro “The Blind Side: Evolution of a Game” – é um sucesso nos EUA impressionante (será lançado no Brasil dia 19 de Março de 2010 com o nome "Um Sonho Possível"). Para se ter uma idéia, o filme tem arrecadado mais dinheiro nas bilheterias do que a badalada sequência da série Crepúsculo (Lua Nova) e do popular 2012. Ainda colocou a atriz Sandra Bullock, que faz o papel da mãe de Oher (Leigh Tuohy), como uma indicada na categoria ”Melhor Atriz – Drama” para o Globo de Ouro 2010 e uma das favoritas ao Oscar 2010. E claro, fez de Oher uma celebridade.

Ele, porém não se prende muito a isto. Acha que, no final das contas, será como todos os outros offensive linemen da NFL e passará despercebido em meio a multidão. Oher é carismático, inteligente e aprazível, só que ele não nasceu para estar no centro das atenções e sim para ser um jogador de football – e para transformar a vida de muita gente ao conhecer sua história.

The Blind Side é fantástico. O diretor John Lee Hancock fez um trabalho primoroso e Gil Netter, produtor, conseguiu transformar em imagens o conteúdo fiel do livro – o mesmo feito com o filme Marley & Eu, também de sua produção. Como nem tudo é perfeito há uma falha no roteiro que Oher faz questão de mencionar: o filme mostra um garoto muito ingênuo e Oher diz que não era bem assim. Ele cita principalmente a parte sobre seu conhecimento de football, que ele já demonstrava, na época, ter um QI acima da média.


John Matsko, treinador da OL do Baltimore Ravens, ressalta este aspecto. Na preparação para o primeiro jogo desta temporada, contra o Kansas City Chiefs, ele ficou com Oher por uma hora e meia na sala de vídeos do clube estudando mais de 90 movimentações de Tamba Hali, DE dos Chiefs. O especialista em sacks foi parado pelo OL novato e os Ravens ainda correram 198 jardas.

Esta preparação foi diferente porque Oher teve que mudar de posição; jogou pelo lado direito da OL. Na verdade, foram apenas quatro jogos na sua posição de origem (lado esquerdo): contra Denver, Cincinnati, Detroit e Chicago. Os outros jogos foram no lado direito e ele foi titular em todas as partidas. Entra tantas coisas que chamam a atenção das suas atuações nesta temporada, uma delas é esta troca de posições que são poucos os que conseguem fazer, pois, como Matsko disse a revista Sports Illustraded...é como um golfista destro de repente jogar com a mão esquerda...”. A mudança técnica é drástica e afeta o movimento dos pés, principal recurso do OL. No jogo contra o New England Patriots ele teve que fazer esta mudança no decorrer da partida – o que é mais difícil ainda -; o OL titular do lado esquerdo, Jared Gaither, se machucou e teve que ser substituído. Nas ocasiões que Gaither ficou no Departamento Médico, foram as que Oher jogou pelo lado esquerdo.

Ele não se incomoda (ou incomodou) com isto. “Eu posso fazer, eu estou na NFL. Eu preciso ter esta habilidade de mudar” diz Oher mostrando um traço específico da sua personalidade.

Na semana 6 do campeonato (jogo contra o Minnesota Vikings) ele demonstrou mais um traço de si em campo. Mesmo sendo titular pelo lado direito, Matsko colocou Oher diversas vezes no lado esquerdo para enfrentar Jared Allen (um dos melhores DE da NFL). O novato anulou as ações do feroz veterano e ainda foi para a imprensa dizer isto aos torcedores, atitude que tirou do sério o renomado DE... Outra performance de Oher que merece destaque foi contra o Indianapolis Colts (semana 12). Os Ravens perderam, mas Joe Flacco (QB) não recebeu nenhum sack e pela primeira vez, até então, que os Colts passaram um jogo sem conseguir derrubar o QB adversário...

de pé: Sean e Leigh; sentados: Collins (irmã), Oher e Sean Jr. (irmão)

Oher é extremamente comprometido e disciplinado e isto ele aprendeu com sua família (foto acima). Todas essas atuações são acompanhadas de longos estudos e treinamentos. “As pessoas não percebem o quanto que eu trabalhei para chegar aqui e o quanto eu trabalho para melhorar minhas habilidades” diz o camisa 74. Muitos especialistas o colocam no time número 1 da Conferência Americana deste ano e entre os três principais novatos (atrás de Austin Collie – Colts e Jairus Byrd – Buffalo Bills). Oher, depois de 14 jogos, não tem sequer uma penalização por segurar o adversário – falta comum entre os OL. São apenas 9 penalizações para 55 jardas – a maioria vinda de saída falsa ou formação ilegal e permitiu só seis sacks, número considerado satisfatório para um novato.

Os números são dados concretos que caracterizam Oher, colocando ele entre os melhores da NFL. As qualidades abstratas dele também chamam a atenção: “Você não precisa repetir as coisas para ele; é só dizer uma vez e pronto” diz Matsko. Colin Colinsworth, comentarista da NBC, ficou impressionado quando conversou com Oher, antes do jogo contra o Pittsburgh Steelers no domingo à noite, dizendo “...parece que ele saiu de um desses sofisticados clubes da elite...”. Sean Tuohy fala com orgulho sobre o modo que seu filho encara o dia-a-dia e ressalta o motivo maior que fez Oher atingir o seu status atual:

Michael foi abençoado com uma incrível habilidade de não se preocupar com o ontem. Sua mente está focada sempre no que está a frente e acredito que é justamente isto que fez ele superar as adversidades, porque se ele estivesse por aí se preocupando com o passado, não teria chegado aonde está hoje”.

Tem pessoas que são únicas mesmo...


(GL)



© 1 Ned Dishman / Getty Images
© 2 por Baltimore Sun
© 3 Direitos Reservados


PS: Leia também Vitória: A História de Michael Oher (publicado dia 29/04)

O Natal Tem Destas Coisas


Decifrar o enigma desta foto – descobrir quem é o Papai Noel – é fácil de resolver. Basta olhar para o menino... percebe a camisa que ele tá usando? O estilo do cabelo? Pronto! Quem disse que o homem de vermelho é Chris Andersen, pivô do Denver Nuggets, acertou. Nesta última semana ele foi convidado do famoso hotel JW Marriot, que fica num bairro comercial de classe alta em Denver, para incorporar o papel do bom velhinho, tirar fotos com crianças (com alguns adultos também) e angariar fundos para uma instituição filantrópica.

Andersen é uma figura cultural e extremamente popular na cidade, mas entenda o surreal de uma possível pergunta que um amigo fez para outro: “Vamos lá num evento ver o Birdman (apelido de Chris) de Papai Noel?”. Quer dizer, está se falando do mesmo cara que tem tatuagens (mais de 30) por todo o corpo e com um passado obscuro? Isto, este mesmo. Afinal, porque não?

O gesto dele é totalmente louvável e fará com que outras pessoas, sejam fãs dele ou não, conheça mais a sua trajetória e história de vida. Antes de vestir a roupa e colocar a barba branca (e não usar o gorro para não despentear sua marca registrada), muita coisa aconteceu, muita solidariedade demonstrada.

O processo de transformação de Andersen iniciou quando ele recebeu a notícia da sua suspensão de dois anos da NBA (Janeiro/2006) por falhar no exame anti-drogas da associação. O que poderia ser uma longa caminhada até chegar ao fundo do poço, se tornou uma saída para a redenção. Problemas familiares e pessoais o levaram a usar drogas pesadíssimas e daí veio a punição.

Até hoje ninguém sabe por qual substância específica ele falhou no teste. Com certeza não foi uma destas drogas mais leves (maconha, cocaína...), pois a pena que o atleta cumpre, nesta ocasão, é curta e branda – sem contar que se for primário, o castigo é menor. No caso de Andersen foi uma repressão severa, mesmo sendo a primeira vez que ele foi pego, levando a entender, pelas regras de conduta da NBA, que deve ter sido heroína, LSD...

O que importa, na verdade, é que ele decidiu não se entregar e que voltaria a jogar no melhor basquete do mundo. Esta atitude incomodava os conselheiros da casa de recuperação onde ele estava sendo tratado. Um dos rapazes que estava acompanhando o jogador chegou a ligar para seu empresário dizendo que Andersen não estava encarando a realidade: “...ele só fala em retornar para a NBA...”.


Muitos o achavam desiludido. São poucos os que conseguem se recuperar e sair da dependência de algo tão viciante, imagina voltar a ser um atleta em uma das ligas mais fortes do mundo... Chris colocou a improbabilidade como meta querendo trocar de personagem: ao invés de ser o exemplo ruim, ele queria ser o bom exemplo. Foram dois longos anos, mas em Março de 2008 Andersen voltou a integrar um elenco na associação, quando o New Orleans Hornets, time que ele defendia quando foi suspenso, assinou com o jogador.

A partir de então ele passou a conversar sobre sua história, com esperança que alguém pudesse se identificar com ela e usá-la como motivação. Um dos locais que ele primeiro procurou em Denver (e se familiarizou logo de cara) foi uma casa de crianças carentes chamada Mount Saint Vincent. Lá ele é unanimidade; não só são os garotos ou garotas que usam o cabelo moicano quando o jogador vai visitá-los, as freiras entram na onda também mostrando com um simples gesto a gratidão que tem por ele.

Chris é bastante ativo no trabalho com estas crianças (por volta de 50 entre 3 e 16 anos). Ele dá aulas de basquete, ajuda na organização e participa de qualquer evento que venha arrecadar dinheiro para a casa – no mais recente, ele conseguiu 18 mil dólares. O carinho que ele tem por todos da casa é enorme, mas sempre tem espaço para mais.

Paralelo a isso, Andersen se dedica a uma organização chamada Alliance for Choice in Education – ACE (tr. Livre: Aliança por Escolha na Educação) que oferece bolsas de estudos em escolas e universidades particulares para crianças de baixa renda. Ele faz de tudo para ajudar, até se vestir de Papai Noel... Andersen entregou fotos autografadas a todos que compareceram no hotel, atendendo o pessoal com muita simpatia e tirando fotos com todos. A entrada era 10 dólares e todo dinheiro arrecado foi direto para a ACE. Nem é preciso dizer que uma multidão compareceu para ver e registrar o momento especial.


O carinho que a população de Denver tem com Andersen transcende qualquer entendimento. Ele é reserva, joga em média 20 minutos por partida, marca menos que 10 PPJ e tem sua camisa número 11 como uma das mais vendidas da franquia. Isto mostra o quanto que as pessoas se identificam com ele, com sua história. Ver ele próximo da comunidade e ajudando os que mais precisam o torna mais um entre tantos outros, alguém semelhante.

Quando Chris está passeando nas ruas da cidade, não tem disfarce. O contato com o público é direto e ele faz questão de atender quem quer lhe falar algo. Apertos de mão, conversas olho a olho, acenos... Por onde Andersen passa ele deixa uma boa impressão, ou seja, conseguiu o que queria.

São inúmeras as histórias de pessoas que escrevem para ele agradecendo por dividir o seu sofrimento e sua luta. Expor a vergonha não incomoda Andersen, porque sua vida teve uma reviravolta divina e hoje é motivo de orgulho para os poucos que acreditaram na sua força de vontade e determinação em obter novamente o respeito das pessoas. Ao olhar para seu corpo grafitado e aparência rebelde, os julgamentos e pré-conceitos surgem aos montes. Contudo, ao conhecê-lo melhor e enxergar o ser interior, se vê alguém com um coração bondoso e caridoso; um exemplo que inspira a todos.

O Natal tem destas coisas.


(GL)



© 1 Chris Graythen / Getty Images
© 2 Jed Jacobson / Getty Images

Fluxo do Dinamismo


Ele recebe a bola, olha para os lados e percebe a defesa pronta para derrubá-lo. Tudo o que ele quer é uma brecha, então faz uma finta, vê um espaço vazio e... explode! Os que estão no estádio (ou vendo o jogo pele televisão) testemunham um atleta com uma aceleração excepcional, com uma velocidade acima do normal, com uma habilidade “não-convencional”. Passa pelos defensores como se fossem folhas ao vento, ninguém o toca até chegar na endzone e lá ele faz sua descontraída comemoração. DeSean Jackson, receiver do Philadelphia Eagles, é o jogador caracterizado acima.

Os movimentos dele dentro de campo são diferenciados, a visão de jogo que ele tem é diferenciada. No jogo mais recente (dia 13/12) contra o rival New York Giants, Jackson mostrou por que é um dos atletas mais legais de se ver jogar.

Foram dois touchdowns que deixou nítido a todos quem é DeSean. Primeiro foi um retorno de punt para 72 jardas e o camisa 10 dos Eagles passou por todos os defensores sem que eles encostassem no elétrico jogador. O segundo foi uma recepção de um passe longo feito por Donovan McNabb e Jackson estavam tão livre que entrou na endzone de costas...

Estes TD´s longos vem se tronando uma especialidade; faltando ainda três jogos para o fim da temporada regular, DeSean já igualou o recorde da liga de TD´s para 50 jardas ou mais (8). O coordenador ofensivo da equipe, Marty Mornhinweg, deixa bem claro o seu plano de ataque para o jogador “Nós falamos: ‘DeSean, corre o mais longe que puder que lhe entregaremos a bola’”. A confiança demonstrada pela comissão técnica parte do próprio Jackson que diz constantemente “Uso minha velocidade para deixar os outros para trás”. E assim ele vem fazendo.


Ao pensar que ninguém irá conseguir pará-lo, Jackson já se preparar mentalmente para encarar os adversários, acreditando que poderá se sair bem contra qualquer um. Marty, que já trabalhou com lendários WR´s como Jerry Rice e Terell Owens, alerta sempre para a inteligência de Jackson em campo destacando o discernimento de desviar dos tackles e evitar uma pancada forte. É preciso ser assim, pois ele é um jogador franzino (1,78m e 79kg) e não aguenta ser atingido com muita frequência – ele ficou de fora da semana 13, jogo contra o Atlanta Falcons, depois de ser atingido na partida anterior, contra o Washington Redskins, pelo LB London Fletcher: capacete contra capacete.

Os dias se recuperando da lesão na cabeça pareciam uma eternidade para DeSean “Acordava e já sentia dores, estava cansado e fraco. É uma situação bem assustadora”. O jogo contra os Giants mostrou que ele se recuperou bem.

Para quem gosta de fortes emoções, assistir Jackson jogar é um deleite. Seja recebendo um passe ou retornando um punt, quando ele está com a bola em mãos o inesperado pode ocorrer. As descontraídas comemorações fazem parte do “kit”; elas não são mais irresponsáveis como as do início da sua carreira, porém continua sendo bem divertidas.

Será que alguém já marcou um TD de costas como Jackson fez contra NY? O que para muitos foi um sinal de menosprezo, esta jogada deixou claro a desatenção da defesa para com ele; como se dissesse “Se com alguém na marcação eu consigo chegar na endzone sem dificuldade, imagina sem?”. Foi uma jogada mais feliz do que a do ano passado, quando ele passou vergonha em pleno tradicional confronto da segunda à noite - contra o Dallas Cowboys.

Mesmo sendo um jogo histórico para DeSean – conseguiu 110 jardas na partida, se tornando apenas o segundo novato na história da NFL com mais de 100 jardas nos dois primeiros jogos –, ele é lembrado por ter largado a bola antes de cruzar a goal line (pensando que já tinha marcado o TD). O lance trouxe a memória outro mico que ele pagou só que nos tempos de escola, quando no jogo das estrelas do High School 2005 ele tentou marcar um TD dando um mortal para frente e a bola escapou na jarda número 1 (foto abaixo) – apesar disto, ele foi o MVP do evento.


A energia que Jackson traz para o campo contagia e sua maturidade também. Andy Reid, treinador dos Eagles, se diz impressionado como seu principal WR (líder da NFL em média de jardas por recepção – 18,9) encara com tranquilidade os grandes confrontos nos principais palcos da liga, não deixando sua juventude e estilo frenético de jogar o atrapalhem. Muitos argumentam que o ataque 2009 do Philadelphia é o melhor da equipe nos últimos anos e Jackson é parte fundamental, sendo a arma número 1 para os passes longos que saem do poderoso braço de McNabb.

O tight end do time, Brent Celek, resume o estilo do seu companheiro: “Não existe um jogador igual a ele em toda a liga. Há grandes receivers por aí, mas nenhum tão rápido ou veloz”. O flow de DeSean Jackson é natural e, por mais que os adversários saibam como será a jogada, não conseguem impedi-lo porque ele executa com maestria sua função. Podem passar horas estudando a mecânica do movimento do corpo (fis.), sabendo que a dinâmica dele é complicada de entender e dífícil de marcar – mas prazerosa de assistir.


(GL)



© 1 B. Garfinkel / Eagles Media
© 2 Imagem da NBC TV

S de Satisfatório


Com o final de 2009 chegando, listas e mais listas de melhores da década aparecem aqui e acolá. Quando o assunto é NBA, com os 10 anos passados visto como perspectiva e comparado com os anos 90, uma franquia se destaca: Mavericks. Após um período de futilidade (1990-91 até 1999-2000) o time de Dallas ressurgiu tornando-se relevante e importante. Muitos computam esta transformação a Mark Cuban (dono) – e que teve sim um papel importante na reestruturação financeira do clube –, mas o maior responsável por fazer o time competitivo foi o diretor de basquete (GM) Donnie Nelson.

O núcleo de jogadores dos Mavs veio de transações (trocas ou draft) feitas por Nelson, desde as contratações de Erick Dampier, Jason Kidd, Jason Terry e Shawn Marion até as escolhas no draft de Josh Howard (leia “Lembranças do Erro”) e Dirk Nowitzki. Todas as aquisições não só se concentraram em fatores do jogo de cada atleta, há também as questões extra-quadra como, por exemplo, o entrosamento com os outros membros do elenco. A vinda de Marion para a equipe sintetiza esta maneira de trabalhar.

Por mais que a economia tenha afetado o mercado de jogadores da NBA na pré-temporada passada e, sendo assim, Marion não recebeu muitas propostas, Nelson se posicionou em assinar com o ala, pois ele já visualizava o que o jogador poderia acrescentar ao elenco - a diretoria estava em busca de um jogador atlético e defensor. Marion não foi a primeira opção, porém ele se adaptou bem ao time encontrando velhos companheiros de NBA: Terry e Kidd.

Shawn e Terry são amigos de longa data – ambos foram escolhidos no mesmo draft (1999), com Marion sendo a 9ª escolha e Terry a 10ª. Agora unidos, eles aprontam bastante parecendo duas crianças traquinas e quem aproveita são os outros jogadores dos Mavs, desfrutando do “Matrix and Jet Show” que ambos apresentam no ônibus ou no avião quando o time está viajando.

Já a aproximação dele com Kidd vêm dos tempos de Phoenix Suns. Em recente entrevista a Sports Illustraded, Marion disse que voltar a jogar com Kidd “... é como se nós não tivéssemos separados...”. Ele aproveita para contar vantagem, porque quando eles estavam em Phoenix era Kidd que contava várias histórias para o garoto novato e agora, após anos de experiência, é Marion que conta as histórias.


Embora o que importa são as atuações em quadra e, até agora, Nelson vem gostando do que tem visto. Mesmo com Howard voltando de contusão – o que significa mais um ala para dividir o tempo em quadra –, o diretor em nenhum momento se preocupa com isto, porque ele confia no treinador Rick Carlisle (foto acima) e sabe que ele vai achar minutos suficientes para os dois. Outra coisa que não irá tirar o sossego do GM são os baixos números estatísticos de Marion: “Isto acontece porque ele está percebendo o que precisa ser feito para ganhar campeonatos” diz Nelson “Ele está tentando não inventar muito, sendo mais participativo e simples”.

Talvez para se contrapor a todas as boas negociações, existe uma que ainda hoje deixa alguns torcedores inquietos: a troca de Devin Harris por Jason Kidd – que envolveu outros cinco jogadores (e duas escolhas no draft), mas esses dois foram os principais. Depois da transação, o que os fãs dos Mavs viam era uma jovem promessa brilhando em New Jersey e um veterano em quadra defendendo sua equipe. O que Nelson visualizou nesta troca foi além desta rasa analise e a argumentação dele é convincente:

A realidade na época era que tínhamos muitos pontuadores, muitos cestinhas e precisávamos de um armador nato, no sentido mais puro da palavra. Não que Harris não venha a se tornar um deste tipo de jogador, mas a opção para nos foi a melhor, tanto na ocasião quanto agora. Kidd é um cara que transforma todos em sua volta e faz os outros serem melhores jogadores”.

O objetivo principal foi (é) colocar os Mavs em posição de ganhar um título da NBA. Não atingiu tal meta neta década, entretanto não foi por falta de empenho. O aproveitamento da franquia nas últimas 9 temporadas é impressionante e, para quem viu o quanto o time era fraco na década passada, os números a seguir são surpreendentes (temporada regular de 2000-01 até 2008-09):

- Cinco temporadas com mais de 50 vitórias; e uma com exatas 50 vitórias

- Duas temporadas com mais de 60 vitórias; e uma com exatas 60 vitórias

- No campeonato 2006-07 foram 67 vitórias, marca que empatou com a sexta melhor campanha de toda a história da NBA

- Nove classificações seguidas para os playoffs, indo duas vezes para as finais da Conferência Oeste (2002-03 e 2005-06) e uma para as finais da NBA (2005-06).


Para receber um AS de Altamente Satisfatório Nelson precisa vencer o título da NBA. Para alcançar esta meta ele terá que conseguir mais um feito histórico: colocar o Dallas 10 vezes seguidas na pós-temporada. Então, o próximo passo é chegar na decisão da Conferência e, quem sabe, destronar o bi-campeonato do Los Angeles Lakers. Há um longo caminho para percorrer, contudo as coisas parecem estar em ordem e mais uma temporada bem sucedida está se concretizando.



(GL)



© 1 Glenn James / Getty Images

Único e Raro


Pense: um cara com 1,93m e 138kg; ágil, com ótima aceleração e muita explosão. Soma-se a isto uma ótima movimentação de pernas e o resultado é um DT acima da média. Este é Ndamukong Suh (pronuncia: Em-dah-muh-ken Soo), da Universidade de Nebraska e que amanhã (dia 12/12) pode ser o primeiro legítimo defensor a levar o troféu Heisman, dado ao jogador de football mais excepcional do ano na NCAA.

Imagina: um cara deste tamanho jogando futebol; e foi isto que Suh fez até a oitava série. O esporte da bola no pé deu ao atleta o seu principal diferencial, que é justamente seu jogo de pernas. Esta característica é vista pelos scouts (olheiros) da NFL como o grande diferencial dele em relação aos outros meninos da posição.

A quem possa interessar: ele deixou o futebol porque seu tamanho estava lhe atrapalhando e sua força não jogava a seu favor, já que ele cometia muitas faltas e era expulso constantemente...

Raciocine: não poderia ser diferente, é claro que ele iria se dar bem no football. Mesmo começando tarde, imediatamente Suh se tornou um destaque na High School (ensino médio), chamando atenção de muitas faculdades – ele entrou na NCAA sendo o melhor defensor da classe de 2005. O camisa 93 fez questão de ficar em Nebraska um ano a mais (redshirt) e os cinco anos defendendo os Cornhuskers foi fundamental para que ele desenvolvesse o estilo NFL de jogar, sendo um homem entre os garotos. Suh demonstrou em toda sua carreira na NCAA um domínio da posição peculiar, mas 2009 será lembrado por algo mais impressionante.

Veja: sem dúvida, ele é o melhor defensor desta temporada, afirmação que o coloca entre os finalistas do Heisman, feito tão incomum que nos 75 anos de história da premiação, apenas 19 defensores antes dele chegaram entre os cinco finalistas – o CB Charles Woodson, Green Bay Packers, levou o troféu em 1997, porém ele também era punt returner e jogava em algumas situações como WR em Michigan. Por isso que se os 870 votantes, mais os jogadores que ganharam o Heisman (55 estão vivos) escolherem Suh como o mais excepcional jogador, será o primeiro defensor a quebrar a “regra” de só atletas de ataque receberem a honraria.


Assim: os argumentos para isto acontecer existem e são consistentes. Além dos números – 12 sacks (5º em toda a NCAA) e 82 tackles (líder do time) –, há as belas performances contra rivais da Conferência Big XII. No jogo contra Missouri ele conseguiu 6 tackles, forçou um fumble, 1 sack, 1 INT e um passe desviado; na decisão da Big XII contra Texas (foto acima) ele conseguiu 12 tackles e 4 ½ sacks. Mais do que isto, Nebraska quase ganha o título sem marcar um TD no jogo – 102º ataque neta temporada – e o QB do time terminou a partida com um rating de 17.2...

Entenda: o debate central é sobre a quem entregar o Heisman, se é para o melhor jogador, o mais importante, o mais valioso... Na placa do troféu está escrito outstanding (excepcional) e, numa análise sem muito esforço, chega-se a conclusão que Suh teve um campeonato excepcional, contudo não só foi ele que chegou neste nível. O DT concorre com dois QB´s (Tim Tebow, Florida e Colt McCoy, Texas) e com dois RB´s (Toby Gerhart, Stanford e Mark Ingram, Alabama). Os corredores são os favoritos e as projeções indicam que Suh ficará em terceiro lugar; com Gerhart em segundo e Ingram em primeiro. Aí, o passado irá voltar nas discussões.

Lembre: o último DT que chegou às finais do Heisman foi Warren Sapp (Miami) em 1994. O troféu ficou com o RB de Colorado Rasheem Salaam (não se preocupe caso você não o conheça) – Sapp estará no Hall da Fama e Salaam foi parar na XFL e na liga canadense de football... O último defensor que teve uma chance considerável de levar o prêmio foi Brian Urlacher (New Mexico) em 1999. O troféu ficou com o RB de Wisconsin Ron Dayne (não se preocupe caso você não o conheça²) – Urlacher foi o novato defensor do ano seguinte e Dayne hoje é agente livre...


Dejá vu: Suh (foto acima) deverá ter uma promissora carreira na NFL. O troféu irá coroar a estupenda temporada dele e terá um valor simbólico, pois “...será um prêmio para todos defensores, é desta forma que vejo...” pondera Suh. No mínimo ele será o primeiro jogador da defesa a ser escolhido no Draft 2010, isto se não for o número 1; e o fato de ganhar ou não o Heisman não fará que sua cotação suba ou caia.

Recapitulando: quem teve a oportunidade de vê-lo jogar (as partidas contra Missouri e Texas foram transmitidas para o Brasil pela ESPN), percebeu que Suh é um jogador diferenciado, daqueles que não se encontram por aí facilmente. Se para o torcedor comum, e para aquele que acompanha o football mais de perto, as qualidades de Suh são evidentes, quanto mais para os scouts que estudam os jogadores nos mínimos detalhes. O interessante é que os atletas universitários (sempre) são comparados com profissionais, para que os fãs consigam assimilar o estilo de jogo dos garotos. Ninguém ainda achou alguém para comparar com Suh e dificilmente achará, pois ele é único e raro.


(GL)



© 1 Big Red Report
© 3 Ron Chenoy / US Presswire

Instabilidade em New England


Penso que temos que jogar um bom football durante 60 minutos, em todos os aspectos, com todos focados em o que podem fazer melhor. Penso que isto é a coisa mais importante: estar psicologicamente preparado para superar as adversidades. Quando nada funciona a nosso favor, temos que lutar, entender isto como um desafio; ás vezes agimos desta forma, outras não. Tivemos lideranças no segundo tempo e no quarto período e simplesmente não finalizamos a partida quando a oportunidade surgia”.

Bem... esta declaração pertence à Tom Brady, QB do New England Patriots, dita após a derrota da sua equipe contra o Miami Dolphins no último domingo. Conseguiu transformar em palavras o que vem acontecendo em campo com o time que outrora fora temido pelos adversários, mas que hoje não causa tanto pavor assim. Os Patriots provavelmente irão se classificar para os playoffs – seja com o título da divisão ou pela repescagem; a questão é se lá eles vão ser relevantes novamente.

New England é um time de pós-temporada, construído para vencer a Conferência Americana e ir ao Super Bowl. Contando as últimas dez temporadas, foram seis classificações para os playoffs e três títulos da NFL. Mesmo sem Brady em 2008, o clube conseguiu a boa marca de 11v e 5d; embora não tenha conseguido a classificação aos playoffs. Restando ainda quatro jogos para a temporada regular acabar, os Patriots já estão com cinco derrotas e é por isso que a preocupação ronda a franquia.

Não era para ser desta forma. Em quatro das cinco derrotas o NE esteve liderando a partida no intervalo; em três destes quatro jogos, o time estava na frente no início do quarto período. Em circunstâncias normais, tais situações não teriam o desfecho que teve, pois é justamente nestes momentos dos jogos que o NE fazia valer sua força de elenco e de comando técnico e tático. Não é só Brady que está vendo o time descaracterizado em campo - ele assume sua parcela de responsabilidade e se posiciona como o capitão do time, alertando seus companheiros sobre o que de fato está acontecendo; utilizando a imprensa, ele deixa claro a importância de melhorar e faz com que o discurso soe mais urgente.


Bill Belichick, treinador, também se posicionou dizendo: “Tenho que melhorar meu trabalho, apenas precisamos fazer melhor nossas funções”. Na segunda (dia 7) os jornalistas que cobrem a equipe flagraram duas cenas interessantes que mostram o Robert Kraft, dono da franquia, conversando com Brady (foto acima) e o experiente CB Shawn Springs dando instruções aos jovens jogadores da secundária. Este é um dos setores mais vulneráveis do sistema defensivo, que foi capaz de fazer com que Chad Henne, QB dos Dolphins, parecesse Drew Brees. Miami se concentrou em passar e forçar jogadas em cima dos CB´s de NE, que erraram coisas básicas e mostraram insegurança.

O ex-Patriot – safety – Rodney Harrison, hoje comentarista da TV NBC, disse sobre os CB´s de NE: “Por serem bastante jovens, a confiança e agressividade se perde logo que algo dá errado. Sendo um time treinado por Belichick, é surpreendente ver falhas na cobertura e falta de comunicação, pois isto é tudo que ele ensina”. Este é só um dos problemas do sistema defensivo dos Patriots.

O time perdeu 5 jogos feitos em campos adversários e é verdade, Brady não produziu bons números neles – 52.9% de passes completos para 530 jardas e 2 TD´s com 4 INT´s –, contudo é a defesa que assegura os jogos fora de casa. Por exemplo, contra os Dolphins, o time desperdiçou uma vantagem no placar de 14 a 0. A derrota marcou a segunda de forma consecutiva, o que não acontecia com NE desde 2006; e três derrotas em quatro jogos pela primeira vez desde 2002. No espaço de sete anos, entre 2002-2008, somente uma vez (segundo o instituto de pesquisas Elias Sports Bureau) o NE perdeu um jogo quando abriu uma vantagem de 10 pontos; nesta temporada isto aconteceu 3 vezes.

As conversações sobre a performance defensiva de NE extrapolaram os limites do clube (como visto com Harrison). Para não perder a oportunidade outro ex-Patriot, Tedy Bruschi, que também é comentarista (da ESPN) e que foi um grande defensor nos tempos áureos, falou com muita propriedade e conhecimento de causa sobre o assunto e eis o que ele comentou:


Qualquer QB que enfrentar o New England vai olhar para os CB´s Jonathan Wilhite (foto acima, camisa 24) e Darius Butler e jogar a bola neles. Esta tendência irá parar quando eles começarem a marcar com mais força, desviar passes e se posicionar melhor em campo. Todo mundo olha para a defesa dos Patriots e diz ‘Os Saints tiveram sucesso, os Dolphins também, talvez devemos fazer o mesmo e nos concentrar no jogo aéreo’, exatamente o que o Carolina Panthers [próximo adversário] está pensando: ‘Quando Steve Smith [WR] estiver sendo marcado por Wilhite ou Butler, pode jogar a bola nele não importando a situação’. Isso vai ocorrer até os Patriots concertarem este erro.”

Podem até se classificar para os playoffs, mas se não arrumarem a marcação contra o passe, dificilmente o time será bem sucedido. Analisando os prováveis times que sairão da Conferência Americana, só o Indianapolis Colts tem calibre pra igualar o jogo dos Patriots – talvez o San Diego Charges também. Nesta temporada, Colts e Patriots se enfrentaram e a partida estava sendo vencida pelo NE, até o jogo proporcionar uma decisão chave para Belichick faltando 2 minutos para o término do confronto: quarta descida na jarda 28 da defesa ou punt? Preferiu arriscar – não confiando que a defesa poderia parar Peyton Manning –, tentou a quarta descida e não converteu. A defesa não impediu o QB dos Colts avançar as tais 28 jardas e o NE perdeu por um ponto: 35 a 34.

As nuvens cinza que sobrevoam NE trazem um clima instável e vão resultar em duas coisas: ou será algo passageiro e o amanhã terá sol; ou a tempestade vai cair, levando consigo o que restou da Dinastia Patriota que reinou nesta década. O entendimento de reconhecer os erros e falhas cedo é uma virtude que irá ajudar os Patriots, tanto para reverter a situação no “agora”, quanto se preparar para a reconstrução no “amanhã”.


(GL)



© 1 Dave Martin / AP
© 2 Matt Stone / Boston Herald
© 3 Lynne Sladky / AP

Talento Não é Tudo


O palestrante John C. Maxwell, especializado em liderança, é um dos autores mais respeitados sobre o assunto, tendo em seu currículo mais de 13 milhões de livros vendidos e vários deles já foram número um na famosa lista de Best-Sellers do jornal nova-iorquino The New York Times. Um dos seus trabalhos mais recentes chama-se Talento Não é Tudo (Talent is Never Enough, 2007), publicado no Brasil pela editora Thomas Nelson, e traz tópicos que ajudam entender o que está acontecendo com dois dos piores times da NBA na temporada 2009-10: New Jersey Nets e Minnesota Timberwolves.

Nesta última semana, principalmente em relação aos Nets, houve muita crítica, tanto por parte da torcida quanto da mídia, sobre a qualidade de ambas as equipes, enfatizando a possibilidade do time de NJ ser o pior da história da associação (em números de vitórias). Caso isto venha acontecer, muitas coisas serão apontadas como fatores que colaboraram com o vexame – que, aliás, pode também acontecer com os Wolves – , mas o talento dos jogadores não poderá ser questionado.

No melhor basquete do mundo é difícil afirmar que algum jogador não tem talento; se não tivesse não estaria na NBA. Ocorre que a habilidade do atleta não é trabalhada de forma ideal, desenvolvida da maneira que se espera. Há também a questão do entrosamento e do jogador encontrar companheiros que o façam melhor, ou um treinador que faça isto ser possível.

Dos 13 capítulos que Maxwell traz nesse livro, o último deles define toda essa história: “O Trabalho em Equipe Multiplica Seu Talento”. Se o jogador chegou a associação por ter um talento acima da média, isto não quer dizer que ele terá uma carreira de sucesso. Entre tantas situações que irão lhe ajudar a ser melhor, o jogo em equipe é prioridade e esta deve ser a meta principal de qualquer um para fazer seu time mais competitivo e relevante.

NJ e Minnesota têm em seus respectivos elencos jogadores talentosos. Dois tópicos vão ajudar a entender o que acontece com cada um deles, conhecendo melhor quem são esses talentos.


Acreditar Estimula Seu Talento – New Jersey Nets


Assim que o time atingiu a marca do pior início de campeonato da história da NBA – 0v e 18d –, o abatimento era nítido no rosto dos jogadores. “Quando o adversário acerta uma sequencia de boas jogadas e abre uma vantagem no placar, parece que todos nós desistimos. Tipo, parece que nós deixamos a coisa rolar ao invés de tentar lutar para reverter a situação” disse o armador Chris Douglas-Roberts (foto acima) após a 18ª derrota para o Dallas Mavericks, partida que marcou o recorde que ninguém gostaria de ter.

De certa forma, todos atletas da equipe ficarão com este feito no currículo e, conforme a carreira deles forem se desenvolvendo, sempre lembrarão do “0-18” a não ser que eles mesmo busquem mudar esta definição que será criada. Usar o talento é uma das opções.

Douglas-Roberts é um All-American* e chegou à grande final da NCAA em 2008 com a Universidade de Memphis. Devin Harris, armador, fez uma universidade sem tanta tradição no basquete da Big Ten – Wisconsin – ser bi campeã da conferência (2001-02 e 2002-03); ele esteve no Jogo das Estrelas deste ano como reserva. Rafer Alston, armador, mostrou que é um jogador de elite sendo uma peça fundamental na bela campanha do Orlando Magic nos playoffs da Conferênica Leste da temporada passada. Terrence Williams, ala novato, tem o rótulo, de “melhor jogador que ninguém conhece”. Brook Lopez, pivô, vem mostrando sua força no garrafão e correspondendo a eleição no primeiro time de novatos do campeonato 2008-09.

O talento existe, basta, além de trabalhar em equipe, acreditar que é possível transformar este péssimo começo de temporada em algo bom. A primeira vitória da equipe no campeonato, no última sexta contra o Charlotte Bobcats, mostrou que o time tem qualidade para vencer jogos; é preciso apenas manter a consistência e um padrão. Mudanças na comissão técnica aconteceram para criar uma nova identidade, para renovar o ânimo dos atletas. Saiu Lawrence Frank, treinador com mais vitórias na história da franquia (225) e Kiki Vandeweghe, então diretor de basquete do clube, assumiu o cargo.

Kiki tem a missão de construir algo com os talentos que ele mesmo trouxe à NJ e tentar ao menos não decepcionar em quadra. É só acreditar, pois da mesma forma que eles venceram o bom time do Charlotte, eles podem vencer qualquer outro adversário, mudando assim o modo de como encarar cada partida, crendo que o melhor pode acontecer e não o contrário.


A Perseverança Sustenta Seu Talento – Minnesota Timberwolves


A primeira vitória da equipe foi, por coincidência, contra os Nets na abertura da temporada; depois disto foram 15 derrotas seguidas. Porém, nos últimos quatro jogos os Wolves estão com um aproveitamento de 50%, com uma vitória em cima do Denver Nuggets e outra contra o Utah Jazz. Ambos os resultados positivos vieram com muita luta e dedicação, jogando de igual para igual com dois grandes times da Conferência Oeste.

O treinador Kurt Rambis comemora a volta de um dos seus jogadores mais talentosos: Kevin Love (foto acima), um All-American no ano de 2008. Ryan Gomes é outro All-American (2004) do elenco. Fora isto, o time tem dois MVP´s do torneio da NCAA: Wayne Ellington (2009) e Corey Brewer (2007). Sem contar Al Jefferson, que sempre está entre os melhores da liga em rebotes e teve na temporada passada dois jogos de 40 pontos.

Para fazer que estas três vitórias se multipliquem, é necessário continuar perseverando e desenvolvendo o talento dos atletas. Rambis vem fazendo um trabalho dentro desta perspectiva com Brewer que merece destaque.

Corey é conhecido pela sua explosão e agressividade ao atacar a cesta. Para melhorar este aspecto do seu jogo, Rambis está treinando com ele arremessos de média e longa distância. O treinador acredita que, caso o percentual dos arremessos longe da cesta aumente, a marcação irá acompanhá-lo para fora do garrafão, ele poderá usar o recurso da finta e fazer sua infiltração com mais liberdade.

Estas últimas duas vitórias criaram uma confiança no elenco, pois eles acabaram com uma sequencia de 17 jogos invictos dos Nuggets em Denver e de 5 vitórias seguidas do Utah. Isto serve de motivação para sustentar o bom momento, crendo que o melhor pode acontecer e não o contrário.


(GL)


*All-American é um termo usado para definir os melhores jogadores do campeonato de basquete da NCAA. Os jogadores citados aqui fazem parte do time número 1 do respectivo ano mencionado. Quem faz a eleição é a agência de notícias Associated Press.


© 1 Fernando Medina / Getty Images
© 2 Gettty Images

Boas Festas?


Não adianta. Quando se inicia os jogos de Dezembro para o Dallas Cowboys o alarme soa nos ouvidos dos jogadores, torcedores e todos que trabalham para o clube, lembrando das péssimas recordações que o último mês do ano traz. Passam treinadores e muda o elenco, mas o resultado no fatídico mês é sempre o mesmo: fracasso. Existem traços que indicam algo diferente em 2009, entretanto é preciso aguardar para ver se a triste sina se repetirá.

O retrospecto do clube nas últimas 11 temporadas em Dezembro é trágico. Foram 55 jogos de 1997 até 2008, com 19 vitórias e 34 derrotas. Por mais que seja natural ir atrás de um culpado (ou culpados), não é fácil achar um (ou uns) e determinar o que realmente aconteceu nestes anos todos – 5 treinadores comandaram a equipe no período. Para ser mais específico e atual, vejamos como tem sido a campanha dos Cowboys nos campeonatos mais recentes.

Em 2006, ainda com o treinador Bill Parcels, o time vinha bem com 7v e 4d, vencendo o rival New York Giants fora de casa. Nos quatro jogos restantes perdeu 3 e, por consequência, a primeira colocação na divisão (o Philadelphia Eagles ultrapassou os Cowboys com 5 vitórias seguidas), mais o descanso na primeira rodada dos playoffs e a vantagem de jogar em Dallas na pós-temporada; tudo isso aconteceu graças a derrota no derradeiro jogo do campeonato para o Detroit Lions, então com 2v-13d, em casa. Jogou contra o Seattle Seahawks na repescagem da Conferência Nacional e perdeu, marcando assim a primeira eliminação de Tony Romo nos playoffs.

Já em 2007, estréia do técnico Wade Phillips, o time chegou melhor ainda em Dezembro e talvez por isso o resultado final tenha sido mais frustrante. Eram 11v e 1d quando o temido mês iniciou e o aproveitamento do clube foi de 50% (2v e 2d), o que não afetou muito a classificação, pois os Cowboys terminaram em primeiro lugar na Conferência. Contudo, veio o jogo de playoff contra os Giants e nem o fato de estar em casa ajudou Dallas; eliminado.

No ano passado a história foi pior do que todas essas. A equipe entrou no último mês de 2008 com 8v e 4d e com a esperança de vencer pelo menos dois jogos para assegurar uma vaga na pós-temporada. Só venceu 1 (Giants, casa) e perdeu três (Pittsburgh Steelers, fora; Baltimore Ravens, casa e Eagles, fora). Esta última foi a mais dolorida: uma lapada de 44 a 6, considerada a segunda pior derrota da história da franquia – atrás do 44 a 0 que o Chicago Bears fez em 1985 no Texas Stadium.


Os Cowboys de 2009 estão com 8v e 3d até agora e dois resultados positivos nos próximos cinco jogos podem ser suficientes para se classificar aos playoffs – três vitórias deve assegurar o título da divisão. A pergunta é: Será que é desta vez que o time será bem sucedido em Dezembro? Com a resposta o QB Tony Romo (camisa 9, foto acima): “Esta é uma pergunta que responderemos todos os dias até conseguimos nos dar bem no final da temporada. Espero que este seja o nosso ano”.

A declaração de Romo é ótima, mostrando consciência que não importam os números antes de Dezembro – ele tem 15v e 3d no mês de Novembro, por exemplo. O que interessa para os Cowboys são os jogos decisivos de final de ano e as partidas de playoffs; o time está desde 1996 sem vencer um confronto sequer na pós-temporada. Mais do que vencer, o crucial é chegar aos playoffs em um ritmo bom e só atinge este status quem vence em Dezembro. Sendo desta maneira, pode se afirmar que é no próximo domingo que começa a verdadeira temporada para o Dallas.

Será uma sequencia complicada, enfrentando dois líderes de divisão (San Diego Charges, casa e New Orleans Saints, fora) e os arqui rivais Giants (fora), Redskins (fora) e Eagles (casa). O sistema defensivo será decisivo nestes confrontos, mesmo com Romo estando mais seguro no passe (conseguiu, pela primeira vez na carreira, ficar três jogos seguidos sem ser interceptado). Os duelos serão da defesa dos Cowboys, que está em boa fase, contra os eficientes ataques dos adversários. Dallas tem a segunda melhor defesa da NFL nesta temporada e irá enfrentar 4 dos oito melhores ataques da liga: Saints (1º), Charges (3º), Eagles (7º) e Giants (8º).

Nenhum dos últimos cinco adversários dos Cowboys marcaram mais do que 17 pontos em um jogo, fazendo com que a média de PPJ nesta série seja de 12.3. Ninguém credita esta boa fase da defesa ao trabalho que Wade vem fazendo, lembrando dos tempos que ele era coordenador defensivo, mas o treinador fez cinco mudanças importantes entre os titulares da defesa nesta pré-temporada, colocando no time Mike Jenkins (CB), Anthony Spencer (LB), Keith Brooking (LB), Igor Olshansky (DE) e Gerald Sensabaugh (S). O entrosamento é notório e melhora a cada dia que passa; foram apenas 13 pontos cedidos nos últimos dois jogos e apenas uma vez a defesa permitiu mais de 30 pontos do adversário – 33 contra os Giants na semana 2. E é justamente o time de New York que irá jogar em Dallas neste domingo.


DeMarcus Ware - foto acima (LB) - , líder da defesa dos Cowboys, exemplificou bem a performance ideal que sua unidade deve apresentar: “Para ser honesto eu digo que, no final das contas, temos que jogar muito bem defensivamente. Simplesmente isto”. O sucesso da equipe neste mês depende da atitude e o modo como os atletas vão encarar o tenebroso Dezembro que vem pela frente, abordando as partidas de uma forma diferente em busca de quebrar este encanto que persegue o clube e proporcionar alegria aos admiradores da franquia.

A Família Cowboys torce e vive a expectativa de, verdadeiramente, ter um Feliz Natal e um próspero Ano Novo.


(GL)



© 1 Direitos Reservados / ESPN
© 2 G. Newman Lowrance / Getty Images

Fator Darrelle Revis


Assim que chega a segunda-feira, os times da NFL se preparam para enfrentar o próximo adversário e passam a mostrar aos jogadores vídeos e dados do oponente. Esta preparação para Darrelle Revis, cornerback do New York Jets, se resume da seguinte forma: marcar o melhor receiver do outro time. A tarefa desta rodada será mais uma vez desafiadora para o camisa 24, porque o “melhor receiver do outro time” é Terrell Owens (Buffalo Bills) e ambos vão duelar no jogo de amanhã (03/12) – com transmissão do Band Sports.

Da mesma forma que Revis estuda o receiver que ele está para defender, o receiver que for jogar contra ele tem que fazer a lição de casa também. Em seu terceiro ano na liga, o CB já figura entre os principais jogadores da posição e caminha forte rumo ao segundo Pro Bowl (Jogo das Estrelas) da carreira. A qualidade do jogo de Revis é alta e por isso que ele figura na elite dos defensive backs; porém não foi fácil atingir este patamar elevado e não é fácil se manter nele.

Ciente de que todo esforço vem com uma recompensa, Darrelle passou as férias deste ano trabalhando e aprimorando sua técnica. Ele viajou até o estado do Arizona e fez treinamentos diários de oito horas (divididos em dois períodos), com uma variação de exercícios que passava pelos movimentos do boxe até chegar à preparação de um maratonista. Tudo visando em aprimorar sua condição física.

Ao descobrir que Rex Ryan, ex-coordenador defensivo do Baltimore Ravens, seria seu novo treinador e que o foco principal dos Jets seria a defesa, Revis se deleitou. O momento ideal de mostrar seu crescimento como atleta estava à sua frente e Ryan sabia o que poderia fazer com ele. O CB passou a ser mais do que uma força na cobertura defensiva, e sim uma arma constante da agressiva estratégia do sistema defensivo da equipe.


E agressividade é com ele mesmo. Revis (foto acima) traz esta característica desde a universidade (Pittsburgh Panthers); na verdade, isto vem com ele desde a infância em Alquippa, estado da Pensilvânia. Para sobreviver na cidade, que faz parte da Região Metropolitana de Pittsburgh, ele tinha duas opções dentro de casa que lhe mostrava direções diferentes: um tio gangster e um tio atleta. Depois de experimentar, por uma noite só, como é o mundo da marginalidade, ele optou por seguir os passos do tio Sean Gilbert (ex-defensive end, atuou durante 12 anos na NFL e passou por quatro clubes), mesmo que o lado obscuro das ruas o atraísse. O jeito durão e rígido de Gilbert manteve Revis longe dos problemas e próximo do êxito, canalizando a agressividade em algo produtivo.

Além de contribuir para, quem sabe, uma tradição familiar de jogadores da NFL, Revis se tornou mais um jogador da cidade que chegou à liga, fazendo parte da lista que inclui Mike Ditka e Ty Law. Da mesma forma que Gilbert, Law e Ditka foram exemplos que ajudaram Darrelle a se dedicar ao esporte, ele espera que algum garoto de Alquippa, que talvez esteja enfrentando o mesmo dilema pelo qual Revis passou, se espelha em sua trajetória para se afastar do errado e escolher o caminho certo.

Neste meio tempo, ele precisava decidir em qual posição jogar. Por admirar o estilo de Deion Sanders, cornerback foi a opção. Muito tempo passou e hoje Sanders é um dos comentaristas da rede de TV da NFL e recentemente disse que Revis é um dos melhores CB´s de toda a liga. Ouvir isto de um dos grandes que já atuaram na posição – e ainda sendo seu principal modelo – deve ser algo especial para Darrelle.

O que Sanders falou, e que outros também afirmam, está baseado nas fantásticas atuações de Revis nesta temporada, anulando completamente os principais receivers da liga:

Andre Johnson (Houston Texans)– 4 recepções e 35 jardas (Semana 1)

Randy Moss (New England Patriots) – 4 recepções e 24 jardas (Semana 2)

Marques Colston (New Orleans Saints) – 2 recepções e 33 jardas (Semana 4)

Terrell Owens (Bills) – 3 recepções e 13 jardas (Semana 6)

Randy Moss (Patriots) – 5 recepções, 34 jardas e 1 TD (Semana 11)

Steve Smith (Carolina Panthers) – 1 recepção e 5 jardas (Semana 12). Na foto abaixo uma das 2 INT´s de Revis em cima de Smith no confronto do último domingo.


Contra o Jacksonville Jaguars (Semana 10) ele não teve que marcar individualmente nenhum jogador. Porém, logo que o WR Mike Sims-Walker marcou um touchdown, no final do primeiro tempo, o coordenador defensivo Mike Pettine colocou Revis na frente de Sims-Walker. Resultado: o jovem receiver dos Jaguars consegui apenas 9 jardas na segunda metade do jogo.

Owens encara como revanche o jogo desta quinta e ele diz via imprensa que a história desta vez será outra. Nos últimos dois jogos Owens teve 14 recepções para 293 jardas e 2 TD´s. O jogo ofensivo dos Bills está diferente desde que o QB Ryan Fitzpatrick assumiu a titularidade e Terrell é o que mais se beneficiou com isto; criando um desafio a mais para Revis.

Apesar de ser um período de preparação curto, Darrelle já têm em mãos estas informações acerca do “novo” Owens e outras mais. Os ingredientes para um jogo eletrizantes existem, mas a atenção estará voltada para este grande duelo entre dois excepcionais atletas da NFL. “É por isto que eu estou aqui e mal posso esperar pelo jogo” disse Revis ontem em entrevista coletiva. “Terell Owens é um ótimo receiver e eu já estudei ele antes, por isto estou familiarizado com seu estilo. Tenho certeza que será uma grande partida”.


(GL)



© 1 Al Bello / Getty Images
© 2 Sabo / Daily News
© 3 Jim Mclsaac / Getty Images