Os Pindaibanos

A cidade de Pindaíba cada vez mais recebe novos habitantes. Todos têm algo em comum para compartilhar: problemas financeiros. Há diversidades de classes sociais, pois a irresponsabilidade e falta de cuidado não escolhe conta bancária. Por lá se encontram moças, rapazes, jovens, enfim, gente de todo o tipo que estão com residência fixa ou só de passagem.

Chamam mais a atenção os casos das pessoas que arrecadaram muito dinheiro e perderam tudo num micro instante, o que geralmente ocorre por envolvimento com o materialismo, com interesseiros e com maus investimentos. Às vezes se vê uma pura falta de percepção, pois existem gente que acredita que dinheiro nasce em árvore e gastam como se tivesse jogando-o pela janela, dando a impressão que as notas caem do céu como a chuva. Por viverem num mundo de fantasia e imaginário, vão parar na Pindaíba.

Atletas é um grupo que tem um contingente expressivo na cidade. São tantos que estão por lá... Veremos alguns exemplos mais interessantes, típico de uma série televisiva que poderia se chamar: “Como perder uma fortuna milionária assim... num estalar de dedo”

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Derrick Coleman


Uma conta simples de matemática não é suficiente para explicar o que aconteceu com este talentoso jogador da NBA e que foi número 1 no draft de 1990. Em 15 anos na associação, Coleman ganhou mais de US$ 87 milhões, declarou falência em Abril deste ano dizendo que tem dívidas por volta de US$ 5 milhões e a Corte Americana de Falências coletou que as posses dele hoje valem US$ 1 milhão. Faça a conta.

A discrepância nos números vem dos péssimos negócios realizados em Detroit, cidade onde passou a infância e jogou no final da carreira. Era visto como uma pessoa importante na cidade, já que seus investimentos eram no mercado de imóveis e de revitalização do comércio local. Só que aí veio a crise do ano passado, bancos quebraram, casas perderam valor e Coleman se deu mal.

Ele possuía outros empreendimentos, como churrascaria, pizzaria e loja de donuts. Entre os credores (são 99 no total) estão o prefeito de Detroit, American Express (empresa de cartão de crédito), Comerica (banco), Sprint (telefonia) e Nike (material esportivo). Detroit foi justamente a cidade dos EUA mais afetada pela crise econômica de 2009.

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Antoine Walker


Hoje ele está com 33 anos. Começou na NBA com 20 anos – foi escolhido na 6ºª posição pelo Boston Celtics em 1996. Em 13 anos, Walker ganhou US$ 110 milhões que desapareceram rapidamente. A receita para conseguir esta façanha é a seguinte: gaste sem dó com 70 pessoas (amigos e familiares); construa uma casa gigantesca para sua mãe com uma piscina interna e uma quadra oficial de basquete no quintal; compre carros caríssimos (Mercedes, Bentley, Cadillac) e tornem eles customizados, descartando-os quando enjoar dos brinquedinhos.

Quando se deu em si, Walker estava sendo cercado de credores querendo receber contas não pagas, que circulam perto de US$ 7 milhões. Uma das soluções encontradas foi colocar a venda a mega mansão (que tem 10 banheiros) e outras três casas para liquidar dívidas. Ele também foi um frequentador assíduo dos cassinos em Las Vegas e por passar 10 cheques sem fundo no valor de US$ 100 mil dólares cada, Walker foi intimado pagar o valor total dos cheques; se não vai para a cadeia. Por isso que ele está jogando atualmente na liga porto-riquenha de basquete recebendo um salário irrisório, mas suficiente para quitar algumas dívidas e pagar a pensão de dois filhos (valor de 7 mil dólares) – o que ele nunca deixou de fazer mesmo com tantos problemas.

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Michael Vick


Depois de estar na NFL por apenas três anos, o Atlanta Falcons fechou em 2004 o maior contrato que um clube da liga ofereceu a um atleta: 130 milhões de dólares por 10 anos. Desta quantia, US$ 37 milhões foram garantidos para Vick, que era um dos jogadores mais populares da NFL e um verdadeiro ídolo em Atlanta.

Só que surgiram as rinhas com os cachorros da raça pit-bull, desgraça que foi descoberta em 2007. A liga o suspendeu e os Falcons romperam com o QB, querendo inclusive recuperar parte do dinheiro pago com a assinatura do contrato milionário. Preso e sem ganhar nada, as dívidas de Vick começaram a aparecer.

Num período de dois anos, entre Julho de 2006 e Julho de 2008, Vick gastou mais de US$ 17 milhões, sendo que neste tempo ele passou 8 meses na cadeia – sua sentença começou em dezembro de 2007. A falência foi declarada em Julho de 2008, em parte porque ele devia à bancos cerca de US$ 6 milhões por empréstimos feitos para uma loja de aluguel de carros no estado de Indiana, investimentos em imóveis no Canadá e um comércio de vinhos no estado da Georgia.

Ao voltar para a NFL em 2009 e assinar com o Philadelphia Eagles por um ano (valor de US$ 1.5 milhão), com a possibilidade de renovar para em 2010 (valor de US$ 5 milhões), Vick tem a oportunidade de restaurar sua saúde financeira.

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Lawrence Taylor


Um dos melhores linebackers da história da NFL, integrante do Hall da Fama do football e um dos personagens principais do livro “The Blind Side” do Michael Lewis (que deu origem ao filme “Um Sonho Possível”), teve uma carreira vitoriosa em campo defendendo a cor azul do New York Giants, Porém, fora de campo Taylor vivia cercado de drogas, bebidas e mulheres. Teve que ir à centros de reabilitação para tentar controlar o seu vício, ou eliminá-lo de vez.

Nesta vida leviana foi gasto grande parte dos US$ 50 milhões que ele ganhou em seus 13 anos de carreira. Sua falência foi decretada em 1998, por não pagar ou atrasar dívidas. Os credores hipotecaram sua casa que valia US$ 630 mil para forçar ele a cumprir os pagamentos.

Depois de liquidar faturas e duplicatas, Taylor desfrutava de uma vida limpa e de sucesso, tentando até se aventurar como ator e participando do popular programa televisivo Dancing With The Stars (versão americana do Stricly Come Dancing da BBC inglesa; no Brasil há o Danças dos Famosos, promovido pela Rede Globo). Até acontecer o recente caso de acusação de estupro no começo deste mês. Ele está sendo processado por tentar fazer sexo com uma prostituta de 16 anos, se enquadrando no crime de estupro de terceiro grau (segundo a lei americana) – que acontece quando alguém maior de 21 anos se relaciona sexualmente com alguém menor de 17; considerado um crime grave.

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Jack Clark


Esta placa acima é uma homenagem que o San Francisco Giants presta a um dos mais temidos rebatedores da década de 80. Clark foi quatro vezes selecionado para o Jogo das Estrleas em suas 17 temporadas na MLB. Faturou perto dos 20 milhões de dólares, uma quantia considerável na época, porém insuficiente para saciar um hobby bastante caro: colecionar carros esportivos.

Por carros esportivos entenda carros de verdade, não miniaturas. Em certo ponto, Clark chegou a pagar prestações de 17 carros ao mesmo tempo. O limite foi atingido em 1992 quando ele faliu, devendo US$ 11 milhões com bens no valor de US$ 4 milhões. Aí foi necessário dar adeus as Ferrais e Rolls Royces para tentar se enquadrar.

No final da década de 90 ele se recuperou e, depois de ser comentarista de jogos do Saint Louis Cardinals, time que ele jogou por dois anos e teve grande sucesso, hoje ele é treinador de um time semi-profissional chamado de Springfield Slidders, na cidade de Springfield, estado de Illinois.

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Torii Hunter


Hunter foi vítima. No começo de sua carreira na MLB, quando estava com o Minnesota Twins, ouviu o canto da sereia e ficou hipnotizado ao receber um conselho tolo e inútil. Ele investiu num cara que teve uma idéia inusitada: a invenção era uma espécie de bóia que seria colocada embaixo de móveis para quando houvesse uma enchente, eles flutuassem e não estragassem. Torii não titubeou e colocou US$ 70 mil dólares na parada.

Mas o tempo foi passando e nada de progresso. Então o cara voltou a se reunir com Hunter para pedir mais US$ 500 mil a ser investido no projeto. Assim foi feito e para a surpresa (será?), nada do que foi prometido se concretizou. Hunter passou a participar de reuniões feitas por especialistas em investimentos que aconselham gente com poder aquisitivo a entrar no ramo certo.

Hunter aprendeu a lição e sua ida à Pindaíba foi curta, só um passeio. Seus atuais investimentos são em obras de caridade e ele é bem agressivo nesta área. Tem um projeto em quatro estados americanos no qual cede bolsas de estudos para jovens carentes; mantém inúmeros campos de beisebol em periferias e ajuda fundações que lutam por curas de câncer. Em 2009 levou o prêmio Branch Rickey, dado pela MLB ao jogador que mais contribui para a comunidade em serviços voluntários.

Gastar por gastar não está mais nos planos de Hunter, principalmente após um incidente em 2007 que quase resultou em uma suspensão de três anos da MLB. Ele presenteou o Kansas City Royals com quatro garrafas do fino champagne Dom Perignon, um dos mais caros do mundo. A lembrança foi em agradecimento a vitória do KC frente ao Detroit Tigers na última semana da temporada, que possibilitou a classificação dos Twins aos playoffs. A liga proíbe qualquer tipo de presentes, mas o incidente foi resolvido porque as garrafas não foram abertas; e foram imediatamente devolvidas.



(GL)


© 1 Richard Phipps / ESPN Media
© 2 Marc Serota / Getty Images
© 3 Greg M. Cooper / US Presswire

Bravo!



O esforço realizado pelo Orlando Magic no jogo 4 da final da Conferência Leste merece aplausos. O time enfrentava a possibilidade de ser eliminado dos playoffs sem vencer uma partida sequer depois de 8 vitórias em 8 jogos nesta pós-temporada. Os comandados de Stan Van Gundy atuaram com raiva e com vontade, tudo dentro de uma sensação desesperadora. A primeira vitória da série aconteceu e por isso que o jogo 5 será realizado hoje na Amway Arena. O líder da equipe, Dwight Howard (foto acima), resumiu em sua performance o que seus companheiros sentiam.

Foi seu melhor jogo nestes playoffs, marcando 32 pontos, 16 rebotes e 4 tocos. Entretanto o que se espera do pivô mais popular da NBA é uma atitude mais ameaçadora dentro de quadra, um contraste com seu estilo despojado fora dela. Howard precisa aprender usar seu porte físico extraordinário como ferramenta de intimidação e ele sabe disso. Bom saber é que ainda há espaço para desenvolver esta característica.

Deixando nuances táticas e técnicas de lado, existe um fato importante a ser mencionado: ele é o primeiro jogador em toda a história da NBA a liderar por duas temporadas seguidas a categoria de rebotes e tocos. Imagine quantos pivôs de qualidade desfilaram suas habilidades em todos estes anos na associação... Vale lembrar que Dwight tem apenas 24 anos.

Desde que entrou na NBA, Howard melhorou sensivelmente em diversos aspectos. Esta postura de ser mais feroz contra os adversários está no topo da agenda. É uma questão de ganhar respeito, de ser vencedor. Ele já tem dois troféus de Melhor Jogador Defensivo atuando de forma “suave”; então quando se tornar uma fera... cuidado!

Apesar que dificilmente ele será aquele que dá um toco e olha feio para o adversário, muito menos aquele que pega um rebote e encara de cima pra baixo quem está a sua volta. Para que as críticas diminuam, é necessário ganhar. O engraçado é que Dwight, com esta mesma personalidade de brincalhão, levou o Magic às finais da NBA no ano passado. Ele conhece o jogo da mídia e não cai no conto de precipitações publicado diariamente.

Enquanto o Magic atropelava o Charlotte Bobcats e o Atlanta Hawks, eles eram o time a ser batido. Após perderem três jogos seguidos para o Boston Celtics (dois em Orlando), o time passou a ser medíocre. Esta pseudo oscilação é creditada na conta de Howard, que absorve bem a cobrança mesmo sendo tão jovem.


Na verdade ele não ouve muito o que dizem por aí, somente a palavra de um alguém mais importante: seu treinador. Stan diz aos quatro cantos que para o Magic vencer qualquer jogo de playoffs Howard precisa ter em torno de 15 rebotes. No último jogo 4 ele conseguiu pela sexta vez nesta pós-temporada 12 rebotes ou mais – o Magic só perdeu um destes jogos. O detalhe é que o jogo da última segunda foi para a prorrogação e nela Howard conseguiu mais rebotes que todo o time dos Celtics (5 contra 4).

A diretoria da franquia exige dedicação e compromisso, algo que ele vem correspondendo até agora. Na questão de ter uma maior diversificação de arremessos, esta é uma tarefa que está em andamento e Howard trabalha para ser mais eclético e menos previsível ofensivamente. Ter ao seu lado Patrick Ewing como instrutor, um dos 50 melhores jogadores da história da NBA, é um vantajoso auxilio.

Em relação ao comportamento despojado, a diretoria há muito tempo desistiu de transformá-lo em um cara mais sério. Otis Smith, diretor de basquete, esperava que o amadurecimento de Howard viesse com o tempo e que as brincadeiras que ele observava no garoto de 18 anos, que o Magic escolheu em primeiro lugar no draft de 2004, iria desaparecer com o tempo. Bem, a mudança não ocorreu e Smith percebeu que não teria como alterar a personalidade dele; basta compreendê-la.

O clube entende Howard e o que ele faz fora de quadra é visto com total atenção, mas sempre dando liberdade e respeitando sua forma de enfrentar o dia-a-dia. É claro que o “Super-Homem” precisa treinar, corrigir os defeitos e aprimorar suas habilidades; passar mais tempo no ginásio treinando do que se divertindo... Mas espere um pouco, já percebeu que aqueles que o criticam por ser muito alegre, geralmente são pessoas de baixo astral? Interessante... Como se fosse uma tortura ver alguém dar um sorriso, ver alguém que está de bem com a vida, ver alguém contente por saber onde estar e que aproveita ao máximo o presente dado por Aquele que lhe deu a vida.


Por que Dwight não tem motivos para ser bravo, zangado ou ranzinza? Porque Dwight tem motivos para brincar, ser extrovertido e exalar júbilo.

Fácil explicar.

Howard é um sobrevivente, o caçula do casal Dwight Howard Sr. e Sheryl Howard. Porém quando nasceu, era para ele ter vários irmãos e irmãs. Sua mãe perdeu sete crianças, algumas ainda dentro da barriga, outras pós parto. Howard então veio ao mundo no dia 8 de Dezembro de 1985 forte e saudável, o oitavo bebê, ou melhor, o primeiro. Esta é a razão que coloca um belo sorriso em seu rosto, como se o singelo gesto fosse capaz de transmitir uma mensagem de conforto e esperança.




(GL)


© 1 Cassie Armstrong / AP
© 2 Elsa / Getty Images

Mas Aí Que Está



Dusty Baker (foto acima), treinador do Cincinnati Reds, está realizando um trabalho digno em pouco mais de dois anos com o clube. Abordando uma metodologia diferente, ele recolocou o time na mídia, vencendo jogos e disputando acirradamente a liderança da Divisão Central da Liga Nacional com o Saint Louis Cardinals. Os Reds hoje estão ½ jogo atrás dos atuais campeões da divisão, mas já ficou na primeira posição, o que não acontecia desde 2006.

São 18v e 8d de 25 de Abril pra cá e a equipe vem atuando com consistência seguidamente, criando assim um padrão de jogo característico. Baker, melhor treinador da LN nos anos de 1993, 1997 e 2002 com o San Francisco Giants, está com uma abordagem diferente sobre seus jovens comandados, com um papel mais específico de administrar o pessoal do que ser o professor que ensina os fundamentos. Óbvio que ele usa sua vasta experiência para o melhor, porém sua principal missão é aconselhar o elenco mostrando os atalhos rumo à vitória – dos 13 titulares, 8 rebatedores e 5 arremessadores, 6 têm 26 anos de idade ou menos.

Antes de assumir os Reds, Baker era o técnico do Chicago Cubs (2003 até 2006). Lá ele tinha atletas que recebiam altos salários e gozavam de mordomias e facilitações. Cincinnati é um time diferenciado, graças aos ajustes feitos pelo diretor de besiebol Walter Jocketty que reformulou a franquia assim que assumiu o cargo no comecinho da temporada 2008. Ambos iniciaram um processo para transformar a mentalidade do time e uma das primeiras decisões de Walter foi trocar as estrelas Adam Dunn e Ken Griffey Jr., uma ação drástica de efeito positivo.

As histórias nos bastidores dos Reds dão conta que Dunn e Griffey eram, digamos, “sossegados demais”. Dentro do vestiário do clube existe um sofá para descanso e os ex-Reds usavam ele constantemente enquanto outros trabalhavam e estudavam sobre os adversários. Os veteranos foram, mas o sofá permanece por lá; ninguém mais senta nele, simbolizando que o pensamento e foco do time mudou. Isto se concretiza quando surge a comparação com os jogadores experientes que atualmente fazem parte do elenco.


Scott Rolen (3B) chegou em 2009 e Orlando Cabrera (SS) em 2010. Cada tem um título de World Series – Rolen/Cardinals-2006 e Cabrera/Boston Red Sox-2004 – e o pensamento vencedor veio com eles, junto com trabalho duro e dedicação. São importantíssimos para persuadir os garotos do clube e fazem isto muito bem. Em campo eles cumprem suas funções com qualidade, contribuindo para uma sensível melhora na defesa dos Reds, com os dois chegando a cometer apenas um erro numa sequencia de 13 partidas neste ano – Rolen já venceu o troféu Luva de Ouro sete vezes e Cabrera duas.

No ataque a força e poder estão com Jonny Gomes (OF), Jay Bruce (OF) e Joey Votto (1B). Votto é o líder da equipe em HR, RBI, OBP e aproveitamento com o bastão. Seja nas estatísticas ofensivas ou defensivas os Reds figuram na zona central contando somente a LN, o que se resume no saldo de corridas: +5 até 22/05. O equilíbrio é também presente nas performances dentro (14v e 9d) e fora de casa (11v e 10d).

Ken Macha, treinador do Milwaukee Bucks (rival de divisão), destaca qual vem sendo a verdadeira virtude dos Reds neste campeonato:

Os arremessadores vem dando à Cincinnati uma chance de competir. O restante do grupo sente que há uma oportunidade de vencer a cada partida. Isto é importante.” (Milwaukee perdeu os dois jogos que fez até agora com os Reds)

A rotação de arremessadores tem dois caras que destoam um pouco: Aaron Harang com 2v-5d e um ERA de 6.02 e Homer Bailey com 1v-2d com um ERA de 5.51; cada um jogou 9 partidas. Já o trio restante está produzindo números significativos.

Bronson Arroyo conseguiu 3 vitórias nas últimas 3 partidas. Johnny Cueto tem quatro vitórias nos últimos 5 jogos (uma não-decisão) e seu ERA nestes confrontos é de 2.18. Entretanto quem mais vem chamando a atenção é Mike Leake (foto abaixo), titular com apenas 22 anos de idade.


Leake é o primeiro jogador em uma década a sair direto da universidade para a MLB. Diferente do que acontece nas outras ligas como NBA e NFL, o atleta de beisebol que é escolhido no draft vai atuar nas chamadas ligas de base (minors) para se adaptar com o esporte profissional, se acostumando com a sutil, porém notável, diferença de jogar com/contra um bastão de madeira ao invés de alumínio (entre outras coisas). Leake ganhou na pré-temporada a função de ser o quinto arremessador na rotação e correspondeu em campo a rara oportunidade dada. Em oito jogos, foram quatro vitórias, nenhuma derrota e quatro não-decisões; seu ERA é de 2.91. A tendência é ele ter uma boa semana pela frente, encarando em casa o Pittsburgh Pirates na terça e o Houston Astros no domingo. Ramon Hernandez, o catcher de Leake, define o estilo de jogo do menino: “Ele não fica nervoso de forma nenhuma e tem uma frieza nos arremessos, sendo bastante agressivo e mantendo as bolas nos limites da zona de strike.

O detalhe é que Baker ainda não conta com o fenomenal arremessador cubano Aroldis Chapman, que ainda permanece nas minors. Foi de certa forma surpreendente a aposta feita pelos Reds ao acertar com ele, fechando um contrato com duração de seis anos no valor de US$ 30,25 milhões. Walter irá entregar à Chapman um papel especial na reestruturação da franquia, uma espécie de grand finale.

Mas aí que está: será os Reds aquele time que começa quente o campeonato, porém esfria no final? Será que depois do Jogo das Estrelas eles terão condições de competir pelo primeiro lugar na divisão? Como os passos estão sendo dados um de cada vez e a evolução do time, em todos os aspectos, está sendo executada gradativamente, a expectativa é que Baker realize mais um trabalho bem sucedido e obtenha uma vaga para os Reds na pós-temporada, o que não acontece desde 1995 – em 1999 Cincinnati disputou um jogo de desempate com o New York Mets.

Uma das franquias mais vitoriosas da MLB com 5 títulos de World Series e 9 Campeonatos da Liga Nacional parece estar de volta ao cenário principal. O parece sumirá da frase anterior se mantiverem o êxito que até então fora atingido. A conferir o que o futuro irá proporcionar.



(GL)


© 1 e 2 Jed Jacobson / Getty Images
© 3 Brain Baker / Cnati

...idade


Com velocidade, agressividade e versatilidade.

Assim Lamar Odom, ala do Los Angeles Lakers, constrói sua boa campanha nesta final da Conferência Oeste. Nos dois primeiros jogos da série contra o Phoenix Suns, ele foi efetivo e fundamental para que seu time conseguisse duas vitórias. No entanto, Odom teve que lidar com uma situação que o levou a um passado triste e tenebroso, mas ele escolheu rir ao invés de chorar.

Na partida número 1, LO (como Odom é conhecido entre os companheiros da equipe), anotou 19 pontos e 19 rebotes. Vindo do banco de reservas, esta contribuição foi excepcional, principalmente levando em consideração que quando ele entrou em quadra, faltando 5 minutos para o término do primeiro quarto, os Lakers estavam perdendo e LO marcou sete pontos seguidos colocando seu time na liderança, que não foi desperdiçada durante todo jogo.

Com uma das melhores atuações da carreira, LO disse em entrevista coletiva após o jogo que iria atuar com mais atitude e não esperar as jogadas chegarem até ele “Se abrirem espaço, eu arremesso” afirmou. Ao vê-lo pegar um rebote defensivo e fazer uma rápida transição defesa-ataque finalizada com uma bandeja clássica, se percebe que o talento ainda existe nele, basta ter a confiança de criar mais jogadas e acreditar na habilidade que possui. Desta forma, jogos como esse se repetiria com mais frequência e não haveria brecha para alguém chamá-lo de sortudo.

No intervalo entre a primeira e segunda partida, o assunto principal da série era a declaração do ala-pivô dos Suns, Amar´e Stoudemire, que falou via imprensa no vestiário do Staples Center (ginásio dos Lakers) que LO teve sorte no jogo, como se fosse preciso apenas do acaso para conseguir pegar 19 rebotes num duelo entre os melhores atletas da NBA. Odom tirou de letra e saiu pela tangente, não entrando em polêmica e dizendo “Não é a primeira vez que me falam isto. Espero ter a mesma ‘sorte’ no próximo confronto”. E o insulto não o prejudicou.

No jogo 2, LO anotou 17 pontos e 11 rebotes, seu terceiro double-double nesta pós-temporada. Qualquer fosse a maneira que Odom marcasse os pontos, os narradores e comentaristas discutiam com ironia: “E esta? Será que foi uma cesta de sorte?” O camisa 7 dos Lakers demonstrou que por duas vezes o raio pode sim cair no mesmo lugar...

Quem acompanha a NBA por mais de 10 anos (mesmo tempo que LO está na associação) e admira o bom basquete, sente uma indignação ao assistir Odom jogar tão bem, de uma forma tão suave e tão sóbria que traz confusão quando se analisa sobre o porquê tais performances não se repetem constantemente. Pensando bem, talvez o problema não esteja com ele e sim com quem está de fora e criou altas expectativas no garoto que chegou à NBA com o rótulo de “novo Magic Johnson”.

Odom foi uma super estrela no colégio, apesar de ter passado por três escolas diferentes. Na época, ele sentia mais prazer em conseguir uma assistência do que marcar um ponto. Quando as universidades mandavam olheiros para analisar seu jogo in loco, LO forçava passes procurando deixar evidente sua principal característica. Ficou um ano na NCAA (Universidade de Rhode Island) e foi para a NBA jogar em Los Angeles, mas no outro time da cidade, Lá ele fez uma boa temporada de novato (médias de 19 pontos e 14 rebotes por jogo) – e iniciou uma das mais belas pontes aéreas da história da NBA (vídeo abaixo)



Nas temporadas seguintes, os números se mantiveram os mesmos ou sofriam um deslize. Se esperava que eles crescessem, o que seria capaz de levar LO a disputar títulos liderando uma franquia e concorrer ao troféu de MVP. Nada disso. Problemas fora de quadra, falta de empenho e concentração estragaram o talento primaz de um jogador que poderia ser mais, porém é razoável (na verdade, um bom razoável).

O grande problema dele é a falta de consistência. Se estiver bem, é um jogador de elite, classe A. Se estiver fora de foco, é um jogador medíocre, classe B-. No somatório final, Odom é um nome que pode entregar mais do que os 14.6 PPJ e 8.9 RBJ que conseguiu nestes anos de NBA, basta saber em quantas anda seu humor e motivação.

Estas duas coisas (humor e motivação) LO adquiriu ao ouvir a declaração de Stoudemire. Ele teve um motivo para mostrar em quadra que é capaz de atuar no mais alto nível pelas suas próprias qualidades e o humor veio ao lembrar das tragédias que o cercou durante toda vida, mas que ele superou mesmo com o descrédito de muita gente. Veja o que ele sofreu na sua caminhada e defina se ele teve sorte ou não de estar na posição que desfruta atualmente:

- Perdeu o pai para as drogas (heroína) quando ainda era criança

- Sua mãe morreu quando Odom tinha 12 anos

- Foi criado pela avó, que morreu quando ele tinha 24 anos

- Ao ir para um funeral de uma tia sua em New York, onde nasceu, descobriu que seu bebê Jayden de 6 meses e meio estava com uma doença terminal. A criança faleceu dias depois.

- Se envolveu fortemente com maconha, chegando a ser punido pela NBA duas vezes em menos de oito meses.

Sorte ou azar?

Muitos disseram a LO, durante as idas e vindas da vida, que ele tem sorte de usufruir do status que possui. Ele tem que dar risada mesmo... Como não cair depois de tanta adversidade? Como se manter de pé quando é atingido por infortúnios lamentáveis? Como ter coragem de dizer que ele teve sorte?

Palavras são poderosas e com certeza Stoudemire estava comentando sobre a atuação que Odom teve quando mencionou sorte, contudo trouxe lembranças que o fez ficar mais forte, mais confiante e corajoso. LO nunca foi para um Jogo das Estrelas e há outras coisas que ele ainda não conquistou. Entretanto na sua mão direita há um anel de campeão da NBA e na sua mão esquerda há uma aliança de casamento (sua esposa é Khloé Kardashian, segundo casamento). Ao seu lado direito está sua filha Destiny e do lado esquerdo está seu outro filho, Lamar Junior. Mais acima, no lado esquerdo do peito está o pequeno Jayden, tatuado e marcado para sempre.


Falaram sorte e Lamar Odom, hoje com 30 anos de idade, lembrou de quantas vezes ouviu esta palavra ser direcionada a ele como um demérito perante aquilo que ele alcançou com maturidade e legitimidade.

Stoudemire poderia ter evitado isto tudo ao substituir sorte por “aquele que consegue o que pretende com facilidade”.


(GL)


© 1 Jamie Rector / NYT Media

30 e Todos Anos


O San Diego Padres é um dos times mais jovens da MLB e está fazendo uma campanha na temporada 2010 impressionante, liderando a Divisão Oeste da Liga Nacional (até 16/05). No elenco há um jogador que sustenta o time dentro e fora de campo, uma verdadeira pedra angular. David Eckstein, 35, esbanja experiência e conhecimento do jogo, virtudes que o mantém relevante.

Ele não é o melhor dos rebatedores, mas até que está fazendo um campeonato razoável rebatendo em segundo na linha ofensiva e jogando em uma nova posição na defesa: passou de SS para 2B. Não desfruta do favorecimento dos fãs, diferente do que acontecia em Saint Louis e Anaheim, só que o êxito dos Padres atrai atenção e traz à memória que ele ainda joga na MLB e o porquê continua eficiente.

O mais importante é sua liderança, compartilhando o aprendido em 9 anos de carreira com dois títulos da World Series e um MVP nas finais. Assim que os Padres acertaram com ele em 2009 por apenas um ano, os torcedores não gostaram da contratação por não entenderem a necessidade de um tiozinho entre garotos. A diretoria do clube, com uma perspectiva mais ampla e ciente do que estava fazendo, renovou o vínculo por mais um ano, projetando que Eckstein tem muita lição para ensinar ao jovem núcleo da equipe.

Quando San Diego esteve recentemente em San Francisco numa série de 3 jogos contra os Giants (11/05 – 13/05), os jogadores dos Padres ouviram as vaias que os torcedores rivais direcionavam a David, resquícios da World Series de 2002 quando o Anaheim Angels (hoje Los Angeles) derrotou os Giants. Na ocasião Eckstein estava em sua segunda temporada vindo de uma dispensa do Boston Red Sox e foi importante na decisão que teve as sete partidas. Mais especificamente, ele teve um ótimo jogo 2 rebatendo 3 vezes em 5 oportunidades numa vitória de virada (11 a 10) e um jogo 7 onde liderou o time na vitória por 4 a 1. No total, Eckstein teve um aproveitamento de 31% no bastão e marcou seis corridas nesta World Series.

David era um dos favoritos dos fãs, talvez pelo fato de ser um bom jogador apesar do porte físico desprivilegiado; ele compensa com muita disposição e garra. Para atingir o sucesso, era preciso ultrapassar várias barreiras e lutar mais que os outros em sua volta. Esta força é útil tanto com o uniforme quanto na vida social e a inspiração de vencer lhe rendeu um livro chamado Have Heart (tr. Tenha Coração).

Ele escreveu na época que estava em Saint Louis, quando venceu mais uma World Series – a de 2006 –, levando o troféu de melhor jogador da final. Eckstein não estava em um bom momento quando a decisão iniciou, sendo o último colocado em RBI quando juntado os membros dos Cardinals e do Detroit Tigers. Teve 0 rebatidas nas 11 primeiras vezes que esteve com o bastão, até alcançar as bases nas últimas duas aparições no jogo 3 (vitória dos Cardinals, 5 a 0). Anotou duas RBI no jogo 4 e duas RBI no jogo 5, impulsionando a corrida vitoriosa em cada uma destas partidas. Assim, levou pra casa o troféu de MVP – STL venceu a série por 4 jogos a 1.


Também por lá se tornou um dos favoritos dos torcedores. O que eles gostavam é da dedicação que Eckstein demonstrava. Por precisar de muito esforço para superar as desvantagens que tinha, passava por um ritual de cinco horas antes de cada confronto daquela final, uma rotina que misturava preparação física e mental para encarar as adversidades que insistiam em aparecer na sua frente. Era necessário ter coração.

Cada momento vivido em campo serviu de motivação para dividir com os torcedores um pouco de sua personalidade. No livro Have Heart, é possível descobrir um pouco mais da pessoa Eckstein, aquele que poucos vêm ou se importam. Para não ser diferente, ele abre o coração e mostra como sua história foi construída, uma dica do por que ele é tão propenso em lutar perante o impossível e ser um vencedor incomum.

Os pais de David são professores; Pat do primário e Whitey do ensino médio. Eles ensinaram aos seus cinco filhos (David Eckstein é o caçula) a importância de sempre dar o máximo que pode em qualquer situação e não reclamar das dificuldades que a vida oferece, aprendendo na prática o que é perseverança.

Eckstein se torna um símbolo da coragem e da possibilidade de ser o que quiser, desde que haja vontade e zelo para enfrentar as artimanhas do cotidiano. Os Padres disputam uma divisão extremamente competitiva (com Colorado Rockies, San Francisco Giants e Los Angeles Dodgers) e estão liderando, mesmo tendo jogadores no elenco desconhecidos do grande público; Eckstein e Adrian Gonzalez (1B) são os atletas de mais renome.

Agora o momento para Eckstein (que significa pedra angular em alemão) é de ensinar o jovem time dos Padres, passar pra frente as lições aprendidas com seus pais e aquelas que a MLB lhe ofereceu. São valiosas instruções que serão utilizadas por toda a carreira dos rapazes de 20 e pouco anos.



(GL)


© 1 Donald Miralle / Getty Images

O Escudo, o Pirata e as Espadas (Ice Cube e os Raiders)


No início do documentário Straight Outta LA (SOLA), o rapper Snoop Dogg define bem o porquê da identificação do gênero gangsta rap com a franquia Raiders: “O símbolo do time representa a nossa atitude nas ruas, não poderíamos nos associar com rosas, árvores e pássaros”.

Até a combinação das cores prata e preta dão um ar de agressividade, diferente das cores roxo e ouro, por exemplo.

SOLA, que teve sua estréia na última terça (18), é dirigido por Ice Cube e faz parte da série da ESPN americana chamada 30 for 30, trinta documentários para relembrar fatos esportivos relevantes das últimas três décadas, comemorando o aniversário de 30 anos da rede de televisão. A idéia central do filme é traçar um paralelo entre a carreira do rapper e do seu grupo NWA (Niggaz With Attitude) com o time dos Raiders dos anos 80. Ele conseguiu transmitir com maestria o conceito que queria compartilhar.

O ponto de partida acontece quando Ice Cube vê o Oakland Raiders ganhar o Super Bowl XV em 1980. O estilo feroz de jogar daqueles atletas enchia os olhos do então garoto de Los Angeles, que decidiu escolher o time de outra cidade para torcer – os Rams eram o time de LA na ocasião.

A franquia mudou para Los Angeles em 1982 e na temporada seguinte conquistou o Super Bowl XVIII. O time era a sensação da NFL, estava no auge e a aproximação dos fãs com o clube só crescia. Ice Cube se envolvia mais com os Raiders e na adolescência a paixão ficou mais forte. Simultaneamente ele descobriu o talento de rimar e se envolveu com outro amor chamado rap, mas não conseguia escrever sobre festas, garotas ou autopromoção; o cotidiano que vivia o fez ser realista, uma espécie de repórter das ruas.

Ice Cube versava sobre o que ele via ao seu redor: drogas, violência e desprezo. Seus ouvintes se identificavam porque passavam por situações parecidas que ele dizia nas letras. Em busca de um DJ para divulgar mais seu trabalho, achou Dr. Dre, que o apresentou ao MC Ren, DJ Yella e ao Eazy-E. Estava formado o grupo NWA (foto abaixo).


A tradução da sigla NWA é Negros Com Atitude, o que causa um impacto fortíssimo. Eles queriam fazer com que a voz dos que viviam na periferia de LA fosse ouvida. Todos do movimento hip-hop passaram a prestar atenção no que aqueles caras do bairro de Compton (um dos mais violentos dos EUA) tinham a dizer. A mensagem se resume numa imagem: escudo, pirata e espadas.

O grupo decidiu usar preto aonde quer que fossem. Para dar um toque a mais, o boné escrito Los Angeles Raiders, ou que tivesse o símbolo do clube, passou a fazer parte do uniforme. Seja qual fosse o lugar, lá estavam o quinteto usando alguma coisa relacionada aos Raiders e tal comportamento fez a franquia se tornar mais popular do que já era.

Quando o grupo lançou seu primeiro disco em 1987, os Raiders não estavam muito bem em campo – depois do SB XVIII, apareceu nos playoffs apenas em 1984 e 1985. As decisões duvidosas e equivocadas da diretoria na renovação da equipe – que não contava mais com os veteranos dos dois títulos conquistados anteriormente –, não afastavam os fãs do estádio e o apoio ao time continuava forte. Os torcedores dos Raiders sempre foram considerados fiéis ao clube, do tipo dedicado, fanático, aquele que veste a camisa.

Literalmente.

Com o NWA usando bonés e jaquetas com o logo dos Raiders, a população afro-americana e latina de LA passou a torcer pelo clube. Esta aproximação não necessariamente deveria ser demonstrada com o comparecimento ao estádio, o simples fato de usar a jaqueta ou o boné já era uma manifestação de admiração. O boné e a jaqueta se tornaram produtos da moda e Raiders virou uma grife urbana, no mesmo momento que as peças passaram a ser “criminosas”.

As gangues de LA poderiam usar o preto e prata tranquilamente, já que eram cores neutras e não tinham nenhuma correspondência com os Bloods (vermelho) e Crips (azul). Com isto, membros rivais se misturavam na torcida dos Raiders e brigas envolvendo torcedores do time eram constantes dentro e fora do estádio. As manchetes dos jornais angelinos, nos cadernos policiais, constantemente informavam que alguém que cometeu um crime estava usando uma jaqueta/boné dos Raiders ou que uma vítima estava usando uma jaqueta/boné dos Raiders. Algumas escolas de Los Angeles proibiram que alunos usassem roupas que fizessem alusão aos Raiders.

O que tinha sido bom em um momento acabou tendo um fim triste.

No começo da década de 90, os Raiders continuavam deixando a desejar. Período no qual Ice Cube saiu do NWA para iniciar carreira solo. Em um momento de reflexão ele rima em seu segundo disco, “Death Certificate” [1991]:

I stop to give juice to the Raiders (Parei de dar ibope para os Raiders)
´Cause Al Davis, never paid us (Porque Al Davis nunca nos pagou)


Em 1995, os Raiders fecharam um acordo para permanecer, no mínimo, por 16 anos na cidade de Oakland. Nada que diminuísse a paixão da Raider Nation (como é conhecida a torcida) pelo time e nem a admiração que Ice Cube tem pelo dono da franquia, Al Davis – embora um ressentimento tenha surgido em algum instante. Ele conseguiu uma longa entrevista com o chefão, algo bastante difícil de fazer, pois o dono dos Raiders não gosta muito de falar com a imprensa. Ice Cube conseguiu extrair muita coisa interessante, com destaque para a declaração dele dizendo que quando terminar o acordo com Oakland, no final da temporada 2011, os Raiders podem voltar para Los Angeles – caso a cidade dos anjos construa um estádio. “É só bater na porta” afirmou Al Davis.

Ice Cube foi excelente em SOLA, seu 17º trabalho como diretor/produtor. Muitos o conhecem através da música rap, outros através de alguns filmes que ele atuou (26 no total), mas SOLA o colocará em outro nível, porque não é fácil dirigir um documentário e finalizá-lo de uma forma tão exuberante. Falar sobre uma paixão pessoal ajudou, assim como contar um pouco da sua vida facilitou o trabalho. Ice Cube revolucionou mais uma vez, dando um presente ao seu clube e aos torcedores no aniversário de 50 anos da franquia.

Ele foi um dos fundadores do gangsta rap, criou filmes populares e de sucesso (como “Sexta-Feira em Apuros”) e transformou o filme “Querem Acabar Comigo” em um seriado de televisão. Não é só o escudo, o pirata e as espadas que simbolizam a relação Ice Cube com os Raiders, o slogan do clube se encaixa bem no perfil do rapper/produtor/ator/diretor:

Compromisso com a excelência.



(GL)


Bônus: Ouça a música Raider Nation do Ice Cube, gravada em 2009

O Poder Condicionante da Oportunidade


Todos precisam de uma ocasião favorável para conseguir o que almeja. Qual que seja a profissão, não basta ter habilidades fora de série; é necessário que as circunstâncias da vida encontrem, no momento certo, o talento. Neste choque de trajetórias, o se passa a ser o é.

Vince Carter, ala do Orlando Magic, passou 12 temporadas na NBA convivendo com o se: se tivesse bons companheiros em sua volta, seria campeão, se... Hoje, atuando no atual vencedor da Conferência Leste, tem a oportunidade de disputar o título da associação, o que irá transformar o se em é.

Na sua longa carreira profissional, ele tem um feito importante, colocando a franquia Toronto Raptors entre as mais importantes no Leste e ajudando a manter o clube no Canadá. Os anos no país do hockey lhe renderam um apelido bem sugestivo, "Air Canada", e que atualmente está em desuso por dois motivos: Carter não joga mais em Toronto e não faz mais tantas jogadas áreas como em tempos atrás.

Conhecido pelos lances espetaculares acima do aro, Carter não é o cara que a cada partida fazia uma coisa diferente. Apesar de se sentir obrigado em entregar ao público e aos seus fãs algo novo, ele entende qual é sua capacidade e não tenta perpetuar o estilo arrojado e empolgante que trouxe quando chegou à NBA. As circunstâncias levaram Carter a compreender seu papel no Magic e méritos para ele que recebeu com humildade a missão de ser coadjuvante num time vitorioso.

Melhor do que ser o ator principal em um time perdedor.

Tanto com os Raptors quanto com os Nets (New Jersey), Vince marcava pontos à vontade, era o principal responsável por isto e não se incomodava nem um pouco. Mas o amadurecimento veio, trazendo consigo a percepção que se a coisa continuasse do jeito que estava, nada de troféu Larry O´Brien. O simples fato de aceitar a proposta do Orlando em se juntar com um time já entrosado, atesta a visão de que Carter está disposto a contribuir o máximo que pode para chegar às finais, mesmo que seja em uma função secundária (ou até terciária).

Colocar Vince Carter em quarto lugar numa lista de jogadores importantes do Magic (atrás de Dwight Howad, Jameer Nelson e Rashard Lewis) soa estranho. Os admiradores do seu jogo – e ele próprio – estão acostumados com os holofotes da mídia e todo o foco do time concentrado nele. Chegar numa equipe bem estruturada, com uma base sólida que disputou as últimas finais, não é de simples adaptação, porém Vince aproveitou a ocasião e abraçou a idéia de ser mais um entre tantas outras estrelas.


Vê-lo com a camisa número 15 isolado em quadra pode até parecer normal. Entretanto, ao invés de estar com a bola, ele observa seus companheiros finalizar jogadas. Não que seja uma fuga perante a responsabilidade, mas um respeito a um grupo que tem jogadores tão habilidosos quanto ele. No começo da temporada, durante o andamento das partidas, Carter era um estudante privilegiado, pois via de perto o que poderia fazer e qual o momento ideal para ser decisivo.

Nesta adaptação, passou por uma tribulação brava no mês de Janeiro deste ano, quando terminou com a pior média de pontos da carreira: 8.7. Nos meses subsquentes se recuperou, momento que pegou realmente o estilo de jogo do Magic. Apesar dos pesares, Carter terminou a temporada 2009-10 como segundo cestinha da equipe – atrás de Howard.

Stan Van Gundy, treinador, tem quatro estrelas sob seu comando e todas elas dispostas a trabalhar pelo outro. O quarteto tem capacidade de definir partidas, mas cada um sabe quem pode fazer isto em determinada ocasião. Carter, por exemplo, não vai pegar a bola e atacar a cesta toda hora como fazia, ele espera a oportunidade lhe dizer o que é melhor. Se for para arremessar, assim seja; se for para passar, assim seja; se for para infiltrar e fazer uma simples bandeja, assim seja. Tudo em prol do bom rendimento do time.

No jogo 2 da série contra o Atlanta Hawks, Carter mostrou como está encarando estes playoffs. Seu primeiro tempo foi fraco, marcando apenas quatro pontos e errando três arremessos de quatro tentados. Já na segunda etapa, ele marcou 20 pontos (11 só no último período). Estes 11 pontos saíram de várias maneiras: duas enterradas, dois lances livres (resultado de um ataque a cesta com agressividade), um arremesso de três e um arremesso de média distância. Ou seja, ele não está perdendo a oportunidade de usar o sumo da sua experiência, fazendo jogadas que a defesa lhe proporciona e não tentando criar dribles do nada que levam a lugar nenhum.


Com o perdão do trocadilho, esta temporada está sendo mágica para Carter. Ele sempre sonhou jogar em Orlando, sua cidade natal. Quando estava em Toronto e seu primo, Tracy McGrady foi para o Magic, Vince ficou com uma pontinha de inveja. Ao sair da universidade (North Carolina) ele literalmente implorou para que o Magic o escolhesse no draft de 1998 – Orlando tinha três escolhas entre as 15 primeiras posições (12ª, 13ª e 15ª) e não quis trocar para cima em busca da Carter, que foi pego pelo Golden State Warriors na 5ª posição. Depois de pouco mais de uma década, o curso da vida lhe deu, de uma vez só, as oportunidades que tantoo queria: jogar em Orlando e num time forte o suficiente para ganhar o campeonato.

Ele é um dos veteranos da equipe e no alto do seus 33 anos entende que não é mais o garoto que deixou todos de queixo caído no campeonato de enterradas realizado há dez anos atrás. Carter percebe isso quando é relacionado para cumprir o programa da comissão técnica chamado de “Descanso & Recuperação” (Rest & Rehab), direcionado àqueles que já estão com o corpo calejado de tantos jogos no currículo.

A franquia, na pessoa de Otis Smith (diretor de basquete e que bancou a contratação de Carter) cuida com carinho de Vince, já que existe a crença que ele será fundamental para a inédita conquista do Orlando. Pressão e motivação estão disponíveis à Carter, que decide usar tudo o que está em sua volta como motivação, pelo fato de um equilibrado time acreditar que ele é o algo mais que faltava no elenco.

É tudo uma questão de inteligência e apreciar o que foi dado como oportunidade. É tudo uma questão de modo, tempo e lugar. É tudo uma questão de modéstia.



(GL)


© 1 Fernando Medina / Getty Images
© 2 Scott A. Miller / US Presswire
© 3 Streeter Lecka / Getty Images

Razão e Sensibilidade


Nos bastidores da MLB, diretoria e comissão técnica das franquias se preocupam com um determinado número que assombram principalmente os arremessadores: 100. Pode ser considerado uma das regras não-escritas do beisebol (leia: Nas Entrelinhas): se o arremessador chegar a marca centenária ele é substituído, não importando a situação ou a entrada que ele está.

Esta é uma questão que gera debates e mais debates, com pessoas favoráveis ao controle de arremessos evitando contusões, e pessoas que são contrárias. Não que as lesões merecem ser desconsideradas, mas performances consistentes passam a ser irrelevantes em comparação ao temor em machucar um braço que vale milhões de dólares.

Um exemplo disto aconteceu no dia 11/04 quando o New York Yankees enfrentou o Tampa Bay Rays. CC Sabathia, arremessador dos Yankees, estava com uma boa atuação, não permitindo uma rebatida durante oito entradas. Faltavam 5 jogadores para o jogo completo se concretizar, quando Kelly Shoppach rebateu uma bola simples chegando à primeira base e imediatamente Joe Girardi (treinador dos Yankees) tirou Sabathia do jogo.

CC tinha arremessado 111 vezes – 69 strikes – e Girardi comentou nos vestiários que estava numa tensão estressante por não saber ao certo o que fazer com Sabathia e agradeceu Shoppach por tornar a decisão de substituí-lo mais fácil. O treinador usou como argumento o fato de desgastar um ace tão cedo na temporada, como defesa ao jogo sem rebatidas que CC construira.

Até 17/05, 24 arremessadores completaram um jogo de nove entradas e quatro tiveram mais que 1: Sabathia, CJ Wilson (Texas Rangers) e Adam Wainwright (Saint Louis Cardinals) com 2 jogos, e Roy Halladay (Philadelphia Phillies) com 3. Alguns destes jogos completos foram especiais e já fazem parte da história do beisebol.

Ontem aconteceu o 19º jogo perfeito da MLB (partida que o mínimo de 27 jogadores são eliminados). Dallas Braden, 26 anos, do Oakland Athletics foi o responsável pela façanha contra os Rays, arremessando 109 vezes – 77 strikes. Na sexta, Jamie Moyer (Phillies) se tornou o jogador mais velho da MLB, 47 anos, a conseguir um jogo sem permitir uma corrida do adversário (shutout), arremessando 105 vezes – 71 strikes.


Visto isto, como lidar com a questão dos 100 arremessos? Esta estratégia deve ser usada com os jogadores mais jovens, com os mais veteranos ou ambos? Veja Moyer, que com uma idade avançada conseguiu completar um jogo; seria ele alvo de uma contagem de arremessos menor? E os mais novos, teriam uma tolerância maior?

Livan Hernandez, arremessador do Washington Nationals, tem uma experiência de 14 temporadas na liga (35 anos de idade). Seu ERA de 1.04 é o segundo melhor da MLB neste ano e dos 6 seis jogos que ele arremessou, em três deles ultrapassou a marca centenária. A mídia esportiva da capital federal dos EUA criticou o time por permitir que Hernandez arremessasse 123 arremessos em 5 entradas e 1/3 contra os Braves dia 04/05 – os Nationals venceram. Embora Hernandez seja um cara acostumado a arremessar muito, com 122 jogos na carreira em que ultrapassou 120 arremessos e três em que arremessou 150 vezes ou mais.

Ubaldo Jimenez, arremessador do Colorado Rockies, tem 26 anos e é o líder em ERA da liga: 0.93. Tem uma partida a mais do que Hernandez, mas já arremessou 782 vezes no total (156 a mais que Livan). Jimenez teve cinco jogos com mais de 100 arremessos e três deles passou da marca de 120 – ele é o primeiro em arremessos neste campeonato.

Não existe nada que a ciência médica comprove se um jogador de beisebol arremessar uma bola de 140g mais de 100 vezes por partida irá se contundir mais rápido do que aquele que não fizer. Mesmo assim, existe uma pesquisa que dissecou este assunto e criou um limite ideal de arremessos para os jovens.

O Instituto Americano de Medicina Esportiva (ASMI) fez um estudo, encomendado pelo Comitê de Segurança Medica da Federação Americana de Beisebol, sobre o número 100, se é apenas um registro mágico ou uma marca efetiva para prevenir lesões. Foram ouvidos 85 especialistas entre ortopedistas e técnicos, que providenciaram 28 respostas diferentes acerca desta questão. Foi elaborada uma tabela que é usada nas ligas infantis, juvenis e de base.


Quando se chega na MLB, quem determina o quão longe vai o arremessador no jogo é o treinador; o atleta em si tem pouco controle da situação. Uma das poucas exceções é Justin Verlander, arremessador do Detroit Tigers. Todo ano Jim Leyland, treinador da equipe, diz que irá colocar o atleta no regime de arremessos e nunca consegue ativar o plano. Ano passado, Verlander foi o que mais arremessou em toda a temporada e em 2010 está em segundo – atrás de Jimenez. Leyland declarou, no final do mês de Abril, após a derrota do seu time contra o rival de divisão Minnesota Twins - num jogo que Verlander perdeu e arremessou 121 vezes - , que iria limitar o jogo do seu ace. Nada feito: nas duas partidas seguintes, Verlander arremessou respectivamente 120 e 118 vezes e venceu ambas as partidas...

O dilema sensível de zelar pela saúde do atleta e pelo rendimento dele em campo, pensando a longo prazo, é louvável e merece ser visto com afinco. Mas esta filosofia de contagem de arremessos cria um estilo de jogo no qual o arremessador chega à quinta ou sexta entrada já satisfeito com sua performance e pronto para sair de cena. Quem chegou no esporte no começa da década ´00, quando o número 100 se tornou obsessão, é mais propício a aceitar esta determinação do que lutar para ficar no montinho o máximo que for possível. Dos 24 jogadores que completaram um jogo na temporada 2010, apenas 5 tem 25 anos ou menos.

A razão sofre eco até entre os defensores da sensibilidade. Theo Epstein, jovem diretor de beisebol do Boston Red Sox, analisa com propriedade e define assim: “Eu, que sou um dos defensores em proteger a qualquer custo os arremessadores mais novos, fico confuso as vezes e dividido. Isto porque talvez fomos longe demais na preocupação, tratando os garotos como bebês e não preparando eles para um jogo longo, criando assim uma mentalidade descompromissada, não ensinado eles a serem dominadores”.



(GL)


© 1 Jim Rogash / Getty Images
© 2 Marcio José Sanchez / AP

Carta à Lailaa Nicole Williams


É bebê, seu primeiro dia das mães tá chegando.

Provavelmente sua maior preocupação é com 13 de Maio, data que todos da família comemorarão o aniversário de um ano da mais nova integrante. Com certeza papai Shelden [Williams, jogador do Boston Celtics] e mamãe Candace Parker [jogadora do Los Angeles Sparks] estão felizes, mas quem está mais radiante neste momento tão especial é mamãe, acredite.

Sabe Lailaa, é difícil dizer se foi você que fez mamãe famosa ou ela que te fez conhecida. Claro, Candace Parker sempre foi um nome fortíssimo no mundo do basquete, porém quando você estava na barriga se preparando para vir ao mundo, ela ficou no alvo da mídia – ela não né, vocês duas.

Diziam assim: será que ela conseguirá jogar basquete de alto nível depois da gravidez? Sei que você deve tá dando risada agora, o que deixa claro que até uma criança compreende que o desafio de uma “simples” gestação é fichinha para sua querida mamãe. Importante pra você é conhecer quem é esta pessoa que te alimenta, que te dá carinho e amor; pessoa esta que prontamente irá te atender quando você disser a primeira palavra.

Vovó [Sara Parker] e vovô hoje vivem separados, mas enquanto estiveram juntos, bebê, cuidaram muito bem dos filhos; dos dois titios e da sua mãe. Titio Marcus é doutor, titio Anthony [Parker, Cleveland Cavaliers] é também jogador; vê só, igualzinho a seu pai e participam de um campeonato de basquete bem popular. Sua mamãe não se tornou jogadora assim facilmente, precisou de um conselho importante da vovó que a encorajou para não abaixar a cabeça frente aos problemas – algo que você poderá usar quando tiver mais idade.

Ainda adolescente, mamãe estava chorando no canto da sala e vovó viu. Ao perguntar porque das lágrimas, sua mãe disse: “Marcus vai estudar numa escola grande, Anthony vai ser atleta profissional... e eu? Vou ser o quê?” Aí vovó disse: “Você Candace, será o que você quiser ser”.


Optou por ser jogadora de basquete (apesar de ter tentado primeiramente vôlei e futebol). Sua altura lhe dava uma vantagem considerável perante as meninas e os conselhos do seu avô, com a ajuda dos titios, fizeram dela uma excelente atleta. Por já ser alta e ter força, eles treinavam com ela arremessos de longa distância, dribles, infiltrações e controle de bola (não se preocupe, estes são termos que logo você saberá o significado). Outra coisa que eles faziam era jogar fisicamente contra mamãe, pois assim criavam nela um instinto de dureza e agressividade – outra vantagem contra as adversárias.

Mamãe se tornou famosa muito cedo. Com quinze anos de idade conseguiu enterrar a bola pela primeira vez em um jogo na escola. Bom, não precisa fazer esta cara de quem não entendeu, porque mesmo quando você for grande, talvez não irá compreender todo o estardalhaço que aconteceu na época. Sua mãe acha importante esta habilidade que ela tem de enterrar a bola, por ser algo atraente e um lance que os meninos achavam que fosse exclusividade deles. Alías Lailaa, você irá enfrentar um mundo mais aprazível para as mulheres; será uma visão diferente da mamãe quando criança, da vovó quando criança...

Ah! Deixa eu te contar uma coisa bem legal que quando você tiver na escola pode contar vantagem com seus amigos. Sua mãe venceu um campeonato de enterradas contra os meninos! É, isso aconteceu de verdade [em 2004 no McDonald´s All American Game] e o mais legal que os meninos que estavam competindo com ela se tornaram nomes importantes do campeonato popular que eu disse mais atrás, aquele que seu pai e titio participam. Tudo bem que os meninos [JR Smith/Denver Nuggets, Rudy Gay/Memphis Grizzlies e Josh Smith/Atlanta Hawks] erraram bastante na disputa, mas mamãe foi eficiente, fazendo uma enterrada com os olhos fechados.

Talvez você descobrirá isto antes de ver a fita da competição. Digo isso porque seus pais são fãs de hip-hop e mamãe é fã de um rapper bem famoso chamado Jay-Z... Quer saber, esquece. Deixa eu te mostra logo o que eu quero dizer: Candace Parker virou rima de uma música, não é legal? Olha, pode até não fazer sentido ou ser pouco importante, porém um dos medidores de popularidade são as letras de rap (principalmente quando acontecem pelo lado positivo). Vou tocar pra você o som que eu tô falando:

Wu Tang ClanStarter (primeiro verso, rimado por Streetlife. Faz parte do álbum “8 Diagrams” de 2007)


You'se a starter, like Candace Parker
Take flight like Skywalker, might wolf it on ya father
Still the athlete, play of the week
G.P.A. 4.0 and the game's complete
Skintone buttercream, all defensive team
Dreamgirl like Jennifer Hudson, you're my Queen
To be, I'm ya King, keep ya under the wing
Together we can capture the ring
You the human highlight, body type, just right
Hairdo stay tight, go hard ball all night
All-star shine so bright
Hall of famer, about to take the game to new heights
You're my number one draft pick, Madonna classic
No look dunks to the basket


Ouviu? Este é um registro que ficará para sempre.

Você faz parte de outro registro importante para mamãe, só que fotográfico, um retrato simples capturando um gesto singelo. Dentro da barriga da sua mãe, você a deixou mais linda e uma revista [ESPN] não perdeu a oportunidade e fez você famosa, sendo destaque na capa, se acostumando desde cedo com os holofotes.

Quando você nasceu Lailaa, todo mundo (literalmente) queria te ver. Sua mãe faz questão de compartilhar fotos suas com os fãs dela, através de uma coisa chamada internet (daqui a alguns anos você dominará esta coisa). Os retratos mostram você com casaquinhos e luvinhas porque onde você estava faz bastante frio [Candace joga na Rússia na inter-temporada da WNBA. Seu time foi campeão da liga local neste ano]. Hoje você está no lugar onde nasceu e justamente na temporada de calor – espero que você não estranhe tanto a mudança de clima.

Antes de encerrar, você precisa saber que sua mãe é muito competente no que faz: uma das melhores jogadores de basquete do planeta! Existe toda esta cobertura excessiva, que chamamos de extra-quadra, que não desqualifica a habilidade única que sua mãe tem quando veste um uniforme e assume o controle da bola laranja.

Você precisa descobrir rapidamente o que significa ciúme, pois aprenderá que não é bom tê-lo. O assédio em cima da sua querida mommy é gigantesco, afinal ela é bonita e maravilhosa; você já percebeu isto quando a viu pela primeira vez, não é verdade?


Ela, Lailaa, já foi eleita uma das 100 mulheres mais bonitas do mundo [em 2007, segundo a revista americana People]. Apesar de muitos dizerem que você é a cara do papai, a beleza da sua mãe estará contigo em todos os dias. E que esteja também presente dentro de você a coragem dela, a garra, a perseverança, a fé, a intrepidez...

Lembre-se disto: quando as sílabas mom-my saírem da sua boca, a amada mãe irá te atender com um grande sorriso no rosto, estampando uma felicidade indescritível. Aí você aprenderá a quem recorrer quando precisar de ajuda.

Quando ficar mais velha e estiver no tempo de assistir desenhos animados, tempo este de formação sólida de consciência, você saberá quem de fato é sua mãe, descobrindo então outro nome para ela: heroína.



(GL)


© 1 Sail Young / Go Vols
© 2 Tamara Reynolds / People

Ligue os Pontos


Tudo começou com um ponto de interrogação.

As dúvidas sobre se Rajon Rondo, então armador da Universidade de Kentucky, iria ser um bom jogador na NBA, tomou conta da diretoria do Phoenix Suns que o escolheu na 21ª posição no draft de 2006. Apesar de precisar de um armador para ser reserva de Steve Nash, os Suns trocou Rondo por Brian Grant (ala-pivô, hoje aposentado) com o Boston Celtics.

Quatro anos depois, aquele que teve questionado sua habilidade está na discussão acerca de quem é o atual melhor armador da associação. Só de ser mencionado neste mix, qualifica o jogo de Rondo e o valoriza ainda mais. Na temporada 2009-10, logo após renovar com a franquia por 5 anos – 55 milhões de dólares no total –, ele entrou na galeria de grandes atletas dos Celtics liderando duas categorias importantíssimas nas estatísticas históricas do clube.

Rondo é o primeiro colocado em número de assistências em uma temporada (794) e em roubos de bola (189). Aliás, ele foi o primeiro Celtic a terminar um campeonato como líder em roubos de bola e também foi o primeiro armador da franquia, dentro dos últimos 20 anos, a participar do Jogo das Estrelas.

Números e feitos que confirmam uma verdade: Rondo é o jogador mais valioso do time. Entre feras que estarão no Hall da Fama (Kevin Garnett, Ray Allen e Paul Pierce), Rondo é o comandante em quadra, ditando o ritmo e cadência da equipe, distribuindo os pontos conforme a oportunidade permita.

Ele [Rondo] influencia nosso jogo de muitas maneiras. Você quer que o armador dite o tom em todas as partidas. Você quer que ele lidere. Eu digo uma coisa: ele está se desenvolvendo aos nossos olhos e é fantástico ver isto” analisa Garnett, uma das personalidades mais respeitadas da NBA e um conselheiro pessoal de Rajon.

Uma coisa que KG não mencionou é como Rondo, que tem apenas 24 anos, cresce em jogos importantes nos quais as estrelas brilham. Na sua segunda temporada, ganhou o título; na terceira fez um duelo épico contra Derrick Rose (Chicago Bulls) numa eletrizante série de sete jogos na primeira rodada dos playoffs, mas sucumbiu no duelo seguinte contra Orlando Magic.


Nesta pós-temporada, Rondo tem sido tão eficiente quanto e na partida mais recente contra o Cleveland Cavaliers (Jogo 2 – Seminais do Leste), desempenhou seu papel com maestria. Foram 19 assistências no total, igualando o recorde da franquia de passes em um só jogo – que pertence ao próprio Rondo, marca atingida no ano passado contra os Bulls no Jogo 6. Vale salientar que esses 19 passes resultaram em 46 pontos. Somados com os 13 que ele anotou, 59 dos 104 pontos que o Boston marcou na partida saíram das mãos de Rondo; não esquecendo que ele não assinalou assistência nos 11 minutos finais da partida.

O termo professor, usado de forma demasiada pelos jogadores brasileiros de futebol para chamar seus respectivos treinadores, poderia ser usado por Rondo em relação a Glenn “Doc” Rivers. Por ter sido armador, Doc ensinou muitos macetes para Rondo e o jovem aprendeu bem, adaptando seu estilo ao que o treinador lhe orientava. MVP do Mundial de Basquete de 1982, Rivers atuou na NBA ao lado do craque Dominique Wilkins no Atlanta Hawks e o conhecimento que ele adquiriu em quadra foi (e está) sendo transmitido para Rondo.

O camisa 9 sabe a quem direcionar os agradecimentos, lembrando quem o auxiliou no caminho rumo ao estrelato. Os companheiros de time, a comissão técnica e a diretoria são constantemente citados, mas faz questão de não esquecer de algo importantíssimo para ele: as superstições.

A faixa na cabeça que Rondo usa nos jogos não estar ao contrário por um acaso. Uma vez, na sua temporada de novato, ele a usou assim, teve uma boa atuação e nunca mais inverteu a faixa. Ele tem um ritual pré-jogo que não pode ser quebrado, desde a hora exata de fazer os arremessos no aquecimento, até o tempo do banho; ouvindo sempre a mesma música black. Nos jogos em casa, Rondo atravessa a mais movimentada avenida da cidade para chegar no TD Garden, não importa as condições do trânsito. A sua família entra nesta energia também: a mãe envia uma mensagem bíblica via celular antes de cada jogo e o irmão não usa nada verde durante dias de jogos.

Para se concentrar somente em seu trabalho, Rondo precisa executar todo esse ritual (e receber ajuda, claro). Não que tais ações interfiram diretamente no rendimento dele em quadra, porém as “místicas” etapas precisam ser cumpridas e desta forma ele fica mais tranquilo e relaxado – quem é supersticioso entende a situação.

Rajon possui uma habilidade única, com estilo de jogo próprio e dribles que são marcas registradas. Além de tudo, é um jogador eficiente e que demonstra ser capaz de liderar um time, mesmo que super estrelas da NBA estejam nele. Não existe mais ponto de interrogação quando o assunto é sua competência no basquete profissional, só exclamação após ver jogadas como esta, à la Hakeem Olajuwon, realizada no Jogo 2 contra os Cavs no último dia 03.




(GL)


© 1 arte gráfica por Dariusz
© 2 Elise Amendola / AP

Limão & Limonada


Com o primeiro mês da temporada 2009-10 no seu final, não é surpresa notar que o Tampa Bay Rays é o melhor time de toda a MLB. Ou será que é surpreendente? A resposta para esta questão é sim – se for levado em consideração o histórico da franquia em 12 temporadas na liga. Agora, com o retrospecto dos últimos dois anos, o campeão da Liga Americana em 2008 está mantendo o bom trabalho e o presidente do clube sabe quem é o responsável por fazer o máximo que pode com o mínimo que possui:

Andrew [Friedman, foto acima] é um oportunista, procurando sempre melhorias para nosso time. Alguns movimentos são arriscados, outros são mais centrados. Na maioria das vezes, as decisões que ele toma dão certo no final” pondera Matt Silverman.

Por oportunista entenda “aquele que faz limonada com um limão”. A franquia tem poucos recursos, folha salarial baixa e lucro irrisório em marketing. Mas, mesmo assim, Friedman consegue construir uma equipe competitiva, num fraco mercado para o beisebol, com as ferramentas que tem disponível. Andrew prefere agir com o que tem ao invés de reivindicar o que não tem.

Ele é diretor de beisebol (dentro da hierarquia dos Rays, Vice Presidente de Operações de Beisebol) desde 2005 e suas ações no clube são similares ao visto nas bolsas de valores: comprar ativo só se trouxer um verdadeiro custo-benefício. Traduzindo: junção ideal do bom e barato. Antes de assumir o atual cargo, Andrew foi Diretor de Desenvolvimento dos Rays durante dois anos, função dada por sua experiência no mundo dos negócios.

Friedman tem um bacharelado em administração com especialização em economia (pela Universidade Tulane). Trabalhou por muito tempo em bancos conceituados da cidade de New York, como analista de investimento, até ser convidado para integrar os Rays. Depois do pequeno “estágio” de dois anos, chegou à diretoria de beisebol.

De negócios ele entendia. De beisebol não. Sabendo disso, o clube colocou como seu assistente um veterano GM na liga, Gerry Hunsicker (foto abaixo) – que teve um excelente trabalho com o Houston Astros (1995-2005) levando o clube à World Series de 2005. A função de Gerry, 49 anos, é dar dicas para Friedman, 33, mostrando a ele os atalhos a serem percorridos.


A filosofia dos Rays, imposta por Friedman, é se concentrar no desenvolvimento de jogadores nas ligas de base (mais barato) do que apostar nos grandes nomes (mais caro). E nesta de “criar” jogadores, eles têm que trazer o pacote completo para a MLB, com bom jogo defensivo e ofensivo, ou seja: custo-benefício na mais pura essência.

O exemplo disto é Evan Longoria, 3B. Uma das mais promissoras estrelas da liga (leia: Estrela Ascendente), pode custar, até 2015, apenas US$ 50 milhões de dólares no total de oito temporadas com o clube; 2010 é a terceira. Longoria é um dos tantos atletas do elenco formados nas divisões de base (minors).

Friedman é realista e sabe que grande parte destes jogadores vai embora quando conseguirem o passe-livre, já que o clube não tem como competir no agressivo e perverso leilão do mercado da MLB, onde quem comanda são as ricas e poderosas franquias, que gastam dinheiro sem piedade. Ciente desta situação, Friedman fica tranquilo, pois confia na base do seu clube, capaz de produzir talentos para repor as estrelas que porventura saírem.

Os Rays não se concentram apenas nas minors e organiza várias peneiras internacionais no garimpo em busca do bom e barato que é o alicerce da franquia. Fora os olheiros que percorrem mundo afora atrás de atletas, o clube mantêm três clinicas na America Latina: uma na Venezuela, outra na Colômbia e uma no Brasil.

Se concentrando especificamente no Brasil, o Tampa Bay prevê investir em torno de US$ 6.5 milhões, dentro de quatro anos, num centro de treinamento construído na cidade de Marília, interior do estado de São Paulo. Este projeto visa integrar crianças em atividades pós-escola, intensificar o esporte na região e, quem sabe, encontrar garotos com habilidades no nível da MLB.


Toda esta idéia de bom e barato mostrou seu valor. Em apenas três anos como diretor de beisebol, Andrew Friedman (foto acima, no alvo dos microfones) conquistou o prêmio de Executivo do Ano em 2008 – o mais jovem a ganhar o troféu. A vitória veio pela magnífica campanha dos Rays na temporada do mesmo ano, quando o clube chegou à World Series como representante da LA , perdendo para o Philadelphia Phillies. O detalhe é que em 2007 o time terminou a temporada com 66 vitórias e deu uma reviravolta chegando ao final do campeonato 2008 com 97 vitórias e o primeiro título da Divisão Leste da LA, desbancando as potências Boston Red Sox e New York Yankees. Tudo isso feito com uma folha salarial de US$ 43 milhões/ano, a 4ª menor de toda a MLB em 2008.

Hoje o time tem uma folha anual que gira em torno de US$ 70 milhões, mas a tática de trabalho pé no chão continua a mesma. Intrigante é, por mais que o time seja vitorioso, não conseguir trazer torcedores para o Tropicana Field, caso que Friedman vem se dedicando para resolver, porém ainda não achou a solução. O time (até 03/05) é o primeiro lugar na classificação geral, mas é o 22º colocado em público, com uma capacidade de 52% em média por jogo. Se a base de jogadores é sólida, o mesmo não pode ser dito sobre os fãs. É fundamental uma participação maior dos torcedores, porque se o Tropicana estiver cheio mais dinheiro vai girar, o clube pode investir em mais atletas e manter os que já estão no elenco.

Friedman não se preocupa com o lado limão (amargo) da coisa. Embora seja a realidade o baixo faturamento do clube como um todo, ele transforma em doce (limonada) a circunstância aparentemente adversa.

Enquanto houver matéria-prima, haverá produto final.



(GL)


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