Tudo é vaidade – mesmo com solidariedade


O gesto da cheerleader do Indianapolis Colts, Crystal Anne, ganhou destaque além do mundo da NFL. Ela (foto acima) raspou a cabeça e chamou atenção de todos que receberam a notícia pelo motivo: mostrar compaixão ao treinador do time, Chuck Pagano, que foi diagnosticado com leucemia em Setembro desse ano e desde então passou por duas quimioterapias; segundo o doutor que cuida do coach, Larry Cripe, a doença está em "completa regressão".

A franquia Colts apoia incondicionalmente Pagano, por mais que seja um membro recente da organização, chegou em 2012. Vinte e cinco jogadores do elenco rasparam a cabeça em demonstração de apoio ao treinador. Até aí tudo bem, pois é normal ver homens carecas. Mas uma mulher fazer essa opção, sem ser por obrigação? Dessa forma a comoção reverberou nessa atitude de Anne.

Blue, o mascote da franquia, apareceu na mídia local desafiando os hoosiers a doarem dinheiro em apoio a campanha Chuck Strong e se a quantia arrecadada ultrapassasse 10 mil dólares a cheerleader, junto com sua companheira de squad Megan Meadors (ex-Miss Indiana), raspariam a cabeça no jogo contra o Buffalo Bills na semana 12 da NFL. O sucesso estrondoso é representado no quanto Blue conseguiu angariar: 22 mil dólares em doze dias (13-24 de Novembro).

Com câmeras focadas em ambas as cheerleaders, o mascote, na lateral do campo, iniciou o corte. As imagens rodaram o mundo e no dia seguinte fotos ganharam sites e jornais, proporcionando comentários fora de contexto. A palavra vaidade apareceu com frequência nas observações feitas, enaltecendo as garotas que decidiram tomar uma atitude difícil para uma mulher: ficar sem as madeixas.

Leia alguns comentários que resumem parte do que pôde ser observado nas matérias relacionadas:

Essas adoráveis garotas tem mais coração do que vaidade. Obrigado!!!” (site Yahoo! US)

As vezes a solidariedade é só um pouco de cabelo. Isso foi bonito, lindas moças abrindo mão de vaidade pelo amor ao próximo” (Portal Terra)

Nem todas as cheerleaders se preocupam com vaidade. Essas garotas tem bom coração!” (Twitter)

Muito bonito o gesto de abrir mão da vaidade para apoiar alguém numa situação tão difícil. Parabéns a elas” (Folha.com)

Incrível ver a vaidade ficar em segundo plano para que uma grande causa receba apoio” (Fórum dos Torcedores dos Colts US)

Porém não há como fugir da verdade: tudo é vaidade!

Salomão, rei de Israel entre 971 a.c. e 931 a.c., teve a responsabilidade de dar seguimento ao governo do seu pai Davi. A grande tarefa fez com que ele pedisse a Deus sabedoria “para que prudentemente discirna entre o bem e o mal, pois quem poderia julgar a este povo?” (1 Rs 3:9). O pedido foi concedido e Deus destacou que ele não pediu riquezas, longevidade, morte dos inimigos... mas sim entendimento. Assim Salomão recebeu “coração sábio e inteligente, de maneira que antes de ti não houve teu igual, nem depois de ti o haverá” (1 Rs 3:12).

Essa sabedoria está registrada em livros. “Eclesiastes” começa com a declaração seca: Vaidade das vaidades, tudo é vaidade. Salomão observou comportamentos, situações e chegou a conclusão verídica que nada é feito com puro altruísmo.


Anne tinha um cabelo lindo (foto acima), usado para manter alta a estima, para a deixar mais bonita e até mesmo usar nas coreografias da squad. Raspar a cabeça em frente de milhões, se expor, não é um desapego da vaidade, ainda mais ela que superou a leucemia quando era criança? Sim, porém até certo ponto.

Se por um lado os fios do cabelo deixaram sua cabeça para servir como perucas para crianças que sofrem da doença, Anne passou a ser reconhecida fora das fronteiras da cidade de Indiana, virando assunto nos Estados Unidos e em diversos países – incluindo o Brasil. Contabilizando como um plus comentários que enfatizam a beleza da cheerleader, agora sem o cabelo. A vaidade pode ter saído por um caminho, entretanto voltou por outro.

Desfruta de muito sucesso a campanha Chuck Strong. A famosa e gigante rede de cabeleireiros Great Clips, que cortou o cabelo de Anne, doa US$ 10 a cada cleinte que passar a zero e dizer que é pela causa do treinador Pagano – até o momento, de acordo com a própria Great Clips, mais de US$ 250 mil foram arrecadados.

Quem participa da corrente pratica um ótimo ato, deixando de pensar em si para ajudar o próximo. Comportamento bem quisto e merecedor de exaltação. Mas não dá para mencionar que a vaidade é separada desse proceder. O problema é que a palavra vaidade é muito ligada a aspectos físicos, a beleza.

Vaidade, também, é receber admiração dos outros, o que Crystal – e Megan – receberam com muita razão, aliás.

Como bem disse o escritor (romancista) argentino:

A vaidade é um elemento tão sutil da alma humana que a encontramos onde menos se espera: ao lado da bondade, da abnegação e da generosidade”.


(GL)
Escrito por João da Paz

Sem ufanismo barato, brasileiro faz temporada notável na NCAA


Carente de ídolos esportivos, o povo brasileiro glorifica qualquer um que tem o mínimo de sucesso. No salão mundial dos grandes atletas, o Brasil tem representantes dos mais expressivos e importantes, mas somos especialistas em agir como adolescentes desenfreadas atrás de uma boy band quando vemos um esportista brasileiro desfrutando vitórias, por mais que nem sejam tão representativas. Para não variar, essa pobre mesmice persiste e o alvo da vez é Cairo Santos (foto acima), kicker da Universidade Tulane, que faz temporada magnífica e pode quebrar recorde, ganhar prêmio individual e ser parte da história do futebol americano universitário.

É isso. Isso apenas. Por enquanto, nada mais.

Como vivemos um complexo de vira lata às avessas – comportamento possível de ser observado no tratamento dado ao Leandrinho e Nenê na NBA –, Cairo Santos, por concorrer ao troféu de melhor kicker da NCAA pela temporada 2012-13, é tido por aqui, desde o anúncio dessa premiação na última segunda (19), como “o brasileiro que pode ir à NFL!” e/ou “aquele que pode mudar a cena do futebol americano no Brasil!”.

Menos gente, bem menos...

Ambas as situações podem ocorrer? Sim. Mas estão longe da realidade. Contudo são observações comuns, típicas de quem louva o nadador César Cielo e desfere as mais torpes palavras ao vê-lo ficar com a medalha de bronze na prova dos 50m livre – foi ouro em Pequim na mesma prova quatro anos antes. Torcedor tem direito de opinar e falar o que achar ser correto, mas proferem fundamentos fracos: não conhecem a história dessa competição, não conhecem os outros competidores e não usa o bom senso (porque não sabe utilizá-lo ou porque não tem).

Essa estupidez brasileira, vista no caso Cairo Santos, não é a primeira que as grandes ligas americanas tem a oportunidade de presenciar. O patetismo teve sua melhor forma quando Yan Gomes estreou pelo Toronto Blue Jays na Major League Baseball (MLB). Foram comportamentos esdrúxulos ao ponto que não merece explicação.

A qualidade da piada quando é assunto é kicker brasileiro no futebol americano (NFL) tem pouca consistência atualmente, afinal pessoas falavam seriamente em testar os jogadores Branco (campeão da Copa do Mundo de 1994) e Adhemar (popular atleta que ganhou fama vestindo a camisa do São Caetano). Há três brasileiros próximos de ser um kicker profissional de futebol americano e Cairo é mais um dos que podem conquistar espaço no principal campeonato dos Estados Unidos.

Eddie Camara é quem percorreu o melhor caminho, mas uma lesão o forçou a se transferir para segunda divisão da NCAA. Membro da Universidade Central Arkansas (UCA), o natalense fez high school (ensino médio) numa das mais tradicionais escolas dos EUA com programa de futebol americano: Cedar Hill, estado do Texas. Suas performances foram decisivas, levantando troféu e tudo mais. Recrutado por grandes universidades, escolheu a super poderosa Arkansas, membro da SEC, conferência mais forte da NCAA. Chegou para ser titular, porém a lesão no ACL (ligamento do joelho) que teve em Cedar Hill o traiu: cirurgia! Ficou difícil sua situação na equipe e seguiu conselho do seu treinador Bobby Petrino, como disse em entrevista para o blog em Dezembro de 2011:

Após a recuperação, falei com o treinador que queria jogar, se não aqui [Arkansas] em outra universidade. Por gostar muito de mim, aconselhou que fosse melhor sair para não perder mais um ano”.

Camara é segundanista – duas temporadas na NCAA. Como ficou de “molho” (redshirt) no primeiro ano de faculdade, pode optar por entrar na NFL no próximo draft. Está muito bem na UCA, com um 2012 (83,3% FG) melhor que 2011 (73,7% FG).

Maikon Bonani, kicker da Universidade do Sul da Flórida (USF) é veterano e deve aparecer no draft de 2013 da NFL. O paulista não foi bem na temporada chave, a de júnior (terceiro ano), com um aproveitamento de FG abaixo do ideal: 73% - perdeu 7 field goals. No atual campeonato ele melhorou, errou apenas 4 FGs e está com aproveitamento de 80%, mas não foi chamado para o Senior Bowl, jogo crucial para se apresentar aos scouts (olheiros) da NFL, partida onde atuam apenas jogadores veteranos.

Cairo Santos está se destacando justamente na rotulada “temporada NFL”, com aproveitamento de 100% (20 de 20) e se manter assim, após jogo contra a Universidade de Houston, será apenas o segundo kicker na história da NCAA a chutar – e acertar – +20 field goals. Dos 20 FGs convertidos até agora, 12 foram de +40 jardas, maior número do campeonato.

Sim. Cairo é merecedor de elogios e parabéns; pelo o que fez e não pelo o que pode fazer. Esses números são formidáveis e a Universidade Tulane promove uma campanha especial a favor do paulistano, pois o prêmio que ele concorre, o Lou Groza Award, desfruta de sólido prestígio. Muitos kickers de renome venceram o troféu de melhor kicker da NCAA como Dan Bailey, Nate Kaeding, Sebastian Janikowski (duas vezes), Mike Nugent e o argentino Martin Gramática, que levou em 1997 pela Universidade Estadual do Kansas.

Embora atue numa inexpressiva universidade, Cairo tem currículo escolar bom, oriundo da Saint Joseph Academy, Flórida – estado que, assim como Texas, tem os melhores campeonatos de high school dos EUA. Em 2010 estreou como kicker titular por Tulane, terminando a temporada com 81,3% de FGs. Teve queda no aproveitamento de FG em 2011 com 7 erros em 18 tentados (61,1%). Para mostrar que é mesmo um kicker 100%, precisa manter o nível na temporada de veterano; então ir para a NFL em 2013 não é cogitação plausível / real.

Potencial para tornar-se jogador de futebol americano profissional, digno de aplausos, fora o nacionalismo vergonhoso, Cairo não tem culpa das ridículas expectativas que são postas em cima dele originadas de pessoas que o conheceram nessa semana. Que ele mantenha distância desse pensamento e lembre do que esperava da temporada 2011: após errar apenas 3 FGs como novato, queria ser perfeito na temporada seguinte; não deu. Terá uma segunda chance para tanto na temporada que vem.

Isso é importante para ele. Os ingênuos ficam com as discussões vazias e improdutivas.


(GL)
Escrito por João da Paz
© 1 Tulane Media

Os anônimos do New York ‘Mess’


A burrice reina mais uma vez na franquia que está longe de honrar a liga na qual é afiliada. Profissionalismo? Os Jets, o outro time de New York, não conhece essa palavra. Enquanto os verdes envergonham, os azuis ganham Super Bowls.

Além disso, aqueles fazem com competência o que covardes adoram: falar anonimamente.

Procedem com tanta primazia que vexame deveria contar na tabela de classificação da NFL; estariam na liderança.

O alvo da vez é o quarterback/bloqueador de punt Tim Tebow. O jogador mais popular da liga deixou o Denver Broncos e escolheu ser segunda opção em NY do que ser titular em Jacksonville jogando pelos Jaguars. Escolha que mostrava um potencial de sucesso tremendo, mas está num estado no qual jogadores “sem nome” o chamam de péssimo.

O tabloide nova-iorquino (óbvio) NY Daily News publicou na quarta feira uma reportagem na qual o repórter Manish Mehta ouviu dezenas de jogadores e o rótulo dado acima foi uníssono. Um dos atletas disse “Nós não olhamos para ele [Tebow] como um quartetrback: ele é o ‘cara do wildcat’”.

Tebow é um quarterback sim. Dos melhores? Não. Tem condição pra ser titular de um time da NFL? Sim. Porém a falação infantil, típica de corredores de colégio, é o resultado de uma péssima gestão de quem deve liderar, não somente dos que vestem os uniformes e capacetes, porém dos que chamam as grandes jogadas: Rex Ryan, treinador; Mike Tannenbaum, diretor de football; e Woody Johnson, dono.

Em 2011 o mesmo aconteceu com os Jets: jogadores anônimos zombaram de um quarterback. Mark Sanchez, o titular da posição desde 2009, foi vítima do maldizer baixo. Como visto com clareza, a organização amadora não soube gerenciar o ocorrido e, claro, o erro se repetiu.

Uma vez até que vai, no entanto duas?

O trio Ryan, Tannenbaum e Johnson trouxe Tebow. Com boa administração e objetividade, poderiam aproveitar o melhor do camisa 15. Sua fama estratosférica, no nível de Princesa Kate, Adele e Oprah, tinha condições de trazer boas vibrações para o elenco, ser uma peça de união e atuar com eficiência em campo.

Não usaram para nenhuma das coisas.

Colocaram um quarterback para ser um elemento crucial no time de especialista: bloqueador de punt. O pior não é isso, mas Ryan aparecer em frente de toda imprensa de New York e dizer na cara de pau que Tebow está fazendo um grande trabalho nessa função, elogiando sua obediência. Mais um ponto para a vergonha.

Tebow, no ataque, teve algumas oportunidades, nada de grande proveito. Arremessou 6 vezes e correu 27, passou para 40 jardas e correu outras 92. Produção qualitativa longe do ideal, chamando mais a atenção para problemas e disfunção.

Defender que Tebow jogue com mais frequência não deve ser sustentatado na voz fanática de torcedores que o chamam de vitorioso – quando não é! Timmy tem de estar em campo porque não faz sentido tê-lo no elenco se for para deixá-lo encostado como um jogador qualquer – que ele não é!

É curioso perceber que Tebow, com uma vitória em playoffs, bem significativa contra o Pittsburgh Steelers, recebe tratamento de vencedor, enquanto seu colega de time e posição, Sanchez, ganhou quatro jogos de playoffs (legal, né?) e outro quarterback odiado, Tony Romo, tem o mesmo número de vitórias em playoffs que Tebow, mas chamá-los de vitorioso é contra o senso comum, certo?

Pelo visto, o vestiário dos Jets não pensa igual ao senso comum...

E fica assim, “o vestiário”, porque Ryan marcou uma reunião com todos do elenco e disse que os anônimos se apresentassem. Para surpresa – só que não – nenhum dos delatores levantou a mão.

O que sucedeu em ambos os episódios exemplifica como a franquia espelha o comportamento do treinador, que fala muito - dá bom dia a cavalo - e seus subordinados entendem que podem fazer o mesmo. Qual a moral que Ryan tem pra chamar os jogadores a assumir os comentários anônimos? Ele, com seu discurso inclinado para a motivação mas que acaba trazendo um alvo para o símbolo dos Jets, é responsável pela bagunça que o clube virou. Saiu da neutralidade e adquiriu um colorido, um exagerado colorido.

Um apelido mais apropriado para a equipe é Mess, New York Mess.

Já o rival da cidade é o New York 'World Champions' Football Giants


(GL)
Escrito por João da Paz
© 1 Drew Hallowell / Getty Images

A melhor ação de David Stern: fazer com que os jogadores da NBA se vistam como adultos


O comissário da NBA, David Stern, começou a exercer seu cargo em 1984. Antes do início da temporada 2012-13 Stern anunciou que deixará de ser o comandante da associação em Fevereiro de 2014, encerrando ciclo de 30 anos a frente de uma das principais ligas esportivas do mundo. Entre tantas inovações e conquistas está a mudança que deixou Allen Iverson chatiado (foto acima).

No dia 1º de Novembro de 2005, há 7 anos, Stern impôs o código de vestimenta nos jogadores da NBA, atitude necessária para melhorar a imagem da liga que sofria arranhões sensíveis ano após ano em meio à depressão pós-Michael Jordan. O personagem símbolo dessa campanha, indiretamente, foi Allen Iverson (então armador do Philadelphia 76ers). Com mérito, diga-se, pois este era o look dele:


Não foram muitos atletas que se opuseram ao código, mas Iverson foi um dos que acharam injusto a ordem de como se comportar e se vestir. A legitimidade desta regra da NBA sofreu questionamentos primários, porém com um raciocínio no mínimo coerente chega-se a conclusão que a medida tem suas razões.

A primeira linha do código descreve claramente o objetivo principal: “É obrigatório que os jogadores usem trajes Executivos Casuais em qualquer atividade que representam sua franquia ou negócios da liga”. Ou seja, um pequeno lembrete para que adultos milionários deixassem de se vestir como adolescentes do mundo hip-hop.

O pivô Marcus Camby, hoje no New York Knicks, teve a cara de pau de dizer que a NBA deveria dar aos jogadores um “bônus terno”, grana extra para que pudessem comprar as vestimentas executivas...

Iverson foi mais incisivo. Em entrevista à rede inglesa de notícias BBC disse: “O alvo desta regra são caras que se vestem como eu, caras que vestem hip-hop”. Sim, Iverson foi o bom modelo de como um jogador não deve se apresentar. Ele era a grande estrela da liga e tinha acabado de ser o MVP do Jogo das Estrelas (pela segunda vez) e o cestinha da liga (pela quarta vez).

Uma ação precisava ser feita para corrigir a reputação dos jogadores da NBA, em baixa visto que sofria a rotulação de thug players (jogadores bandidos). Iverson, também à BBC, expôs a verdade que “... se o cara é um assassino, coloca um terno nele que continuará sendo assassino”. Mas como a aparência conta muito, essencialmente numa indústria bilionária que é a NBA, a ordem foi dada e quem teve juízo obedeceu.

O código de vestimenta causou debate sobre o direito do cidadão de se vestir como quiser. Não foi vetado esse direito, inválido sob jurisdição da associação, entidade privada que tem poder para exigir que seus subordinados se comportem de um modo determinado – como fazem as grandes empresas e corporações, por exemplo. Um dos pontos do código fala especificamente sobre a proibição do uso de “correntes, pingentes, medalhões sobre o traje”, artigos típicos da cultura hip-hop. Os contrários argumentavam contra isso usando a lei americana dos Direitos Civis.

A Lei dos Direitos Civis de 1964 é divida em capítulos que discorrem sobre os crimes de discriminação contra raça, etnia, nacionalidade, religião e gênero. No capítulo sete (Title VII) há recomendações sobre o trato com empregados e a proibição de discriminá-los. Não houve sustentação contra o código de vestimenta da NBA porque Stern não ordenou que os jogadores não fossem contratados (ou demitidos, ou desfavorecidos) por se vestir com um estilo específico. Claro, quem não cumpre as normas estabelecidas é multado, mas permanece com seu emprego e status. A ordem imposta tinha um objetivo: manter a... ordem.

A oposição ao código se escorou na hipocrisia ao argumentar que a NBA bania as roupas hip-hop mas usava a cultura como forma de vender o seu produto: músicas rap nas arenas, um vídeo game chamado de NBA Ballers (que exacerba a ligação basquete/hip-hop), aceitação das bermudas longas no uniforme padrão dos times... Contudo, apesar dessas visões contrárias, a aceitação ocorreu com maturidade.

Antes do código as franquias Knicks (New York) e Hawks (Atlanta) tinham uma cartilha similar que os membros precisavam obedecer. Clubes justamente de cidades que tem uma força significativa da cultura hip-hop, locais símbolos do movimento nos EUA. Os membros das franquias entendiam a diferença entre uma coisa (representar o clube) e outra coisa (passear com os amigos).

Jogadores de terno, ou de Executivo Casual, transmitem uma imagem mais respeitosa aos torcedores, aos sócios e aos patrocinadores. Essa era a meta que Stern queria atingir e conseguiu. Fez a NBA ser uma liga “adulta”. Olhe o armador do Los Angeles Clippers, Chris Paul, e note a diferença (Jogo das Estrelas de 2011):


E o hip-hop não foi discriminado, muito menos abandonado. Pôde ser observado nas Finais da temporada passada o estilo nerd que jogadores como Russell Westbrook e Kevin Durant do Oklahoma City Thunder, assim como Dwyane Wade e LeBron James do Miami Heat, desfilaram nas entrevistas coletivas, look popularizado pelos rapppers Chris Brown, Lil Wayne, Kanye West, e Tyga.


Visual mais aceitável do que roupas desproporcionais e fora de contexto. A concretização do ditado act your age.


(GL)
Escrito por João da Paz

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