Juízes da NFL e a tempestade em copo d’água


A Semana 4 da temporada 2012-13 da NFL começou na última quinta (27) com a volta dos juízes oficiais, que estavam em greve por não acertar planos salariais e de carreira com a liga. As três primeiras rodadas foram comandadas por árbitros sem experiência no football profissional, chamados como medida de emergência. Erros e comportamentos cômicos marcaram a curta passagem dos “juízes reservas” e estas atitudes levaram que o público consumidor da NFL entrasse numa onda insensata de comentários raivosos, esdrúxulos e fora de propósito.

Tudo começou após a vitória legítima do Seattle Seahawks sobre o Green Bay Packers no Monday Night do dia 24. O lance que iniciou a revolta foi a marcação do touchdown a favor dos Seahawks no lance final da partida. Numa bola dividida entre o safety dos Packers M.D. Jennings e o receiver Golden Tate, os juízes seguiram o que a regra indica e deram a vantagem para o ataque. Mas a jogada teve duas situações anteriores que invalidariam o resultado final: interferência no passe de Tate e a interceptação de Jennings. Quem manda na partida são os homens do apito e eles não viram/marcaram; e o que foi decidido foi decidido. O árbitro chefe, Wayne Elliot, em entrevista para a FOX de Austin (Texas), defendeu a marcação correta que fez em campo: "Os caras do replay simplesmente disseram que nada do que viam era suficiente para reverter o que foi assinalado".

Jogo algum tem interferência de arbitragem no placar, quem joga sabe disto. Os erros dos juízes, em maior ou menor grau, vão acontecer sempre. Time que depende de árbitro para vencer não merece ganhar. É preciso fazer em campo por onde para que determinado time não se coloque numa situação dessas. Exemplo: se os Packers tivessem protegido mais o QB Aaron Rodgers e não ter permitido tantos sacks (8), o ataque renderia mais. Rodgers é inteligente e comentou sobre estes detalhes do jogo:

Eles [juízes] obviamente não mostraram seu melhor trabalho na jogada decisiva, mas há muita culpa para ser colocada nos ombros de pessoas como eu que não fizeram seu melhor jogo naquela noite”.

A maioria dos atletas americanos age de forma diferente da que vemos rotineiramente entre os futebolistas brasileiros ao comentar sobre arbitragem. Em nossa terra há o costume de criar do nada um grande big bang de fúria por um erro do “homem de preto/amarelo/laranja” ao invés de olhar os erros cometidos pelo time e/ou jogadores, pois estes são os únicos possíveis a se ter controle. Na mesma rodada de número 3 outra marcação polêmica aconteceu no jogo entre New England Patriots e Baltimore Ravens e o atleta envolvido deu uma aula de comportamento pós-jogo.

No lance chave do duelo, o cornerback dos Patriots, Devin McCourty, foi penalizado com uma interferência no passe em cima do receiver Jacoby Jones. A falta levou os Ravens para anotar o field goal da vitória. Ao ser questionado sobre a jogada, McCourty explicou: “Se uma toalha amarela é arremessada em campo [que indica falta] não há como controlar o que vai ser marcado, por isso não devo me preocupar com isto. É simples: preciso me concentrar e fazer uma melhor execução para não cometer penalidades”.

E outra, como bem disse o linebacker do Chicago Bears, Brian Urlacher: “Se os juízes são ruins, os erros acontecessem para ambos os lados. Quem reclama é sempre o lado perdedor”.

O motim virtual que aconteceu nesta semana tem todas as características de um tumulto real, a começar pelo estopim dado por alguém que encabeça outros tantos atos desconexos. Basta um jogador dos Packers soltar um palavrão no Twitter, um jornalista referendar as críticas e textos surgirem na rede online que até o presidente dos EUA, Barack Obama, e seus rivais na eleição deste ano, Mitt Romney e Paul Ryan, tiveram que dar pitacos sobre o assunto.

Como nas rebeliões, as ações foram sem pensar, sem usar o mínimo de raciocínio. Todos fizeram severas observações sobre os juízes substitutos, parte destas tão firmes quanto um prego na areia. De uma hora pra outra virou cult falar mal das zebras.

Rotularam o legítimo touchdown de Tate como vergonha, absurdo. Tá, mas precisa entrar na listinha das gafes cometidas por árbitros que a história da NFL registra. São tantas que é preciso um especial para catalogá-las e o Danilo do Diário NFL fez este favor, com uma pequena amostra dos “abomináveis” equívocos.

Restringindo a um tempo mais próximo ao nosso, há dois exemplos claros de como os “perfeitos e imaculados” juízes bancaram “exemplos de lisura”.

Em 1999, uma zebra de nome Jeff Triplett jogou a toalha amarela para dizer que tinha visto uma falta. Porém a simpática toalha atingiu o olho (sim, o olho) do lineman do Cleveland Browns, Orlando Brown. O jogador perdeu parte da visão, não rendeu mais como anteriormente dentro de campo e processou a NFL por danos. Olha que também na Semana 3 da atual temporada um lance curioso aconteceu e causou um reboliço tremendo: um juiz jogou seu chapéu na end zone do Dallas Cowboys e o receiver do time, Kevin Ogletree, escorregou no boné e foi impedido de fazer a recepção para touchdown...

Polêmica na end zone? Em 2010 Calvin Johnson, jogador do Detroit Lions, fez a recepção da vitória fora de casa contra o Chicago Bears. O juiz em campo deu o touchdown, mas foi revertido. Veja e note qual foi o erro:



Na partida que deu início a Semana 4 – Baltimore Ravens x Cleveland Browns – os juízes titulares receberam uma salva de palmas. Dois quartos de jogo depois receberam o que estão acostumados a ouvir: vaias.

Tudo volta ao normal.

A espera do próximo "imperdoável" erro de arbitragem para colocar a culpa... em quem?


(GL)
Escrito por João da Paz

Desconstruindo Cam Newton


O quarterback do Carolina Panthers tem uma legião de apreciadores. Seu jogo é atraente, tem eficiência só no mundo da fantasia e em seus torneios. Na última quinta-feira, contra o atual campeão da NFL, New York Giants, Cam Newton fez sua pior partidas na liga e mostrou quem realmente é: um QB com potencial para empolgar, longe de convencer entre os grandes atletas da posição.

Dizer que ele conseguiu marcar um touchdown na corrida acrescenta o quê? Aquela pessoa iniciante no futebol americano aprende primeiramente que cada um dos 11 jogadores de ataque exercem determinada função. A do quarterback é ser responsável por armar as jogadas: passar a bola através do jogo aéreo e, se optar pela corrida, entrega a bola para um especialista (running back).

...entrega a bola para um especialista”.

Na temporada passada, mesmo não merecendo, Newton levou o troféu de melhor novato do ano, escorado no recorde que quebrou de touchdowns marcados através da corrida: 14. Mesmo em seu primeiro campeonato, entrou para a história com estes 14 TD’s que anotou correndo com a bola. Um número insignificante para um QB. Ou você conhece Steve Grogan?

Newton conseguiu outros números tão expressivos pelo tamanho que cegaram analistas a ponto de dizer que o ano de 2011 do QB dos Panthers foi o melhor da história em toda a NFL para um novato. Somando as duas primeiras partidas, ele registrou 854 jardas áreas, até então recorde absoluto, mas quebrado pelo QB do New England Patriots, Tom Brady, na mesma segunda rodada. Terminou a temporada com 4.051 jardas aéreas, recorde histórico entre calouros.

Quantas vitórias? 5!

Difícil afirmar que Newton foi o melhor novato de 2011 se nem foi o melhor jogador da posição...

O quarterback do Cincinnati Bengals, Andy Dalton, levou seu time aos playoffs, vencendo 9 jogos, 5 destes fora de Cincy. É um jogador com mais qualidade e inteligência.

Logo, dizer que Newton teve a melhor temporada de um QB novato da história da liga é supervalorização rasa. Nem precisa viajar muito no tempo para enterrar esta falácia, basta ficar na atual década.

Em 2004 Ben Roethlisberger estreou no Pittsburgh Steelers. Com desempenhos espetaculares de aproveitamento de passe e média de jardas áreas por jogo, Big Ben, como é conhecido, liderou o time dourado e preto para ganhar 13 jogos (!), todos em sequência.

Um excelente atleta, com um porte físico avantajado, Newton usa habilidade na corrida para obter vantagem. Estratégia que deve ser pontual na NFL, utilizada meticulosamente. Se for algo tratado como prioridade, a carreira do QB será medíocre – se não for encerrada precocemente. Para ser diferente disto, Newton terá de ser a exceção e não a regra.

De 1978 até 2011, seis quarterbacks anotaram 8 ou mais touchdowns numa única temporada: Kordell Stewart, Daunte Culpepper, Steve McNair, Michael Vick e Vince Evans. Destes, quem sobressaiu foi McNair, MVP da NFL em 2003, temporada que teve a melhor média da carreira em jardas através do passe (8,0 por jogo), correu apenas 38 vezes com a bola – em 2002 correu 82 vezes – e das temporadas que foi titular em mais que 10 jogos (9 de 13) registrou nessa o maior número de TD’s (24) e menor de interceptações (7). Ou seja: deixou de ser um RB responsável por lançar a bola e se concentrou apenas em sua função.

Será que Cam Newton consegue ser um QB puro?

Não que ele precise mudar apenas por luxo. Mas caso queira ser relevante na liga, colecionar vitórias e ter durabilidade, não dá para manter a atual forma de jogar.

Hoje as regras da NFL favorecem o jogo aéreo e o poder do braço de Newton com Steve Smith de alvo (um dos mais habilidosos receivers da liga) apresenta-se como oportunidade única para que o quarterback direcione seu foco no passe visando seu próprio bem. Também há outro detalhe: os Panthers têm dois exímios corredores e especialistas no ramo (Jonathan Stewart e DeAngelo Williams).

A nova mentalidade de Newton dentro de campo tem de vir junto com uma postura mais madura fora das quatro linhas. A pífia performance contra os Giants (3 INT, 0 TD e um índice de QB de 40.6, marca mais baixa da carreira) pôs em sua face um semblante desolador, triste. Cabisbaixo, recebeu uma merecida bronca de Smith, alertando Newton sobre esta atitude negativa, não condizente com quem almeja ser líder. É recorrente este comportamento dele, criando um clima ruim entre seus companheiros desde o campeonato passado.

Ron Jaworski, comentarista da ESPN e ex-quarterback (anos 70 e 80 – 17 temporadas) elaborou um ranking dos QB’s-2012 e colocou Newton na 15ª posição, bem no centro da classificação de 30 jogadores. Simboliza o atual status dele, com a possibilidade de avançar e chegar entre os QB’s da NFL que honram o cargo que exercem.

No mínimo eu colocaria Newton três lugares abaixo, sendo ultrapassado por Dalton, Alex Smith (49ers) e Sam Bradford (Rams) – sem argumentar os casos de Mark Sanchez (Jets), Josh Freeman (Buccaneers) e Carson Palmer (Raiders).

Se não escolher a mudança, Newton vai ficar aí mesmo na mediocridade. Fazendo sucesso entre os fãs, assediado pelos marketeiros, querido pelos analistas e preterido pelos treinadores. Quem tem por objetivo vitórias e conquistas não vai escolher para ser QB um jogador que não faz a função com primazia.

Porém no mundo da fantasia é diferente, seu espaço lá é garantido.


(GL)
Escrito por João da Paz
© 1 Grant Halverson / Getty Images

O que há de tão sagrado no football da Universidade de Notre Dame?


Seguindo o movimento das universidades americanas de formar maiores e melhores conferências, Notre Dame, localizada na cidade de South Bend, estado do Indiana, deixa a Big East e leva todos seus esportes para competir na ACC; menos o football (e o hockey). A equipe de futebol americano decidiu manter a independência porque é mais lucrativo em curto prazo e mantém sua tradição. Mas esta opção prejudica o recrutamento e, consequentemente, a qualidade (vitórias) do time.

Entre todas as universidades que disputam a primeira divisão da NCAAf, Notre Dame é uma das duas que são independentes (a outra é Brigham Young). Contudo a ordem da NCAA está mudando com super conferências se formando e justamente a Big East está sendo a mais prejudicada, perdendo importantes nomes, ganhando assim o status de mais fraca das seis principais. A saída de Notre Dame, logo, era questão de quando.

Em 1999, a universidade considerou deixar de ser independente para se juntar à Big Ten. Em 2012 a Big Ten repetiu o assédio, mas Notre Dame não quis romper com o sagrado. As conferências Big 12 e ACC aceitaram negociar com os Fighting Irish num compromisso parcial e Notre Dame escolheu a última por ser mais conveniente.

Comprometimento parcial nunca é bom quando se quer algo duradouro.

O que Notre Dame considerou foi a relevância que ainda lhe resta – pouco e que pode ser perdida. Hoje, o time de football se sustenta mais nas glórias do passado, podendo sim dizer que é o campeão dos campeões, embora não seja o time que agora dá bola.

Na ACC, eles poderão organizar os jogos conforme querem, desde que 5 das 12 partidas da temporada sejam agendadas com times da conferência. Nada muito diferente do que acontece neste ano: Miami, Boston College e Wake Forest estão na tabela – sem contar Pittsburgh, outra universidade que saiu da Big East. Desta forma, Notre Dame pode manter históricos confrontos que ajudaram a equipe de football ganhar valor em todo o EUA e receber notoriedade nacional.

Jogos contra Michigan State, Michigan, Texas e USC provavelmente irão continuar na rotina, rivalidades que datam do século XIX (!) – primeiro jogo de football dos Irish foi contra Michigan em 1887. Outros confrontos de praxe contra Navy (Marinha) e contra Stanford também devem continuar.

O contrato exclusivo com a emissora NBC (TV aberta) permanece – se houvesse afiliação completa com outra conferência, teria de adaptar aos contratos vigentes com a respectiva emissora detentora dos direitos. Todos os jogos em South Bend são transmitidos pela rede NBC nacionalmente, única equipe esportiva de toda a América que tem esse tratamento.

Ser independente dá ao time outro mimo: se ficar em oitavo ou melhor posição no ranking BCS ao final do campeonato, tem qualificação automática para os um dos 4 principais Bowls. Só membros das tais 6 grandes conferências que tem a possibilidade de ir automaticamente para um dos Bowls.

Esses dois argumentos citados são usados para atrair recrutas vindo do ensino médio (high school). Só que os adolescentes preferem ir para uma universidade que não apenas tem uma bela história de triunfos, mas que tenha condições de vencer agora – de preferências jogando constantemente contra equipes fortes e semana após semana aparecendo na TV. Fora que tem a rigidez ao exigir aplicação do atleta nos estudos, fator que afasta muitos jovens da universidade católica.

O currículo de Notre Dame é legal e tudo mais, mas a última vez que terminaram em primeiro lugar no ranking foi em 1988, ano da conquista do mais recente título nacional. Desde então, a melhor colocação foi um segundo lugar em 1993. Faz quatro anos que não terminam entre os 25 rankeados...

Inegável é a influência que os Irish têm, que os levaram a um nível de sagrado, de imaculado, de ter no campus e perto do estádio um touchdown Jesus, de ser aqueles que não se misturam e não seguem a tendência; o que está mudando, é verdade. Apesar do meio caminho andado, o que tem de ser levado em consideração é que pelo menos estão no caminho.

Resta colocar um telão de LED no estádio... (blasfemy!!!)

Veja uma pequena lista dos feitos do football de Notre Dame, que atualmente não está em evidência exatamente por não vencer/convencer, mas têm todas estas conquistas:

- Ao final da temporada 2011, Notre Dame soma 104 temporadas com mais vitórias que derrotas em 123 anos de atividade no football – 6 temporadas terminaram empatadas.

- Ao final da temporada de 2011, Notre Dame teve 185 atletas nomeados para a seleção final do campeonato (All-American) em toda história, mais que qualquer outra universidade.

- Notre Dame tem 48 jogadores e treinadores no College Football Hall of Fame, mais que qualquer outra universidade.

- Dos atletas formados em Notre Dame que entraram na NFL, 10 estão no Pro Football Hall of Fame, ficando atrás apenas da USC, com 11, entre as universidade com mais alunos no salão do football profissional.

- Notre Dame é a segunda universidade em toda história da NFL a ter mais jogadores escolhidos no draft (até 2011): 469. A primeira neste ranking também é a USC: 472.

- De 1900 pra cá, Notre Dame é a segunda que tem mais títulos nacionais de football na NCAA: 13; empatada com Michigan e atrás de Alabama (14).


(GL)
Escrito por João da Paz

Uma vez Time da América, sempre Time da América


Começa na próxima quarta (5) a temporada 2012-13 da NFL com o jogo entre o atual campeão do Super Bowl, New York Giants, contra o Time da América, Dallas Cowboys. Por mais que digam o contrário não adianta: o rótulo criado em 1978 ainda é apropriado para definir o clube mais famoso dos Estados Unidos.

Os novos torcedores brasileiros da NFL, que tem a oportunidade de acompanhar esse jogo (e todo o campeonato) através do canal aberto Esporte Interativo, precisam saber qual franquia da liga é de maior destaque – a estrela no capacete é a dica. Mesmo que recentemente em campo o time não produziu resultados expressivos, fora do gridiron o sucesso permanece.

Não foi de forma tão pretensiosa assim que surgiu a tag America's Team ao falar do Dallas Cowboys. O termo foi veiculado pela primeira vez em no tradicional anuário produzido pela NFL Films, que contava a história da temporada de 1978 dos Cowboys. O nome do documentário foi Time da América, justificado pelo locutor que narrou:

Eles aparecem na televisão com tanta frequência que suas faces [dos jogadores] são tão familiares quanto às dos presidentes e estrelas do cinema”.

Em 1979 na estreia dos Cowboys contra o Saint Louis Cardinals, o narrador da CBS (emissora de sinal aberto dos EUA) apresentou o time de Dallas, visitante, como o Time da América. Reforçando o rótulo e ajudando a propagá-lo.

Nesta época os Cowboys eram competitivos. Em 1972 venceram o Super Bowl VI; em 1975 perderam o Super Bowl X para o Pittsburgh Steelers; em 1977 venceram o Super Bowl XII; e em 1978 perderam o Super Bowl XIII também para os Steelers.

Era o início do primeiro auge.

Com um elenco de estrelas, somado a um treinador inovador, Tom Landry, Dallas era um produto perfeito para as emissoras de TV e a audiência que gerava, acima de outros times, fez o time do estado do Texas ter seus jogos constantemente televisionados para todo o país.

Por ser uma equipe vencedora, naturalmente angariou fãs numa crescente assustadora.

Quem colaborou para o fortalecimento da marca Cowboys foi o presidente/diretor de football (GM) da franquia: Tex Schramm (foto abaixo).


Tex assumiu o clube em 1960 e saiu do cargo em 1989. Se a NFL desfruta do atual momento glorioso, deve ao trabalho que Tex fez, inovando a liga e sendo mentor de ideias revolucionárias para o esporte, ajudando a atingir um nível de excelência master. Elementar, afinal para os Cowboys explodirem em popularidade era necessário que a NFL seguisse no mesmo ritmo.

Algumas das inovações de Tex:

- Junção da antiga NFL com a AFL (America Football League), formando a NFL no molde atual; criando de tabela o Super Bowl. Tex foi quem iniciou as conversações de parceria com o fundador da AFL, Lamar Hunt.

- Replay instantâneo e microfones para os árbitros.

- Cores diferenciadas nas jardas de número 50 e 20 (em cada lado do campo).

- Uso de computadores no scout (análise) de jogadores e mudança na avaliação dos novatos (que levou a criação do Combine).

- Colocar o goal post (popular “Y”) atrás da end zone; e instalar bandeiras em cima das traves para que o kicker possa ver qual a direção do vento.

- Marcação oficial do tempo no placar eletrônico.

E, claro, as Dallas Cowboys Cheerleaders (DCC).

A década de 80 não trouxe êxito para a franquia, ficando fora dos playoffs em quatro temporadas sob o comando da dupla Tex Schramm e Tom Landry. Em Fevereiro de 1989 o empresário Jerry Jones compra os Cowboys por 140 milhões de dólares, demite o treinador e força a saída do diretor de football/presidente. Jones assume o controle na presidência e na diretoria de football, iniciando outra era de auge.

Em 1991 volta aos playoffs e nas duas temporadas seguintes conquista o bicampeonato do Super Bowl (XXVII e XXVIII). Ganha mais um Super Bowl em 1995 (XXX) e a popularidade do time explode, atingindo uma posição estratosférica, justamente quando a NFL estava expandindo seu alcance para outros países, incluindo o Brasil. As transmissões da TV Bandeirantes na década de 90 ajudam os Cowboys a criar raízes por aqui.

Pesquisas sem valor científico apontam os Cowboys como o time da NFL com mais torcida no Brasil. Pesquisas similares apontam que nos EUA o time de Dallas tem a maior base de fãs. Há os que discordem do rótulo Time da América atrelado aos Cowboys, usando argumentos fora destas pesquisas para tanto.

Quem começou com esta contestação foi o Atlanta Braves (MLB) em 1982. Na própria MLB há o New York Yankees, este sim com uma razão mais consistente para clamar pelo posto.

Na NFL existem dois clubes com uma força local única, com ambos tendo uma torcida que acompanha a equipe fora de casa: Green Bay Packers e Pittsburgh Steelers. Embora nada se compara aos Cowboys, que além de ter torcedores de Dallas visitando outras cidades para assistir os jogos da equipe, tem os fãs que naturalmente são de outras localidades.

Na época do segundo auge o Dallas Cowboys registrou a marca de 160 jogos consecutivos com lotação máxima fora e dentro de casa, recorde na história da NFL, alcançado entre 23 de Dezembro de 1990 e 24 de dezembro de 1999.

O apoio da torcida se reflete nos estádios e na telinha, desde aquela declaração do narrador da CBS em 1979. Trinta anos depois, a Nielsen Company (empresa americana de pesquisas, agora com operações no Brasil) fez um estudo para mensurar o impacto das franquias da NFL na TV e na internet, analisando a audiência nas emissoras locais e nacionais, menções do nome na rede mundial de computadores e número de visitantes nos sites oficiais. Veja como ficou o Dallas Cowboys nos respectivos rankings, sendo o primeiro colocado na soma geral:

* Audiência em emissora local: 8º (New Orleans Saints – 1º)
* Audiência em emissora nacional: 1º
* Visitas ao site oficial: 1º
* Menções online: 2º (New York Giants – 1º)


Jerry Jones (foto acima), por mais que tenha conseguido apenas uma vitória em playoffs nas últimas 15 temporadas, sabe administrar essa popularidade. A revista Forbes publicou em Julho deste ano a lista dos clubes esportivos mais valiosos do mundo e os Cowboys ficaram empatados em terceiro lugar com o New York Yankees (US$ 1.85 bi); Real Madrid (futebol – Espanha – em segundo com US$ 1.88 bi) e Manchester United (futebol – Inglaterra – em primeiro com US$ 2.23 bi). O carro chefe dos Cowboys nesta história é o estupendo novo estádio, com capacidade para 110 mil pessoas, que já foi sede de Jogo das Estrelas da NBA, luta do boxeador Manny Pacquiao, jogo da Seleção brasileira de futebol, Super Bowl e outros eventos diversos – recebe o Final Four da NCAA em 2014. Jones ainda não conseguiu vender o naming rights do estádio (quer US$ 15 milhões/ano) por não achar uma marca capaz de pagar a quantia, porém o estádio gera uma renda anual de US$ 100 milhões somente de cadeiras cativas de luxo e US$ 60 milhões anuais de patrocinadores do calibre de AT&T (telecomunicações), Bank of America (finanças), Ford Motor (automotivo) e PepsiCo. (alimentício).

O Time da América continua na moda, o que faz atrair tantas doletas. No começo da temporada tem um jogo nacional e em horário nobre, tendência mantida ao longo da competição, reforçando ainda mais a célebre tag. Dos 15 jogos restantes do Dallas Cowboys, 7 serão transmitidos nacionalmente, 2 destes em horário nobre. Isto sem contar o jogo do Monday Night (segunda à noite) contra o Chicago Bears no dia 1º de Outubro.

O trono reservado para o Time da América está ocupado e dificilmente estará vago. A não ser que inventem um sketch de mau gosto tentando desmerecer quem está no comando.


(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Rob Carr / Getty Images