Conhecer o privilégio tem suas desvantagens; a maior delas é se esquecer de si. O status de ser grande e famoso leva o sujeito a exercer a “carteirada” utilizando o cargo que ocupa para conseguir apagar uma sujeira feita ou alcançar o que deseja. Big Ben agia desta forma e a função de Ben Roethlisberger é deixar que o verbo agir permaneça no passado – assim como tantas outras coisas.
Liberar o perdão não é fácil, mas há uma distinção entre esta ação com alguém próximo versus alguém distante. Se for o erro de uma pessoa com a qual se tem um relacionamento mais restrito, a tendência é ser mais tolerante. Agora se a pessoa for distante, mesmo que esteja tão longe quanto o vizinho ao lado, o julgamento moral começa e o cidadão errôneo é rotulado como escória.
Por quê? É mais fácil ser conivente com alguns e rápido para condenar com outros? Passa despercebida a realidade que todos são propensos a serem alvos do não perdão. Doar perdão não necessariamente significa que o mesmo chegará quando for necessário, porém é algo importante a ser feito para não ficar preso numa armadilha que cega e leva a escuridão, onde há o tropeço e não se sabe em o que tropicou.
Roethlisbeger, quarterback do Pittsburgh Steelers, volta a campo neste domingo após 4 jogos de suspensão imposta pela NFL. Punição esta que originalmente seria maior (6 jogos), mas a redução veio por bom comportamento. O QB passou este início de temporada por constantes avaliações psicológicas para se ter a certeza de que ele não iria repetir comportamentos que colocariam não só ele mas o clube e a liga em péssimas notícias.
Quando estava dentro de um processo respondendo uma acusação de estupro – além de denunciar a garota, que fez a acusação, por difamação e extorsão –, Roethlisberger se envolveu em um caso tenebroso com uma jovem dentro de uma boate. Mais uma vez o sexo é assunto e ela diz que foi embriagada, levada a um banheiro e forçada a ter uma relação com o atleta. Ambos os casos aconteceram dentro de um curto período (8 meses) – apesar de que no primeiro a garota só revelou a acusação um ano depois do ato ter acontecido.
Em nenhum deles Roethlisberger foi condenado e/ou preso. Só que isto somente não basta, pois ao estar nas manchetes policias, seu nome leva consigo o clube e a liga junto, afinal a menção é sempre esta: Ben Roethlisberger, jogador do Pittsburgh Steelers, time da NFL...
Por estas e outras que a liga puniu o QB baseado em seu Código de Conduta Pessoal, entregue a todos que trabalham para a NFL, já que há tópicos importantes a serem respeitados por cada indivíduo sob a tutela da entidade. Nele há uma passagem que justifica a punição:
“Não é suficiente escapar de ser culpado de um crime. Você [jogador] está num alto patamar e espera-se de ti uma conduta responsável, promovendo os valores lícitos que a liga se baseia. [A disciplina virá sobre circunstâncias] que coloquem em risco a integridade e reputação da NFL, clubes da NFL e jogadores da NFL.”
Após sofrer esta sanção, Roethlisberger está de volta aos gramados que o transformou em Big Ben. Este apelido serviu para ele se vestir de outra pessoa e esta tomou conta do cotidiano da versão original. Ao sair nas ruas ele era abordado por torcedores que o chamavam de Big Ben e aquilo o fazia se encher de fama, sucesso e gozar de privilégios...
Aí ele não soube lidar com a boa vontade e utilizava o tratamento especial que tinha para corrigir erros que porventura cometia. Achava que era só dizer: “Eu sou o Big Ben” e tudo seria esquecido; o apelido, dentro da sua mente, lhe permitia ser arrogante e pretensioso. Roethlisberger se deixava levar e se colocava em situações delicadas nas quais o resultado final não seria nada bom. Precisou de duas graves acusações, repúdio da sociedade e descaso para cair na real e virar adulto, crescer.
Esta última palavra foi usada pelo procurador que cuidou do caso “sexo consensual dentro do banheiro” – que ocorreu no estado da Geórgia; o outro foi no estado de Nevada. Roethlisberger se esquecia da sua representatividade e da idade que tinha quando agia sob o holofote do famoso “Big Ben”. Sua função é não carregar a fama que conseguiu dentro de campo (ganhou dois Super Bowls antes dos 27 anos) para fora dele. Quando não estiver com capacete e a camisa 7 for pendurada no armário do vestiário, ele precisa ser Ben Roethlisberger.
Como tantos outros atletas da NFL, ele não soube administrar o repentino sucesso adquirido. Um passado sem mãe numa cidade do interior se chocou com um presente glorioso e um contrato de US$ 102 milhões (assinado em 2008). O contraste agudo lhe tirou do prumo e infelizmente somente depois de comportamentos duvidosos e repugnáveis que ele retornou a ser o filho do papai.
Em recente entrevista a uma filiada de Pittsburgh da rede ABC, Roethlisberger admitiu fazer essa diferenciação de personalidades. Ele percebeu isto quando conversava com seu pai e o velho disse: “...é bom ter meu filho de volta...” A simples frase bateu fundo no coração do jogador que se não puder se controlar por si, deve lembrar do que seu pai lhe falou.
Os que chamam Roethlisberger de idiota têm uma porcentagem de razão. Realmente é estúpido agir de uma forma tão intransigente e pensar que iria sair são e salvo. Entretanto é necessário saber o porquê tantas coisas aconteceram para tomar uma posição tão firme perante comportamentos comuns na vida de muitos. O cuidado deve ser praticado sempre, visto que pode enfrentar algo parecido com alguém próximo. Será então usado a artimanha do dois pesos duas medidas? Por que não utilizar constantemente o ato de perdoar? Que não significa concordar com o que foi feito, mas reconhecer que todos estão sujeitos ao erro e que é necessário ajuda para superá-los.
Existe um limite para o perdão? Do que adianta perdoar e a pessoa continuar errando? A resposta para estas perguntas é o resultado de uma simples conta:
70x7.
Liberar o perdão não é fácil, mas há uma distinção entre esta ação com alguém próximo versus alguém distante. Se for o erro de uma pessoa com a qual se tem um relacionamento mais restrito, a tendência é ser mais tolerante. Agora se a pessoa for distante, mesmo que esteja tão longe quanto o vizinho ao lado, o julgamento moral começa e o cidadão errôneo é rotulado como escória.
Por quê? É mais fácil ser conivente com alguns e rápido para condenar com outros? Passa despercebida a realidade que todos são propensos a serem alvos do não perdão. Doar perdão não necessariamente significa que o mesmo chegará quando for necessário, porém é algo importante a ser feito para não ficar preso numa armadilha que cega e leva a escuridão, onde há o tropeço e não se sabe em o que tropicou.
Roethlisbeger, quarterback do Pittsburgh Steelers, volta a campo neste domingo após 4 jogos de suspensão imposta pela NFL. Punição esta que originalmente seria maior (6 jogos), mas a redução veio por bom comportamento. O QB passou este início de temporada por constantes avaliações psicológicas para se ter a certeza de que ele não iria repetir comportamentos que colocariam não só ele mas o clube e a liga em péssimas notícias.
Quando estava dentro de um processo respondendo uma acusação de estupro – além de denunciar a garota, que fez a acusação, por difamação e extorsão –, Roethlisberger se envolveu em um caso tenebroso com uma jovem dentro de uma boate. Mais uma vez o sexo é assunto e ela diz que foi embriagada, levada a um banheiro e forçada a ter uma relação com o atleta. Ambos os casos aconteceram dentro de um curto período (8 meses) – apesar de que no primeiro a garota só revelou a acusação um ano depois do ato ter acontecido.
Em nenhum deles Roethlisberger foi condenado e/ou preso. Só que isto somente não basta, pois ao estar nas manchetes policias, seu nome leva consigo o clube e a liga junto, afinal a menção é sempre esta: Ben Roethlisberger, jogador do Pittsburgh Steelers, time da NFL...
Por estas e outras que a liga puniu o QB baseado em seu Código de Conduta Pessoal, entregue a todos que trabalham para a NFL, já que há tópicos importantes a serem respeitados por cada indivíduo sob a tutela da entidade. Nele há uma passagem que justifica a punição:
“Não é suficiente escapar de ser culpado de um crime. Você [jogador] está num alto patamar e espera-se de ti uma conduta responsável, promovendo os valores lícitos que a liga se baseia. [A disciplina virá sobre circunstâncias] que coloquem em risco a integridade e reputação da NFL, clubes da NFL e jogadores da NFL.”
NFL Personal Conduct Policy, 2009
Após sofrer esta sanção, Roethlisberger está de volta aos gramados que o transformou em Big Ben. Este apelido serviu para ele se vestir de outra pessoa e esta tomou conta do cotidiano da versão original. Ao sair nas ruas ele era abordado por torcedores que o chamavam de Big Ben e aquilo o fazia se encher de fama, sucesso e gozar de privilégios...
Aí ele não soube lidar com a boa vontade e utilizava o tratamento especial que tinha para corrigir erros que porventura cometia. Achava que era só dizer: “Eu sou o Big Ben” e tudo seria esquecido; o apelido, dentro da sua mente, lhe permitia ser arrogante e pretensioso. Roethlisberger se deixava levar e se colocava em situações delicadas nas quais o resultado final não seria nada bom. Precisou de duas graves acusações, repúdio da sociedade e descaso para cair na real e virar adulto, crescer.
Esta última palavra foi usada pelo procurador que cuidou do caso “sexo consensual dentro do banheiro” – que ocorreu no estado da Geórgia; o outro foi no estado de Nevada. Roethlisberger se esquecia da sua representatividade e da idade que tinha quando agia sob o holofote do famoso “Big Ben”. Sua função é não carregar a fama que conseguiu dentro de campo (ganhou dois Super Bowls antes dos 27 anos) para fora dele. Quando não estiver com capacete e a camisa 7 for pendurada no armário do vestiário, ele precisa ser Ben Roethlisberger.
Como tantos outros atletas da NFL, ele não soube administrar o repentino sucesso adquirido. Um passado sem mãe numa cidade do interior se chocou com um presente glorioso e um contrato de US$ 102 milhões (assinado em 2008). O contraste agudo lhe tirou do prumo e infelizmente somente depois de comportamentos duvidosos e repugnáveis que ele retornou a ser o filho do papai.
Em recente entrevista a uma filiada de Pittsburgh da rede ABC, Roethlisberger admitiu fazer essa diferenciação de personalidades. Ele percebeu isto quando conversava com seu pai e o velho disse: “...é bom ter meu filho de volta...” A simples frase bateu fundo no coração do jogador que se não puder se controlar por si, deve lembrar do que seu pai lhe falou.
Os que chamam Roethlisberger de idiota têm uma porcentagem de razão. Realmente é estúpido agir de uma forma tão intransigente e pensar que iria sair são e salvo. Entretanto é necessário saber o porquê tantas coisas aconteceram para tomar uma posição tão firme perante comportamentos comuns na vida de muitos. O cuidado deve ser praticado sempre, visto que pode enfrentar algo parecido com alguém próximo. Será então usado a artimanha do dois pesos duas medidas? Por que não utilizar constantemente o ato de perdoar? Que não significa concordar com o que foi feito, mas reconhecer que todos estão sujeitos ao erro e que é necessário ajuda para superá-los.
Existe um limite para o perdão? Do que adianta perdoar e a pessoa continuar errando? A resposta para estas perguntas é o resultado de uma simples conta:
70x7.
(GL)
Escrito por João da Paz
Escrito por João da Paz
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© 2 Jared Wickerham / Getty Images
© 3 AP
3 comentários:
Genial o seu texto. Acompanho e curto muito o blog.
Parabéns.
Parabéns pelo texto. Adoro seu blog. Agora, o que você quis dizer com a "simples conta: 70x7"?
Por isto Carlos:
- Capítulo 18 do Evangelho segundo Mateus -
21 Então Pedro, aproximando-se dele, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu hei de perdoar? Até sete?
22 Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete; mas até setenta vezes sete.
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