Foi bom enquanto durou, Dwight Howard

Os dias passam e fica cada vez mais insustentável a relação Dwight Howard – Orlando Magic. Enquanto um fica de birra com o outro, enrolando a instável situação, todos os envolvidos sofrem. De personalidade forte e jogador mais importante da franquia, o pivô fala o que pensa via mídia. Certo ou errado, seu ponto de vista é expresso. O tom das declarações é pesado, longe de ser um exemplo de uma boa relação publica. Ontem (27) o Magic perdeu fora de casa para o New Orleans Hornets, pior equipe da Conferência Oeste. Howard, em entrevista com jornalistas no vestiário, disse:

Eu olho pros caras [do nosso time] e parecem que eles não querem jogar. Disse a eles no intervalo ‘Se não querem jogar, fiquem no vestiário porque não faz sentido perdemos para um time que deveríamos destruir’. Olhem para o elenco deles [Hornets], mas jogam duro toda noite... Nos humilharam hoje não porque tem um time melhor, mas porque jogaram com mais vontade que a gente

Tenso.

Um líder deveria dizer isto, dá uma bronca desta lançando palavras ao vento? Ou um líder não deveria se comportar assim? Só estes dois questionamentos são suficientes para pôr em dúvida qual o papel de Howard na franquia. O contrato entre ambos termina no final desta temporada, porém o fim deveria ser o quanto antes possível.

Dwight fez muito para o Orlando Magic em 7 campeonatos. A primeira escolha do draft de 2004, o atleta, que veio direto do high school para a NBA, remodelou a jovem franquia que teve um sucesso na década de 90 alicerçado em outro mega pivô: Shaquille O'Neal, também primeira escolha no draft, em 1992. Com Howard, após duas temporadas, o Magic foi aos playoffs e repetiu o feito outras quatro vezes. Conquistou 3 títulos de divisão (mais do que com Shaq: 2), chegou às finais da Conferência Leste duas vezes e participou de uma final da NBA.

Há ainda o que aconteceu fora de quadra. O Magic voltou à capa de jornais e revistas nacionais nos Estados Unidos. Tema de reportagens em redes de televisão e Howard aparecia com o logo do Magic embutido. Atrelados. Assim a publicidade a favor da franquia cresce, ganhando exposição que resulta em dinheiro e mais torcedores fora de Orlando.

Mesmo com uma simetria única, não há obrigatoriedade de ser perpétua; por isso existe um contrato que tem um final. Ao ponderar os prós e contras, Howard se inclinou para sair de Orlando e em Dezembro do ano passado fez o pedido publicamente.

A palavra chave aqui é exigir. Dwight Howard exigiu ser trocado para outro clube antes de 15 de Março, quando fecha a janela de transações. Este requerimento do pivô é visto por ele como saudável e o compara ao que aconteceu com O’Neal, que saiu da franquia via agente livre e o Magic ficou sem nada. Se alguma negociação for feita dentro deste prazo estipulado, os dois lados ganham: Howard sai de Orlando e vai para onde quiser e o clube recebe jogadores de qualidade como retorno.

Mas não é tão simples.


Otis Smith, diretor de basquete da franquia (GM - foto acima), tirou do deck uma carta provocativa e a colocou na mesa. Mexeu com dinheiro. O novo acordo trabalhista acertado antes do início desta temporada favorece, em termos, o Magic. Se não houver troca antes do dia 15 de Março, somente Orlando pode oferecer um contrato mais vantajoso para Howard: até 5 anos valendo US$ 110 milhões (cláusula chamada Bird Rights). Caso D12 saia via agente livre, o máximo que ele pode fechar com o clube pretendente é 4 anos e US$ 80 milhões. Então Smith disse à imprensa que Howard pode sofrer um corte de 30 milhões de dólares dependendo da sua decisão – se Dwight for trocado antes do dia 15 de Março, o clube que o receber pode oferecer o contrato de 110/4 anos.

Neste empurra-empurra, Orlando é prejudicado, Dwight nem tanto. Apesar da turbulência, ele é o líder em rebotes na liga e está com médias acima das registradas em sua carreira em pontos, rebotes e assistências. E no concurso popular que chamam de “Jogo das Estrelas”, é o jogador que, até agora, recebeu mais votos.

Dwight bravo é um excelente jogador (leia: Bravo! Bravíssimo – artigo do Grandes Ligas) e está fazendo o que disse antes do jogo contra o Sacramento Kings em 9 de janeiro deste ano:

Nada mudou [sobre querer ser trocado], mas serei o Dwight de sempre: irei me divertir em quadra, alegrar os fãs, bloquear arremessos, marcar pontos, correr por toda quadra, pegar rebotes e fazer o que for preciso para vencer. Esta é a única coisa que posso controlar no momento

Teria Howard razão para criticar a falta de esforço dos seus companheiros, conforme dito no pós-jogo contra os Hornets?

A franquia perde. Jameer Nelson, armador, afirmou se sentir incomodado com as declarações de Howard, principalmente por querer jogar com outros armadores (Deron Williams, Chris Paul) – e Smith fica do lado de Nelson. O clube tem uma das maiores folhas salariais da associação, dinheiro este gasto para juntar ao redor de Howard a maior quantidade/qualidade possível de atletas para conseguir levantar o troféu Larry O’Brien.

Nada. Ao menos tentaram.

Agora é hora de engolir seco e encarar mudanças. Partir para rumos diferentes. O momento é de conflito de interesses, logo, de tomar decisões opostas. Como todo relacionamento, esse pode terminar, não é diferente. Brigas, carinhos. Os momentos bons superam os maus e podem ser amigos sim depois do fim. Basta terminar com dignidade e lembrar que enquanto estavam juntos, foi bom para ambas as partes.


(GL)
Escrito por João da Paz


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Especial - O futebol segundo os Simpsons*

Toda brincadeira tem um fundo de verdade. A convivência com esta frase é comum. Seja qual for a situação, um comentário ou visão jocosa de algo sempre tem uma coisa séria incorporada. Isto acontece, é fato – seja de forma consciente ou não.

O futebol é o esporte mais praticado/assistido do planeta, teria ele detalhes ruins que pudessem ser alvos de uma piada politicamente incorreta? Sim, e o mais famoso seriado da televisão americana, popular em todo mundo, já abordou os defeitos do esporte em várias oportunidades, exagerando os pontos fracos e ajudando a refletir por que há pessoas que não suportam the beautiful game.

No episódio "The Cartridge Family" (nº 5 da 9ª temporada – 1997), a cidade de Springfield, onde moram os Simpsons, recebe um jogo de futebol entre México e Portugal. Na propaganda da TV o locutor convida a todos a assistirem 'um jogo de placar baixo com possibilidade de empate...' Quem não curte o esporte argumenta que é raro ver um time marcar três gols ou mais; e que é corriqueiro os placares baixos. Esta é uma verdade e dependendo da partida, o placar não consegue resumir o quanto ruim foi o jogo.

Até times campeões conseguem a glória repetindo o mínimo resultado possível. A seleção espanhola, por exemplo, equipe atual campeã mundial, chegou ao título através de uma sequência de quatro 1 a 0 (das oitavas-de-final até a decisão). Aliás, a grande final da Copa do Mundo, maior torneio do planeta, foi decidida na prorrogação porque em 90 minutos ambos os times, nem Espanha, nem Holanda, passaram do zero.

Bilhões e milhões de pessoas estão assistindo um jogo, o mais significativo do esporte, e as melhores equipes da competição não conseguem marcar um gol em uma hora e meia de tempo corrido... Se uma pessoa que não gosta de futebol escolheu a final da Copa 2010 para passar a curtir e compreender o jogo, não viu a melhor exibição possível – embora fosse uma decisão e, em tese e na prática, as duas grandes equipes do campeonato estivessem se enfrentando.

O curioso é que as recentes finais de Copa do Mundo não foram lá todas brilhantes. Das últimas seis, duas foram decididas nos pênaltis (1994 e 2006), uma na prorrogação (2010), e somente uma teve mais que três gols (1998) – as outras teve um campeão vencendo por 1 a 0 (1990) e outro ganhando a taça após 2 a 0 (2002).

O Brasileirão 2010 passa por situação semelhante. O placar que mais se repete é o 1 a 0 (61 vezes) e a média de gols até a 32ª rodada é de 2.57, a menor desde 1996. Restam 60 jogos para o término do campeonato que já registra 98 empates, com mais 5 resultados iguais irá ultrapassar o campeonato de 2002 que teve 102 empates, maior marca desde 2006 (ano que o números de participantes chegou a 20).

Homer Simpson, no episódio "Marge Gamer" (nº 17 da 10ª oitava temporada – 2007), comenta com Lisa sobre como ele conseguiu entender as regras do futebol para apitar bem os jogos do time de meninas da cidade e se enche de alegria ao dizer: “eu vi MUITAS fitas de jogos e fiquei horas e horas assistindo; eu quase vi UM gol!”

Em "The Cartridge Family" ainda há outras visões do futebol que são hilárias. Uma delas é a narração da partida: enquanto o narrador americano transmite tédio ao descrever a troca de passes entre o 'zagueiro para o lateral, lateral para o zagueiro, zagueiro para o outro zagueiro, que domina a bola e segura, segura, segura...'; o narrador mexicano descreve de maneira empolgante a mesma jogada, no típico modo ouvido nas rádios latinas e brasileiras. Outra situação é a torcida que começa o jogo empolgada mas esmorece ao perceber as poucas ações do jogo e a 'eletrizante' troca de passes da zaga.

Os que não gostam do futebol apontam a falta de objetividade como um dos maiores problemas; veem mais erros do que acertos. Culpam a má pontaria e baixa produtividade nas finalizações, grande responsável pela pouca quantidade de gols. Alguns criticam a tão comentada regra do impedimento que priva o atacante de ficar mais próximo do gol, logo com mais chances de marcar. A Fifa, órgão que controla o futebol, aconselha aos árbitros, em caso de dúvida na sinalização da irregularidade, dar vantagem ao ataque – mas não é isto que se vê aplicado.

Excluindo os tradicionalistas, é possível alterar alguns detalhes do jogo para torná-lo mais interessante. Não para atrair mais gente, apesar deste ser um objetivo lícito, mas para agradar àqueles que já acompanham o esporte e querem ver mais ataque, mais gols e mais empolgação. Um passo para se alcançar isto é ouvir o que tem a dizer os que não gostam do futebol, pois eles têm motivos para não admirar o principal jogo de bola do mundo.

As visões perspicazes e inteligentes de Os Simpsons trazem riso e fazem pensar. Por mais que alguns venham a achar que tais caracterizações são pejorativas e de mau gosto, estes devem se lembrar que em toda brincadeira há um fundo de verdade. Isto se percebe no episódio "Blame it on Lisa" (nº 15 da 13ª temporada – 2002) totalmente dedicado ao Brasil. Ao chegarem num hotel no Rio de Janeiro, Marge comenta que os brasileiros adoram futebol e a cena muda para os trabalhadores do hotel que estão chutando as malas (e chaves) como se fossem bolas de futebol. Um dos empregados cabeceia uma delas dentro dum carrinho e comemora como se fosse um gol, tirando a camisa e saindo pra galera...



(GL)
Escrito por João da Paz


*Texto originalmente publicado no site Trivela em Outubro de 2010

Tom Coughlin, o sobrevivente dos venenos destilados pela imprensa de New York


Uma pauta recorrente na mídia esportiva nova-iorquina, principalmente nos tablóides New York Post e New York Daily News, são os deboches direcionados à Tom Coughlin, treinador dos Giants, time de football mais popular da cidade. É assim desde que assumiu o comando, no melhor estilo da imprensa nacional quando o assunto é futebol e baixa produtividade de um determinado clube: demite o técnico!

Em New York a pressão por resultados positivos numa produção louca (agora, já, com qualidade e constância) é relativa ao visto nos veículos de comunicação paulistano ou carioca, por exemplo. Aquele grande time não pode perder, seja para um rival ou equipe de menor expressão, que começa o papo “demissão do professor”. Dentro da batida história que é mais fácil demitir um treinador do que dezenas de jogadores.

Coughlin chegou em NY vindo de um time pequeno de uma cidade pequena. Em 1995 ele assumiu as rédeas do novo time da NFL, o Jacksonville Jaguars. Seu trabalho lá pode ser considerado tão importante ao que conseguiu em NY, porque o saldo foi extremamente acima do esperado, um sinal de maravilha sobrenatural – talvez ninguém consiga perder apenas 2 jogos em 16 com os Jaguars, como Tom fez 1999; campanha que merece estudo à parte.

Com um time em expansão, na segunda temporada ele levou a franquia à final da Conferência Americana de 1996-97 – perdeu para o New England Patriots. Os Jaguars foram aos playoffs por mais três anos seguidos e na temporada 1999-00 chegou outra vez à final da AFC – perdeu para o Tennessee Titans. A partir de então a produção da equipe caiu, três temporadas seguidas com mais derrotas que vitórias, e após 6v-10d em 2002, Coughlin foi demitido.

Tom estava bem lá na Florida, sem pressão, tranquilo... Seu sucesso com o clube de Jacksonville criou uma expectativa surreal na franquia, como se fosse destinada a estar na elite da AFC. Nos 9 anos seguintes pós Coughlin, os Jaguars só tiveram 3 temporadas com aproveitamento acima dos 50% e uma vitoria nos playoffs.

Um ano de abstinência e em 2004 o NY Giants o chama. Sua primeira temporada com o time azul da cidade teve 6v-10d. Aí começou a cobrança da imprensa (lembrando que em 2003 os Giants venceram 4 jogos somente). Em situação similar ao que aconteceu recentemente com o QB do alviverde de NY, Mark Sanchez, jogadores dos Giants de forma anônima deram declarações ao New York Post de que eles não acreditavam no método antiquado de Coughlin (alicerçado numa liderança mais tradicional) e que muitos no elenco não jogariam para ele, faziam corpo mole para que o treinador fosse demitido. Isto tudo após derrota para seu ex-clube, os Jaguars, na semana 16, o oitavo resultado negativo seguido daquele campeonato.

A malhação da imprensa em Coughlin virou um esporte anual dos jornalistas locais, mas a estrutura dele estava sólida, pois tinha o apoio de quem importava, do dono. E o treinador não era muito de ouvir estas criticas (apesar de escutá-las). Sabe que para avançar é preciso não notar os maldizentes e transformar este mal em bem, em combustível desafiador para superar as adversidades. Mensagem transmitida aos seus jogadores que assimilaram esta ideia.

Os que se dirigiram a imprensa de forma anônima foram descobertos, ou saíram ou sofreram uma bronca pesada. Após a temporada de estreia veio uma sequência inédita na história da franquia fundada em 1925. Pela primeira vez os Giants se classificaram aos playoffs em quatro temporadas seguidas.

Em 2005 a reviravolta foi geral e a classificação para a pós temporada veio com 11v-5d. Mas a derrota para o Carolina Panthers na repescagem (23 a 0) fez voltar às manchetes a pauta “demissão do treinador”. Quem bateu forte na tecla foi o New York Daily News.


Em 2006 o time, na reta final do campeonato, perdeu dois jogos chaves em casa, um atrás do outro: para os Eagles na semana 15 e para os Saints na semana 16. Necessitava da vitória contra os Redskins na rodada final, jogo em Washington. Venceu e se classificou aos playoffs mesmo sendo 3º na Divisão Leste da NFC – perdeu para os Eagles na repescagem.

Aí novamente veio a conversa de demissão. Na verdade, qualquer derrota dos Giants era motivo para dispensa de Coughlin. Com tanta impregnação, parecia sina. O negativo na equação da imprensa nova-iorquina pesava mais que o positivo. Insistiam criar um clima para a saída do treinador, plantando notícias mentirosas de que jogadores estavam insatisfeitos com o trabalho de Coughlin, que eles não estavam jogando para o treinador, retomando o que fora abordado em outras oportunidades.

E chegou 2007.

Em casa os Giants não foram bem na temporada regular mas, pela primeira vez desde 2000, quando se classificou ao Super Bowl, que o clube venceu 6 partidas seguidas fora de casa. Ficou marcado por ter sido a equipe derrotada pelos Patriots na rodada final, fazendo a equipe de New England a única na história da NFL a vencer 16 jogos numa só temporada.

A boa perfomance fora de casa se manteve nos playoffs e os Giants, mesmo com 10v-6d, se classificou pela repescagem e venceu todos os jogos (3) longe de NY, conseguindo vaga no Super Bowl contra o... New England Patriots.

Era a chance dos Giants de impedir o título invicto do tricolor de Boston, vingar o resultado da semana 17 e vencer o Super Bowl após 27 anos. Assim foi.

"Demitir técnico? Quem inventou esta história?". Diria (se pudesse) a imprensa da cidade com um sorriso amarelo estampado na face...

Contudo se repetiu sim a conversa nos anos posteriores. Era perder um jogo qualquer e o burburinho começava a crescer. Lembrando que, após o primeiro campeonato do Coughlin em 2004, nenhuma outra temporada dos Giants terminou com mais derrotas do que vitórias.

O que não é suficiente para New York. Ganhou o Super Bowl? Tem de ganhar de novo, de preferência no ano seguinte. Cobrança persistente permaneceu a rodear o trabalho do treinador, que resistiu por ter um alicerce fortíssimo como mencionado anteriormente. Em 2011 esta base de sustentação foi testada numa série cômica de eventos.

A semana 10 começou com os Giants tendo 6v-2d. A semana 14 começou com os Giants tendo 6v-6 derrotas. Quatro reveses seguidos que, para muitos, era a gota d´agua, não dava mais. Vencer os Cowboys em Dallas foi um alivio momentâneo, visto que depois veio a derrota em casa para os Redskins. Nunca o assunto “demissão do treinador” foi tão forte em NY.

A imprensa, além de demitir Coughlin, dizia quem seria seu substituto. Os torcedores ecoavam este conceito jogado ao ar e a pressão só aumentava. Momento tenso no qual os jogadores decidiram fazer o que sempre faziam (mas agora com mais dedicação). Decidiram se entregar em campo para salvar o treinador, decidiram jogar por ele.


A equipe precisava de duas vitórias nos dois jogos restantes, todos em casa, contra os rivais Jets e Cowboys. Venceu ambos, ganhou o título da divisão e se classificou aos playoffs. Passou fácil pelo Atlanta Falcons e ganhou duros jogos fora de casa, contra os Packers em Green Bay e contra os 49ers em San Francisco. Classificação ao Super Bowl contra o... New England Patriots.

Agora querem que Coughlin cumpra seu ano de contrato que resta com o clube. Outros, pasmem, pedem renovação (!).

"Demitir técnico? Quem inventou esta história?". Diria (se pudesse) a imprensa da cidade com um sorriso amarelo estampado na face...


(GL)
Escrito por João da Paz


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Tom Brady e os lugares altos

É fácil perder a noção de conquista quando o que se tem coletado é de alta significância?

Para os perfeccionistas esta característica é um defeito e uma virtude. Bom porque assim tudo o que for feito será de qualidade, talvez não a melhor coisa realizada, mas de qualidade. Ruim porque num universo de 9 resultados positivos e 1 revés, este 1% é levado mais a sério.

O que acaba sendo bom igualmente, pois quem tem o pensamento constante de aprimoramento vai tentar entender o que aconteceu de errado naquela oportunidade e consertar na próxima vez. Combustível que motiva os grandes a chegarem a pontos mais elevados.

Tom Brady, quarterback do New England Patriots, tem três títulos de Super Bowl, títulos que passam despercebidos em certas discussões, mas evidentemente é importante ressaltar pela poderosa importância. Mesmo com estas conquistas atreladas ao seu currículo, Brady pensa mais no que aconteceu recentemente nos playoffs do que nos momentos áureos que vivenciou.

Nas últimas nove partidas que teve em pós-temporada, antes do confronto contra o Denver Broncos no último sábado, são cinco as derrotas computadas. Uma delas para o adversário da decisão da Conferência Americana 2011-12: Baltimore Ravens. Os Patriots foram atropelados em casa, perdendo de 33 a 14. Placar que fica com Brady como algo inesquecível.

Alguns têm as vitórias como instantes inesquecíveis. Tom Brady também considera muito os anéis de campeão que possuiu, porém lembrar das falhas é a diferença, o impulso que leva as super estrelas do esporte aos lugares altos.

Antes de chegar nesta fatídica partida do dia 10 de Janeiro de 2010, veja três exemplos do que Brady fez nos playoffs:

Super Bowl XXXVI (2002)

Brady liderou os Patriots no vitorioso drive final de 53 jardas, em 1m21s e sem tempo técnico para pedir, e colocou o ataque em posição de field goal que Adam Vinatieri converte. Primeiro título do QB.

Super Bowl XXXVIII (2004)

Jogo empatado em 29 pontos restando 1m08s para o término. Brady inicia o drive na jarda de número 40 e com 5 passes completos em 6 tentados, coloca o ataque em posição de field goal que Adam Vinatieri converte. Segundo título do QB.

Decisão da AFC da temporada 2004-05

Contra os Steelers em Pittsburgh, Brady finaliza o jogo com um índice de passe de 130.5 com 207 jardas em 14 passes completos de 21 tentados e 2 touchdowns. Os Patriots venceram por 41 a 27.

São pequenas amostras. Isto para servir como lembrete e ilustração. Mas tem o infortunado jogo contra os Ravens em 2010. Brady na ocasião sofreu três interceptações e seu índice de passe foi de 49.1.


A comparação é válida somente à Brady, fator primordial do resultado final deste jogo. Poucos jogadores de ambos os elencos estarão em campo no próximo domingo. Ao olhar qual era o ataque dos Patrots então, se percebe como são vazios aqueles que creditam o sucesso de Brady aos jogadores que estavam (ou estão) ao seu redor. Wes Welker, seu alvo favorito, não jogou devido lesão na partida derradeira da temporada regular; Randy Moss, o vetor complexo, era seu principal receiver e estrela. De resto:

Receivers: Julian Eldman e Sam Aiken *(ham?!)*
Running backs: Laurence Maroney, Fred Taylor, Sammy Morris e Kevin Faulk
Tight ends: Ben Watson e Chris Baker *(ham?!)²*

Só futuros membros do Hall da Fama, não?

Nesta era dos smartphones, as saudáveis discussões em bares e restaurantes morreram, aquelas que eram discutidas quais jogadores estavam em determinado time em tal ano e seu papel no elenco. Ao invés de ser puxado pela memória, uma rápida pesquisa no Google resolve e o debate azeda. Faça um teste, seja honesto, não pesquise na internet e tente lembrar: com exceção de Randy Moss e suas três temporadas com os Patriots, quantos jogadores de alto nível estiveram com Tom Brady em New England nos últimos 11 anos?

Tá, pra ficar moleza, pense em quem são os membros de ataque do atual Patriots, quem são os jogadores que protegem o QB... Contra a forte defesa dos Broncos, o right tackle era um novato, Nate Solder, e durante toda temporada a linha ofensiva teve que lidar com lesões. Mesmo assim Brady conseguiu encerrar a temporada regular com 39 TD’s e um aproveitamento no passe de 65.6%.

Durante toda carreira o QB dos Patriots não teve muitos jogadores de renome ao seu lado, porém os levou à recordes junto com o conjunto da equipe. Brady tem 20 jogos em playoffs com 15 vitórias – e ainda o comparam a um jogador que tem 19 jogos em playoffs, mas 9 vitórias...

Tom Brady é melhor que Peyton Manning. O irmão mais novo do QB do Indianapolis Colts, Eli, está o ultrapassando na época que define um jogador na NFL: playoffs. Nesta semana criou-se um termo para defender Peyton: “O melhor QB da NFL em temporada regular”.

Fala sério, diz aí?

Enquanto Peyton é “O melhor QB da NFL em temporada regular”, Tom Brady vai ganhando espaço entre as lendas da NFL nos playoffs:

- Após o jogo contra os Broncos, Brady passou Dan Marino em mais jardas através do passe.

- Foi o 18º jogo seguido que Brady passou para touchdown, o colocando a dois jogos atrás de Brett Favre, o primeiro da lista.

- Com os seis passes para touchdowns anotados contra o Denver, Brady deixou pra trás Kurt Warner e Dan Marino na lista de passes para TD. Com 36 na carreira, o camisa 12 está atrás de Brett Favre e Joe Montana.

- A vitória de sábado foi a 15ª de Brady, agora o segundo na lista de vitórias para um QB titular, atrás de Joe Montana que tem 16.

Três destes recordes podem sofrer alterações no confronto de domingo no Gillette Stadium em Foxboro, Massachusetts. O que importa para Tom é a vitória e para consegui-la passes para TD terão que ser feitos - uma coisa liga a outra. O resultado positivo será mais uma afirmação da qualidade deste jogador que poucos sabem apreciar. Se perder é melhor tomar cuidado, porque na próxima temporada ele voltará com mais disposição em apagar as falhas e obter o que deseja: mais um anel de campeão do Super Bowl – são três no total, não se esqueça.



(GL)
Escrito por João da Paz


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O que é o que é, clara e salgada?


Momentos especiais causam reações especiais. Após uma grande conquista, um grande resultado atingido no campo de jogo, atletas se emocionam. Alguns colocam a mão na cabeça em sinal de incredulidade, não acreditando que aquele belo instante está acontecendo. Outros correm, gritam, pulam, abraçam... Alguns choram e câmeras não flagram, outros choram e a câmera vê.

Vernon Davis, tight end do San Francisco 49ers, chorou. Não escondeu a emoção de recepcionar o passe que deu a vitória ao seu clube e classificação à final da Conferência Nacional (NFC). Um touchdown que entrou para história da franquia e da NFL. Na hora Davis não pensou nisto tudo, o filme que passou em sua mente foi outro.

Os jogadores da sua posição estão nas manchetes, destaques da mídia. É a nova era dos tight ends como dizem. Davis é pouco citado nesta lista. O motivo da ausência não é porque sua habilidade é escassa ou baixo potencial, mas os números na temporada regular não foram tão excelentes: o nono em total de jardas recebidas entre os TE’s.

Então Davis caminhava na tangente, quieto no seu canto num time que fez a segunda melhor campanha da NFC. O tempo passava e lembranças eram renovadas. Uma, porém, permanecia viva em sua memória.

O problema maior é que a amarga recordação aconteceu em sua “casa”, no estádio Candlestick Park em 26 de Setembro de 2008. Na partida contra o Seattle Seahawks, Davis cometeu uma falta que deixou o treinador Mike Singletary (hoje técnico dos linebackers do Minnesota Vikings) muito aborrecido. Na linguagem futebolísica, Singletary deu dois esporros em Davis no banco de reservas para que todo o estádio e companheiros pudessem ver, assim como câmeras de TV pudessem registrar. Entre tantas broncas, talvez esta tenha sido a mais forte:

Disse a ele [Davis] que faria um melhor trabalho para nós se fosse tomar banho e depois viesse assistir o jogo, do que entrar em campo

Singletary revelou esta conversa na coletiva pós-jogo, entrevista esta que virou hit na internet e percorreu todos os programas esportivos dos EUA. Em grande parte o assunto foi Vernon Davis e o treinador tinha mais a falar:

Prefiro jogar com 10 em campo e sofrer penalizações toda hora do que jogar com 11 quando eu sei que esta pessoa [Davis] não está completamente inserida no contexto de time. Não é possível vencer assim! Não é possível treinar assim! Não dá! Quero vencedores! Quero pessoas que desejam vencer!

Por mais que Davis tenha aprendido a lição e na partida seguinte apresentou um bom jogo, o que ficou marcado não foi isto, mas a imagem criada pela entrevista, que ele não é um cara de grupo, individualista. Alguém sem gana de vitórias.

Quando o QB Alex Smith orientou o ataque no huddle decisivo que a bola iria para Davis, era a chance de redenção. O torcedor dos 49ers sabem que ele tem um papel importante no elenco, porém era hora de provar isto para toda a nação americana, para o mundo que estava ligado na eletrizante partida contra o New Orleans Saints. Na goal line, Davis abraçou o “ovo” (foto abaixo), ninguém tirava. E ao se direcionar para a linha lateral as emoções não foram contidas.


O foco de uma das câmeras instaladas no estádio estava nele e o diretor de TV da FOX, emissora que transmitia a partida, prontamente colocou no ar o rosto marejado. Um homem forte, duro, mas que sabe que não precisa ser frio para provar alguma coisa. Ele permitiu que o momento único que estava rolando lhe tomasse. Ele venceu. Ele venceu e levou todo time consigo.

Pra quê esconder a felicidade, o alívio de um fardo carregado que só ele sabe o quanto pesado é. Podem chamá-lo de chorão, na há problema. Davis reconhece sua própria direção de vida e não omite quando chega a ocasião que lhe mostra: "Você venceu, aproveite!"

Não é a primeira vez que Davis chora em frente às câmeras de TV. No draft de 2006 aconteceu o mesmo. Pouco antes do então comissário da NFL Paul Tagliabue subir no palco e anunciar quem o San Francisco escolheu na sexta escolha, diretores da franquia ligaram para o tight end informando que seu nome seria o próximo anunciado no microfone. A imagem mostra o jogador atendendo ao telefone, ouvindo a boa notícia e com um lenço branco enxugando a face molhada. Era alegria, sonho realizado.

Tagliabue diz: “Com a sexta escolha no draft de 2006, o San Francisco 49ers escolhe... Vernon Davis, Universidade Maryland”. Davis abraçou familiares e amigos ao seu redor, saiu da mesa na qual estava e caminhou rumo ao palco. Pegou a camisa branca número 1 da equipe e tirou fotos enquanto a galera gritava seu nome e o aplaudia. Olhando para o horizonte, Davis conseguia agradecer o carinho com um balanço positivo com a cabeça, movia os lábios suspirando um baixinho thank you. Seu pensamento, contudo, estava na maior vitória que pudera conseguir: ser um jogador da NFL.

Como muitos garotos, sonhava em atingir este estágio da vida. Como muitos garotos, não foi fácil sobreviver para se permitir a sonhar. Tinha problemas com a mãe, sua avó quem o criou... Ele ainda precisava olhar seus irmãos e irmãs, sua principal responsabilidade. O esporte era o meio que acreditava ser possível mudar de situação e na escola de ensino médio (high school) Davis fez atletismo, jogou beisebol e football. Pesando a melhor oportunidade, ficou com o football para entrar na faculdade e depois virar um esportista profissional. Fez seu trabalho muito bem.

Sua carreira na NCAA foi ótima e terminou com 1.371 jardas em 81 recepções. Grandes números. Ser a 6ª escolha também é histórico, visto que Davis, junto com Kellen Wislow (também 6º, Cleveland Browns – 2004) são os tight ends com escolhas mais altas no draft da NFL desde 1980.

A lágrima caiu em 2006. A lágrima caiu em 2012. Ambas com sabor de mar. Um doce sabor de mar.

Davis não é um sentimentalista barato, gosta da resenha. Uma brincadeira o levou a ser capitão honorário da equipe de Curling dos Estados Unidos nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2010. Ele fez uma campanha para a federação do esporte e no jogo contra a França esteve presente no vestiário para dar um discurso motivacional aos membros da seleção. Resultado: vitória americana.

Nesta de triar onda pra cá e pra lá, as câmeras o pegaram num momento embaraçoso (este sim). Junto com o colega de ataque Joe Staley, offensive lineman, cantou uma música da Adele. É, A-D-E-L-E.

Só há uma forma de explicar, assista ao vídeo e chore de tanto rir:




(GL)
Escrito por João da Paz


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Eu gosto de macarrão com salsicha: o ódio à NFL e porque elas têm razão

Cris França e Fernanda fizeram um desabafo no blog macarrão com salsicha sobre a insatisfação delas com a NFL citando 5 razões, e uma hilária faixa bônus, enfatizando o desgosto com a liga e com o football. Um desabafo ótimo que serviu para escancarar muitos problemas com os fãs da NFL e como o ser humano reage à contrariedade.

Já percebeu que quando alguém fala mal de você, citando uma característica ruim sua, a primeira coisa que você faz é dizer o que este alguém tem de ruim? É a briga do sujo e do mal lavado. Pode ser algo irrelevante, mas ao invés de ser levado em consideração, não pensamos no nosso ruim, vamos nos preocupar com o ruim dos outros. As meninas do blog decidiram, dentro do tom irônico que elas sempre produzem seus posts, criticar o que acham de errado na NFL. Os torcedores, vestidos pela carapuça, atacaram sem motivo algum.

A razão dos torcedores foi perdida quando comentários machistas passaram a ser destilados – e daí partiu pra baixaria. Então as administradoras do blog tiveram que bloquear os comentários, corretamente diga-se, para que a insensatez não progredisse.

De “deveria estar lavando a louça” até o “tinha que ser mulher” são algumas das coisas que disseram sobre as garotas. O engraçado é que se o post elogiasse a liga, o mesmo tom preconceituoso estaria inserido nos elogios do tipo: “Olha! Mulheres falando bem de football e que curtem a NFL” - como se fosse anormal.

O preconceito contra a mulher na NFL existe e é forte. Jemele Hill é uma jovem jornalista que cada vez ganha espaço na ESPN (EUA) e o preconceito que ela sofre é duplo por também ser afro-americana. Em um recente texto ela analisou tecnicamente dois talentosíssimos quarterbacks da NCAA que estão indo em direção à NFL: Robert Griffin III da Universidade Baylor e Andrew Luck da Universidade Stanford. Hill defende sua opinião muito bem embasada e coloca no título “[Indianapolis] Colts deveria escolher Griffin, não Luck”. Entre os 3.694 comentários deste artigo estão vários dizendo que ela é racista (por preferir um QB negro – Griffin – do que um branco – Luck), deveria estar lavando louça e cuidando de casa, e que seu trabalho na ESPN só pode ser resultado de um sistema de cotas que beneficia mulheres afro-americanas.

Pois é...

Será que os indignados com o post da Cris e Fernanda, aqueles que defendem a paixão feminina pela NFL, iriam respeitar a mulher que falasse profissionalmente sobre o esporte aqui no Brasil? Ou será que na primeira opinião “Green Bay Packers não é um bom time” ela receberia um comentário no melhor estilo “tinha que ser mulher”?

A decisão em bloquear os comentários foi uma medida de urgência, embora acertada. Elas sentiram o ponto que chegam certas pessoas ao falar as mais extremas bobagens num lugar que pertence a outro. Profissional ou pessoal, o blog é de alguém que pode optar como bem entender administrá-lo. No começo do Grandes Ligas os comentários eram abertos, poucos meses depois fui obrigado a fazer moderação. Os mais diversos blogs da mídia brasileira fazem o mesmo. No site da revista Veja assim está escrito na caixinha de comentários: “Aprovamos comentários em que o leitor expressa suas opiniões. Comentários que contenham termos vulgares e palavrões (...) serão excluídos”. Num dos maiores sites esportivos do Brasil, o globoesporte.com, na caixinha de comentários dos blogs lá hospedados está destacado: “seu comentário será moderado”. Estes são apenas dois simples exemplos.

Lá pelas tantas, falaram que as meninas do mcs emitiram opinião do que não conheciam. E aqueles que as criticaram sem conhecer o estilo dos textos delas? Sem saber que as mais diversas opiniões expressas no blog são na mesma toada? O absurdo chegou ao ponto que precisaram destacar que o texto era uma piada, um esculacho; aliás, que deve ser no mínimo respeitado.

Muitas coisas ditas por elas eu não concordo, mas tem razão no que escreveram porque é o ponto de vista que entendem como correto. Sim, existem pessoas que não gostam de coisas que eu amo, assim como eu não gosto de coisas que você ama. Posso dizer que uma banda musical “X” é um lixo mesmo esta sendo considerada por ti como a melhor da história. Neste caso eu tenho meus motivos para odiar e você tem os motivos para amar a mesma banda em discussão. E claro, muita gente não gosta da NFL e tem o direito de achincalhar o esporte, da mesma forma que há espaço para exaltar a liga.

Mesmo não compactuando com as ideias expostas no texto, tem muita coisa engraçada. Rir dos próprios defeitos é bom. Em um dos tópicos elas criticam a extensão das partidas – 1. O jogo demora 545.787 horas pra terminar. E realmente é bem extenso. Fora um detalhe: segundo levantamento feito pelo periódico americano The Wall Street Journal em 2010, jogos da NFL tem 11 minutos de ação, tempo real que a bola está em jogo. Um dos mais recentes grandes sucessos na TV por assinatura nos EUA foi a criação da NFL RedZone (por NFL Network), canal desenvolvido pela própria liga que não passa comerciais e mostra lances de todos os jogos da rodada, mas só aqueles que estão próximos da end zone, somente os que importam.

Pergunto por que querem transformá-las em fãs da NFL. Se não gostam, não gostam. Mulheres (nem homens) não precisam força-las a admirar um belo jogo que possui características fantásticas. No texto elas deixam bem claro a que o gosto de cada um se assemelha (risos).

O leitor do Grandes Ligas sabe que a mulher aqui sempre tem espaço: Danica Patrick, Heidi Ueberroth (NBA), Jeanie Buss (Los Angeles Lakers), Erin Andrews (repórter da ESPN – EUA), Candace Parker, As mais belas da WNBA. Também no football, com uma das franquias mais importantes atualmente na NFL (Saints) que tem uma vice-presidente no comando: Rita Benson LeBlanc, a bem aventurada entre os Santos.

As mulheres que gostam da NFL (e dos esportes americanos) são bem vindas; as que não gostam também.

Uma diliça!



(GL)
Escrito por João da Paz

"Milagreiro" não, Tim Tebow é um quarterback

Óbvio, né?! Duh!

Porém as vitórias do Denver Broncos lideradas pelo seu QB não são consideradas meros sucessos: é milagre! Uma forma de tentar explicar porque um jogador rotulado como ruim e fora de posição ganha jogos? Uma forma de menosprezar sua crença pessoal? Seja como for, a mídia invariavelmente junta milagre + Tim Tebow. Neste começo de semana tem sido assim, após os Broncos derrotarem os atuais campeões da Conferência Americana, Pittsburgh Steelers, na prorrogação em Denver.

Por grandes lances apresentados durante a partida, Tebow pouco recebeu méritos pelo que criou. Gritos de milagre foram ouvidos.

O primeiro quarto do duelo entre as equipes teve um Tebow acanhado. Todo o ataque do Denver conquistou apenas 8 jardas neste período. No segundo quarto a situação se transformou da água para o vinho e Tebow deixou a poderosa defesa dos Steelers ao léu. Somente no segundo período, o QB dos Broncos completou 5 de 9 passes tentados para 185 jardas, média de 37.5 jardas por passe. Durante a temporada regular os Steelers, que tinha a melhor defesa da NFL contra o passe, permitiram em média 171.9 jardas por jogo neste quesito.

A concentração do time de Pittsburgh estava em parar o jogo corrido de Denver, o melhor da liga no campeonato 2011-12. O plano de ataque dos Broncos se adaptou bem ao que o adversário apresentou e Tebow contribuiu diretamente para isto acontecer com eficiência. Não recebeu nenhum sack, não cometeu erro e terminou a partida com um índice de passe de 125.6, maior marca da franquia na pós-temporada. Tebow venceu seu primeiro jogo de playoffs, diferente do que aconteceu com John Elway, ídolo e executivo do clube, que perdeu em sua estreia na pós-temporada em 1984 para o Pittsburgh Steelers.

Tebow é qual tipo de quarterback? Muitos rótulos são inventados e distribuídos. Inegável é que, do seu jeito peculiar, Tebow é um quarterback. Contra uma temida defesa, perdendo de 6 pontos logo no início do jogo, ele foi se ajustando e colocou sua equipe na liderança e a classificou para jogar contra os Patriots em New England na rodada Divisional da Conferência Americana.

Veja como isso aconteceu ao longo da partida.

Constantemente a defesa dos Steelers colocou 8 jogadores (às vezes até mais!) pressionando o QB e o jogo corrido. O objetivo era forçar Tebow a lançar a bola e confiar na fama de boa equipe contra o passe. Nesta jogada registrada abaixo que tem 8 defensores dentro de 6 jardas, Tebow foi para esquerda, desviou do sack mas não conseguiu completar o passe direcionado ao tight end Dante Rosario.


***

Em algumas situações a defesa dos Steelers mostrava uma falsa blitz e recuava para cobrir os espaços do campo após o snap. No lance do primeiro TD dos Broncos isto aconteceu. Tebow tinha apenas um safety próximo à end zone e o Pittsburgh estava numa Cover 1. Ele finge que passa para a sua esquerda e engana a cobertura.


O safety dá passos para a esquerda do ataque e sai da linha pontilhada da direita. Separação suficiente que deixa o WR #19 Eddie Royal com uma marcação homem a homem. Tebow lança na end zone e o receiver pega a bola para marcar o touchdown.


***

Mesmo com desfalques, a defesa de Pittsburgh estava com dois temíveis e respeitados atletas: o safety Troy Polamalu e o linebacker James Harrison. Para produzir algo no ataque, Denver precisou enganar ambos e desviar deles. Neste lance são 11 jogadores da defesa dentro de 7 jardas, contra a formação Weak I Big TE do Denver com 7 jogadores na linha ofensiva.


Tebow faz o play action e congela a defesa no meio do gramado. Demaryius Thomas avança numa post route e Polamalu (marcado no círculo) fica na cobertura do TE Dante Rosario que vem do backfield, posicionado como full back. Thomas ganha separação do marcador e recebe a bola para um passe de 58 jardas.


***

Com Harrison a finta foi num fake draw. Usou-se a qualidade de Tebow em correr com a bola, mesmo com Harrison se posicionando como um defensive linemen extra – marcado com a seta.


A proteção mais forte da linha ofensiva está do lado direito do ataque, direção que segue o RB. Porém Tebow faz a finta e não entrega a bola para seu companheiro. Harrison cai e deixa um espaço livre para Tebow correr e alcançar a primeira descida. Quem derrubou o QB foi o próprio Harrison na jarda de número 24.


***

Essas leituras foram extremamente bem realizadas pelo sistema ofensivo dos Broncos, que com suas formações e movimentações diferentes venceu a complexa defesa dos Steelers. A adaptação durante todo o jogo, corrigindo posicionamentos e aprimorando os acertos, deu ao time a tranquilidade em decidir corretamente no momento crítico do confronto.

O Denver começou a prorrogação no ataque e a primeira jogada era previsível: corrida. Nos 60 minutos anteriores, Tebow arremessou em primeira descida somente uma vez. A formação ofensiva começou com dois receivers abertos, mas Eddie Royal faz uma movimentação e se aproxima da linha ofensiva. Ao mesmo tempo o S #29 Ryan Mundy sai da cobertura e chega até a linha de 25 jardas.


No instante do snap, os 11 defensores dos Steelers estavam dentro de 5 jardas (entre 20 e 25 no campo de defesa do Denver).


Isto escancarou a defesa dos Steelers que não esperava um passe de Tebow. Mas o QB percebeu a abertura e rapidamente lançou para Demaryius Thomas também numa post route. O CB Ike Taylor foi batido na velocidade e Mundy não conseguiu se recuperar.


O TD de 80 jardas deu a vitória ao Denver Broncos e sobrevida nos playoffs da NFL, através do braço de Tim Tebow e execução excelente do plano de ataque.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Doug Pensinger / Getty Images
*Imagens reprodução CBS ©

As universidades americanas e suas equipes de football

O estádio da universidade Michigan é um dos maiores espaços esportivos dos Estados Unidos. No dia 10 de Setembro de 2011 registrou o maior público num jogo de football na história do esporte em qualquer nível: 111.804 pessoas na partida contra Notre Dame. É um dos mais importantes programas da NCAA – o mais vitorioso – e após 11 anos venceu um Bowl importante (Sugar) derrotando a Universidade Virginia Tech na última terça, dia 3.

Tudo isto ajuda ou atrapalha a universidade e o objetivo acadêmico dela?

Traz dinheiro para os cofres, o que é sempre bom. Em muitas situações, parte da renda arrecadada pela equipe de football ajuda a revitalizar ou criar novas coisas no campus. As Universidades Penn State e Ohio State construíram enormes bibliotecas com esta grana. E olha, é muito dinheiro. A revista de economia Forbes divulgou no final do ano passado a anual lista das universidades que mais arrecadam dólares com a equipe de football:

1 - Texas: 129 milhões
2 - Notre Dame: 112 milhões
3 - Penn State: 100 milhões
4 - LSU: 96 milhões
5 - Michigan: 94 milhões
6 - Alabama: 93 milhões
7 - Georgia: 90 milhões
8 - Arkansas: 89 milhões
9 - Auburn: 88 milhões
10 - Oklahoma: 87 milhões

Tudo está incluso nestes números: doações, patrocínios... Os recentes escândalos que alguns programas passaram afugentam estas fontes de renda citadas. Mas, por exemplo, Penn State que teve um inescrupuloso caso de pedofilia dentro do time de football, perdeu alguns patrocinadores menos os principais: Nike e Pepsi Co.

A exposição que o time de football traz a uma universidade é benéfica para atrair estudantes – este time tem que ser bom, diga-se. Mantê-lo é tarefa árdua e entre 2004 e 2010 pouco mais da metade das 120 universidades que participam da primeira divisão da NCAA tiveram lucro. As que ficam no azul aproveitam e usam a equipe para chamar a atenção, principalmente nos jogos televisionados com propagandas nos intervalos comerciais. Se a escola for particular consegue mais ajuda, porém se for pública também consegue abocanhar um pouco mais do dinheiro naturalmente reservado.

A universidade pública que consegue ter um bom programa de football, com mais vitórias que derrotas, e que conquista algum Bowl em final de temporada (quanto mais relevante for o Bowl melhor), chega ter um aumento de até 8% no orçamento anual que o governo local destina à escola.

Terminar no topo do ranking também ajuda, inclusive na admissão de novos estudantes. Pesquisas apontam que a universidade que fica entre as 20 melhores no final da temporada tem um aumento de 2.5% na matrícula de novatos; se for campeã este número chega aos 8%. Grande parte destes estudantes vem com gabarito recheado de notas boas. Assim a fama acadêmica da universidade sobe.

Um time vencedor tende a fazer com que o estudante fique mais tempo no curso, aumentando a taxa de graduação da universidade. As notas diminuem se a dedicação do aluno for mais acompanhar o time do que ir às aulas, mas o crucial é que ele pegue o diploma no final. Em 2010 as principais escolas de football registraram a maior taxa de graduação da história: 69%. Notícia que encorajou todos os envolvidos.

O presidente da NCAA, Mark Emmert (foto abaixo), que assumiu o posto em Novembro de 2010, valoriza estes esforços das übers universidades que tem um forte, tradicional e coeso programa. Contudo ele se opõe, corretamente, a uma conversa que a cada dia cresce: salário para os jogadores.


Concordo com a visão de Emmert: nenhum atleta da NCAA deve receber dinheiro algum das universidades. O presidente afirmou publicamente que enquanto estiver no cargo os atletas não receberão salários. Para o argumento “os jogadores são responsáveis pelo lucro que as universidades ganham e, por isso, merecem uma fatia”, Emmert tem uma ótima resposta: “Eles não são empregados, são estudantes”.

Cada universidade tem, na equipe de football, 85 bolsistas. Ou seja: 85 alunos que estudam de graça, além de ganhar livros, dormitório e refeições. Isto basta, é uma recompensa valiosíssima jogar football, estudar e ter a oportunidade de entrar na NFL, ou como um slogan da NCAA diz: “Ser profissional em outra coisa que não o esporte”.

É alto o custo para estudar numa universidade americana. Até nas instituições públicas é necessário pagar (se o aluno residir no estado da universidade tem um desconto). Num período de 5 anos, tempo que um atleta geralmente pega seu diploma, a Universidade Arkansas (pública) gasta US$ 135 mil dólares com os alunos/atletas do estado e US$ 193 mil com os de fora do estado – nestes valores estão inseridos todos os benefícios.

As taxas das universidades perseguem o estudante comum mesmo após a graduação e o estudante/atleta fica livre desta bomba. Em 2010 a dívida estudantil nos EUA superou a do cartão de crédito. Em média cada aluno pega o diploma com uma dívida de US$ 23 mil. Isto vem de empréstimos bancários que eles fazem para pagar as taxas das universidades. O montante da dívida em 2010 destes empréstimos estudantis foi de US$ 830 bilhões, em contraste com os US$ 825 bilhões das dívidas em cartões de crédito.

Veja qual o custo anual, ano letivo 2011-12, para estudar nas 10 universidades que se classificaram para os Bowls do BCS da atual temporada. Entre elas só Stanford é particular (fonte CNN/Fortune):

Stanford: US$ 53.297
Michigan: US$ 23.019
Oregon: US$ 18,669
Alabama: US$ 18.264
Wisconsin: US$ 17.777
Virginia Tech: US$ 16.828
LSU: US$ 15.474
West Virginia: US$ 14.670
Oklahoma State: US$ 14.489
Clemson: US$ 13.286

Os estudantes/atletas ganham muito e sabem disto. Fora as regalias, o governo ajuda também. Existe um programa assistencialista chamado Pell Grant que é destinado a quem tem baixa renda. É permitido que o atleta se inscreva nele caso passe por dificuldades nas despesas pessoais. É transferido um dinheiro que não precisa ser devolvido e pode atingir a quantia de US$ 5.500/ano. O jogador de football tem como, através deste programa, conseguir US$ 500,00/ano para gastar com roupas. Só é necessário mostrar as notas fiscais das compras para a universidade.

Então o estudante/atleta, pelo seu talento demonstrado em campo, ganha um diploma em grandes instituições acadêmicas e de alto custo, recebe benefícios extras da própria universidade e ainda conta com auxílios governamentais.

Os estudantes/comuns acham graça quando os estudantes/atletas reclamam que passam por dificuldades para se alimentar, para se transportar...

“Bem vindo ao mundo real” dizem.


(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 por Galen Chandler

A vontade e o querer de Alex Smith

Quem não quer conquistar algo? Ser o melhor no que faz?

Caso sua resposta seja “eu não” para ambas as questões, lamento. Ou você está mentindo ou está pregando um falso moralismo que só vai te prejudicar. Almejar ser bom, ter ambição em atingir lugares altos só ajuda, não atrapalha.

Muitos confundem uma atitude do tipo e dizem partir de gente “arrogante”. Mas a busca para ser o melhor na área da qual é especialista levará a pessoa a um lugar mais aprazível do que estava antes. Pode não ser o topo, porém estará numa posição mais avançada. O desejo de chegar a uma condição mais superior deve estar intrínseco em cada indivíduo.

Isso vale para quem inicia a jornada num ponto mais baixo. E se a caminhada da vida profissional começar no topo? Como se comportar?

Merecido? Pode se discutir. Mas o fato é que Alex Smith, quarterback do San Francisco 49ers, foi escolhido na primeira posição do draft da NFL em 2005. Esta classe entregou à liga jogadores de qualidade (27 atletas que participaram de Jogo das Estrelas – Pro Bowl). Contudo a pressão maior está no número 1.

Smith começou sua carreira profissional no banco, mas após 5 rodadas virou titular. Trazia uma boa bagagem da NCAA quando comandou o ataque da Universidade Utah, então treinada por Urban Meyer (atualmente técnico da Ohio State e duas vezes campeão universitário com a Florida Gators). Smith sentia a cobrança que exerciam sobre ele e esta preocupação foi demonstrada dentro de campo. Era como se a cada passe e a cada jogada fosse necessário mostrar porque foi escolhido na frente de 254 outros jogadores, porque foi o número 1.

Eram passes forçados tentando completá-los para que alguém dissesse: “Nossa, este é um lançamento pro”, ou “O cara é mesmo um QB da NFL”. Smith tentava impressionar os outros e esquecia-se de fazer o seu, o básico. Os lances que queria realizar eram os mais complexos para deixar uma boa impressão. Não queria que a seguinte questão surgisse: “Será que Alex Smith é realmente um QB número 1?”.

Se a primeira impressão é a que fica, a temporada de novato de Smith teve estes números: 1 TD, 11 INT’s, 9 fumbles... Em 2006, com exceção da atual temporada, foi o único campeonato que o QB jogou as 16 partidas do calendário. Não apresentou números satisfatórios: 16 TD’s, 16 INT’s... Jogou apenas 7 partidas em 2007 e no ano seguinte ficou de fora por cirurgia no ombro. Com este currículo recheado de fatalidades, então surge um termo que marca a carreira profissional de Alex Smith: bust. Desta forma são chamados os jogadores que entram na NFL com grande expectativa e fracassam.

Fracasso... Até o início da temporada 2011-12 o tal rótulo perseguia Smith, com algumas verdades incluídas e pitadas de injustiça. Como aprender a jogar profissionalmente se a cada ano o coordenador ofensivo muda? Em 6 temporadas, Smith teve 6 coordenadores ofensivos diferentes. Justifica? Não. Mas ajuda a ilustrar um pouco da dificuldade, pois cada um destes treinadores tinha um sistema novo de jogadas, como uma forma diferente de chamá-las. Então vai lá aprender tudo de novo. Quando pegava a manha do playbook, o coordenador era demitido, outro chegava e o ciclo vicioso continuava.

Alex Smith, Antrel Rolle, Aaron Rodgers e Braylon Edwards

Numa leitura simples e pobre dos jogadores escolhidos no draft de 2005, alguns chegam a pífia conclusão que Smith não merecia ter sido o número 1. Não levam em conta o que aconteceu naquele ano e só usam a perspectiva de ver Aaron Rodgers, QB do Green Bay Packers, como o 24º escolhido e dizem: “Como podem ter deixado passar este talento?”.

Puf!

Mike Nolan, treinador dos 49ers em 2005, não queria escolher um QB. Até momentos antes do draft ele tentou trocar a escolha por um pacote de jogadores que ajudariam a compor o elenco. Não conseguiu vender esta ideia, ou melhor, o que ofereciam a ele era pouco. Decidiu, junto com Mike McCarthy, coordenador ofensivo (atual treinador dos Packers), escolher um QB. Hora de olhar as avaliações feitas com Smith e Rodgers para ver qual seria o número 1. Tanto Nolan quanto McCarthy estudaram muito ambos, dissecando os aspectos do jogo de cada. Nos prós e contras, a balança pesava a favor de Smith pelos detalhes mais intangíveis do que técnicos – e também era o jogador que mais agradava a diretoria. A escolha mais segura era Smith e se for falar que os 49ers erraram ao deixar Rodgers passar, é preciso dizer que McCarthy, homem que ajuda Rodgers a ser o excelente QB que é hoje, falhou também, assim como outros 19 times que não ficaram com A-Rod.

Essas características demonstradas fora de campo chamaram a atenção de Jim Harbaugh, atual treinador dos 49ers e que assumiu o time antes do lockout entrar em vigor. Jim conhece a posição, foi quarterback da NFL por 15 anos (Bears, Colts, Ravens e Chargers) e treinador de QB’s do Oakland Raiders por duas temporadas (2002 e 2003). Depois foi para a NCAA treinar o time de football da Universidade de San Diego (2004-2006) e a Universidade Stanford (2007-2010). Neste cargo anterior aos 49ers teve a oportunidade de treinar e moldar o jogo de Andrew Luck, QB considerado por especialistas como o melhor talento da posição na história da NCAA. Por mais que Smith ainda precisava acertar um novo contrato com a diretoria dos 49ers para a atual temporada, Jim entregou seu playbook para Smith dias antes do lockout começar. Um voto de confiança que Smith precisava.

Cansado de ouvir os gritos de Mike Singletary (ex-treinador dos 49ers, 2009-10) e as vaias da torcida, Smith considerava mudar. Mudar de cidade, de time. Quem sabe assim se livrar do estigma. Mas um treinador que foi quarterback fez com que ele considerasse ao menos um ano a mais com os 49ers. Mais uma chance de provar que é o número 1?

Não, agora não. Smith saiu da armadilha de provar algo pra alguém. Ele se concentrou a fazer o seu melhor e entregar em campo suas qualidades mais naturais sem forçar, sem querer impor uma superioridade inexistente. O querer tornou-se outro. O querer de ser Alex Smith.

Reuniu quantos jogadores conseguiu durante o lockout e fez treinamentos com eles na Universidade Estadual de San Diego. Com os companheiros de ataque passou a limpo o playbook que Jim o entregou. Soube ser líder sem alarde. Deu o exemplo.

O football voltou e Smith acertou contrato de um ano com San Francisco. Oportunidade para mostrar quem Smith é. Não o Smith que gostariam de ver. Preocupou-se menos com a opinião dos outros e mais com quem de fato é importante: consigo.


Assim, após querer o bem pra si mesmo, pôde querer o bem para o próximo. Smith precisava entender isto para poder render melhor em campo e tudo aconteceu numa conjuntura favorável: ótimo treinador aliado a experiência que o QB adquiriu ao longo destas 6 temporadas na NFL.

Smith tinha a mania de acompanhar seus números durante o andamento das partidas. Queria saber como estava seu desempenho estatístico visando uma boa imagem para os críticos de plantão. Agora nada disto, seu querer mudou. Não tenta mais forçar jogadas e seu jogo flui naturalmente. Entre os 20 QB’s com mais de 3.000 jardas aéreas na temporada regular que se encerrou no último domingo, Smith é o que tem o menor número de INT’s: 5.

A vontade de ser o melhor não morreu, está viva. Mas aplicada de maneira diferente do que fora feito. Com melhores resultados, entende-se que assim é como deve ser. Alex Smith não é melhor que Aaron Rodgers, quer dizer, há tantos outros QB’s melhores que Smith. Porém o camisa 11 dos 49ers está concentrado em fazer o seu melhor. Pode não ser suficiente para ser o grande destaque da sua área profissional, mas está num lugar mais satisfatório que antes.


(GL)
Escrito por João da Paz


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