O Favorito


Lá estava ele.

Tom Brady não largou seu principal receiver nem nas horas de recuperação. Wes Welker passou por uma cirurgia no ligamento cruzado anterior (ACL) do joelho em Fevereiro deste ano e apesar dos médicos programarem sua volta aos campos em Novembro, ele pôs na mente que voltaria antes e o QB do New England Patriots acompanhou de perto seu ressurgimento.

Welker se dedicou por completo para retornar logo ao football. Foram meses sem descanso, sem refresco. Seis dias por semana de trabalhos pesados para que nos treinos de pré-temporada ele pudesse estar presente com os outros companheiros de clube, isto porque um deles ficou ao seu lado o ajudando no que precisasse. O receiver fez seu tratamento no estado da Califórnia e Tom Brady – que tem uma casa pelas bandas de lá – sempre o visitava para fazer alguns exercícios com ele e combinar jogadas a serem executadas neste ano

Somadas as últimas três temporadas, Welker é o receiver da NFL que mais recebeu passes (na frente de Brandon Marshall do Miami Dolphins) e, logo, o alvo predileto de Brady. Desde que os dois estão juntos nos Patriots, o QB passou a bola mais vezes para Wes do que para qualquer outro jogador. Há um segredo aí.

Os dois se entendem e um confia no outro. Estão num estágio em que simples gestos indicam qual jogada está por vir. A utilização do WR slot, posição de Welker, ajuda imensamente os Patriots, pois deixam em dúvidas os defensores: se fazem uma marcação curta ou mais espalhada. Caso concentrem somente em Welker, abrem espaço para um passe longo; caso cubram o gramado dispersando os defensores, podem deixar Welker livre para fazer das suas.

Os críticos do seu jogo atestam o fato de todas suas recepções serem de passes curtos. Bem, isto é verdade. Porém esquecem de ressaltar as jardas que ele conquista após a recepção. Sua média de jardas é acima de 10 em cinco de suas seis temporadas na NFL: com o Miami – 2005 (15.0) e 2006 (10.3); com o New England – 2007 (10.5), 2008 (10.5) e 2009 (11.0).

Um campeonato não conta, o de 2004, porque ele não fazia parte do ataque: integrava o time de especialistas dos Dolphins. E olha que quase ele não chega nem nisto, porque não foi escolhido no draft daquele ano e recebeu uma dispensa do San Diego Charges. Poucos acreditavam que ele seria um jogador de football, não tinha o biótipo.

Seu treinador na Universidade Texas Tech, Mike Leach (hoje comentarista da rede de TV CBS) fala que achava engraçado ver Welker entre aqueles grandões e fortes jogadores. O magro e baixinho receiver ficava entre eles sem nenhum temor, o que causava uma reação de satisfação em Leach. O técnico percebia nos olhos dele que não estava ali pra brincadeira e que se ele próprio não demonstrava medo de toda aquela situação, então tinha algo de especial.

Esses valores abstratos foram suficientes apenas para conseguir um lugar no time de especialistas. Contudo, lá Welker buscou a excelência. Lembrava dos tempos da escola onde ele atuava um pouco em várias posições da equipe e o quanto fazia isto com prazer. 2004 foi especial porque colocou Welker no mapa da NFL e na história do esporte.


No jogo contra os Patriots (10 de Outubro) ele foi o primeiro jogador da liga que retornou um punt, retornou o chute inicial, retornou um chute, marcou um field goal e marcou um ponto extra no mesmo jogo! Isto mesmo, até kicker ele foi (substituindo na ocasião Olindo Mare) – o FG foi de 29 jardas. Iniciava-se então uma série de bons jogos contra os Patriots e o velho lema surgiu: se não pode vencê-lo, junte-se a ele.

Quando Welker passou para o ataque, começou a mostrar suas habilidades. E não eram só os Patriots que não conseguiam pará-lo, outros times tinham problemas em marcar o receiver que sempre achava lugares vazios no campo pronto para avançar livre rumo a endzone. Bill Belichick tinha que lidar com Welker ao menos duas vezes por temporada e resolveu acabar com o tormento em 2007, trazendo-o para NE.

Assim o WR encontrou um esquema perfeito (montado por Josh McDaniels, então coordenador ofensivo e hoje treinador do Denver Broncos) e um dos melhores QB de todos os tempos para lançar os melhores passes. Brady achou conforto na sua nova arma de ataque e perceberam que tinham uma conexão especial.

No jogo de abertura da pré-temporada 2010, Brady direcionou a primeira jogada para Welker. A torcida enlouqueceu ao ver um dos seus mais queridos atletas receber um passe com segurança, mostrando que estava de volta. Uma pancada dos adversários causa arrepios nas espinhas de todos que se preocupam com os Patriots, com receio que o joelho não aguente, entretanto até agora o receiver está bem e passou no primeiro teste pra valer contra o Cincinnati Bengals, domingo passado.


Na vitória dos Patriots – 38 a 24 – pra variar, Welker foi o alvo preferido de Brady, recebendo 8 passes de 11 para 64 jardas e 2 TD´s. Um deles foi por milímetros, já que sofreu um duplo tackle na linha que inicia a endzone. O impacto foi forte, mas ele resistiu e foi fundamental, mais uma vez, na vitória do New England.

Como diria o famoso apresentador de TV: “Agora, mais do que nunca” Welker tem que ser liso e evitar qualquer choque forte – mesmo que sua lesão, ocorrida no último jogo do campeonato de 2009, surgiu com ele se machucando sozinho. O conhecimento que Wes tem do jogo facilitará que ele encontre atalhos na defesa, ajudado por um esporte que trabalha essencialmente com as pernas.

O futebol auxilia Welker constantemente nas suas jogadas. Ele, que gastou sua habilidade com a bola no pé na escola de ensino médio, credita ao futebol sua visão de jogo, pois é preciso ter uma boa leitura dos espaços em campo para jogar bem, seja para avançar com a redonda ou lançá-la num espaço vazio para um companheiro. Ao receber um passe, Welker rapidamente percebe onde estão os defensores, vê qual zona está livre e determina a rota na qual ele vai percorrer.

Wes não fugirá dos trancos, mas se evitá-los não será tão ruim. Os Patriots (e Tom Brady) ficariam desnorteados sem o camisa 83 em campo. Os torcedores da equipe sentiriam sua falta também e poucas vitórias viriam sem o camisa 83 em campo. Welker não é tudo e nem tem a pretensão de ser, porém é o favorito de muitos – e que o futebol lhe ajude.




(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 por Kerry Brett
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