Honra ao Mérito


Os finais dias da temporada 2010 estão chegando e o quanto mais eles se aproximam mais aumenta a angústia de Bobby Cox (foto acima) treinador do Atlanta Braves. O senhor de 68 anos irá encerrar a carreira ao término deste campeonato e seus jogadores estão se empenhando para levar o clube aos playoffs e prolongar a estadia da lendária figura na MLB.

Vai além da obrigação o esforço que os atletas dos Braves estão fazendo; é tudo pelo treinador. Na rotina diária ele defende seus comandados e os apóia incondicionalmente, o que dá uma energia extra quando estão cabisbaixos, passando por uma má fase. Há um compromisso dentro do clube de fazê-lo dirigir, pela última vez, jogos em Outubro.

Na vida de treinador desde 1978, partidas de pós-temporada se tornaram comuns para Cox, porém recentemente os Braves não têm avançado para os jogos eliminatórios. A última aparição do time foi em 2005, uma marca na história da liga porque foi a 14ª vez consecutiva que Cox chegava aos playoffs como treinador – 1990 não conta, ele era GM e assumiu o cargo no andamento da temporada.

O que impressiona é que nestas 14 vezes que a vaga foi garantida, todas vieram com o título da Divisão Leste da Liga Nacional. Mesmo sendo um recorde difícil de se repetir (principalmente com um único clube), tem gente que consegue criticá-lo dizendo que só foi ganha uma World Series (em 1995).

A imprensa do estado da Flórida foi a última a desmerecer o feito de Bobby. Numa série de quatro jogos realizada em Miami no começo deste mês, os Marlins ganharam 3 partidas. Os jogos fora de Atlanta tem sido em tom de despedida para Cox, um adeus aos amigos conquistados em todo os EUA. Contudo, alguns jornalistas locais não homenagearam o rival e resolveram jogar na cara os dois títulos que a franquia tem desde que chegou na MLB em 1993. Como se fosse fácil ficar em primeiro lugar da divisão por 14 temporadas seguidas.

Ao longo deste período foram muitas mudanças no elenco se tornando necessária todo tipo de adaptação para administrar o time em campo e fora dele. 2005 foi um dos mais complicados para Cox: não contou com seu melhor jogador, Chipper Jones, em grande parte do ano; perdeu para o Departamento Médico 3/5 da rotação de arremessadores titulares; e usou 18 diferentes novatos. Apesar dos imprevistos, conquistou o título da Divisão mais uma vez.


De lá pra cá não foram boas temporadas. Os Braves não ultrapassaram o aproveitamento de 50% (mais vitórias que derrotas) por duas vezes e não ficaram em nenhuma oportunidade acima do terceiro lugar na Divisão. Em 2010 a situação é diferente, embora que o início não foi o dos mais agradáveis.

Em Abril a equipe acumulou uma série negativa de nove derrotas na sequência. Os auxiliares de Cox comentavam que o clima não era dos melhores, porém o treinador mantinha a cabeça erguida e o otimismo lá em cima dizendo “...tudo vai dar certo”. O mês terminou e a classificação mostrava os Braves com 8v e 14d e neste instante uma das melhores características do treinador apareceu,

Todos os que já passaram sob o seu comando (ou passam agora) afirmam que Cox não faz o estilo autoritário. Ele sabe impor respeito sem humilhação e recupera um mau momento de um jogador com tremenda facilidade, sem necessidade de expor ao atleta quais são seus pontos fracos, já que os próprios números serviram como indicação para isto. Cox usa a motivação para extrair dos seus subordinados o melhor, conseguindo renovar o ânimo dos que atuam com pouca produtividade; um estilo “treinador dos jogadores”

Este tipo de abordagem cria no time um sentimento de buscar fazer o melhor para o técnico, então invariavelmente se cria uma maior dedicação e comprometimento com o todo e não somente com performances individuais. A partir da ocasião que os membros do clube entendem este conceito, a tendência de se atingir o sucesso é maior e uma reviravolta mais provável.

O péssimo começo de campeonato se transformou em primeiro lugar. Por muito tempo o clube ficou no topo da Divisão com uma soma de suas boas atuações com o baixo aproveitamento do rival Philadelphia Phillies. O atual bicampeão da Liga Nacional teve que lidar com inúmeras contusões de seus melhores jogadores e agora que todos estão bem eles deixaram os Braves para trás e são os atuais lideres, três jogos a frente do Atlanta.


Falta 12 partidas para encerrar o campeonato e 6 delas são contra os Phillies (2 séries de 3). Uma destas séries, em Filadelfia, se inicia hoje e Cox pode recuperar a posição perdida. Mesmo os Braves sendo os atuais lideres da repescagem, o objetivo maior é conseguir o título da divisão. “Definitivamente nós queremos despedi-lo bem e isto acontecerá com a conquista da Divisão” disse Brian McCann, catcher que é um dos jovens talentos da equipe.

O contrato com a franquia vai até 2015, mas Cox deixou bem claro que não volta atrás na decisão tomada no ano passado. Esta realmente será sua última temporada na MLB e após isto ele será um consultor do clube, avaliando os talentos da base dos Braves procurando um novo McCann, um novo Jayson Heyward... Pra quem viveu a vida toda envolvido com o beisebol, é difícil simplesmente sair.

Estas duas séries com os Phillies (a outra será em Atlanta, começa 1º de Outubro) serão imperdíveis. Uma atmosfera de playoffs cercará o duelo e os atletas dos Braves vão se entregar para vencerem o confronto direto e levar novamente Bobby Cox à pós-temporada. Com a possibilidade de ao menos ir aos playoffs pela repescagem, a festinha de despedida, programada desde Abril para o próximo dia 2, deverá ser adiada. Vai ver que a diretoria não acreditava que aquele déficit poderia ser superado.




(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Stephen Dunn / Getty Images
© 2 John Bazemore / AP

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