Devoto da Rotina



O segredo.

Quem não quer saber como um grande atleta consegue alcançar tão alto status? Como ele se prepara? Qual é sua motivação? Qual é o segredo?

As respostas podem ser usadas por aqueles que almejam uma carreira esportiva ou por aqueles que aprendem algo de cada exemplo, procurando ser um melhor alguém. Roy Halladay, (foto acima) arremessador do Philadelphia Phillies, vai a campo hoje contra o Washington Nationals com 20 vitórias na temporada, marca que ele atinge pela terceira vez na carreira; o primeiro Phillie com 20 vitórias desde 1982.

Este ano leva Roy ao Cy Young da Liga Nacional (troféu dado ao melhor arremessador). Seus números são testemunhas, suas atuações também. Ele está com um mês de Setembro ambíguo: enquanto tem 4 vitórias em quatro jogos, seu ERA (4.55) é o maior do que em todos os outros meses do ano. Embora o mais importante é estar em um time competitivo pela primeira vez e, aos 33 anos, jogar a primeira pós-temporada da carreira.

Isso. É estranho ler a frase acima e pensar: por que demorou tanto? Um dos top arremessadores da MLB da última década nunca jogou um playoff? Sim. Porém agora chegou a hora. O que deixa uma pessoa muito feliz: Harry Leroy Halladay.

Harry tem um passado muito comum na vida de um esportista. Passou toda a infância se preparando para o sucesso, para a liga profissional; e não só isso, para ser o mais dominante jogador que já existiu. Por isso que logo no começo da carreira, quando bateu de frente contra a parede do fracasso, ele quase desistiu de jogar – na verdade, estava desistindo de viver.

Em 2000, seu terceiro ano na liga, Roy teve uma temporada escabrosa. Seu ERA de 10.64 é um dos piores da história da MLB. O Toronto Blue Jays, seu único time antes de chegar nos Phillies, o mandou para as ligas de base (minors) e lá estava um cara que desceu de nível não porque sofreu uma lesão e precisava se recuperar, foi pra lá pelo motivo de sua mecânica de arremesso, obviamente, não ser produtiva. Uma difícil lição para Harry, que decidiu não voltar mais para casa, pois a vergonha não deixava.

A opção que Harry visualizava era se jogar, se jogar de um prédio ou coisa parecida. Ele não enxergava mais um segundo a frente da sua vida, quanto mais o futuro. Batalhou internamente em lutas cansativas e agonizantes, até encontrar quem lhe ajudasse. Assim aconteceu e dois treinadores das minors confrontaram o vivo Harry como se ele tivesse matado Roy. Foram diversas conversas de repúdio a uma atitude depressiva que impedia tanto a pessoa quanto o jogador de viver, desfrutar dia após dia. Então conseguiram reavivar Roy, que entrou num trilho no qual ele facilmente não irá sair.


Os Blue Jays mandaram um arremessador bem abaixo da média e receberam o jogador que a franquia nunca tinha experimentado. Roy voltou dominante à liga e em 2001 nasceu o grande atleta que dominaria a posição nos anos seguintes. Três temporadas após o mais profundo dos vales, Roy ganhou o Cy Young em 2003, com 22v-7d e um ERA de 3.25. Nesta temporada, sem contar o jogo de hoje, ele está com 20v-10d e um ERA de 2.53 – ainda vai arremessar em duas partidas antes do término do campeonato regular.

Números importam para Roy, mas para Harry... Este último está feliz em fazer parte de um elenco acostumado às vitórias e que tem o objetivo de ser campeão. Este estado de alegria deve ser computado inteiramente na conta de Roy e, por isto, Harry não interfere muito nas decisões de Roy e o deixa livre em sua preparação e abordagem do jogo.

Roy melhorou seu desempenho lá atrás com um ritual que muitos evitam, apesar de ser eficiente: a rotina. Ela redirecionou o foco do jogador, moldou melhor sua atitude pré-jogo. Desde então Roy pratica as mesmas coisas antes das partidas, lhe mantendo concentrado na performance prestes a por em prática.

Seja seu dia de atuar ou não, Roy é o primeiro e chegar ao centro de treinamento dos Phillies. Em Toronto, o pessoal de lá se acostumou com isto e, em tom de brincadeira, os funcionários do time canadense davam as chaves do CT para ele, porque literalmente ele era a primeira pessoa a chegar. Certa vez dois jogadores do clube apareceram às 6 da manhã tentando “vencer” Roy na competição de quem chega mais cedo. A partir do dia seguinte a este episódio Roy passou a chegar às 5 e meia...

Ele vai para a academia e faz exercícios físicos. Disseca seu próximo adversário assistindo horas contínuas de vídeos sobre os rebatedores, tentando achar tendências e falhas. Depois vai arremessar bolas se preparando ao que estar por vim. Quando não é seu dia de arremessar, vê atentamente ao jogo buscando aprender um pouco mais e conversa com seus companheiros somente sobre aspectos do jogo – já tentaram, por muitas vezes, brincar com ele e tudo mais; não dá certo. Isto não faz de Roy um desagregador, pelo contrário, serve de inspiração aos que estão em sua volta para fazer algo parecido e quem sabe ser tão eficiente quanto ele. Roy novamente deixa Harry feliz por se deixar servir de modelo de um arremessador da MLB.


Antes de cada jogo no qual Roy vai estar em campo ele arremessa, no aquecimento, todas as suas 25 bolas engatilhadas em seu arsenal, 5 tipos diferentes de bolas rápidas, lentas, curvas, cutters e sinkers. Assim ele está pronto para mais um dia de trabalho.

Roy e Harry são o mesmo ser, mas diferentes pessoas. Harry quase deixou que as frustrações de Roy lhe afetassem e ambos teriam um fim trágico. Ao invés disto Harry encorajou Roy que assumiu responsabilidades, corrigiu erros e se tornou o alicerce sustentador. Harry aprendeu a diferenciar situações, a encarar adversidades e fazer com elas o que precisa ser feito: superá-las. Roy abraçou sua missão por completo e dá o máximo necessário para ser o melhor.

O segredo? Não é tão oculto assim. Os sinônimos da palavra dedicação explicam.




(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 por Mitchel Leff

Um comentário:

Fernando disse...

Ótimo texto,e ele já alcançou a vigésima primeira vitória!

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