O que a ESPN americana ensina a folha.com; e a outros sites que cobram por conteúdo

Desde 21 de Junho deste ano, o site do jornal Folha de S. Paulo passou por remodelação, tentando se adaptar ao novo momento da mídia. Deixou de se chamar Folha.com, passou a ter o logo do jornal e implantou uma modalidade nova na imprensa online brasileira: cobrança por conteúdo. Apesar de uma prática difundida entre grandes nomes do jornalismo mundial, a Folha não está preparada para pôr em atividade o modelo chamado de paywall (“muro de cobrança”) e deveria olhar para a ESPN americana como exemplo, ao invés de se espelhar no New York Times.

O paywall da Folha funciona da seguinte maneira: o leitor tem acesso ao conteúdo completo do jornal (antes alguns textos eram restritos a assinantes), porém só pode ler 20 textos por mês. Após atingir esta cota, receberá um convite para preencher um cadastro, que lhe dará direito a outros 20 textos. A partir do 41º, o convite passa a ser para assinar o jornal e ler o site sem limites.

Vários erros são possíveis observar, a começar pela iniciativa e passar pelo trâmite do processo. O jornal diz que são 40 textos/mês livres ao usuário. Mas na verdade são 20, pois a outra metade não terá muitos adeptos pelo “simples” cadastro a ser feito. Nem os primeiros 20 devem ser utilizados realmente, visto que muitos leitores não irão voltar a visitar o site justamente por saber que terão uma parede logo a frente para bloqueá-los.

Um fato dito por Sérgio Dávila, editor executivo da Folha, é que o leitor geral não sentirá esta restrição.  Quem lê mais de 20 textos por mês no site? Porém só o funcionamento desse método afastou os leitores.

Sérgio justifica a ação da Folha dizendo que o jornalismo de qualidade custa caro, por isso quer angariar mais assinantes para bancar o conteúdo do jornal. Quem responde melhor este tópico é a ombudsman da Folha, Suzana Singer, responsável por avaliar o comportamento do jornal e de suas iniciativas:

Para ler pequenos informes sobre o que aconteceu nas últimas horas, em textos mal-ajambrados, ou para saber das fofocas mais recentes sobre celebridades do 'mundo B', ninguém precisa gastar um centavo, há uma oferta enorme de sites e blogs gratuitos na rede".

A Folha se compara ao New York Times, jornal americano que cobra por conteúdo. Entretanto são realidades totalmente diferentes (e conteúdos diferentes, diga-se). Uma coisa é o NYT criar o tal “muro de cobrança”, outra coisa é a Folha querer o mesmo.

No NYT você não vê manchetes deste naipe: "Gretchen toca sino de 'A Fazenda' e pode deixar programa".

O diretor executivo do jornal paulistano se sustenta na boa receptividade que os leitores do NYT tiveram com o paywall, aumentando o número de assinantes online – e com um detalhe, reduzindo o limite de textos gratuitos de 20 para 10. Mas esqueceu de pontuar um aspecto importante, a resposta para a pergunta: Por que existe o paywall?

O New York Times está no limbo como tantos outros jornais do mundo, tendo queda no número de vendas em bancas, acarretando uma gravidade, que é o declínio da publicidade impressa. No último bimestre de 2011, o lucro do NYT caiu 12%, puxado pela queda das propagandas no jornal impresso (8%). Isto contribuiu para que a perda do NYT em 2011 fosse de US$ 40 milhões.

Apostar no paywall para cobrir o rombo que o jornal impresso presenteia não é a melhor estratégia para a o NYT (muito menos para a Folha). Ao invés disto, a estratégia tem de ser outra, apostar num conteúdo gratuito online que seja diferencial do impresso, gerando mais leitores de página única e assim atraindo mais patrocinadores.

O jornalismo de qualidade entra em cena agora.

E o exemplo melhor disto é o que a ESPN americana faz.

O canal de esportes via TV por assinatura tem uma vantagem, visto que arrecada muito através da venda individual que tem nos EUA – o canal é vendido separadamente pelas operadoras, num custo em volta dos 5 dólares, o canal mais caro (de longe) das TVs por assinatura.

Nesta brincadeira se ganha um bom dinheiro.

Mas a plataforma digital é outra mina de ouro que a ESPN explora com eficiência e chama a atenção o que ela faz gratuitamente. Antes, vale ressaltar, que eles tem um espaço para assinante, chamado de “insider”, lugar com conteúdo exclusivo onde as análises de comentaristas/especialistas são os destaques – e não a notícia.

Isto impede que um futuro "muro" impeça que um internauta, em meio a um momento de notícia urgente (breaking news), encontre uma indesejada mensagem-convite ao procurar o desdobramento do assunto mais quente em questão. Risco que correm os jornais adeptos do paywall em notícias.

A ESPN fez de seu site um portal esportivo completo de informações e notícias. Conforme medição em Maio deste ano, realizada pela comScore Media Metrix, foi o terceiro site esportivo mais visitados por americanos, atrás da FOX/MSN e Yahoo. 

O site espn.com traz conteúdo diferente do que é visto na TV e em rádios pertencentes ao grupo. Assim, quem é assinante do canal e/ou ouvinte sabe que no site irá encontrar matérias exclusivas. Abrange um maior público, que pode ser leitor do site e não telespectador ou ouvinte. Como se fossem veículos independentes.

Ou seja, a atração do site da ESPN não é o que a Folha prega para que você “atravesse o muro da cobrança” e leia o conteúdo completo do jornal impresso.

Um modelo deste trabalho primoroso da ESPN é o realizado com o programa “Outside  The Lines”, grife da emissora que só perde para o Sportscenter em importância. O OTL é um programa investigativo e de debates sobre assuntos “além das linhas” de jogo. Somente ia pro ar aos domingos de manhã, mas ganhou uma versão diária pela tarde e transmissão via rádio também.

No site o trabalho é magnífico e as matérias publicadas são diferentes das edições diárias ou semanais do OTL na TV. Clique nos links abaixo e observe:




Note a extensão do texto, o trabalho gráfico, as fotos, a qualidade da informação... Tudo isso de graça, sem custo algum para o internauta.

A ESPN aposta nisto para gerar tráfego, page views e atrair patrocinadores – arrecadando dinheiro para fazer um jornalismo de qualidade.

Esta é a melhor estratégia.


(GL)
Escrito por João da Paz

Um título para os Tomés da vida


Ver para acreditar.

Infelizmente pessoas usam a citada frase como modelo de vida, como lema. São discípulas de Tomé. Algumas destas se encontram no mundo da NBA (jornalistas ou torcedores) e quem sabe com o título da NBA 2011-12 dão a LeBron James o crédito que merece

(só que não)

Após oito anos, o melhor ala da história da NBA levanta o troféu Larry O’Brien e isto é mais uma coisa para quem gosta de praticar o esporte de odiar LeBron continuar fazer o que sabe de mais repugnante. Sim, é necessário encontrar motivos para desmerecê-lo por qualquer irrelevância que seja.

Os playoffs da temporada que terminaram quinta (dia 21) teve um jogador espetacular fazendo coisas incríveis. Este jogador veste a camisa 6 do Miami Heat. O dono do time, o líder.

Seus companheiros diziam em entrevistas que jogavam para conquistar o título para LeBron – e de tabela para seus críticos. Difícil imaginar alguém egocêntrico centralizar um carinho tão aberto e direcionado.

Egoísta. Palavra que incomoda. Palavra que serviu como combustível para ser um jogador de equipe (sempre foi). No pódio do campeão, LeBron disse que ouvir que era egoísta foi o que mais lhe incomodou.

Porém ele não ligou para isto, para o que dizem (deixe que falem). Nesta postura de jogar por amor e não com raiva para mostrar o que não é necessário – que é o melhor jogador da NBA –, uma mudança de atitude foi observada, que não vem de agora e nem de ontem, começou ao admitir erros no comportamento fora de quadra.

Fato. Mas e quem o chamou de “amarelão” e que “se escondia nos momentos decisivos”? Posições errôneas sem tamanho, ridículas, tanto antes como agora. Fique tranquilo, você não irá ver/ouvir/ler que os que lhe rotularam desta maneira dizer que estão errados.

Imagina! Never!

É raro um jornalista admitir erro, porém é algo do ser humano. Então dar até para entender. Contudo é curioso: mais fácil dizer que LeBron mudou do que admitir uma falha.

Sem contar o rancor. Somado nesta equação se iguala a capa esportiva do tabloide nova-iorquino, New York Post, desta sexta 22 (foto abaixo) com a manchete: “1 a menos, falta 7”. Isto porque o atual MVP não escolheu New York (nem os Nets, nem os Knicks) para levar o seu talento. Pra quê sorrir? Resta ranger os dentes.


Ao comentar a ruim performance do ala nos momentos decisivos das partidas (clutch) se esquece que todos os jogadores da NBA tem performances ruins nestes lances. Os equívocos prosseguem na análise de LeBron como um jogador que precisa arremessar a bola decisiva.

Que tal uma observação de Phil Jackson para encerrar este assunto? O grande treinador reverberou coisas que você leu aqui no grandes ligas em outras oportunidades, servindo como mais um argumento qualitativo de que LeBron James é melhor que Kobe Bryant e merece estar no quinteto all-time da associação.

Claro, Phil Jackson entende mais de basquete do que eu e você, nada mais óbvio. São 11 títulos da NBA: 6 com o Chicago Bulls e 5 com o Los Angeles Lakers. Treinou lendas da liga como Shaquille O’Neal, Kobe e Michael Jordan.

Sobre Kobe, Jordan e LeBron, Phil Jackson deu uma perfeita declaração para o programa da HBO Sports (Real Sports com Braynt Gumbel) em entrevista para a Andrea Kremer. Basta prestar atenção na aula – respondendo se o Miami Heat usa LeBron da maneira correta:

Eles estão usando LeBron do melhor jeito que podem. Ele é um jogador tão grandioso. Penso que seu jogo ainda vai melhorar. Ele tá pra mais um jogador que passa primeiro e arremessa depois. Enquanto que Michael [Jordan] ou Kobe [Bryant] são como ‘Eu vou arremessar esta bola’. Toda vez que eles pegam a bola pensam primeiro em arremessar e LeBron não é assim. E amo isto sobre ele, mas quando decide marcar pontos, ele também é espetacular. O ideal é ter um jogador que possa fazer essas duas coisas.

Tentei fazer Kobe, por inúmeros anos, ser igual a LeBron, que ele fizesses as duas coisas. Kobe até conseguiu, mas seu instinto era sempre driblar seu marcador”.

Phil Jackson senhoras e senhores.

James personifica uma bela história, uma narrativa para ser aplaudida e reverenciada; e não menosprezada. Uma pessoa com talento imenso, que passou pela fama, pelas adversidades, pelos erros, pelos fracassos... até atingir a glória. Trajetória que quem já passou por momentos parecidos é capaz de entender o que é ser desafiado.

Tomé, um personagem bíblico, discípulo de Jesus, ficou marcado por externar um sentimento que temos com frequência: dúvida. Tomé, segundo o cristianismo, não acreditou no que disseram a ele, que Jesus ressuscitou depois de três dias. O discípulo disse, ao ouvir relatos crentes de seus colegas, que só acreditaria se tocasse nas feridas do seu mestre.

Após oitos dias Jesus aparece para Tomé e diz que ele pode tocá-lo para que enfim acredite.

Daí surge a história de “ver para acreditar”.  Como pode ser lida na tradução King James da Bíblia.

Os Tomés do habitat NBA tem um exemplo nítido para dirigir, no mínimo, respeito ao jogo de LeBron James. São 3 MVP’s da associação (o melhor jogador em quatro temporadas seguidas), MVP das Finais... Tá no currículo, tá registrado. Nada dado, nada sorteado. Tudo ganho, tudo conquistado.


Após oito anos...

Para Deus, um dia pode ser um ano, e um ano pode ser um dia.


(GL)
Escrito por João da Paz 

Jogo algum tem interferência da arbitragem no resultado final


As fotos acima mostram duas faltas, chamadas de faltas virtuais: à esquerda a “mão boba” de Michael Jordan empurrando Bryon Russell (Finais da NBA 1998), e à direita LeBron James encostando em Kevin Durant (Finais da NBA 2012). Lances que na realidade foram considerados normais.

No jogo virtual, aquele das inúmeras câmeras em diversos ângulos e de replays intermináveis, dá para notar que houve falta em ambos os lances. Porém na hora que importa, o jogo real, os únicos responsáveis por marcarem penalidade, os árbitros, não observaram nada de anormal.


Infelizmente a mídia americana, em poucos casos, caminha na horrível trilha que no Brasil é prática comum dos programas futebolísticos: culpar os benditos juízes por tudo. Mal acaba o jogo e analistas comentam os lances polêmicos (impedimento, faltas duvidosas, “afinal, foi pênalti ou não?”) que causam ânsia e enojam pela falta de objetividade num comentário, transferindo responsabilidades e esquecendo de apontar o que realmente vale ser discutido.

A falta virtual de LeBron James, percebida só após repetecos, aconteceu nos últimos segundos do jogo 2 – o placar estava 98 Miami, 96 Oklahoma City. A partida terminou 100 a 96 para o Heat e a imprensa yankee, no melhor jeitinho brasileiro, metralhou os jogadores do Thunder, e também o treinador, com perguntas sobre a influência da arbitragem no resultado final, enfatizando a jogada de Durant.

A maturidade mostrada pelo elenco do OKC foi louvável, digna de aula aos esportistas brasileiros que precisam aprender a responder com qualidade o que jornalistas perguntam, por mais que as perguntas sejam estúpidas, o que não justifica respostas do mesmo nível.

A começar pelo armador Derek Fisher, veterano da associação e cinco vezes campeão com o Los Angeles Lakers:


Árbitros não são perfeitos, nós jogadores também não. Seja uma marcação correta ou errada, não podemos nos concentrar nestas coisas. Você não pode usar isso como desculpa por não fazer as coisas que á capaz de fazer como um time. Os árbitros não arremessam lances livres pra você, não pegam rebotes pra você, não alertam a defesa pra você e não fazem o passe extra pra você”.

Fatality!

Muito obrigado Derek Fisher, obrigado mesmo. Isso é o que digo há anos: os juízes só serão decisivos num jogo se eles pegarem na bola e marcar pontos. Pra não dizer que isto nunca aconteceu, um juiz interferiu diretamente numa partida de futebol, marcando gol pro Palmeiras contra o Santos (Campeonato Paulista de 1983 – veja vídeo).

Essa declaração do Fisher o faz que eu admire mais ainda como um jogador classe A. Nada pode ser mais perfeito que esse posicionamento do armador, que direciona a responsabilidade do resultado final para quem de fato merece: os jogadores.

O discurso brilhante da equipe do Thunder continuou com Serge Ibaka, ala-pivô:

Não podemos controlar o que os juízes fazem. Nosso trabalho é jogar basquete e a função dos juízes é ver o que acontece. Se disserem que foi cesta, não podemos mudar isto”.

Ótimo!

A unidade na ideia transmitida via imprensa expõe que o elenco tem comando e controle. Reflete amadurecimento de um time essencialmente jovem e que entende o basquete (esporte) de forma real. Não é por nada que o treinador Scott Brooks também deu show ao falar sobre a falta virtual em cima do seu melhor jogador:

Aquilo foi um lance. Tivemos tantas outras jogadas que nós poderíamos fazer melhor para nos colocar em uma posição final para permanecer vivos na partida. Preocupo-me mais com os primeiros oito minutos do jogo [quando o Miami vencia por 18 a 2] do que com esse minuto final”.

Brooks não pode mudar o que o juiz marcou, como Ibaka disse. Agora, ele pode mudar a postura do seu time no começo da partida, que não tem sido boa nos dois primeiros duelos das Finais.

E Kevin Durant?


Repórter: Durant, o que você achou do seu último arremesso?
Durant: Tive uma boa oportunidade e errei.

[Mesmo] Repórter: Você acha que sofreu um contato?
Durant: Errei o arremesso, foi uma boa oportunidade e desperdicei.

[Mesmo] Repórter: Então você está dizendo que você não acredita que sofreu falta?
Durant: Isto foi uma pergunta?

Formidável!

Mania de jornalista, que quer forçar o entrevistado a concordar com aquilo que ele acredita ser o certo, ao invés de deixá-lo simplesmente falar sua opinião.

Durant agiu com excelência e não reclamou por reclamar, nem pôs em outro a responsabilidade que não compete.

Fisher, Ibaka, Brooks e Durant. Representantes do Thunder que exemplificaram o que é estar numa posição que exige hombridade. Nada de “jogar pro ar e pra torcida” dizendo que o juiz foi tendencioso ou coisa do tipo.

Os quatro deram uma lição a todos, explicando a diferença de falta virtual e falta real.

Sim, a NBA usa o virtual (replay) para corrigir falhas, como por exemplo: se a cesta foi antes ou depois do estouro do cronômetro, se foi um arremesso de três ou não... Entretanto há limites para o uso do recurso tecnológico.

Aconteça o que acontecer, conforme destrinchado pelo elenco do Thunder, arbitragem alguma influencia em resultado final de qualquer que seja o jogo.

Por mais que seu comentarista futebolístico preferido diga o contrário.

(GL)
João da Paz

© 1 Ronald Martinez / Getty Images
© 2 Mike Ehrmann / Getty Images

Especial - Finais da NBA 2012


Artigos do Grandes Ligas sobre jogadores do Oklahoma City Thunder e Miami Heat, times protagonistas das Finais da NBA - temporada 2011-12:

Contraste do Eu – Kevin Durant (23 de Novembro de 2009)

A dieta do desafio – Russell Westbrook (28 de Abril de 2010)

Personalidade – Derek Fisher (12 de Junho de 2009)

O que for preciso – Chris Bosh (11 de Janeiro de 2010)

Mais do que um MVP – Dwyane Wade (17 de Março de 2009)

LeBron James não é o Corinthians...


...que precisa de um título para afirmar sua grandeza.

O Sport Club Corinthians Paulista é um dos maiores clubes do Brasil. LeBron James, ala do Miami Heat, é um dos melhores jogadores da história da NBA. Ambos buscam troféus, naturalmente. Vencer até atingir a glória. Mas o título da Libertadores para o Corinthians, e o título da NBA para LeBron, são honras que acrescentarão riqueza ao currículo de cada. Não conquistar tais títulos não os desqualificam como referências em seus respectivos esportes.

No Corinthians, a obsessão por levantar a taça da Libertadores, principal campeonato de clubes da América do Sul, prejudica e afeta diretamente o time na sua preparação e atuação dentro de campo – embora a abordagem para a competição tenha mudado recentemente.

Tive o privilégio de acompanhar a montagem de uma equipe importante na história do Timão: campeã do Brasileirão 2005. Apesar de ser a melhor equipe daquele ano no país, importante não era o título, mas sim uma vaga para o torneio continental. Campeonato encarado com esta metodologia, de se classificar para a Libertadores 2006; e o Brasileirão tido como secundário.

O período que estive no Corinthians, final de 2004 e início de 2005, foi justamente quando o time começou a se construir. A conversa era sempre neste tom: quem pode ajudar na conquista da Libertadores?

Com o título do Brasileirão 2005, nada mais importava a não ser a Libertadores do ano seguinte. Logo, as outras competições foram deixadas para trás. Em 2006, o Corinthians terminou o Paulistão em 6º, eliminado nas oitavas de final na Sul-Americana, 9º colocado no Brasileirão...

...e eliminado da Libertadores nas oitavas de final, pelo River Plate, time argentino. O jogo eliminatório foi em casa, no estádio do Pacaembu. Partida esta registrada pela revolta da torcida corinthiana com a derrota de 3 a 1, encerrada aos 40 minutos do segundo tempo pelo confronto entre torcedores e polícia. Sem motivo convincente, invadiram o gramado tentando agredir os jogadores do alvinegro.

Na construção desta equipe, lá nos primeiros meses de 2005, se imaginava que o Corinthians iria fechar com a possível conquista da Libertadores. Este pensamento mudou e o clube precisava ganhar uma sequência na competição, estabelecer-se nela – como agora, terceira Libertadores seguida disputada pelo Timão.

Está na semifinal, enfrenta o Santos. Pode ser campeão, pode perder nesta fase. Porém o que importa é continuar em evidência, buscar disputar em 2013, 2014... O título da Libertadores será  valioso sim, contudo não deve ser colocada uma pressão desproporcional no elenco, pois aberrações como ser eliminado na primeira fase pelo Tolima (time colombiano) pode voltar a acontecer – foto abaixo.


Once Caldas (Colômbia) tem um título da Libertadores-2004, é um time grande? Esta conquista o fez relevante? E o São Caetano, que em 2002 disputou a final da Libertadores contra o Olímpia (Paraguai), venceu o primeiro jogo (1 a 0) fora de casa e na volta, estádio do Pacaembu, com dois pênaltis desperdiçados por Marlon e Serginho, perdeu o título para o time paraguaio?

Quantas temporadas que o São Caetano não joga o Brasileirão?

Exato...

***

Mark Madsen é bicampeão da NBA; Charles Barkley tem 0 título

Conhecido pelo estilo peculiar de dançar um rap ao som do The Diesel (Shaquille O’Neal), Mark Madsen, com clamorosas médias de 2.8 PPJ (2000-01) e 3.2 PPJ (2001-02), levou dois anéis de campeão da NBA nestas respectivas temporadas. Outros “talentos” da NBA têm mais títulos que Charles Barkley (lenda da associação, membro do Dream Team) e que LeBron James: DeShawn Stevenson (2011 – Dallas Mavericks), Brian Scalarbine (2008 – Boston Celtics), Darko Milicic (2004 – Detroit Pistons)... este peculiar “hall da fama” é extenso.

Em 1996 a NBA completou 50 anos e montou uma lista com os 50 melhores jogadores da história da associação (até então). Quem participou da votação: jornalistas especializados, ex-treinadores e ex-jogadores, e treinadores e jogadores em atividade. Dos 50 atletas escolhidos, 11 estavam em atividade e destes, 4 não conquistaram o título da NBA: Patrick Ewing, Karl Malone, John Stockton e Charles Barkley.

Quem conhece a história da associação se atreve a dizer que estes quatro jogadores não são grandes ou não merecem estar na lista?

Fora esses, outros jogadores entre os 50 não conquistaram título: Elgin Baylor, Dave Bing, George Gervin, Pete Maravich e Nate Thurmond.

Quem conhece a história da associação se atreve a dizer que estes cinco jogadores não são grandes ou não merecem estar na lista?

***

Não 2, não 3, não 4...

Assim que chegou em Miami, LeBron cometeu erros graves – e se desculpou por alguns. Lidou muito mal com aquela situação que até hoje é discutida aos berros. Uma das coisas que ele disse naquela repudiável apresentação para torcida o assombra até hoje: “Não 2, não 3, não 4, não 5, não 6, não 7...”. Resposta a pergunta do mestre de cerimônia que questionou sobre se o Heat iria vencer um título da NBA – por isso que LeBron começou sua resposta com 2.

Continuando na resposta de James, disse acreditar na possibilidade de ganhar múltiplos títulos em Miami. Fazer a contagem foi um falha letal, porém o pensamento não tem que ser este, crer ser possível ganhar quantos títulos estive ao alcance? Ou você, como presidente de uma franquia que gastou milhões para contratar uma super estrela, gostaria de ouvi-la dizendo: “Tô aqui pra ganhar um título só, não tá bom? No resto do tempo, vou gastar a grana que tenho na Miami Beach”.


Michael Cooper (foto acima) é um dos mais importantes jogadores da franquia Lakers. Membro do elenco Showtime, venceu 5 vezes a associação (1980, 1982, 1985, 1987 e 1988) e eleito o melhor defensor em 1987. Após a carreira na NBA virou treinador e no ano 2000 assumiu o comando do Los Angeles Sparks, equipe da WNBA. Teve uma carreira vitoriosa, ganhando 2 campeonatos da liga feminina: 2001 e 2002.

Em 2003 as Sparks chegaram às Finais, mas perderam para o Detroit Shock. Eram três decisões consecutivas, como motivar a equipe para a temporada posterior?

Cooper estabeleceu, antes do campeonato 2004 começar, uma meta: fechar a temporada regular invicto. A declaração pegou mal na imprensa e com os adversários. Minutos antes do jogo de abertura do campeonato daquele ano, contra a Storm em Seattle, o treinador reafirmou o que falara. Resultado final da partida: Storm venceu (93 a 67). Após o duelo, Cooper foi entrevistado e os repórteres questionaram sobre como ficaria o plano de terminar a temporada sem derrotas. Michael reformulou sua declaração: “Agora a meta é encerrar a temporada regular com apenas uma derrota”.

Este objetivo de invencibilidade servia como motivação para as jogadoras que tinham no currículo três finais e um bicampeonato, criando algo ousado e novo para mantê-las no foco, de se dedicar a cada jogo para cumprir o que fora determinado – Michael Cooper, após 20 jogos (14v-6d) se transferiu para a NBA, assumindo cargo de assistente técnico do Denver Nuggets.

Na primeira temporada em Miami, LeBron, junto com seus companhieros, chegou à Final da associação. Na segunda temporada está próximo de conquistar novamente a Conferência Leste – jogo 7 contra o Boston Celtics no sábado dia 09. Seja eliminado ou avance, o pensamento de repetir uma grande campanha na temporada  2012-13 será posto em prática, visto que isto o motiva a continuar treinando, se aprimorando para manter a excelência.

Três MVP’s em nove temporadas. Melhor jogador da NBA nos últimos quatro campeonatos. LeBron está na galeria dos melhores jogadores da história da liga; o coloco no time ideal de todos os tempos, junto com Magic Johnson, Michael Jordan, Kareem Abdull-Jabar e Wilt Chamberlain. Pode terminar sua carreira sem títulos, ou com 2, 3, 4, 5, 6, 7... Independente disto, sua grandeza já está estabelecida.

Numa partida com enorme pressão, fora de casa e “as costas na parede” (como dizem os americanos), LeBron marcou 45 pontos no jogo 6 das finais da Conferência Leste (quinta, dia 07) – veja vídeo abaixo.



Prefiro assistir estes lances sorrindo ao invés de ranger os dentes.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Getty Images
© 2 EFE
© 3 NBAE

Quem ganha, quem perde


O resultado final do jogo 3 das finais da Conferência Oeste da NBA favoreceu o Oklahoma City Thunder: 102 a 82 contra o San Antonio Spurs. Mas, o Thunder venceu ou os Spurs perderam?

A manchete do caderno de esportes do jornal The New York Times de 1º de Junho estampa: “Após 20 vitórias, os Spurs tropeçam em Oklahoma City”. A matéria enfatiza a histórica sequência que o time alvinegro conseguiu. Realmente 20 é um número importante neste contexto, porém são os 20 pontos de diferença que o Thunder abriu de margem na vitória.

Os Spurs têm tido preferência na mídia especializada em NBA por estar fazendo jogos de excelente qualidade. Dizem que o time demonstra em quadra um “puro basquete” e que apresenta “uma clínica de como se deve jogar”. Este carinho pelo San Antonio é diferente de todos os outros anos, mesmo aqueles nos quais a equipe levou o troféu Larry O’Brien, pois agora os comandados de Greg Popovich agem diferente: é um time de ataque.

Isto não é de hoje, deste momento. Em Fevereiro de 2011 você leu aqui no Grandes Ligas que o San Antonio Spurs estava mudando sua filosofia de jogo e passou a marcar mais cestas ao invés de sofrer menos pontos. Todos quatro títulos da franquia sob a regência de Popovich foram conquistados com base na defesa. Por isso que aquelas equipes não receberam amor da mídia, diferente do que acontece nestes playoffs.

Ter (o time defensivo dos) Spurs nas Finais é derrota para as redes de televisão detentora dos direitos. De 2000 até 2011, as três piores médias de audiência das Finais da NBA teve os Spurs em quadra e a pior desde 1976, quando o Nielsen Ratings passou a medir a audiência da decisão: 6.2 em 2007 contra o Cleveland Cavaliers – para o Nielsen Ratings, cada ponto de audiência é igual a 1% das casas americanas com um televisor ligado em qualquer momento da partida.

Como comparação, a média de audiência das Finais da temporada passada, entre Dallas Mavericks e Miami Heat, foi de 10.2.

Além disso, de 1997 até 2001, a pior média de audiência de uma única partida das Finais também teve os Spurs em quadra: 5.3 em 2003 contra o New Jersey Nets, jogo 2.

Como comparação, o jogo 6 das Finais entre Dallas e Miami teve 13.3 de audiência.

Os Spurs tinha o rótulo de não atraente justamente por não empolgar no ataque. Entretanto, no campeonato 2011-12 San Antonio marcou, em média por partida, mais pontos que o Thunder, mas OKC era o escolhido como favorito no Oeste por ter um time jovem, rápido na transição defesa-ataque, atletas que produzem jogadas de efeito... Ao contrário dos Spurs, um time velho que se concentra no ataque de meia quadra, preferindo uma bandeja e não uma enterrada (na temporada regular, Tim Duncan foi quem mais enterrou no time dos Spurs, o 64º entre os que mais enterraram).

Na campanha de playoffs 2002-03, San Antonio marcou +100 pontos em 7 dos 24 jogos. Nos playoffs de 2004-05, foram +100 pontos em 11 dos 23 jogos. Nos playoffs de 2006-07, foram +100 pontos em 7 dos 19 jogos (campanhas campeã da equipe). Na pós-temporada 2011-12, foram +100 pontos em 8 dos 11 jogos até agora...

O ideal confronto nas Finais seria Thunder versus Heat. Mas San Antonio contra Miami, hipoteticamente, daria uma grande decisão, até pelo contraste que há entre os clubes, um choque de diferentes culturas e de como se constrói um time de basquete.

O fã de esporte não perderia caso Spurs e Heat se encontrem nas Finais deste ano.


O Heat, que avança até a conquista do seu bicampeonato da Conferência Leste, lidera por 2 a 0 a série contra o Boston Celtics. Porém estes dois jogos foram tidos mais como derrotas do alviverde do nordeste americano do que vitórias do time de Miami Beach.

Após o primeiro confronto, que contou com uma péssima atuação do Ray Allen, armador dos Celtics, houve um destaque enorme para este aspecto do que para o resultado final. Entre outras coisas, veja alguns exemplos de manchetes após o jogo 1:

Huffington Post/Associated Press: "Celtics cai e perde do Heat, 93-79"

CBS Sports: "Celtics teve três questionáveis faltas técnicas no jogo 1 contra o Heat"

No jogo 2 permaneceu a inclinação em dizer, direta ou indiretamente, que os Celtics perderam e não o Heat que venceu. Isto ampliado pela brilhante atuação de Rajon Rondo: 44 pontos, 10 assistências e 8 rebotes. As matérias do jogo se resumem na frase “Mesmo com 44 pontos de Rondo, Celtics não vence Heat”. Ou:

ESPN: "Rajon Rondo excepcional, mas LeBron, Heat abrem 2 a 0"

Quem é mais excepcional: quem perde o jogo com as estatísticas que Rondo produziu, ou quem sai vencedor com 34 pontos, 10 rebotes e 7 assistências (e 1 erro)? Se fosse LeBron James o responsável por ser o primeiro jogador na história dos playoffs da NBA a marcar +44 pontos, +10 assistências e +8 rebotes, provavelmente a palavra “excepcional” não estaria ao lado do seu nome após uma derrota, mesmo com estes números.

Não estaria porque não esteve.

LeBron não é bom nos playoffs, certo? Ao menos é a reverberação do senso comum. Nas últimas pós-temporadas com o Cleveland Cavaliers esta análise ridícula cresceu, de que ele não é um jogador para esta época do campeonato (um fracassado). Pois bem:

Performances de LeBron James nas semifinais da Conferência Leste contra o Orlando Magic, 2008-09: Jogo 1 – 49 Pontos, 6 Rebotes e 8 Assistências; Jogo 3 – 41 P, 7 R e 9 A; Jogo 4 – 44 P, 12 R e 7 A; Jogo 5 – 37 P, 14 R e 12 A.

Performances de LeBron James nas seminais da Conferência Leste contra o Boston Celtics, 2009-10: Jogo 1 – 35 Pontos, 7 Rebotes e 7 Assistências; Jogo 3 – 38 P, 8 R e 7 A; Jogo 6 – 27 P, 19 R e 10 A.

Excepcional ou não?

Como dizem na NBA, uma série de playoffs só começa quando o time da casa perde. Assim, tudo se mantém, já que nenhum visitante ganhou nestas finais de Conferência. Há chance sim de o Thunder e/ou os Celtics chegarem à grande decisão, contudo o caminho que está sendo traçado é outro: Spurs versus Heat.

Com San Antonio vencendo os jogos contra o Thunder e o Boston perdendo os jogos contra o Heat.    


(GL)
Escrito por João da Paz
© 1 Christian Petersen / Getty Images