Faz sentido vender o New York Yankees


Esta foi a capa (à esq.) do tabloide New York Daily News de ontem: “Buy, Buy, George?” – e a contra capa (à dir), que dá sempre destaque para o esporte local, com a manchete “The $ 3 billion question”. Tamanho destaque que leva a uma reportagem do jornal que mostra indícios da venda do New York Yankees; dando adeus à família Sreinbrenner (por isso a brincadeira na capa de “Buy, Buy” [tr. compre, compre], que tem pronúncia parecida com “Bye, Bye” [tr. tchau, tchau]) e mostrando o valor que potencialmente a franquia pode ser vendida.

Não é exagero dizer que vale mais que US$ 3 bilhões.

A cidade de New York ficou efervescida e o assunto passou a ser o tema da vez em conversas informais, programas de rádio e TV, nas plataformas sociais online... Por isso os Steinbrenner’s representados por Hal, um dos filhos de George que assumiu a franquia após a morte do pai em 2010, deixaram claro que não tem intenção de vender os Yankees e que a reportagem é “ficção”.

Verdade ou não, eles não iriam admitir que “procura-se” compradores para, segundo a revista de economia Forbes, o segundo clube esportivo mais valioso do mundo: US$ 1.850 bi (valor estipulado em 2011) – ficando atrás do Manchester United (futebol, Inglaterra) e empatado com o Dallas Cowboys (NFL).

Quando se fala em venda de clube da MLB, principalmente na atual conjuntura financeira que a liga passa, logo se pensa que tal produto está falido ou indo pra falência. São os casos do Los Angeles Dodgers e Texas Rangers, clubes que recentemente passaram por mudanças de donos.

Os Rangers, atuais bicampeões da Liga Americana, começaram a mostrar problemas financeiros em 2009 quando o dono era Tom Hicks. Em Janeiro de 2010 Hicks entrou em acordo com um grupo liderado pelo lendário pitcher Nolan Ryan e o advogado Chuck Greenberg para vender o clube por US$ 570 milhões (aproximadamente). O negócio acabou não sendo fechado, virou uma confusão e a liga ameaçando assumir o controle do time, e em Maio do mesmo ano, com uma dívida em torno de US$ 575 milhões (grande parte de salários atrasados de jogadores) os Rangers declaram falência. Em 4 de Agosto de 2010 a corte de falências local declara um leilão público para decidir quem assume o clube e Ryan/Greenberg ganham com uma oferta de US$ 385 milhões, vencendo o grupo do empresário Jim Crane – Crane, em Novembro de 2011, comprou o Houston Astros.

Falta de um acordo firmado anteriormente causou prejuízo à Tom Hicks acima do esperado, não aproveitou a oportunidade.

Os Dodgers passaram por uma novela mexicana cheia de capítulos envolvendo o divórcio dos antigos donos, Frank e Jamie McCourt – que você acompanhou aqui no Grandes Ligas em Suave Veneno e Ainda resta uma esperança. Em 2011, o comissário da MLB, Bud Selig, assumiu o controle da franquia por se preocupar com a administração das finanças. Em 27 de Junho do mesmo ano os Dodgers declaram falência. Em Março de 2012 a venda dos Dodgers foi fechada com um grupo de investidores (com a participação de Magic Johnson, lenda da NBA) que comprou os azuis de Los Angeles por US$ 2 bilhões.


A Forbes avaliava os Dodgers por volta de US$ 1.4 bilhões. Logo após acontecer esta histórica (e astronômica) aquisição o presidente dos Yankees, Randy Levine (foto acima © AP), foi questionado pela ESPN sobre a venda da tradicional franquia e disse: “É um preço incrível. Se eles valem 2 bilhões, só posso imaginar quanto vale os Yankees. Mas o interesse de vender a franquia é absolutamente zero”.

Justamente nesta curiosidade de saber quanto vale os Yankees que a família Steinbrenner entrou em Wall Street, centro financeiro de New York, para saber quanto vale sua franquia. O repórter do Daily News, Bill Madden, ouviu pessoas influentes do mercado nova-iorquino e defende a veracidade da sua matéria contra a negação de Hal. Sabiamente, Madden afirmou que ouviu pessoas com conhecimento da causa e que sabem do burburinho, não pessoas anônimas que escolheu aleatoriamente nas ruas da cidade.

Longe de passar por crise financeira, a venda dos Yankees faz sentido por aproveitar o momento do mercado e a situação que o clube a família se encontram.  A inocente pergunta “Se os Dodgers valem 2 bi, quanto vale os Yankees?” pode ter uma resposta do tipo “3 bi!” e atiçar a vontade de não desperdiçar a oportunidade. Este valor, 3 bi, foi o que a reportagem de Madden apurou com os homens de negócios de Wall Street.

Vale mais. Os Yankees tem uma ficha histórica sem igual em todos os esportes americanos. Assim como os Dodgers (em Los Angeles), estão num grande centro metropolitano, só que New York é a megalópole mais importante do mundo. Possui uma base de fãs incomparável e um importantíssimo empreendimento no mundo de hoje da MLB: uma TV própria.

A YES Network tem participação direta nas ações do clube (34%) junto com os Steinbrenner’s. A rede de TV por assinatura, que transmite os jogos dos Yankees, faturou em 2011 a bagatela de US$ 224 milhões – US$ 90 mi pagos ao NYY pelos direitos de imagem. É um ativo super importante porque controla os jogos ao vivo, de grande importância pela audiência que atrai (o trunfo das TV’s americanas) e, consequentemente, pelo relacionamento com os patrocinadores locais, por tratar diretamente com os fãs dos Yankees em New York.

Somado a isso tem o moderno estádio e jogadores de imenso prestígio no elenco.

Vale mais que US$ 3 bilhões.

Bom, este é o valor que se cogita agora, mas pode cair posteriormente. Com um olhar na escalação do time, percebem-se atletas de grande talento, porém de idade avançada e com contratos altíssimos de longa duração. Não há uma renovação nítida em operação nos Yankees. O próprio Hal expôs a vontade de reduzir a folha salarial e não tomar atitudes que seu pai fazia: pagar quanto queria aos jogadores e injetar dinheiro da família para conseguir isto – na MLB não existe teto salarial. Há uma multa quando um valor é ultrapassado, contudo ela pode ser paga sem problemas e os Yankees, até então, nunca se importaram com isto.

Esta postura de Hal indica que não há tanta dedicação dele, muito menos de seu irmão Hank (também dono da franquia) em tocar os Yankees com a paixão que o pai deles tinha. Era um personagem polêmico e folclórico, satirizado com maestria pelo seriado Seinfeld, mas se dedicava ao clube e tudo que o envolvia, mesmo morando nos últimos dias da sua vida na cidade de Tampa Bay.

Os fãs não viram com surpresa a notícia da possível venda dos Yankees. Grande parcela, inclusive, quer a família Steinbrenner fora. Se por parte de Hal e Hank não existe um fervor para tocar o clube como deve ser, e se concentrar em outros negócios, o momento certo de vender é agora. Com o mercador inflacionado pela venda dos Dodgers, esta é a chance de ganhar um bom dinheiro; o futuro pode trazer uma quantia menor quando a empolgação do mercado abaixar.

Um homem bilionário ficou em segundo lugar na venda dos Rangers e dos Dodgers e está louco para acrescentar um clube de beisebol aos seus “brinquedinhos administrativos” (até o Chicago Cubs tentou comprar). Seu nome: Mark Cuban.

Vender os Yankees faz sentido, mas para o Mark Cuban?



(GL)
Escrito por João da Paz

O inferno são os outros e a culpa não é minha


A NFL passa por uma crise de imagem e o comissário Roger Goodell (foto acima), o chefão da liga, faz de tudo para evitar manchas permanentes. Sua escolha é proteger o jogo e o escudo da organização, mas o público, junto com uma parcela dos jogadores, dizem que o homem de terno está prejudicando o jogo.

Na semana passada, mais de 100 ex-atletas entraram com um processo federal na cidade de Atlanta, estado da Georgia, contra a NFL. Entre os motivos estão: “...o football profissional não alerta seus jogadores apropriadamente sobre concussões”; “...a liga falha em proteger seus jogadores de lesões cerebrais relacionadas com o football”; e “...não foi feito o suficiente para informar os jogadores sobre os perigos destas concussões e o descaso continua”.

Poderia estar nestes autos: “A NFL é culpada por todos os problemas que tenho”.

Estas centenas de jogadores formam com outros milhares uma frente contra a NFL e as concussões que acontecem no campo de football. Que o esporte é violento todos sabem, mas será que os jogadores tem esta noção? Que ao vestir o uniforme por cima de um equipamento protetor, colocar o capacete e entrar no gramado, correm grande risco de se lesionar? Será que nenhum destes acusadores é homem para se colocar de pé e assumir responsabilidade por suas ações?

Claro que estas lesões cerebrais (concussões) é um problema sério no futebol americano – tema abordado aqui no Grandes Ligas – , porém é preciso tomar cuidado com a generalização e determinar um julgamento utilizando puramente o senso comum em detrimento do científico. Destes milhares de jogadores/delatores, todos são de fato vítimas de concussões? Ou estão querendo fugir da responsabilidade e tentar aproveitar a situação?

Entre as histórias destes ex-atletas há os que culpam a NFL porserem viciados em apostas – recaída que vem de problemas mentais, estes originários do tempo de pancadas fortes dentro de campo, dizem. Perceba a longa intercalação até chegar na NFL; o que se repete na maioria dos casos protocolados.

Um comportamento típico do ser humano. Ou o filho é ruim nos estudos por culpa sua (pai ou mãe)? É culpa do governo, da escola, dos professores, dos amiguinhos... E os pais não tem nada a ver com isto! Se fulano bebe é porque um parente é/foi alcoólatra; se sicrano tem uma vida dissoluta é culpa do sistema; se beltrano de tal tem comportamento agressivo é culpa da música que escuta; (e assim vai).

Circunstâncias podem sim influenciar, mas ela não é agente de qualquer ação de uma pessoa. Queiram ou não, somente nós podemos prestar conta pelo que fazemos e quais atitudes tomamos, por mais que haja uma combinação de causa externa e interna para o comportamento do ser humano. Contudo, a predisposição é jogar a culpa no outro, o que a psicologia chama de projeção.

Mesmo que eu crie meu “inferno”, o responsável pela obra “são os outros”.

Nem todos os jogadores que passaram pela NFL – ou estão em atividade – sofrem concussões. Nem todos diagnosticados com concussões possuem graves problemas psicológicos. Nem todos que possuem graves problemas psicológicos têm esta patologia diretamente ligada às concussões. Alguém precisa aparecer para desenhar a linha que separa o lógico do ilógico.


Para exemplificar, note a repercussão que um estudo científico divulgado ontem (dia 09/05) gerou. O NIOSH (Instituto Ocupacional de Segurança e Saúde Nacional) é uma agência federal americana, pertencente ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos do Gabinete de Governo dos Estados Unidos, e tem como campo de atuação o levantamento de pesquisas sobre prevenção de doenças e acidentes de trabalho. Fizeram um acompanhamento com 3.439 jogadores aposentados da NFL e descobriram que a taxa de morte neste grupo foi menor do que a dos homens americanos. Proporcionalmente, para ficar dentro da média, se esperava que deste número, 625 jogadores falecessem, enquanto o número de mortos foi de 334.

Mas jornalistas e atletas negaram este fato científico, que traz diversos detalhes sobre a morte em consequência de doenças específicas. Disseram que o estudo não é certo. Ora, estão dando mais valor ao senso comum, que o football é violento, para validar este argumento que defendem do que acreditar num estudo totalmente isento de subjetividade.

O NIOSH fez a todos os que são coerentes um enorme favor. Este dado foi espalhado bem na semana que a NFL sofre acusações por todos os lados. Criam um monstro alicerçado na mudança que o esporte teve se tornando mais rápido e, segundo os acusadores, mais violento. Então o esporte era rápido e violento? Sim, esta é a característica do football. Todos sabem disto, inclusive Roger Goodell que por entender que o esporte é mais rápido e mais violento, está assumindo a sua responsabilidade de fazer algo para aumentar a segurança dos jogadores da liga e se posicionar como o chefão.

Assim, multas são distribuídas aos que fazem uma jogada com violência desproporcional, suspensões são distribuídas. Quem chia por isso? Os jogadores que recebem a multa e são suspensos. Criticam Goodell pela severidade e rigor, mas a punição ocorreu por uma razão. Não seria melhor olhar no espelho primeiro antes de se indignar?

Goodell também mexe nas regras do jogo com o intuito de proteger seu produto. Fãs entram nesta, junto com os jogadores, e dizem que o comissário está direcionando o football a ficar mais fraco, tirando as nuances principais do esporte. Ué?! Mas não é a violência que causa tantos danos aos atletas? Combater agora não é a melhor solução?

Existe esta necessidade de impor um limite para que uma tragédia não ocorra em campo com milhões de pessoas assistindo – e que vão culpar a NFL por isso, evidente. Por o esporte ser violento em si, regras impostas não acabará com esta característica, porém pode ajudar a diminuí-la. Antes não se preocupavam com isto, mas hoje Goodell encara esse tópico com seriedade que requere.

O football sempre foi agressivo. Lá nos primórdios, em 1905, o então presidente americano Theodore Roosevelt ameaçou banir a pratica doesporte nos Estados unidos por causar mortes e lesões graves. No mesmo ano foi tomada medidas para melhorar a segurança. Por exemplo: a introdução do passe para frente.

O sindicato dos jogadores se posiciona contra Goodell, argumentando que ele busca os interesses da liga. Lógico! O que mais poderia ser? A NFL é uma entidade privada que tem comando e o comissário está cumprindo seu papel de organizar a liga e protegê-la. Parte dos atletas podem não notar, mas eles também estão sendo beneficiados.

Os delatores? Bom, deveriam sofrer uma brusca cisão e deixar lutar por direitos (financeiros e médicos) quem realmente precisa e tem um bom ataque para pleitear. Os que sobram deveriam tirar a trave do olho antes de querer tirar o cisco do olho da NFL.

Jean-Paul Sartre, francês, foi o filósofo do existencialismo. Numa reflexão Entre Quatro Paredes surgiu a bela frase "o inferno são os outros", pela incapacidade humana de compreender fraquezas e reconhecer erros. Mal sabem que nesta posição é que pode ser feita uma reviravolta, simplesmente por admitir e não responsabilizar ninguém. Mas como isto é raro de acontecer, Sartre dá a dica:

"Pois bem, continuemos..."


(GL)
Escrito por João da Paz

© 1 Mike Stobe / Getty Images