Guia Final Four 2011

A grande decisão do basquete masculino da NCAA, que será realizada no Reliant Stadium em Houston – casa dos Texans (NFL) – será um inevitável encontro de opostos. Uma semifinal terá duas universidades tradicionais (Kentucky x UConn) e a outra apresenta um duelo entre programas com pouca história no esporte (Butler x VCU). Na próxima segunda (dia 4) a final lembrará a do ano passado: a escola “toda-poderosa” contra a “zebra”.

Para a NCAA seria mais interessante ter quatro fortes universidades no seu principal evento (o segundo maior dos esportes americanos, atrás do Super Bowl), mas nada que afete o lucro da entidade. 85% do orçamento total da NCAA vêm do Torneio e um exemplo da enorme quantia de dólares que gira em torno do Final Four está estampado no preço dos ingressos.

O Reliant tem uma capacidade máxima de 71.000 espectadores – este número aumenta com a quadra no centro do campo e arquibancadas móveis ao redor. O ingresso mais barato, aquele nas alturas onde é possível identificar os jogadores somente através do telão, custa (hoje) US$ 200; o valor dos ingressos mais próximo da quadra está por volta de US$ 10.000.

Fora a publicidade...

Então cabe a pergunta (que será respondida com mais profundidade em outra ocasião): e os jogadores, nada ganham? Não e nem devem. Lembre-se que são estudantes atletas, não gastam nada com seus respectivos cursos. O jornal USA Today fez o favor de calcular o valor de cada bolsa-estudo dos atletas das respectivas universidades do Final Four 2011 – excluindo Butler, que não tem obrigação de divulgar gastos por ser uma instituição privada:

UConn: US$ 137.121/ano por atleta
Kentucky: US$ 140.467/ano por atleta
VCU: US$ 127.932/ano por atleta

Deixando este assunto para outro dia, vamos conhecer um pouco mais as finalistas deste ano

***



Criada em 1885 por membros da tradicional igreja protestante Disciples of Christ (porém a universidade é a laica), Butler, localizada na cidade de Indianápolis, estado de Indiana, tem uma das melhores faculdades de economia dos EUA. Quando a revista Business Week, da Bloomberg e especializada em finanças, colocou o curso como o 63ᵒ do país (2010), os alunos fizeram inúmeros protestos por achar uma baixa posição. O curso de comunicação é também competitivo e por 44 anos (1950–1994) Butler operava a maior e mais poderosa rádio (AM) universitária da América. Hoje o corpo estudantil é composto de 4.500 pessoas

Em 2010 eles conseguiram traçar uma história comovente no torneio da NCAA chegando até a final (perdeu para Duke). A exposição na mídia rendeu uma propaganda para a universidade totalmente fora de qualquer padrão. Em 2011 houve um aumento de 41% em admissões (comparando com o ano anterior) e 25% de aumento na procura por ingressos dos jogos masculinos de basquete. A diretoria da universidade contratou uma empresa de relações públicas para calcular o valor da publicidade que Butler ganhou ao aparecer constantemente, durante o Torneio de 2010, em jornais, TV´s e sites. O resultado, neste período, foi de estimados 660 milhões de dólares.

Neste ano a situação é diferente, já que o time de Butler é o mais experiente dos quatro e encara o Final Four com outra perspectiva. A temporada dos Bulldogs não foi recheada de sucessos e uma vexatória derrota reavivou o elenco. Após perder para Yougstown State, a penúltima colocada na sua conferência (Horizon League), os jogadores se reuniram e determinaram mudanças. Exigiram maior empenho e dedicação de cada um, cobrando performances melhores e mais condizentes a qualidade do time. Desde então foram 13 jogos e nenhuma derrota.

***



A Universidade de Connecticut (UConn) é considerada uma das melhores universidades públicas de New England, região localizada no nordeste dos Estados Unidos que engloba 6 estados. O campus principal fica em Storrs, cidade rural com 10 mil habitantes, um contraste com a universidade que tem um total de estudantes (somando com instalações em outra cidade, Farmigton) de 28 mil e 600 pessoas. Uma marca da UConn são as enormes opções de lazer, com mais coisas para fazer dentro da universidade que fora. Um evento anual chamado Spring Weekend atrai milhares de visitantes que vão até o campus em Storrs para assistir shows de renomados artistas – ano passado subiram no palco Jack´s Mannequin e KiD CuDi.

O time de basquete (que tem dois títulos: 1999 e 2004) nem sequer participou do Torneio de 2010. As expectativas para esta temporada não eram boas e se esperava uma campanha razoável. Apesar de vencer um torneio preparatório no Hawaii, a equipe começou o campeonato sem aparecer no ranking e terminou em nono lugar na Conferência Big East (temporada regular). O crescimento do time iniciou no campeonato da Conferência, encerrando com o título da Big East. Entrou no Torneio com a moral elevada e recebe o rótulo de favorita para ganhar tudo em Houston, com a liderança do armador Kemba Walker e do ala Jeremy Lamb.

***



Fundada em 1865, a Universidade de Kentucky é pública e possui um alto número de estudantes: 27.200. Um marco na história é a criação da primeira emissora de rádio FM controlada por uma universidade (1940).

Porém, o que faz a universidade ser conhecida é o time de basquete masculino. O programa é o mais bem sucedido da história, o que tem maior número de vitórias. Ao longo do tempo grandes times vestiram o azul e branco dos Wildcats e registraram suas excelentes performances. Um destes recebeu o nome de Os Intocáveis ("The Untouchables"), formado em 1996 e considerado o mais talentoso elenco da história da NCAA, com nove jogadores que entraram na NBA (Ron Mercer, Tony Delk, Derek Anderson, Antoine Walker, Wayne Turner, Mark Pope, Walter McCarty, Nazr Mohammed e Jeff Sheppard). Conquistaram um dos sete títulos da NCAA que a universidade possui: 1948, 49, 51, 58, 78, 96 e 98.

Nessa temporada, mais uma vez, o treinador John Calipari apostou em novatos. Em 2010 ele perdeu quatro jogadores para a NBA (John Wall, Patrick Patterson, DeMarcus Cousins e Eric Bledsoe), mas construiu um bom time alicerçado em calouros que provavelmente não estarão na universidade no próximo campeonato (Doron Lamb, Terrence Jones e Brandon Knight). Calipari, já esperando a saída dos seus principais atletas, preparou uma classe de recrutas para 2011-12 que promete ser melhor que as anteriores. Kentucky é a universidade que gasta a maior quantia em dinheiro na busca por novos talentos; para esta temporada o valor investido foi de 434 mil dólares.

***



Com a junção de duas faculdades, a Richmond Professional Institute e a Medical College of Virginia, surgiu em 1983 a Virginia Commonwealth University (VCU), que tem como destaque o curso de medicina e o de artes. A VCUarts, faculdade que cuida de artes e designer, é a número 1 em todo os EUA. A popularidade da universidade é grande e chegou em 2006 ao patamar de 30 mil estudantes; atualmente possui 32 mil. VCU tem parceria com 14 universidades fora dos EUA e uma delas é a Universidade de São Paulo (USP).

O basquete nunca foi sua vocação maior. No começo jogavam em um ginásio para 3.000 espectadores, hoje usado como Centro de Treinamento. Em 2010 os Rams chegaram ao Torneio, mas este ano a esperança era irrisória, visto que terminaram em quarto lugar na sua Conferência (Colonial Athletic Association) atrás de George Mason, Hofstra e Old Dominion. Contudo eles ganharam uma vaga no First Four, dois jogos criados na expansão do Torneio para 68 times. Então foram 5 vitórias contra 5 times fortes de 5 grandes conferências: USC (da Pac-10), Georgetown (da Big East), Purdue (da Big Ten), Florida State (da ACC) e Kansas (da Big XII) – por uma diferença média de 12 pontos.


(GL)
Escrito por João da Paz


© Os logos aqui apresentados pertencem as respectivas universidades. Todos os direitos reservados

Derrick Rose MVP da NBA é um Produto da Mídia


Toda temporada surge o mesmo assunto dissecando o que significa o prêmio de MVP da associação. Um dos argumentos defende a ideia que o troféu deve ser entregue ao melhor jogador, outro indica que quem merece levar é o jogador mais importante para sua equipe, ainda há o que defende a honraria ao jogador mais valioso para a liga.

Seja qual for a tese, Derrick Rose, armador do Chicago Bulls, não merece ser o MVP do campeonato 2010-11 – porém a imprensa já o escolheu e não existe muita coisa que possa ser feita para reverter este quadro.

Rose apareceu como possível vencedor do MVP no começo de 2011 quando não havia um forte candidato na disputa. A evolução dos números dele ao comparar com os outros anos de sua carreira e a boa campanha dos Bulls favoreceram sua posição no topo. Após um breve tempo LeBron James, ala do Miami Heat, começou a atuar no mesmo nível que lhe rendeu os dois últimos prêmios de MVP e uma disputa foi criada. Porém sem muito favorecimento ao atual detentor.

A cada rodada Rose ganhou mais destaques na imprensa valorizando suas ótimas performances e exaltando seu estilo de jogo decisivo. LeBron ficava rotulado com “mais do mesmo”, contudo isso é suficiente para colocá-lo a frente de Rose. Vale ressaltar que é notório o desprezo que membros da mídia tem do LeBron e são poucos que o defendem. Estar nesse lado da força não é atrativo, assim a campanha do armador do Chicago ganha mais adeptos.

No começo deste mês tudo se definiu. Inúmeras reportagens e análises eram publicadas diariamente exaltando Rose e o que “ele fez” com os Bulls. Assim que Michael Jordan, maior atleta da história da associação, afirmou (em 09/03) que Rose merecia ganhar o MVP desta temporada, tal declaração foi como um decreto de um rei.

O favorecimento a Rose é claro e aberto, mas com poucos fundamentos sustentáveis. Deixando LeBron para o final, vamos compará-lo a outro jogador: Russell Westbrook, armador do Oklahoma City Thunder – estatísticas até 29/03, em azul Westbrook e em vermelho Rose.


Westbrook joga, em média, dois minutos a menos por jogo (35 x 37.5); marca menos pontos (22.2 x 25), mas tem melhor aproveitamento em arremessos de quadra (44.5% x 44%), em arremessos de três (35.2% x 32.9%) e vai mais à linha de lance livre (7.8 x 6.7). Westbrook pega mais rebotes (4.6 x 4.2) tem mais assistências (8.3 x 7.9) e mais roubos de bola (1.8 x 1.1).

A similaridade dos números de ambos é muito grande para ser ignorada, embora Westbrook nem perto passa da discussão “MVP”. Só isso desmorona afirmações do tipo “Rose é o incontestável MVP desta temporada” ou “Se o prêmio não for entregue a Rose será um uma injustiça”.

Não e Não.

O bom retrospecto dos Bulls não tem nada relacionado as atuações de Rose e não serve como defesa para sua candidatura ao MVP. Chicago é o líder da Conferência Leste por um motivo: Tom Thibodeau, treinador que veio do Boston Celtics e reformulou a defesa tricolor, que no ano passado foi a 13ᵃ da liga cedendo 99.1 PPJ e hoje é a 2ᵃ melhor cedendo 91.2 PPJ. O ataque continua fraco e os 98.3 PPJ (20ᵒ da liga) são suficientes para ficar atrás de times como Los Angeles Clippers, Sacramento Kings, Toronto Raptors, Minnesota Timberwolves... (clubes que nem nos playoffs vão estar). Como uma equipe que produz tão pouco pode gerar um MVP?

E quando LeBron James é citado no debate, tudo se resolve e outro argumento cai por terra. Dizem: “Como ficaria os Bulls sem Rose?” Respondo: sem muitos problemas.

Aí pergunto: “Como ficaria o Heat sem LeBron?” Respondo: bastante encrencado.


Eis um dado importante: Miami jogou duas partidas sem Dwyane Wade e Chris Bosh juntos em quadra e com LeBron atuando; venceu os dois jogos. Miami jogou duas partidas sem Lebron atuando e com Dwyane Wade e Chris Bosh juntos em quadra; perdeu os dois. Nesta última ocasião, em Janeiro deste ano, LeBron ficou fora por uma lesão no tornozelo. A volta foi contra o Atlanta Hawks e assim foi a performance dele – 34 pontos, 10 rebotes e 7 assistências (vitória do Heat).

Comparar os números de LeBron com Rose não dá, pois tudo favorece o ala do Miami (a não ser a média de assistências por jogo). Para obter a exata noção do ótimo campeonato que LeBron está fazendo, veja os números – média por partida – desta temporada até 29/03 (em negrito) com os da temporada passada (itálico):

Minutos: 38.5 x 39 – Pontos: 26.5 x 29.7 – Arremessos de Quadra: 50.5% x 50.3% - Arremessos de três: 33.5% x 33.3% - Rebotes: 7.5 x 7.3 – Assistências: 6.8 x 8.6 – Roubos de bola: 1.4 x 1.6

A média de pontos caiu porque ele está arremessando menos (18.6 x 20.1); perceba que seu aproveitamento nos arremessos é quase igual. Num esquema de jogo diferente no qual fica menos com a bola e a responsabilidade no ataque é divida com Wade, LeBron fica mais solto e sem obrigação de ser o único criador de jogadas. Além de se adaptar bem ao time de estrelas, manteve sua ótima produtividade.

O melhor jogador da temporada 2010-11 é LeBron James. O jogador mais valioso para sua equipe é LeBron James. O jogador mais valioso para a liga é LeBron James. Contudo a imprensa, que de fato escolhe numa votação a quem será entregue o troféu de MVP, já tem seu candidato que se chama Derrick Rose.

E Russel Westbrook, com uma temporada tão eficiente e produtiva quanto a do camisa número 1 dos Bulls, nem menção honrosa recebe.


(GL)

Escrito por João da Paz

© 1 Arte por 008 Design
© 2 Arte por Rhurst
© 3 Arte por Hoops Design

Cores & Logos: Gangues e os Bonés da MLB

A cena acima é comum, muito comum.

O desenho do ladrão de banco usando um boné do New York Yankees é fácil de confundir com tantos outros retratos falados na cidade de New York, pois cada vez mais cresce o número de criminosos que cometem delitos com o acessório de um dos mais populares times dos Estados Unidos.

Um dossiê feito pela polícia nova-iorquina (NYPD) analisou notícias de jornais, vídeos de segurança e arquivos de delegacias – de 2000 até 2010. Chegou a conclusão que mais de 100 crimes foram cometidos por pessoas com o boné dos Yankees na cabeça. Parte dos bandidos não tem uma paixão fanática pelo clube, mas o status de usar o “NY” e o estilo da marca, popularizada pela cultura hip-hop, faz o boné se tornar super popular; principalmente entre as gangues.

Nem todos que usam o boné com o “NY” é criminoso, porém há muitos gangsters que incorporam a peça como parte do uniforme de ação. Isto não vem de hoje e já faz parte da cultura, tanto que a New Era, empresa que detém os direitos de fabricar (com exclusividade) os bonés dos clubes da MLB, extrapolou ao associar de forma direta o boné dos Yankees com três grandes gangues dos EUA, numa jogada de marketing que eles classificaram como “grande erro”, deixando um cheiro de falsa ingenuidade no ar.

Em 2007 a New Era colocou à venda três bonés com o “NY” na frente, mas usando cores diferentes e que de nenhuma maneira lembravam o time de beisebol. Para a empresa eles foram fabricados como designers aleatórios, sem relação às gangues. Contudo veja as fotos:


O da direita lembra a gangue Bloods, o do centro a Latin Kings e o da esquerda a Crips. Tá claro que foi feito para ser usado por membros ou simpatizantes dos respectivos grupos. A indignação em New York – e em outras partes do país – foi grande em protesto contra a New Era. Não demorou muito para que os perigosos objetos fossem retirados das lojas. Bonés iguais a esses com uma pessoa errada poderia causar estragos.

Não é exagero. Exemplo: se alguém está com um boné azul e entra num bairro ou rua dominada pela Bloods, algo de ruim tende a acontecer; discussões, brigas, espancamentos... Há aqueles que não sabem a correlação de um logo ou cor de boné com determinada gangue, muito menos se o local que ele está andando “é” de determinada gangue. Aqui sim existe ingenuidade – e não numa empresa que trabalha com cultura de rua e desenha detalhados bonés com um nítido objetivo (está com MLB desde a década de 30).

Quem gosta do estilo de roupa no qual o boné faz parte do conjunto, sabe que a marca “NY” é estilosa. A maioria usa sem ter simpatia pelo clube Yankees, muito menos sabem a origem do “NY” e a quem pertence. No Brasil se percebe isto muito bem. Quantos passam nas ruas utilizando o boné com o “NY” nas mais diversas cores e só estão com ele porque é da hora? Evidente que usar um boné com “NY” (ou “LA” do Los Angeles Dodgers) não faz a pessoa uma deliquente, até porque cada um tem uma motivação particular para usá-lo.

Um caso simbólico aconteceu com Taj Simmons, colecionador e dono de mais de 60 bonés da MLB. uma enorme variedade de cores e times. Mora no Sul da Califórnia, berço de fortes e conhecidas gangues, mas nunca teve conhecimento desta associação boné x gangue até visitar, a trabalho, uma escola perto da sua casa. Na ocasião ele usou um boné do Seattle Mariners por achar que combinava bem com sua camisa. Ao chegar no colégio Taj notou que garotos o cumprimentavam fazendo gestos com as mãos. Saiu de lá sem entender.

Começou a busca para descobrir por qual motivo ele recebeu tantos acenos. Achou a resposta ao aprender que o “S” do boné que ele estava usando é associado à gangue Sureños, com marcante presença no Sul da Califórnia – daí vem o nome.

Na Califórnia ocorrem coisas esquisitas. No território dos atuais campeões Giants (San Francisco), há uma acirrada rivalidade com os Dodgers (vem do tempo quando as franquias estavam em New York). Assim, nada de azul por lá – a não ser que você faça parte de uma gangue que se identifica com a marca do clube de Los Angeles. O boné dos Dodgers faz parte da vestimenta da Crips pela cor e da Latin Aspects pelo logo (LA).

Essa conjuntura resulta num estranho acontecimento. O Cincinnati Reds é um time que em campo até mostra bons resultados (chegou aos playoffs no ano passado e tem cinco títulos de World Series), porém não usufrui de tanta popularidade; a não ser pelo boné. A peça vermelha com um “C” no meio é um dos produtos que mais vende nas lojas esportivas dos EUA por um único motivo: a ligação com a gangue Bloods pela cor vermelha. Mesmo com o “C” da rival Crips, membros da Bloods tornaram o boné dos Reds popular entre eles e em todo EUA onde há um set da gangue, lá está a marca “C” – nada relacionado com a torcida do clube.

Bloods e Crips fizeram os bonés dos Reds e Dodgers, respectivamente, se tornarem sucesso de vendas por motivos nem tão nobres. Estas não são as únicas gangues que se identificam com bonés de clubes da MLB, da mesma forma que estes não são os únicos clubes que fazem parte do “uniforme” delas. Bloods, por exemplo, usa o boné do Kansas City Royals (o branco) numa afronta aos Crips; para eles a sigla “KC” significa “Kill Crips” (tr. Morte aos Crips) – existe um da cor vermelha.

Eis outros exemplos:

- A letra “M” do boné do Minnesota Twins é usada para identificar os membros da Maniac Latin Disciples, gangue de Chicago fundada em 1966, parte da aliança Folk Nation – os Twins são rivais de um dos times da cidade, o Chicago White Sox.

- A Folk Nation é uma rede de gangues, criada por Larry Hoover, que une grupos da região Sul e do Meio-Oeste americano. O símbolo deles é uma estrela e o boné do Houston Astros é usado pelos membros.

- Larry Hoover foi o fundador da Gangster Disciples em Chicago. As cores do grupo são azul e preto e eles utilizam o boné do Detroit Tigers pelas cores e pelo “D” – os Tigers também são rivais dos White Sox.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Departamento Policial da cidade de New York (NYPD)
© 2 Reprodução

Adaptação

Desde que chegou a New York, é comum ver em quadra um Carmelo Anthony isolado e pensativo. Um momento extraído para refletir sobre seu novo time e o baixo rendimento que os Knicks apresentam com a mais nova contratação. O saldo após um mês da troca são 7v e 9d, aproveitamento abaixo dos 50% que fez a equipe cair uma posição na classificação da Conferência Leste.

Não era para ser assim. A aquisição de Anthony prometia elevar o jogo dos Knicks e colocá-los como um concorrente forte nos playoffs. Tudo se convergia para uma união ideal, com a volta do jogador a New York, cidade onde nasceu e estado onde cursou a universidade. O glamour da metrópole e o tom agressivo do lugar não intimidariam o jogador, ou será que sim? A pressão de colocar os Knicks em um patamar de relevância afetou o ajuste dele ao novo local de trabalho e ao novo lar?

Nem tanto.

Mesmo na pacata Denver ele desfrutava de uma vida cheia de devaneios, um alto padrão singular. Por mais que estivesse longe do centro nervoso da feroz imprensa, Anthony constantemente lidava com manchetes e reportagens que abordavam seu comportamento e atitudes. Assim seu cotidiano era pauta da mídia, interessada nas suas ações para criar histórias e expô-las ao público com o intuito de vender uma imagem estereotipada do cara irresponsável que nunca seria um mega astro na NBA.

Em alguns casos Melo se pôs em situações críticas, em outras não. Das más e boas escolhas surge o amadurecimento, ajuste necessário a um atleta que goza de um status ímpar e precisa lidar bem com seu próprio jeito de ser. Anthony, apesar de muitas opções equivocadas, evoluiu na matéria “Preciso Ser Adulto”. Um gesto simples simboliza tal maturidade: o corte das tranças em seu cabelo, parte do visual desde criança. Isso ocorreu por um incômodo sentido na pele, pois ele notava que as pessoas ao seu redor não lhe levavam a sério, não o respeitavam pela sua pessoa e não se preocupavam em olhar para o interior do homem; a fachada externa de moleque bastava para os julgamentos.


Então aparece a opção de se adaptar, difícil para um cara que cresceu em um ambiente denso onde é necessário ser duro e defensor de princípios para não ser entregue ao “sistema”. Porém Melo usou a inteligência e soube agir com sabedoria, vencendo o ego e partindo rumo ao mundo dos responsáveis.

Esta dupla imagem se reflete na competição esportiva mais importante do mundo: as Olimpíadas. Em 2004 (Atenas) a seleção americana ficou com a medalha de bronze e Anthony tornou-se o símbolo do fracasso. Em 2008 (Pequim) a seleção americana ficou com a medalha de ouro e Anthony tornou-se o símbolo da redenção. Na China, entre Kobe Bryant, LeBron James, Dwyane Wade, Chris Paul e outros, Anthony foi o líder da equipe recheada de super estrelas.

Logo, depois de tantos obstáculos transpassados, a missão de levar o New York Knicks rumo ao mais alto nível competitivo da NBA está entregue em boas mãos. Agora, porque após 16 jogos as coisas não vão tão bem? Será que Anthony não vai se acostumar com o sistema ofensivo do treinador Mike D´Antoni? (que fez parte da comissão técnica dos EUA em Pequim).

Fato é que Melo diariamente precisa enfrentar a insaciável mídia nova-iorquina. Não ter uma boa relação com ela pode causar um desastre. Na última sexta (18), após a derrota contra o Detroit Pistons, noite que o camisa 7 converteu apenas 2 arremessos de 12 tentados – sua pior partida com os Knicks –, Anthony saiu do vestiário sem falar com os jornalistas, ou melhor, “sem dá uma explicação aos torcedores sobre sua péssima partida”. O acúmulo de derrotas contra times fracos e um resultado desfavorável contra o Milwaukee Bucks no jogo seguinte (dia 20), fez com que os analistas esportivos da cidade duvidassem do potencial do jogador em ser o líder do time e frases como “Ele [Anthony] é parecido com [Stephon] Marbury em termos de atitude e pobre mentalidade”; “[Latrell] Sprewell era melhor”; e “Tái uma versão ampliada de [Allen] Iverson” apareceram nos noticiários sobre o clube.

Quando Anthony decide falar, a sinceridade é ouvida nas suas declarações. A mais recente controvérsia iniciou após ele dizer que o time ainda não está totalmente entrosado e que vai demorar a chegar ao ponto ideal. Somado com o depoimento de Amare Stoudemire, ala-pivô, - “Tem gente aqui que ainda não assimilou como funciona o nosso ataque” – numa clara indireta a Anthony, a imprensa se une numa exagerada cobrança em cima de Melo. Ele tem sua parcela de culpa, mas não é o único e nem deve ser o solitário alvo de críticas.

Neste caso, os torcedores não estão na onda da imprensa. Muitos se posicionam contra o treinador, argumentando (em linhas gerais) que o baixo rendimento do time é culpa do comandante.

Os Knicks passam por um bom problema a ser resolvido, visto que antes de adquirir Anthony o time estava numa ótima posição, a qual reavivou o basquete em New York. A chegada do nativo, um dos grandes nomes da associação, indicava uma evolução drástica no aproveitamento do clube. As derrotas são mais do que vitórias desde a troca e o torcedor, embora esteja do lado de Anthony, não vai aturar um pífio desempenho em quadra.


Melo quer um pouco mais de tempo para se adaptar melhor ao desenho tático de D´Antoni; e não o contrário. O treinador aposta em um modo altamente entregue ao ataque e o jogador é um puro finalizador. Entretanto, a velocidade imposta pelo treinador não se encaixa no estilo mais estático do jogador.

Para o bem de ambas as partes, alguém tem que ceder – assim a harmonia irá reinar.

(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Jared Wickerham / Getty Images
© 2 John Angelillo / UPI