A Dieta do Desafio


Chegar ao topo não é fácil. Ao longo do caminho existem obstáculos e barreiras que estão lá para serem ultrapassadas. Alguns tentam desviar destes impedimentos chamados de desafios, enquanto poucos vão de encontro com a instigação, como se fosse um alimento necessário para sobreviver, uma substância vital na condução rumo ao bom trabalho.

Aqueles que necessitam de desafios são geralmente os mais ousados e triunfantes. Pois além de servir como combustível motor, dá experiência para próximas tarefas que virão pela frente. Russell Westbrook, 21 anos, armador do Oklahoma City, é partidário da dieta do desafio que faz parte do seu dia-a-dia desde quando decidiu jogar basquete. Nestes playoffs, o primeiro de sua carreira, logo surgiu outro estímulo para ele se dedicar a superar a si próprio: passar pela defesa de Kobe Bryant, armador do Los Angeles Lakers.

Quando Westbrook diz que gosta de desafios, ele está afirmando que gosta de vencer, independente das dificuldades impostas pelas circunstâncias ou pelas pessoas. Na High School (ensino médio) seu treinador propôs à Russell um duelo gigante: disputar rebotes contra jogadores mais altos. Então, lá estava o pequeno armador entre pivôs brigando por bolas vindas do aro e da tabela. Ele sempre teve uma boa envergadura e se dava bem contra os grandalhões, aprendendo a se posicionar e ter uma noção mais exata do tempo da bola.

Hoje, a principal característica do jogo de Westbrook é justamente o rebote. Nada vem por acaso. Junto com Deron Williams (Utah Jazz), foram os únicos armadores que terminaram a temporada normal 2009-10 entre os 10 primeiros em pontos, rebotes e assistências (médias por jogo).

A transição para a NCAA foi árdua. O garoto californiano não recebeu boas propostas de universidades, até que a UCLA (Universidade de Califórnia, Los Angeles) cedeu uma bolsa para o armador em 2006, mas só porque Jordan Farmar (Lakers) escolheu ir para a NBA. Não foi chamado para jogar na sua posição, seria reserva de Darren Collison (New Orleans Hornets) ou jogaria como armador-arremessador. Russell não hesitou e aceitou, afinal era mais um desafio.

Nas duas temporadas com UCLA, a tradicional universidade chegou ao Final Four em ambas. Atuar na posição número 2 foi bom para Westbrook, que pôde aprimorar mais o seu arremesso e adicionar outro fundamento ao seu repertório. Em 2007 ele jogou como armador, o que aconteceu somente porque Collison se lesionou. Depois de dois campeonatos, Russell decidiu ir para a NBA, mesmo com os scouts (olheiros) não lhe dando muito ibope, pois não sabiam a sua real posição/estilo de jogo.


Mais um desafio. Westbrook sempre foi armador. Ponto final. A questão de ter jogado como chutador só acrescentou mais qualidade a sua forma de tomar decisões, se sentindo confortável, caso o passe não for possível, em arremessar a bola com precisão. Na preparação para o draft de 2008, ele se juntou com Derrick Rose (jogou na Universidade de Memphis e está no Chicago Bulls) no centro de treinamento do BJ Armstrong, tri-campeão da NBA com os Bulls (1991, 92 e 93). As franquias consideravam Westbrook uma escolha intermediária e só o Memphis Grizzlies (5ª escolha) e o Thunder (4ª) mostraram um verdadeiro interesse nele.

Sam Presti, diretor de basquete do então Seattle SuperSonics, pegou Russell na 4ª posição. O time tinha Kevin Durant e Jeff Green, outras duas estrelas da NCAA, e precisava de um comandante que fosse imperativo, tanto em quadra quanto fora dela. Todos estes aspectos Westbrook trouxe ao profissional, se tornando o líder da equipe.

A impressão que se tem em relação ao Thunder e de que “o time é do Kevin Durant”. O cestinha desta temporada descarta esta idéia e diz quem de fato manda por lá. “Westbrook é o líder. Basta assistir um dos nossos treinos ou jogos, ele nos mantêm unidos.”

O exemplo também é dado quando estão longe dos uniformes. Embora tenha largado a faculdade restando dois anos para a graduação, Westbrook estuda nas férias, vai à sala de aula e só irá parar quando conseguir o diploma. Num tempo que jovens atletas não se importam com a educação, despreocupados com o que fazer ao se aposentar do jogo, Westbrook deixa mais um desafio para trás e mostra que é possível se dedicar aos livros mesmo com milhões de dólares garantidos na conta bancária.

A NBA exigiu muito de Russell logo na sua temporada de novato e Scott Brooks, treinador, estabeleceu como meta corrigir uma falha do seu armador titular: erros. A estupenda evolução do Thunder e a ascensão de Brooks (vencedor do prêmio de Melhor Treinador da temporada 2009-10) não foram meras coincidências, veio de mãos dadas com o carinho maior que Westbrook teve com a bola, errando menos e vencendo mais um desafio.

Nestes playoffs ele fez partidas memoráveis, principal razão por a série está 3 a 2 (melhor de sete) a favor dos Lakers. Nos quatro primeiros jogos ele foi destaque, principalmente no jogo 4, quando atuou por 29 minutos, marcou 18 pontos, 6 assistências, 8 rebotes e cometeu 0 erro. Tudo ia muito bem até aparecer Kobe Bryant.


A média de Westbrook nas quatro primeiras partidas foi de 22 pontos por jogo, convertendo mais de 50% dos arremessos de quadra. Phil Jackson, treinador dos Lakers, contou ontem após o jogo cinco (LA 117 x 87 OKC) uma conversa que ele teve com Kobe: “Na segunda [26] estávamos na sessão de vídeos estudando o Thunder. Aí Bryant disse pra mim ‘Quero marcar Westbrook’ e eu disse ‘Tá bom’”.

Kobe, um dos melhores defensores da liga, anulou Russell, que converteu apenas 4 de 13 arremessos e cometeu 8 erros – foram 6 erros nos quatro primeiros jogos somados.

Depois de tudo o que passou, não é possível dizer que Russell Westbrook tem uma missão impossível de ser realizada. Não será fácil, porém ninguém disse que seria diferente. Foram tantos os obstáculos deixados pra trás e é inevitável ver qual será a resposta do armador do Thunder perante Kobe.

O desafio está na mesa.



(GL)


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