O Problema em Saber Demais


Prioridade é aquilo que se busca com toda a dedicação e vontade; algo de interesse fundamental em um determinado período de tempo. Todos os jogadores que entram na NCAA recebem o nome de estudante/atleta e muitos deles estudam, mas tem como foco principal o esporte. Estes têm grandes chances de brilharem na NBA, NFL, MLB...

E se o atleta concentrar mais nos estudos, quer dizer que ele não será um jogador de destaque? Myron Rolle, o melhor jogador do High School da classe de 2006, entrou para a universidade – Florida State – para jogar, porém acabou fazendo a mais concorrida pós-graduação do mundo conhecida como Rhodes Scolarship na Universidade de Oxford, Inglaterra.

Este dúbio interesse deixou os clubes da NFL em dúvida. Rolle não completou o ciclo de quatro anos em Florida State porque concluiu o curso de Ciência Física – que estuda os movimentos da ciência no corpo humano, via esporte – em apenas 5 semestres. Mesmo sendo titular do time durante três anos (Rolle joga de safety), ele optou ir para Oxford e foi um dos seletos 32 alunos que recebem a bolsa de estudos Rhodes anualmente.

Ele se manteve no caminho da medicina social e fez um mestrado de Antropologia Médica – que estuda aspectos da medicina nas áreas humanas da sociedade. A decisão de escolher Oxford ao invés do football fez com que os scouts (olheiros) se tornassem céticos quanto ao real desejo de Rolle em ser um jogador da NFL. Sendo assim, sua cotação no draft deste ano caiu bastante.

Mesmo na Inglaterra e distante da bola oval, Rolle fazia treinos diários, físicos e técnicos, com a ajuda do seu irmão. Isto lhe rendeu um convite para participar do Combine (avaliação pré-draft), uma oportunidade para os scouts das franquias verem de perto como estava o safety. Até que ele não foi mal nos treinos, mas a descrença permanecia com poucos acreditando que ele pudesse se tornar o grande jogador que foi um dia.

O questionamento surge desta forma: no HS ele foi o melhor porque o football era sua principal atividade; já na Florida State, a atenção era dividida entre os estudos e o esporte, com Rolle recebendo críticas da comissão técnica por passar muito tempo com os livros... O que era para ser louvado recebe uma opinião inconsistente, deixando a mensagem que o estudo para o atleta universitário não é tão importante como aparenta ser.


Apesar de tudo, o que Rolle precisava era que um clube tomasse uma atitude sábia e madura, se posicionando na defesa de que pessoas inteligentes e dotadas de um conhecimento acima da média podem atuar na NFL. O Tennessee Titans, com a tutela do treinador Jeff Fisher, aposta em Myron ao escolhê-lo no final da sexta rodada (207ª posição). Em um momento que a NFL passa por uma séria crise de imagem com atletas se envolvendo em escândalos extra campo, Rolle refresca um pouco o clima, mostrando que alguém que usa terno, toca saxofone e piano pode jogar football de alto nível.

Com os Titans ele encontra um sistema que irar ajudá-lo. O fato de ter o safety Chris Hope (formando de Florida State) ao seu lado será um auxilio fundamental para dar dicas de como se portar na defesa da equipe. Outro fator importante é que os Titans escolheram outro safety neste draft – Robert Johnson, Utah – o que alivia a pressão sobre Rolle, que deverá participar do time de especialistas e com o tempo irá conquistar seu espaço.

Como inspiração, Myron pode olhar para outro jogador que foi um bolsista Rhodes e atuou com êxito na NFL; curiosamente recebendo as mesmas baixas avaliações. Pat Haden, QB do Los Angeles Rams de 1975 a 1981 foi draftado na sétima rodada (176ª posição) porque os scouts acreditavam que ele não tinha a NFL como sua preferência pessoal ao escolher ir para Oxford. Haden era o terceiro QB no elenco, mas logo na sua primeira temporada teve que assumir a titularidade porque os outros dois QB´s se machucaram. Aos poucos ele foi ganhando mais confiança e ficou com a vaga. Levou os Rams a duas decisões da NFC e foi ao Pro Bowl em 1977 - atualmente é comentarista dos jogos da Universidade Notre Dame na rede de TV americana NBC.

Antes do draft, surgiu diversas opiniões sobre se a decisão de ir para Oxford foi a mais sábia por parte de Rolle. Pessoas argumentaram que ele deveria esquecer o football e se dedicar a medicina. Outras diziam que ele deveria esquecer a medicina e se dedicar ao football. Por ser perspicaz, ele não dá muita atenção a estes tipos de comentários; caso fosse relevar, não saberia o que fazer e ficaria confuso.

Myron soube desde cedo que tinha uma inclinação para a aérea médica. Livros que leu na adolescência criaram um fascínio sobre a matéria. Escolheu a parte de medicina social para aproximar mais o conhecimento científico do povo e fazer este elo de exatas-humanas. Esta curiosidade surgiu de forma natural e Rolle só fez seguir o que ele acredita ser o certo.

O receio de cogitar que ele passará lendo teses e cadernos científicos em detrimento do playbook defensivo, é totalmente equivocado. É tudo uma questão de prioridade.


Ao ser aprovado no teste da Oxford, seu pensamento mudou e ele se concentrou em estudar e não perder uma oportunidade singular e especial. Quando recebeu o diploma de conclusão, seu pensamento mudou de alvo, direcionando todo seu tempo se preparando para o draft.

Como é hora de aprender, esta será uma fase fácil para Rolle. Na sala de aula, nunca foi adepto de notebooks ou vários cadernos. Prefere prestar atenção, arquivando os dados na mente e depois passando para o papel. A tendência é que ele fique no banco em sua temporada de novato, porém não estará distraído e sim olhando para o campo, estudando todos os detalhes de como se tornar um jogador sólido na NFL.

Os Titans estão de parabéns por dar a si mesmo a chance de ter um cara diferenciado no elenco. Afável e benevolente, prontamente conquistará os companheiros de time, passo importante para uma boa adaptação na liga. Os invejosos rangerão os dentes, por assistirem um rapaz esperto, atleta e camarada desfrutando do sucesso.

É tudo questão de prioridade. Enquanto uns tem como passatempo cuidar da vida dos outros e pensam que sabem o suficiente para determinar o que é correto ou o que é errado para o próximo, os mais sagazes agem com personalidade e fazem com amor o que entendem ser importante, não deixando escapar oportunidades e nem desperdiçando o dom recebido. Estas pessoas são conhecidas como felizes.



(GL)


© 1 G. Fiume / Getty Images

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótima matéria e um espetacular garoto com um história que devia servir de exemplo para todos os brasileiros, que poucas vezes dão real valor ao estudo, achando que o ''passa-tempo'' do esporte é a única coisa que lhe poderá dar uma vida feliz.

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