Brilho Inerente


Estrela é um astro que tem luz própria... Assim é Hideki Matsui, jogador do Los Angeles Angels e a mais nova estrela em Hollywood. De uma personalidade única, o japonês não será ofuscado pelo brilho que lá existe, pois já está acostumado a lidar com esta situação por ter experimentado a altura do firmamento em seu país natal e na “capital do mundo”: New York.

Enquanto muitos questionavam a opção dos Yankees em não renovar com o MVP da última World Series, Arte Moreno, dona da franquia Angels, não pensou duas vezes e logo contratou Matsui para ser o rebatedor designado do time (e eventual outfielder). Esta foi uma das melhores ações feitas pelo time de LA nos últimos tempos e os mais velhos comparam esta negociação com a que trouxe Reggie Jackson, lendário jogador da MLB, do mesmo Yankees para LA em 1982.

O frenesi que Matsui trouxe ao clube é digno de uma pessoa diferenciada das outras. Ao ver dezenas de fotógrafos o rodeando e jornalistas próximos dele não deixando de registrar nenhum detalhe, logo se chega à conclusão que se trata de um ser capaz de atrair atenção por motivos além dos meros esportivos.

No Japão, ele é um objeto de admiração dos fãs; e de fascinação dos marqueteiros. Para se ter uma vaga noção, foram exatos 104 (!) jornalistas japoneses credenciados para cobrir a estréia de Matsui com a camisa dos Angels contra o Minnestoa Twins. 40 deles já estavam com a equipe desde o começo da pré-temporada e alguns se mudaram de NY para acompanhar esta saga histórica de Hideki.

Pelo primeiro jogo, valeu o esforço dispensado. Todos os presentes no Angel Stadium testemunharam o home run número 1 do japonês em Los Angeles. Quando ele jogou a bola na arquibancada, o êxtase que contagiou os que lá estavam foi enorme, misturado com um sentimento que uma parceira de sucesso está se construindo. Os fãs dos Angels já criaram uma seção no estádio, no lado direito, chamada de Matsuiland (para rivalizar com o outro time da cidade, os Dodgers, que tem em seu estádio, no lado esquerdo, a Mannywood, em homenagem a Manny Ramirez).

O japonês mostra indícios que vai se dá bem na “cidade dos anjos”. Pra isso, basta ele manter o que vem sendo até agora: humilde, centrado e competente. Estas são suas marcas registradas em 17 anos de carreira. Os feitos dele são de toda forma memoráveis, mas ganha um ar notável quando realizado em Tóquio (Yomiuri Giants), New York e agora em Los Angeles, locais onde as estrelas brilham e refletem mais poderosamente.


Tudo começou com o Yomiuri, que o fez um astro na Nippon Professional Baseball, Lá ele ganhou três títulos e liderou a liga em home runs e RBI´s por três vezes. Suas atuações chamavam a atenção dos olheiros da MLB e a mais bem sucedida franquia o contratou. A concretização do acordo dele com os Yankees foi motivo de comemoração no Japão. Um ícone do esporte nacional partia, porém para impactar o nome do país internacionalmente.

O primeiro jogo com os Yankees foi expressivo. Ele anotou um grand slam (home run com as bases lotadas) na primeira vez que pegou no bastão, deixando uma excelente primeira impressão (que dizem por aí que é a que fica). Depois disto foram 7 temporadas com NY e um título da World Series no ano passado (e o prêmio de melhor jogador da decisão).

Mesmo tendo todo esse impacto, Matsui mantém fortemente as tradições e costumes da cultura oriental, se comportando perante o público e a mídia de modo bem recatado. Apesar de estar desde 2002 nos EUA, ele só fala a língua inglesa com seus companheiros de time, o que não distancia o contato com os torcedores, já que ele só dá entrevistas com um intérprete ao lado - seja dito de passagem que é o mesmo desde 2003.

Roger Kahlon está com Matsui em todos os lugares e serve também como um conselheiro, indicando se a hora é certa (ou não) de falar sobre determinado assunto. O intérprete tem um bom entrosamento com o jogador e isto faz com que as entrevistas não sejam tão robotizadas, conseguindo até expor o senso de humor que Matsui tem.

Em um amistoso que serviu de preparação para o campeonato 2010, os Angels estavam jogando contra o Kansas City Royals. Matsui estava no ataque e rebate uma bola fora do campo de jogo (que acabou acertando o carro de Arte Moreno, uma Mercedes CL 600) - ainda com o bastão, na sequência ele consegue um home run. Ao ser informado que o carro do dono da franquia foi atingido pela bola fora, ele disse (via intérprete): “Sua raiva provavelmente caiu em 50% [pelo HR]. Contanto que eu não seja demitido [risos]”.

Roger vai ter bastante trabalho amanhã. Será a primeira vez que Matsui retornará à New York e o jogo contra os Yankees será o da entrega dos anéis de campeões. A expectativa é de como será a recepção dos torcedores, vendo um dos seus principais fatores da conquista de 2009 com a camisa de um adversário recebendo uma premiação tão importante. A cobertura da mídia será em massa porque vai ser o primeiro jogo no Yankee Stadium desta temporada e a abertura não poderia ser mais especial.


Hideki não deverá externar emoções, mas por dentro ele sentirá um prazer incomparável. Quando ele ficou sabendo que levara o prêmio de MVP da World Series (foto acima), deu um abraço apertado em Arn Tellem, seu empresário. Isto pode ser considerado um alto grau de emoção, porque não faz parte da cultura japonesa este tipo de contato com outro (um gesto respeitoso de reverência resolve). Tellem diz que se sentiu especial neste dia e viu Matsui extravasar a alegria que experimentava naquele instante.

13 de Abril vai ser uma data que Matsui recordará com carinho, um momento de flashback em sua mente vai passar, mostrando todas as façanhas atingidas em sua carreira. Um anel de diamante servirá como mais um objeto que fortalecerá a didática frase:

Estrela é um astro que tem luz própria...



(GL)


© 1 Jeff Gross / Getty Images
© 2 Agence France-Presse
© 3 Elise Amendola / AP

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