Cada Um No Seu Quadrado: O Cotidiano dos Atletas e O Que Você Tem a Ver Com Isto

Um começo de semana é divertido para quem tem uma condição financeira favorável. À noite reúne os amigos, vão para um barzinho de nível elevado e consomem 800 dólares (mais 200 de gorjeta). O líder do grupo os levou a uma churrascaria e depois foram ouvir música ao vivo.

Típica vida noturna de uma terça-feira.

Se a cena descrita acima fosse na década de 70, 80 (ou até de 90), por mais que os personagens fossem famosos, não haveria problema; alguém ia dizer para fulano que tal pessoa estava em tal local a tal hora e ficaria o registro em meras palavras. Porém desde que inventaram celular que filma e tira foto, há mais recursos para provar as “escapadinhas” das celebridades.

Na foto que você viu na abertura tem uma seta branca indicando um homem. Este atende pelo nome de Ben Roethlisberger, quarterback do Pittsburgh Steelers. Ele chamou seus companheiros de linha ofensiva para cumprir uma tradição: sair para jantar e curtir um som in loco.

Típica vida noturna de uma terça-feira.

Também estavam presentes os tais celulares que filmam e tiram fotos. Um dos frequentadores do bar aproveitou a oportunidade, gravou a cantoria dos atletas e vendeu as imagens para o site/tablóide de fofoca TMZ. Ao publicar o vídeo, um surto aconteceu.

A festinha foi na terça-feira antes do Super Bowl XLV (45) em Arlington, Texas. Então veio as críticas ao comportamento de Big Ben, comparando-o com o rival da decisão Aaron Rodgers, QB do Green Bay Packers: “Com certeza Rodgers não estava num bar numa terça à noite” diziam os falsos moralistas, além de afirmar com antecedência: “Já sabemos quem será o campeão”

Os Packers venceram e Big Ben, mesmo com um começo de jogo fora do seu normal, quase vira o resultado a favor dos Steelers. O passeio noturno de nenhuma maneira influenciou na atuação dentro de campo cinco dias depois. Como o Roethlisberger comentou, toda terça ele leva os offensive linemen para jantar e descontrair. Em todas as ocasiões desde que a tradição entrou em vigor, não houve excesso e estavam no hotel (ou em casa) no horário determinado pelo clube.

Como o esporte é o reality show de muita gente, surgiram os comentários do que Big Ben deveria fazer e que “se fosse eu não fazia isto” e que “se fosse eu estava descansando”. Tudo bobagem. Parece até que só eles estavam no bar naquela noite. O local estava cheio de gente que no outro dia tinham que levantar cedo para trabalhar no escritório, abrir seu estabelecimento... Cada um vivendo e aproveitando sua vida como bem entende. Vai dizer para um milionário ficar trancado em quatro paredes jogando Xbox e tomando refrigerantes.

Roethlisberger poderia ter evitado, mas o importante foi que seu chefe (treinador Mike Tomlin) não achou problema algum.

Segue o jogo.


***

As redes sociais também estão incluídas no pacote de vilãs dos atletas. Antes da existência destes mecanismos paradoxais de juntar “amigos” que não abraçam, os jogadores viviam suas vidas sem se preocupar. A palavra particular e pessoal eram literalmente praticadas. Hoje o cara não pode ir mais a uma festa de final de ano para azarar as garotas; por mais que seja legal, o público pode sentir aversão.


Aqui já falamos que o QB do New York Jets, Mark Sanchez, é um galã no melhor estilo das novelas (trash) mexicanas. Lá estava o bonitão endinheirado no famoso bar de New York chamado Lavo (onde só podem entrar maiores de 21 anos), uma bela (foto acima) se aproxima do jogador e começam a bater papo, trocam telefones e ela diz: “Saiba que eu tenho 17 anos” Sanchez devolve “Então vou esperar você completar 18 para te ligar” A esperta garota rapidamente explica “Não tem problema, aqui em New York é permitido

Os estados americanos têm diferentes jurisdições em relação a idade mínima que é permitida ter relações sexuais – abaixo do determinado é considerado abuso sexual, ou seja: crime. Em New York a idade limite é 17. Em New Jersey, estado vizinho onde Sanchez mora, é 16. A garota estava atrás de uma aventura com alguém mais velho e por isso foi num local que só há pessoas acima de 21 anos; até a lei de consentimento ela sabia. Encontrou por lá Sanchez e aconteceu.

No dia seguinte ela deixou a emoção tomar conta e agiu como se tivesse... 17 anos! Foi para sua página no Facebook e escreveu “MARK SANCHEZ ACABA DE ME ENVIAR UMA MENSAGEM!!!!!” (assim mesmo com letras garrafais). E a notícia se espalhou.

Ela foi para casa do jogador, conheceu o quarto dele... E o que há demais nisto? Muitos membros da mídia criticaram o comportamento do QB dizendo que ele agiu inconsequentemente. Será que eles já foram ricos, bonitos e cheios de mulheres ao redor para falar o que ele deveria fazer? Se fosse algo fora da lei, todo ódio era pouco, mas como a própria garota disse, nada de ilegal ocorreu.

Faça um teste: vá para uma escola na sua cidade e que preferencialmente seja perto de uma universidade. Você consegue dizer quem estar indo para a faculdade ou para a escola? Pode diferenciar alguém com 17 anos com alguém de 18?

A vida é de cada um e quem é dono da sua faz o que quiser com ela. Se mulheres lindas vêm fácil pelo dinheiro e pela fama, basta saber administrar as situações para não cair em uma cilada.

E segue o jogo


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Como posso ficar indignado com uma opção pessoal sua? Caso eu te conheça, faço o meu dever de aconselhar e tentar chegar num consenso que seja bom para você. Mas o que importa é sua decisão, aquilo que é melhor para sua vida.

Mesmo não conhecendo LeBron James, ala do Miami Heat, houve uma esmagadora maioria de críticas negativas pela escolha que ele fez ao sair de uma cidade fria e sem graça (e de um time fraco e desmotivado) para a ensolarada e agitada Miami.

A saída de LeBron de Cleveland foi um dos principais assuntos esportivos de 2010 (e ainda reflete agora). Aqui cabe a frase “ele poderia ter lidado com a situação de uma forma mais correta”, mas o atual bi-MVP da NBA agiu de acordo com sua consciência. Vale lembrar que ele não abandonou seu antigo clube (os Cavaliers), James era agente livre e poderia escolher ir para o lugar onde quisesse. Optou pelas praias, pela mansão milionária e por um melhor time – Heat é o segundo colocado da Conferência Leste, Cleveland é o lanterna e pior time do campeonato 2010-11.

E segue o jogo.


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Recentemente o popular programa MTV Cribs (nos EUA) exibiu a casa/mansão de dois jogadores da NBA: Carmelo Anthony (Denver Nuggets) e Danny Granger (Indiana Pacers). A exibição foi a mais natural possível: itens chiques de quem têm dinheiro para gastar com objetos supérfluos. Sempre há os que balançam a cabeça indignados com a grana jogada fora com o luxo. Estas são as mesmas pessoas que apostam na Mega Sena para ficar milionárias e viver como marajá. E aí? Será que esta gente vai andar de Uno/Gol/Palio? Suas televisões serão de tubo no estilo 1998? Suas torneiras serão Deca Standard? Ou será Deca Quadratta?

É, sei.

Os gastos dos atletas causam uma revolta que não tem motivo. Claro que há os que não agem conforme o padrão e vão para Pindaíba. Entretanto outros estão apenas sendo milionários, não deixando a vida passar sem desfrutá-la.


Um caso curioso aconteceu em 2008. Dwyane Wade, ala do Heat, presenteou sua mãe (foto acima) com uma igreja de US$ 2 milhões de dólares. Quando esta notícia foi publicada na imprensa brasileira logo os comentários foram de repúdio, exaltando um possível fanatismo de Wade. Como dizem no Nordeste: “Da missa não sabem um terço”

Jolinda, mãe de Wade, não acompanhou a infância/adolescência do seu filho; as drogas e o álcool eram seus companheiros. Quem cuidou dele foi sua irmã, Tragil. Dwyane não conseguia ver sua mãe entregue ao mundo do vício e da desgraça, não conseguia vê-la na prisão constantemente. Num período de três anos, Jolinda ficou presa 23 meses, até fugir. Ela encontrou esperança para sua vida na Bíblia e limpou-se das impurezas. Um versículo a fez refletir sobre sua conduta:

...mais amigos dos prazeres do que amigos de DEUS, tendo aparência de piedade, mas negando-Lhe o poder...
2 Timóteo 3:4-5

Na sua mente, porém, algo lhe perturbava: a fuga. Então decidiu se entregar e cumprir os 14 meses que devia para a justiça (por tráfico). Lá ela participava dos ministérios cristãos e sentia uma realização dentro de si por ajudar outras que estavam passando por dificuldades similares as quais um dia ela enfrentou. Ao ser liberta, Jolinda entrou num curso de pastores da Igreja Batista. Assim que recebeu a ordenação, Dwyane lhe entregou a propriedade para que ela testemunhasse a todos sua transformação: da morte para a vida.

Dwyane não liga para o dinheiro gasto. Quando ele está sentado no banco da igreja e observa sua mãe pregar, fica tão empolgado e feliz que não há dinheiro no mundo que pague o sentimento daquele instante. Pelo menos é possível explicar por que ele comprou uma igreja e deu para sua progenitora.

E segue o jogo



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 TMZ
© 2 Patrick McMullan

A Vida Real de Michael Oher

O filme “Um Sonho Possível” (The Blind Side – 2009) é um sucesso em todas as áreas. Ganhou vários prêmios e permitiu que Sandra Bullock recebesse o Oscar 2010 de melhor atriz (pela interpretação de Leigh Anne Tuohy). O roteiro conta a história de Michael Oher, atual offensive linemen do Baltimore Ravens, porém o personagem principal não gostou de algumas coisas mostradas e resolveu esclarecê-las ao escrever um livro.

I Beat The Odds: From Homelessness to The Blind Side and Beyond” foi lançado na última quarta (08) e, com a ajuda do experiente jornalista Don Yaeger (ex-editor da Sports Illustraded), Oher espera alcançar os objetivos traçados antes do seu projeto ser iniciado.

A primeira coisa que quer deixar bem clara é apagar a imagem perpetuada no filme que o mostra aprendendo as noções básicas do football. Oher faz questão de afirmar que não era tão iniciante assim no esporte, a ponto do Sean Jr. usar fracos de catchups para explicar como funcionam os bloqueios dentro do jogo. Michael, com bastante insistência ao longo do livro, ressalta que sempre jogou football e seu conhecimento sobre o esporte na adolescência já era bem satisfatório.

Esta mágoa perseguiu Oher desde o lançamento do filme. Demorou para ele assistir e assim que fez não gostou do que viu. Muitos questionavam sobre a veracidade dos fatos encenados e Michael ficava chateado ao ver um rapaz na tela que não lhe representava da maneira correta – segundo seu próprio julgamento. Então decidiu dá sua versão e como ele diz “separar o fato da ficção


Sua mãe adotiva, Leigh (foto acima), diz que o filme é bem preciso e Oher não tenta desmentir, apenas busca expor sua visão dos episódios ocorridos, batendo forte na tecla da “inteligência”. Em certo momento no livro ele menciona o último semestre no ensino médio no qual foi eleito para o honor roll (grupo de alunos que tiram nota A com frequencia) e ratifica que este é seu maior feito; mesmo comparando com a escolha na primeira rodada do draft da NFL.

Essa questão talvez tenha sido a única escorregada do produtor Gil Netter, pois em todas as outras ele foi bem fiel ao livro do Michael Lewis “The Blind Side”, destacando as interações entre Oher e os Tuohy. Netter foi escalado por ter feito uma bela adaptação cinematográfica de outro livro, “Marley e Eu”, e seu trabalho em “Um Sonho Possível” é, em grande parte, irrefutável.

“I Beat the Odds” então serve como complemento, um convite para os que querem conhecer mais um pouco sobre a pessoa que ensina tanto somente por viver. O segundo objetivo principal do livro, aliás, é encorajar as mais de 500 mil crianças órfãs que vivem nos EUA. Por mais que este seja o seu alvo, evidentemente que tantas outras milhares de crianças pelo mundo afora vão ouvir o que ele tem a dizer.

Uma frase ficou ligada a Oher dita pelo seu pai adotivo Sean, atestando a capacidade do seu filho de esquecer os problemas e seguir em frente. Porém, para escrever esse livro, Oher fez uma viagem ao passado, reencontrou com pessoas que o fizeram lembrar das adversidades enfrentadas, das dificuldades vividas. Yaeger o ajudou nesta questão, marcando encontros com gente que participou da infância de Oher. Tudo para traçar sua trajetória antes de conhecer os Tuohy, antes do final feliz. Coisas em torno disto são discutidas por Oher, encorajando aqueles que vivem situação parecida pela qual ele passou. Enfatiza o desejo de mudar e sair donde estava; nada o impediria de ser alguém.


Oher ganhou um pai, uma mãe, uma irmã, um irmão, porém ele nunca esqueceu sua família natural. Assim que recebeu primeiro salário na NFL, comprou carros e roupas para seus irmãos de sangue, mas sua mãe biológica vendeu tudo e deixou uma mensagem raivosa para Oher. Ele sempre buscou ajudá-la, mas ela não quer nenhum auxílio e ainda continua envolvida com drogas. Este assunto o entristece e ele não entra em muitos detalhes.

Ao término do livro é nítido notar que Oher cumpre as metas que imaginou quando esboçou os primeiros rascunhos. No livro de Michael Lewis ele contou sua história (até 2006) para o renomado autor, mas em “I Beat the Odds” a primeira voz impera e acaba se tornando uma conversa bem pessoal sobre o que verdadeiramente pensa o camisa 74 do BaltimOHER Ravens.

Destaco aqui uma passagem do livro que resume bem a vida de Oher:

Quando criança, sempre senti que DEUS tinha um plano especial para mim. Agora eu sei qual é. Não era me tornar um jogador profissional; era para que eu fosse um exemplo para as crianças iguais a mim que sentem falta de uma pessoa em suas vidas. ELE quer me usar para mostrar a todos que qualquer um pode ser bem sucedido, não importa quem eles sejam ou qual sua história. Precisei confiar no plano e ser ativo nele, parte real para fazer acontecer. Tive que acreditar que era possível mesmo quando não parecia, e me dedicar mesmo que aparentemente fosse em vão
(trecho do livro “I Beat The Odds: From Homelessness to The Blind Side and Beyond”)


(GL)
Escrito por João da Paz

O Passado Ensina

A temporada 2010-11 da NFL acabou com o troféu voltando para seu lugar de origem e com o Super Bowl XLV (45) registrando a maior audiência de um programa televisivo na história dos Estados Unidos. Somam-se a isto os recordes que as redes de televisão alcançaram neste campeonato e é possível medir a alta popularidade do football na América.

Em todo o mundo o futebol americano tem crescido bastante e é uma das ligas profissionais mais acompanhadas. No Brasil a NFL repercute grandemente com a força da internet e, em algumas oportunidades, com 4 jogos transmitidos ao vivo a cada rodada em canais de TV por assinatura.

Agora, após o término da temporada, as atenções voltam às negociações entre a liga e o sindicato dos jogadores acerca do novo acordo trabalhista. Caso não cheguem a um consenso, o próximo campeonato pode não ser realizado. E aí? Como fica o futuro da NFL? Olhar o que aconteceu com outras ligas ajuda a entender o que estar por vir.


A greve de 1994, que se estendeu até o ano seguinte, foi a oitava na história da MLB e pela primeira vez uma liga profissional dos EUA teve a pós-temporada cancelada devido a questões trabalhistas. O momento era favorável aos times canadenses: Toronto Blue Jays era o atual bicampeão e o Montreal Expos era o líder do campeonato – isto era bom para a MLB, pois em duas cidades que predomina o hockey, lá estava o “passatempo americano” fazendo sucesso.

Os Expos foram os que sofreram mais e são o retrato do fracasso que foi a greve. A população de Montreal apoiava o clube com força e por volta de 30 mil pessoas em média compareciam ao Estádio Olímpico para assistir aos jogos (mesmo com a temporada da NHL em andamento). A diretoria do clube foi uma das que lutou para conseguir ao menos realizar os playoffs, pois o time era um dos favoritos ao título. Não deu certo.

Na temporada seguinte os Expos foram forçados a cortarem drasticamente os gastos da folha salarial pelas perdas obtidas na greve. Os fãs deixaram de seguir o clube e a arrecadação diminuiu, chegando a níveis alarmantes. A franquia entrou na futilidade até a MLB comprá-la em 2001 e mudar o local da sede em 2004; virou Washington Nationals.

Tony Gwynn, hall da fama pelo San Diego Padres, ao olhar o que aconteceu admite que ninguém ganhou com a paralisação: “Cometemos um erro em 94. Nós jogadores não ganhamos muito; os donos muito menos. Penso que isto deva servir de exemplo. Ambos os lados devem olhar para trás e perceber que a greve não ajudou em nada” (declaração à revista Sports Illustraded em 2002).

A greve afetou a MLB e Bud Selig, comissário desde 1992, lutou muito para tornar a liga novamente popular. Em 1995 a média de público nos estádios caiu 20% e só na temporada 2004 que o comparecimento de torcedores nos estádios voltou aos números pré-greve. Apesar disto, o resultado poderia ser pior se algumas coisas não acontecessem.

Em 1995 Cal Ripken Jr., jogador do Baltimore Orioles, bateu o recorde de partidas consecutivas jogadas (2.131). Em 1996 o New York Yankees, um dos clubes esportivos mais amados (e odiados) dos EUA, voltou a ganhar uma World Series – 4 conquistas num período de 5 anos. E em 1998 houve a disputa entre Mark McGwire e Sammy Sosa pelo recorde de home runs em uma única temporada. Fatores estes que ajudaram o esporte se recuperar.


A NBA gozava de um feito: era a única liga americana profissional que não perdeu um jogo sequer por uma greve: até 1998.

Os donos das franquias foram os maiores responsáveis pela paralisação que durou 204 dias, o suficiente para a temporada não ser cancelada. Com apenas 50 jogos e os playoffs no formato normal, o campeonato foi realizado.

Não poderia haver um momento pior para uma paralisação. O grande nome da associação, Michael Jordan, acabara de anunciar sua (segunda) aposentadoria e a temporada 1997-98 foi a última (até sua volta como dono/jogador pelo Washington Wizards em 2001). David Stern, comissário desde 1984, procurava soluções para manter boa parte dos torcedores que ligavam a TV (ou iam aos ginásios) para ver o camisa 23 do Chicago Bulls. Não conseguiu. Nas duas temporadas após a greve, a audiência registrava números anteriores a 1991, temporada que Jordan conseguiu seu primeiro título. Somente nas Finais da temporada 2007-08 entre Los Angeles Lakers e Boston Celtics, duas das mais tradicionais franquias da NBA, que os números da televisão chegaram aos patamares da “era Jordan”.

Tudo poderia ser pior se na primeira temporada pós-greve os Lakers não tivessem sido os campeões. A equipe comandada por Phil Jackson (ex-Bulls, então com 6 títulos) que tinha em quadra astros como Kobe Bryant e Shaquille O´Neal, atraiu um considerável número de espectadores. Aqui é mais um caso que uma franquia super popular (amada e odiada na mesma proporção) conseguiu chamar a atenção através de vitórias e sucesso – os Lakers foram tricampeões (1999-00, 2000-01 e 2001-02).


Quem acompanha o Grandes Ligas sabe que não escrevo sobre a NHL. Não tenho nada contra, simplesmente não assisto e não acompanho desde 2005, ano que a liga estava em greve – justamente quando passei a trabalhar profissionalmente com esporte.

Porém, já fui fanático pela NHL. Os que lêem meus artigos sabem que não torço pra nenhum time em qualquer que seja o esporte; admiro atletas individualmente. No meu pequeno hall está Danica Patrick e Kevin Garnett, personalidades que recebem minha atenção incondicional. Antes disto, um center canadense tinha sua participação cogitada no seleto grupo: Eric Lindros.

O camisa 88 do Philadelhia Flyers (depois jogou no New York Rangers, Toronto Maple Leafs e Dallas Stars) fez com que eu gostasse da NHL, me tornando um consumidor dos produtos licenciados da liga – entre as relíquias que tenho, está uma camisa do Calgary Flames e flâmulas. O hockey estava no topo da minha lista esportiva.

Aí veio a greve. Como muitos fizeram, deixei a NHL de lado. Fiquei com uma frase do ator Chris Rock que disse “Somente fãs de hockey assistem hockey” e a pós-greve confirmou este pensamento. A NHL caiu no escuro ostracismo e finais entre Carolina Hurricanes x Edmonton Oilers (2006) e Anaheim Ducks x Ottawa Senators (2007) não ajudavam. Em 2008 a história muda com franquias tradicionais e populares disputando a Stanley Cup: Detroit Red Wings e Pittsburgh Penguins.

O momento de recuperação da liga é agora. Se a NFL entra em greve então... Gary Bettman, comissário, tem uma mente nova e ideias transformadoras. Ele que já trabalhou na diretoria da NBA e chegou a ser o 3ᵒ homem no organograma da associação, aplica métodos de marketing que atraem o público que não é fã de hockey e busca trazê-los de volta.

Uma das inovações é o Winter Classic, jogo realizado ao ar livre no primeiro dia do ano (desde 2008). Esta partida atrai um enorme número de telespectadores, atingindo altas marcas de audiência. Outra novidade aconteceu no Jogo das Estrelas deste ano, quando os times foram formados a partir de dois capitães que escolheram quem seriam seus companheiros (como acontece nas peladas de futebol por esse Brasil afora).

Para ser popular precisa de um bom produto e a NHL melhora a cada temporada que passa. Para ser popular é necessário de ícones, jogadores que chamam a atenção e polarizam torcedores: estes nomes são Sidney Crosby (Penguins) e Alex Ovechkin (Washington Capitals). Ao final desta temporada um novo acordo televisivo vai ser acertado e a NHL pode voltar a ser relevante e ganhar destaque na grande mídia – mas por aqui não terá vez.


Na briga entre bilionários (donos de franquias) x milionários (jogadores), infelizmente, não há espaço para reflexão. Todos dizem que amam o esporte e que não querem decepcionar os fãs, mas na verdade cada um está em busca do seu interesse.

Por mais que a NFL seja movimentada por um dinheiro público (dos fãs) o regimento interno é privado e a conversa é num tom que acontece em qualquer classe trabalhistas: os patrões querem cortar os gastos com os funcionários, porém estes não aceitam por saber que aqueles estão ganhando muito dinheiro às suas custas.

Então não adianta agir como os fãs da MLB, NBA e NHL que chamaram os envolvidos em suas respectivas graves de mercenários, gananciosos e etc. A disputa é por ideais próprios e pouco estão ligando se haverá uma normal próxima temporada, desde que sejam acertadas as diretrizes que almejam.

Se a temporada 2011-12 for cancelada, a NFL passará por dificuldades para se recuperar – como aconteceu com as ligas aqui citadas.



(GL)
Escrito por João da Paz


*Todos os logos aqui apresentados pertencem aos seus respectivos proprietários

O Carismático Poderoso Chefão

Treinadores recebem vários rótulos e um deles é: “Técnico dos Jogadores”. O que isso quer dizer? Eles não têm que treinar... os jogadores? Não é essa a obrigação?

O termo, na verdade, existe para especificar os que têm um bom relacionamento com seus atletas, que conversam com eles numa linguagem fácil de assimilar. Na maioria das ocasiões, porém, este tipo de treinador é visto como cúmplice, sem pulso firme e sem autoridade.

Não é o caso de Mike Tomlin, treinador do Pittsburgh Steelers. Sua personalidade o faz com que seus comandados – e todos empregados da franquia – venham até ele bater um papo sobre o mais inocente assunto, mas na hora da bronca, no momento de ensinar, todos ouvem com atenção e obedecem [elementar].

O ano chave na carreira de Tomlin foi 2000, quando era treinador da secundária da Universidade Cincinnati. Ele pegou um setor que na temporada anterior ficou na posição número 111 em defesa aérea e colocou-os em 69ᵒ lugar na temporada seguinte (4ᵒ em interceptações/fumble). O Tampa Bay Buccaneers precisava de um treinador para sua secundária e a primeira opção era o jovem de Cincinnati. Foi contratado e um problema surgiu.

O líder do setor era John Lynch, que até então tinha na sua coleção três seleções para o Pro Bowl (Jogo das Estrelas) em quatro temporadas. A diretoria avisou que o novo treinador era apenas um ano mais novo que o safety – Lynch tinha 30 anos e Tomlin 29. O relacionamento com garotos nos tempos da NCAA dava para levar com tranquilidade, mas como ganhar um grupo que tem uma referência de experiência maior no jogador que no treinador? Tomlin resolveu esta questão muito bem, bastou relembrar como foi o início de tudo.


Na universidade William & Mary (localizada no estado da Vírginia, considerada, segundo a revista Forbes, a 4ᵃ melhor faculdade pública dos EUA) Tomlin (foto acima) era um receiver de certo destaque e jogou por três temporadas. Sua mãe, dona Julia, sonhava com seu filho se formando, conseguindo um emprego. Contudo a rota que Tomlin estava para pegar era bem diferente e nada o impediria de ser um treinador. Dona Julia fica decepcionada ao saber que Tomlin vai largar a William & Mary para ser um estudante/treinador do Instiuto Militar da Virginia – sua mãe queria que ele arrumasse um “emprego de verdade”.

Lá Tomlin ficou com a equipe de wide receivers. Em 1996, ainda como estudante/treinador, foi para a Universidade de Memphis, responsável pela secundária e time de especialistas. Neste tempo ele conviveu com pessoas da mesma idade, porém com cargos e funções diferentes. O respeito foi obtido, fruto do trabalho sério e dedicado executado por onde passou. Além de conseguir bons números e performances dos seus subordinados, Tomlin criou laços de amizade, relacionamentos com o ser humano que se empenhava por ele. Sabia diferenciar uma coisa da outra.

Com Lynch a conversa foi de igual para igual, um instante que Tomlin precisava demonstrar liderança a alguém que era líder. O potencial choque de egos não aconteceu e após a informal reunião ficou claro quem mandava e mais uma lição concluída - que seria útil numa futura ocasião. Na sua segunda temporada em Tampa, Tomlin e Lynch foram campeões do Super Bowl XXXVII e a secundária foi essencial na vitória: o outro safety, Dexter Jackson, recebeu o prêmio de MVP, último defensor a ganhar o troféu de melhor jogador da final.

A rápida ascensão de Tomlin estagnou um pouco e sua promoção viria após 5 anos com os Buccaneers. Em 2006 tornou-se coordenador defensivo do Minnesota Vikings, cargo que exerceu por uma única temporada; não porque ele desempenhou abaixo do esperado, mas uma nova oportunidade apareceu.

Com o único objetivo de cumprir uma regra na NFL (chamada de Rooney Rule) que obriga os clubes que estão contratando um novo treinador de entrevistar ao menos um candidato minoritário, os Steelers escolheram Tomlin para satisfazer o determinado. Os favoritos para assumir o posto eram internos: Ken Whisenhunt (coordenador ofensivo) e Russ Grimm (treinador da linha ofensiva). Só que Tomlin convenceu Dan Rooney (dono) e Art Rooney II (presidente) e o emprego ficou com o eterno jovem de 34 anos.

Whisenhunt foi para o Arizona Cardinals junto com Grimm. Estes inesperados eventos levaram a uma conversa particular entre o líder dos Steelers, o quarterback Ben Roethlisberger, e o novo treinador. O teor do papo girava em torno da insatisfação do elenco em ter perdido dois treinadores que gozavam de um respeito ímpar entre os atletas e receber em troca “... um cara de 34 anos que ninguém nunca ouviu falar...” disse Big Ben. Mais uma vez Tomlin precisava ganhar respeito e confiança dos jogadores e blá, blá, blá... mesma ladainha ouvida em Tampa.


E, de novo, após uma temporada, Tomlin venceu um Super Bowl. Diferente daquele com os Bucs, é claro, pois desta vez ele era o chefe maior, ditando as diretrizes em todas as frentes no que diz respeito ao elenco e sua atuação em campo. E, de novo, uma temporada foi suficiente para conquistar respeito e confiança dos jogadores e blá, blá, blá...

São quatro temporadas em Pittsburgh e os seguintes números: 2 ida ao Super Bowl (um título); 45v e 21d na temporada regular e 5v e 1d nos playoffs. O intangível pode ser medido na admiração recebida dos jogadores: “Ele é um ótimo motivador” diz James Farrior (LB); “Ele faz com que nós, atletas, jogamos por ele como se fosse nosso companheiro” diz Antwan Randle-El (WR).

Tomlin é um estudioso. Do football ele procura ser meticuloso e seus anos observando universitários o fez ser um ótimo selecionador no draft. Em seu primeiro ano com os Steelers apostou na defesa: Lawrence Timmons – LB e LaMarr Woodley – LB (2007). Depois se concentrou no ataque e selecionou nomes de qualidade como o RB Rashard Mendehall em 2008, o WR Mike Wallace em 2009 e o C Maurkice Pouncey em 2010.

Tomlin é um estudioso. Do cotidiano ele procura ser detalhista e manter tudo escrito em um caderno para possíveis consultas. Este tipo de exercício o ajuda a ter boa memória e uma lembrança dos fatos que acontecem no presente.

Tomlin é um estudioso. Da sua curta e vitoriosa carreira ele pode extrair bons e maus momentos, porém todos contribuíram para moldar sua personalidade que o faz único e especial. As dúvidas do passado viraram certezas, uma transformação possível pelos resultados mostrados, pelas honras conquistadas. Outra lição fica para reflexão, afinal um chefão poderoso pode ser carismático. Por que seria diferente?


(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Jared Wickerham / Getty Images
© 2 Chris McGrath / Getty Images

Marcar Mais Cestas ao Invés de Sofrer Menos Pontos

Na década passada o San Antonio Spurs alcançou glórias sustentado pelo trio Tim Duncan, Tony Parker e Manu Ginóbili. O time tinha como característica maior o forte e eficiente jogo defensivo. Na temporada 2010-11 os Spurs continuam sob a liderança do mesmo trio de jogadores, é o melhor time do campeonato, porém com um diferencial: o ataque.

A média de 104.4 PPJ coloca o alvinegro texano na quinta posição entre as equipes que marcam mais pontos; um lugar raro. Até que há um equilíbrio no saldo de pontos (+7.5) já que sofre em média 96.9 PPJ. San Antonio está com a melhor campanha em toda associação (40v – 7d): 4 jogos à frente do Boston Celtics e, considerando apenas a Conferência Oeste, 7 jogos e ½ à frente do Los Angeles Lakers.

Em campeonatos anteriores os Spurs chegaram ao topo graças aos números da defesa:

2002-03 Marcou 95.8 PPJ (12ᵒ) – Sofreu 90.4 PPJ (3ᵒ) Campeão

2004-05 Marcou 96.2 PPJ (18ᵒ) – Sofreu 88.4 PPJ (1ᵒ) Campeão

2006-07 Marcou 98.5 PPJ (14ᵒ) – Sofreu 90,1 PPJ (1ᵒ) Campeão

2007-08 Marcou 95.4 PPJ (28ᵒ) – Sofreu 90.6 PPJ (3ᵒ) Perdeu a final da Conferência Oeste

Nessa temporada o time treinado pelo Gregg Popovich (foto abaixo), no comando desde 1996, registrou recordes para a franquia, a começar pelo melhor início de campeonato da história e duas sequencias de 10 vitórias ou mais antes de 1ᵒ de Janeiro – apenas o quarto clube da NBA a conseguir isto. Outro número importante para os Spurs é o melhor aproveitamento fora de casa (15v – 5d), estatística que cria otimismo para encarar os próximos jogos.


A partir de hoje os Spurs vão estar na estrada por 17 dias (9 jogos). É a tradicional “Rodeo Road Trip”, chamada assim porque uma anual feira pecuária é realizada no ginásio da cidade de San Antonio. De 1999 pra cá, o time vai bem nesta excursão e venceu mais que perdeu neste período, incluindo a melhor marca da NBA de jogos vencidos fora de casa numa única viagem: 8 em 2003.

6 Jogos serão contra times com aproveitamento abaixo de 50% (Kings, Pistons, Raptors, Sixers, Wizards e Nets), e 3 contra times com mais vitórias que derrotas (Trail Blazers, Lakers e Bulls). A fórmula para vencer estes confrontos está clara e não mudará, porque o modo que o time atual joga não permite desperdícios no ataque. Não há mais uma segurança definitiva na defesa como acontecia em anos anteriores. A metodologia agora é marcar mais cestas ao invés de sofre menos pontos. Eis alguns exemplos desta nova forma de jogar dos Spurs

Contra o Orlando Magic no dia 22 de Novembro de 2010
(Vitória em casa - 106 a 97)

Esta foi a 11ᵃ vitória numa sequencia que encerrou em 12. Na ocasião bons times foram derrotados (Jazz, Thunder, Bulls), mas a vitória contra o Magic validou o bom começo de temporada do San Antonio.

Foi um duelo bem disputado e os arremessos de três decidiram o jogo a favor dos Spurs: 12 arremessos convertidos de 19 tentados – 5 deles no 4ᵒ período. A jogada decisiva foi um chute de três do Ginóbili quando faltavam 2 minutos para o término, dando a liderança definitiva para seu time

Contra o New Orleans Hornets no dia 28 de Novembro de 2010
(Vitória fora de casa – 109 a 95)

Até então os Hornets estavam invictos jogando em New Orleans. Ao final do primeiro tempo o resultado indicava que a invencibilidade continuaria: 61 a 44. Não só os Spurs tiraram o déficit de 17 pontos como venceram por 14, ganhando o segundo tempo com uma diferença de 31 pontos: 65 a 34.

Contra o Los Angeles Lakers no dia 28 de Dezembro de 2010
(Vitória em casa – 97 a 82)

Este jogo foi estranho em vários aspectos: Duncan converteu apenas 1 arremesso de 7 tentados e terminou com dois pontos (menor marca da carreira); Ginóbili, o MVP do time neste campeonato, terminou com 9 e mesmo assim os atuais campeões foram derrotadas por uma diferença de 15 pontos.

Quem liderou o time foram os coadjuvantes: DeJuan Blair foi o cestinha com 17, Richard Jefferson marcou 15 e George Hill 10.

Contra o Dallas Mavericks no dia 30 de Dezembro de 2010
(Vitória fora de casa – 99 a 93)


O alemão Dirk Nowitzki, líder dos Mavs, não atuou e para Popovich a vitória significou pouca coisa justamente por isso, mas o jogo foi bom e o Dallas teve uma ajuda considerável de Caron Butler (30 Pontos) e Jason Kidd com um triple-double (18p – 13a – 10r).

Os Mavs desperdiçaram uma grande vantagem construída no início do jogo e não conseguiram recuperar. Quem ditou o ritmo foi Duncan com seus arremessos próximos a cesta e Gary Neal (foto acima) com os chutes de longa distância. Neal terminou a partida com 21 pontos (cestinha do time) e os reservas dos Spurs venceram os do Dallas por 11.

Contra o Utah Jazz no dia 26 de Janeiro de 2011
Vitória fora de casa – 112 a 105

Prestes do término do 3ᵒ período, os Spurs venciam o jogo por 19 pontos (86 a 67). Os reservas do Utah entraram em quadra e quase fizeram algo comum para eles: reverter placares. São 12 vitórias de virada para o Jazz neste campeonato e 7 delas ocorreram quando o time perdia de 15 pontos ou mais. Lances chaves no final garantiram o resultado positivo para San Antonio e o mix de bom ataque com uma defesa não tão boa levou Ginóbili, em entrevista após o jogo, a dar sua opinião sobre os Spurs 2010-11:

Estamos melhor ofensivamente do que naquelas temporadas que conquistamos os títulos. Mas precisamos aprimorar o nível da nossa defesa e chegar ao patamar que tínhamos quando ganhamos os campeonatos e assim o time será muito, muito bom."



(GL)
Escrito por João da Paz



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