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A Copa das Copas e o espaço do futebol entre os esportes americanos


Quinta, dia 26 de junho.

A seleção de futebol dos Estados Unidos decidiu seu destino na Copa do Mundo 2014 contra a Alemanha. Apesar da derrota, o time americano se classificou para as oitavas de final - passou da fase de grupos pela terceira vez nas últimas quatro Copas.

Ao mesmo tempo, fatos importantes nos esportes americanos ocorriam paralelamente: LeBron James e Carmelo Anthony, dois alicerces da redenção do basquete do país nas duas últimas Olimpíadas (Pequim-2008 e Londres-2012), escolheram ser agentes livres, decisão que movimenta o mercado da NBA, pois estão disponíveis para qualquer time os contratar; o draft da NBA, considerado um dos melhores das últimas duas décadas, ocorreu no mesmo 26 de junho; o arremessador do San Francisco Giants, Tim Lincecum, no dia anterior, conseguiu seu segundo no-hitter da carreira; Tiger Woods voltou aos campos de golfe.

NBA, MLB, Golfe, LeBron James, Tiger Woods.

Mas o assunto mais popular entre os americanos, liderando as chamadas nos principais veículos de comunicação, foi a partida entre EUA e Alemanha.

O jogo aconteceu às 12h no horário de Washington. Assim, em grande parte dos EUA os americanos fizeram algo que seria natural se fosse no Brasil: estenderam a parada do almoço e assistiram ao duelo se aglomerando em frente de qualquer TV. É um simbolismo importante que evidencia o quão popular é o futebol na terra do Tio Sam, aniquilando aquela história de “quando que o futebol vai ‘pegar’ nos EUA?”.

Contra Portugal, encontro que aconteceu no domingo, dia 21, a audiência televisiva foi a maior da história para um jogo de futebol por lá. Já é forte o movimento para que as empresas dispensem seus funcionários mais cedo na próxima terça, 1º de julho, assim todos poderão acompanhar o confronto contra a Bélgica, às 16h, horário local.

Cronologia de sucesso

O futebol nos EUA só tende a crescer mais e mais. Uma ação da Fifa poderia ajudar isso, mas o erro cometido pode ser consertado. A Copa do Mundo de 2022 é destinada para ser em solo americano. Contudo a corrupção fez com que a maior organização do futebol mundial “escolhesse” o Catar. As denúncias de fraude estão evidentes e isso levará a Fifa a reconsiderar sua “escolha” inicial. Para corrigir plenamente, tem de escolher os EUA como sede, uma nação mais do que pronta para receber um evento de enorme porte.

A Copa do Mundo de 1994 (nos EUA) é criticada por motivos tolos, seja em aspectos dentro ou fora de campo. Porém, se esquecem de um detalhe: foi o torneio que teve a maior média de público de todas as Copas e o maior número total de torcedores nos estádios. Os jogos foram em estádios gigantes. Desenhados a priori para serem palcos de football, ficaram cheios de admiradores do soccer.

Dois anos depois a MLS (Major League Soccer) teve sua primeira temporada. A tentativa mais sólida de criar uma liga de futebol forte e competitiva no mercado. Hoje, a MLS é um sucesso: tem público, dinheiro e estabilidade. É um bebê de 19 anos se comparada com a MLB (145 anos), NHL (97), NFL (94) ou NBA (68), porém compete de igual para igual com as grandes ligas; e a NHL.

A média de público da MLS no ano passado foi maior do que NBA e NHL.

Repetindo:

A média de público da MLS no ano passado foi maior do que NBA e NHL.

Em porcentagem de capacidade de estádio de futebol, a MLS fica apenas atrás da Premier League (campeonato inglês) e da Bundesliga (campeonato alemão).

O público não é mais de apenas hispânicos, latinos. A classe média abraçou o esporte bretão e percebeu algo que há anos o brasileiro sabe: é um esporte barato. Basta usar a imaginação, fazer um gol em qualquer lugar, pegar bola e play on! Eis, aliás, um dos motivos da queda de popularidade da NHL nos Estados Unidos. Jogar hóquei é caro e, antes de ter habilidade para controlar o puck, é preciso aprender a patinar (e patinar bem...).

O futebol é um esporte menos complicado. Os telespectadores tem percebido isso. Em menos de duas horas uma partida acaba e em sua duração não há breaks comerciais quando um dos tempos estão em andamento. Eis, aliás, um dos motivos da queda de popularidade da MLB nos Estados Unidos. O beisebol é um esporte longo, parado e pouco atrativo para os jovens, que estão cada vez mais jogando futebol.

Outro ponto interessante é que o Fifa 14, popular jogo de vídeo game da EA Sports, é o mais vendido na América. Jogo esse que foi criado na onda da Copa do Mundo de 1994 – o primeiro exemplar, Fifa International Soccer, foi lançado em 1993.

Popular ou não?

Essa pergunta, quase clichê quando se trata de futebol nos EUA, é ultrapassada e quem a traz não enxerga de fato o que está acontecendo.

Um exemplo prático disso é o que trouxe a conceituada revista britânica The Economist na edição de junho deste ano. A reportagem “Um jogo de dois tempos” traz um questionamento interessante, mostrando se o futebol é mesmo o esporte mais popular/praticado em todo o mundo. Para tanto, traz exemplos dos países mais populosos da Terra, China e Índia, apresentando fatos de que o futebol em ambas as nações está longe de ser um esporte do povo – na China o desenvolvimento é um pouco melhor que na Índia. Neste mix, a revista fala também sobre os EUA, o que não cabe qualquer comparação com os países supracitados.

A decisão da Copa do Mundo de 2010, entre Holanda e Espanha, teve audiência de 24,3 milhões de americanos. Para se ter uma perspectiva, o decisivo jogo 5 da World Series (final da MLB) entre Texas Rangers e San Francisco Giants, no mesmo ano, teve audiência de 15 milhões... A audiência do jogo 7 da final da NBA entre Los Angeles Lakers e Boston Celtics, também em 2010, teve apenas 4 milhões a mais de telespectadores do que a partida entre holandeses e espanhóis...

Na belíssima Copa das Copas, que tem o Brasil como anfitrião, são os americanos o público estrangeiro que mais comprou ingressos para assistir as partidas do torneio.

Se a Fifa confirmar a Copa de 2022 nos Estados Unidos, o ano será um marco para a MLS e o futebol, que é popular sim.

Quando que você imaginou que americanos deixariam de trabalhar para verem uma partida de Copa do Mundo de futebol?

Brasileiros tudo bem, mas os americanos...

(GL)
Escrito por João da Paz

MLB na Fox Sports Brasil e como a tecla SAP é o grande trunfo da ESPN Brasil


Na semana passada a assessoria de imprensa da Fox Sports Brasil confirmou que transmitirá a temporada 2014 da MLB (liga americana de beisebol). É mais uma investida do canal no grande filão esportivo da TV paga: os esportes americanos.

O Fox Sports Brasil agrega a MLB ao pacote de basquete universitário (NCAA) e corridas de stock cars (NASCAR). Tudo isso com o aporte da matriz dos Estados Unidos, um dos mais importantes canais esportivos do país.

Essa mais recente ação da Fox Sports Brasil é uma clara ameaça à hegemonia da ESPN Brasil na cobertura de jogos ao vivo dos esportes americanos – status alcançado, em grande parte, pela exclusividade de mercado. A concorrência é sempre saudável e benéfica, com o cliente saindo sempre como o grande vencedor.

Porém, o assinante precisa agir com inteligência, para não acontecer o mesmo que o BandSports enfrentou quando transmitia a NFL.

Imediatamente após o anúncio da MLB na Fox Sports Brasil, fãs vociferaram palavras contrárias, negativas contra essa excelente novidade. Ao invés de celebrarem mais um espaço (raro) dos esportes americanos na TV brasileira, as criticas vieram supondo que as transmissões serão ruins, com profissionais despreparados e etc.

Similares palavras eram recebidas pelo BandSports quando inovou e trouxe ao Brasil jogos da NFL nas tardes de domingo no final da década passada. Servia como alternativa para que o telespectador pudesse acompanhar mais times e jogadores, além dos que apresentados aos domingos e segundas à noite na ESPN Brasil.

O BandSports hoje transmite o basquete universitário da NCAA, mas com uma aquisição de direitos “mais na raça” do que em berço esplêndido, que é o caso da ESPN Brasil e Fox Sports Brasil, pois ambos canais têm como fonte as matrizes americanas, que são concorrentes ferrenhas nos Estados Unidos e essa boa briga está se transferindo para cá.

Com a criação de um segundo canal, a Fox Sports Brasil criou um novo espaço para aproveitar direitos de transmissão de importantes competições de esportes americanos que sua matriz detém – que lá há o núcleo parte do canal aberto, Fox; diversos canais esportivos locais de TV por assinatura; e o recente criado canal nacional Fox Spots 1, para ser um rival direto a ESPN.

De direitos de transmissões plenos, a Fox Sports dos Estados Unidos têm a MLB com jogos aos sábados, NFL com jogos ao domingo, futebol americano universitário e a NASCAR. No âmbito local, há ainda NBA, NHL, basquete da NCAA. Todo esse leque é possível de chegar aos fãs brasileiros (parte já está aqui) e a MLB é mais um passo para que o canal assuma uma posição consolidada para ameaçar a ESPN Brasil também nos esportes americanos – lembrando que no futebol internacional, a Fox Sports está lado a lado com a rival, inclusive tendo direitos exclusivos do Campeonato Italiano e futuramente do Campeonato Alemão; nos Estados Unidos, a Fox Sports tirou a Liga dos Campeões da ESPN.

O grande trunfo da ESPN Brasil é a tecla SAP, serviço que desde a origem do canal é disponibilizado aos assinantes para que possam ouvir os jogos de esportes americanos com a narração original em inglês. Esse diferencial é importante, pois é bastante utilizado pelos telespectadores que não gostam dos narradores/comentaristas brasileiros. A Fox Sports Brasil, por enquanto, não oferece essa opção.

Não é desvalorizar os profissionais, mas vender as transmissões de esportes americanos valorizando o fato de ter a tecla SAP à disposição do telespectador é uma estratégia inteligente da ESPN Brasil em se destacar em relação à Fox Sports Brasil que, com o anúncio das transmissões da MLB, dá mais um passo para entrar definitivamente no mercado lucrativo dos esportes americanos.

É importante, contudo, reforçar que os fãs tem papel importante na manutenção da MLB na Fox Sports Brasil e na inclusão de outros eventos na grade de programação do canal. Incentivar e dar audiência são melhores atitudes do que criticar e desmerecer as transmissões – basta não assistir.

No Fox Sports Brasil 2, a MLB terá a concorrência do futebol e será preterido algumas vezes pelo esporte que é paixão nacional e registra números de audiência superiores. Mesma situação pela qual a NFL no BandSports sofreu. Os fãs, então, inconsequentemente, destilaram veneno contra o canal do Grupo Bandeirantes. Que agora sejam mais compreensíveis e apoiem a iniciativa da Fox Sports Brasil.

Tudo isso é bom, até mesmo para a ESPN Brasil, que precisa sair da zona de conforto e investir mais (especificamente na MLB), pois uma concorrente de peso está, aos poucos, ameaçando a autointitulada “líder mundial em esportes”.

(GL)
Escrito por João da Paz

David Ortiz é um herói, um herói suspeito


O dominicano David Ortiz está na história do Boston Red Sox, uma das mais importantes franquias dos esportes americanos. Ele está há 11 anos no clube e participou das últimas três conquistas da World Series (2004, 07 e 13). Nessa última foi considerado o MVP, o melhor jogador das finais. Mas uma dúvida paira a conquista do jogador de 37 anos.

Essa idade é o marco final da carreira, que tem um asterisco sim, a mancha do doping.

Nos últimos anos de MLB a performance de Ortiz não declinou como de costume, pelo contrário, atingiu números de um rebatedor no auge. Ortiz admitiu em 2009 que usou esteroides, relembrando flagra em teste no ano de 2003 (junto com Alex Rodriguez, New York Yankees), mesmo ano que entrou nos Red Sox. O Minnesota Twins o dispensou por baixa produtividade e “de repente” ele melhora seus números?

Veja que é legítimo suspeitar de Alex Rodriguez, mas não de David Ortiz.

Um erro não justifica o outro, porém a negação burra é nociva. Isso ocorre para não macular uma bela história e querer que o desfecho seja uma cópia de um conto de fadas.

Boston enfrentou momentos difíceis em 2013, principalmente pelo atentado ocorrido na tradicional maratona da cidade. O slogan Boston Strong foi abraçado pelos Red Sox e Ortiz, como um dos veteranos, liderou a equipe, que deixou o último lugar da tabela em 2012 para ser a campeã neste ano.

Dizer que Ortiz merece uma análise suspeita em relação a seu desempenho na temporada encerrada é totalmente plausível. Só quem o defende dirá ser algo sem sentido e inapropriado.

Porque o final tem de ser fantasioso.

Aí apelam para o termo acredito, misturando fato com fé – coisas diferentes.

Existe provas de Ortiz ter jogado dopado na World Series 2013? Não. Existe provas de Ortiz não ter jogado dopado na World Series 2013? Não. Logo, se acreditar no jogo limpo do rebatedor é aceitável, suspeitar (devido a seu histórico e produção) é tão quanto.

Só que ninguém quer dar o braço a torcer.

Não querem saber que Lance Armstrong, o grande mito filantrópico do esporte mundial forjou suas conquistas se escondendo atrás de substâncias estimulantes/proibidas.

Não querem saber que Michael Jordan agrediu companheiros (soco mesmo) e tinha sérios problemas com apostas ilegais.

O contrário vale também.

Afinal, A-Rod é o vilão egocêntrico. Mais um jogador dos Yankees, alvo de um ódio doente.

LeBron James “largou” Cleveland e nem quem tem interesse no assunto se doeu por ele querer uma carreira melhor e mais saudável. Será execrado sempre, mesmo que fatos comprovem diferente, pois creem no vilão e não aceitam um posicionamento oposto.

Nem o vil A-Rod, nem o herói Ortiz vão entrar no Hall da Fama da MLB. O rebatedor dos Yankees também teve uma pós-temporada suspeita, em 2009, quando foi eleito o melhor jogador dos playoffs e conseguiu números nunca antes visto em sua carreira. Levantou a taça da World Series.

Ambos são dignos de suspeita, porém é raro achar uma voz sensata sobre o assunto. Quem odeia os Yankees ou os Red Sox vai atacar o jogador respectivo. E a defesa será na base da famigerada injustiça, rechaçando com veemência o rótulo de suspeito.

Negar falhas é encobrir erros.

É errar outra vez.

(GL)
Escrito por João da Paz

A escolha entre se escorar no passado, viver o presente ou se iludir com o futuro


O merecimento é uma das duras leis da vida.

A chave é aprender a lidar com essa realidade.

Você só colhe o que planta; já ouviu essa, certo?

Por isso, e por tantas outras coisas, que não era para causar espanto a troca que o Cleveland Browns fez com o Indianapolis Colts, cedendo o RB Trent Richardson por uma escolha de draft da primeira rodada de 2014. Traduzindo: os Browns estão abaixo da mediocridade porque merecem e faz um brilhante esforço para permanecer na futilidade; e os Colts são essa brilhante franquia porque não se escora no passado e nem se ilude com o futuro, quer vencer hoje.

As grandes ligas têm muitos exemplos de clubes inúteis e inoperantes. O destino desses deveriam ser a extinção e cada uma delas (NFL, NBA, MLB) necessitam urgente de uma contração. Reduzir franquias é a solução para aumentar a competitividade, aprimorar a experiência dos jogos e evitar um vexame como esse feito pela diretoria dos Browns.

O que os Browns fizeram foi liberar a troco de nada o terceiro jogador do draft de 2012, um dos melhores runningbacks da NCAA quando atuava pela poderosa Universidade de Alabama. Richardson terá a chance de atuar ao lado de um dos quarterbacks mais promissores da NFL: Andrew Luck. Os Colts agora têm no elenco a escolha número 1 e número 3 do draft de 2012.

Nada mais, nada menos.

Os Browns estão jogando mais uma temporada no lixo, tirando uma onda dos torcedores. Simplesmente se livraram do melhor jogador da equipe. Como um político formado na escola de Paulo Maluf, o CEO da franquia, Joe Banner, vendeu aos torcedores a promessa de um amanhã mais competitivo.

Nada mais vazio.

A cidade mereceu perder o time em outrora – surgiu os Ravens na cidade de Baltimore em 1996. Talvez não é para tanto, mas a diretoria deve ser punida por tratar este bem tão valioso, uma franquia da NFL, com tanto desdém. É um caso similar ao que acontece com os Raiders em Oakland, outra franquia que se escora no passado e deveria, no mínimo, mudar de donos e mudar para Los Angeles.

Além dos Raiders e dos Browns, Bills, Jaguars são os clubes que fariam um favor imenso se sumissem – ou abrissem espaço para pessoas mais competentes na direção.

Assim como os Colts, Patriots, Seahawks, Falcons, Packers, Steelers, Ravens e Giants são exemplos da boa administração de uma organização da NFL. Fazem parte da elite não por acaso. Isso pelo uso da razão, pelo planejamento vencedor.

Nas outras grandes ligas também é nítido visualizar quem é quem.

O Miami Heat (NBA) é praticante desse pensamento vencedor. Enquanto haters choram e rangem os dentes no mais brilhante ato de recalque, o time chegou em três Finais seguidas, ganhando as duas últimas. Juntou forças para ir ao topo. E conseguiu.

O Houston Rockets serve, em minúscula escala, como comparativo ao Heat. Fez de tudo para adquirir Dwight Howard e mesmo que a liga não seja mais focada nos pivôs, ao menos é uma ação digna de competidor.

Boston Celtics, Brooklyn Nets, Los Angeles Lakers, Dallas Mavericks, Orlando Magic, Golden State Warriors são alguns exemplos recentes de amantes do presente vitorioso.

Enquanto isso Milwaukee Bucks, Toronto Raptors, Washington Wizards e Charlotte Bobcats são franquias perdidas e fariam parte do grupo de contração. Detroit Pistons, Philadelphia 76ers e New Orleans Pelicans estão se aproximando do caminho da perdição.

O Los Angeles Dodgers é o exemplo mais claro na MLB de uma franquia que almeja a glória. Mudou a direção e tomou como modelo a gestão vencedora do New York Yankees. Gastaram muita grana (a folha salarial/ano no início do campeonato 2013 era US$ 214 milhões), compraram jogadores do mais alto nível e apostou em jovens talentos – o extraordinário cubano Yasiel Puig está aí como prova disso. Conquistou neste ano o título da Divisão Oeste da Liga Nacional. O último título de divisão foi em 2009.

Na MLB o caso de contração é mais grave. Miami Marlins e Houston Astros são franquias de segunda divisão. Seattle Mariners e San Diego Padres não fazem o mínimo de esforço para construir uma equipe competitiva. Tampa Bay Rays até apresenta um time ou outro com talento, mas a diretoria é fraca e administra a franquia pessimamente. Sem contar o apoio zero da cidade/região. New York Mets e Toronto Blue Jays até tentam, utilizam uma lábia forte para vender o tal futuro promissor. Todavia o produto não corresponde as expectativas.

No meio de tanto sucesso e ilusão, uma imagem representa bem como um clube não tem ideia do que está fazendo. Os Browns pegaram mais uma escolha do draft em 2014 para quem sabe escolher um QB franchise player. Mas essa é uma velha história, de que amanhã vai aparecer o QB da redenção. Detalhe é que os Browns é um time sem nome e as camisas deveriam vir assim para diminuir a vergonha. Ou o torcedor tem de fazer uma pequena gambiarra para adaptar sua camisa para ter em suas costas o nome do atual QB titular (entre 1999 e 2013).



(GL)
Escrito por João da Paz


PS: Como curiosidade eis o tempo de serviço dos atuais QBs titulares de algumas franquias. Não é coincidência que estão entre as mais bem sucedidas da liga

Atlanta Falcons: Matt Ryan (desde 2008)
Baltimore Ravens: Joe Flacco (desde 2008)
Dallas Cowboys: Tony Romo (desde 2006)
New England Patriots: Tom Brady (desde 2001)
New Orleans Saints: Drew Bress (desde 2006)
New York Giants: Eli Manning (desde 2004)
Pittsburgh Steelers: Ben Roethlisberger (desde 2004)

Atleta tem de ser bom exemplo? Uma ótima pergunta...


Quando você vai assistir um jogo (qualquer esporte), você espera aquele duelo empolgante ou que os atletas mostrem o quanto são “bonzinhos” fora da ação?

Se esporte é entretenimento, por que exigir dos praticantes de qualquer modalidade que sejam modelos ímpares de cidadania?

Ou esporte não é entretenimento?

Caso não, o que é? Um ato cívico?

Atores, músicos, estão no mesmo patamar que atletas? Devem ser julgados da mesma maneira?

Albert Pujols, do Saint Louis Cardinals, vai processar o ex-jogador do clube, Jack Clark, que ao vivo em uma rádio acusou Pujols de usar esteroides. Litígio criado porque Pujols visa preservar sua imagem de bom exemplo. Bom exemplo para quem? Os torcedores? Para as crianças?

O torcedor quer home runs ou doações caridosas? Atos de voluntariedade, talvez?

Um adendo: uma investigação da ESPN, divulgada em Março deste ano, mostrou que 115 instituições de caridade fundadas por atletas da elite dos esportes americanos não cumprem os padrões básicos de organização beneficente e usam incorretamente dinheiro de doações. Que coisa, não?

Alex Rodriguez, do New York Yankees, é vaiado e aplaudido na mesma proporção pelos fãs do seu time. O lado da perseguição contra Alex é alimentado por acusações de doping. Qual posicionamento é o correto?

Não é exagero isso? Quer dizer, o cara pode ser quem bem entender longe dos holofotes, pode fazer qualquer coisa, e o que interessa são suas atuações com um uniforme?

Sim ou não?

E as crianças?! Ah, as crianças... As crianças admiram os atletas, não é verdade?

Ao menos os jogadores deveriam respeitá-las. É pedir de mais um pouco de decência e cuidado?

Porém o problema não é esse, sabia?

LeBron James, ala do Miami Heat, disse em entrevista veiculada na última segunda (19) no Good Morning America (programa matinal da ABC), que o envolvimento de jogadores de beisebol com esteroides manda uma mensagem errada para as crianças. Tá, mas a culpa é de quem?

Dos atletas ou dos pais?

Cadê os pais para impedir que crianças escolham um esportista como ídolo?

Está tão fácil assim transferir a responsabilidade?

Como será o futuro - cotidiano - do(a) garoto(a) que idolatra um atleta, alguém distante e desconhecido?

Se é para idolatrar, que os exemplos a serem seguidos sejam os pais, né?

Atleta tem de ser um bom exemplo? Uma ótima pergunta...

Cada um no seu quadrado, pois o que temos a ver com o cotidiano deles?

(GL)
Escrito por João da Paz
© 1 Adams / NY Daily News

Yasiel Puig: a história de um cubano nos Estados Unidos


A liberdade americana pode ser questionada, mas é viva na terra do Tio Sam. Uma estátua em New York representa esse importante direito humano, simboliza uma qualidade que outros países também desfrutam. Mas para aqueles privados dela, arriscar a vida para ser livre é a única opção plausível.

O cubano Yasiel Puig, 22 anos, jogador do Los Angeles Dodgers, é um pelotero inato. Ficar num país congelado no tempo, com a cara preto&branco de 1960, estava longe de ser o objetivo de sua carreira. Assim escolheu expor o que há de mais valoroso para si, tendo por meta saborear o que não há em seu país: essa tal liberdade.

Cuba é reconhecida por produzir grandes esportistas e os jogadores de beisebol estão nesse balaio. Porém é um lugar rico em profissionais da mais alta qualidade. São advogados, médicos, professores... Muitos desses, ávidos para serem livres e seguir com suas respectivas profissões rumo ao bem estar, à segurança, ao sossego.

A Guarda Costeira dos Estados Unidos tem registrado os números da travessia nada prazerosa entre o atraso e a contemporaneidade, entre o fim e o começo, entre a morte e a sobrevivência. Desde 2000, cerca de 200 cubanos morreram tentando chegar em solo americano; nesse mesmo período mais de 10 mil cubanos foram capturados e mandados de volta para Cuba, com destino incerto. Quem é pego por fugir da nação socialista é fadado ao desaparecimento, seja o físico ou o abstrato.

Puig decidiu por em risco a sua integridade e de sua família – esses que sofrem se tiverem parentes no território inimigo. Ele arriscou pela primeira vez na forma “tradicional” que cubanos optam: pedir asilo quando a seleção nacional vai disputar um torneio internacional. Isso Puig fez em 2011 na cidade de Roterdã, Holanda. Cuba participava do World Baseball Classic, porém o pedido de asilo político foi negado.

O governo cubano puniu Puig por essa ação, o suspendendo da temporada de 2012 do campeonato nacional e banindo indefinidamente sua participação na seleção do país. A ordem era que ele não podia deixar Cuba. As autoridades locais estavam intimadas para impedi-lo de sair da ilha caribenha.

Não deu muito certo. Puig tentou outras três vezes chegar aos EUA. Só consegui na quarta tentativa quando optou por um caminho diferente via México. No ano passado o atleta embarcou numa super lancha e chegou à cidade de Cancún. Lá uma pessoa ajeitou as coisas para ele, conseguindo um visto como habitante mexicano. Os detalhes dessa operação são desconhecidos, até porque Puig mantém o silêncio pensando na preservação da sua família, alvo fácil de represálias em Cuba.

Muitas informações desencontradas circundam o visto concedido ao cubano. Algumas apontam para um envolvimento com tráfico de drogas – traficantes teriam facilitado os caminhos burocráticos e de transporte em troca de uma parte da grana que Puig receberia ao assinar com um clube da MLB. Outras mostram que pessoas ligadas ao tráfico humano estejam envolvidas; na Flórida o compatriota Miguel Angel Corbacho está preso cumprindo pena de sete anos e processa Puig e sua mãe por falso testemunho, que o levou ao cárcere. O processo diz que Puig é um “informante do governo cubano”.

Enfim...

Puig, com o visto mexicano, entrou nos Estados Unidos legalmente e ainda recebeu tratamento especial da imigração americana por ser refugiado do comunismo castrista. Aí, no mesmo ano, o Los Angeles Dodgers apareceu e assinou um contrato de US$ 42 milhões/por sete anos.

Por que os Dodgers apareceram assim do “nada”?

O lendário olheiro do clube, Mike Brito, com experiência de 35 anos e descobridor de Fernando Valenzuela, assistiu Puig jogar numa partida no Canadá. Fez todas as anotações necessárias e as guardou. Um irmão de Brito, que mora em Cuba, entrou em contato para avisar que o jogador tinha deixado o país e embarcado no México. Rapidamente Brito armou um plano para assinar com Puig, pedindo ajuda de outra força dos Dodgers na observação de talentos: Logan White, vice-presidente das categorias de base amadoras (revelou, entre outros, Matt Kemp e Clayton Kersahaw).

Ambos deram um pulinho para o México, ficaram de olho em Puig e mesmo sem atuar por um ano, fecharam acordo com o atleta. Era a oportunidade que todos os lados tanto queriam: um espaço na MLB (Puig) e um nome para tomar as manchetes do mundo e arrasar em campo (Dodgers).

A franquia cuida de Puig como de fato deve ser, como um patrimônio. Contratou uma pessoa para morar com ele e mostrar os atalhos para aproveitar melhor essa tal liberdade. Tim Bravo, amigo de faculdade de White, é Diretor de Assimilação Cultural dos Dodgers, porém recebeu a missão extra de cuidar de Puig e também ser seu professor de inglês.

O jovem cubano aos poucos está assimilando o direito de ser livre. Liberto de um regime limitador. pode notar os momentos magníficos que a vida nos entrega e soltar um sorriso com detalhes nem tão importantes. Ele nem sabia quais eram as cores dos Dodgers antes de assinar com o clube. E ficou extasiado ao ver que há várias cores e sabores de Gatorade...

Puig fala com confiança, com fé, com determinação. Traços de sua personalidade que o fez encarar o desconhecido e buscar o que ambicionava. A carreira na MLB está só começando, mas um belo filme hollywoodiano, diretamente de Los Angeles, está sendo “rodado” sobre a vida de Puig.

Para nós, observadores latinos, está mais para uma novela. Podemos assistir a cada dia um capítulo diferente se desenrolar.


(GL)
Escrito por João da Paz

E se André Rienzo e Yan Gomes não fossem brasileiros?


O patriotismo tupiniquim é esquisito, contudo tem raiz num paternalismo natural de defender o que é seu sem medir consequência – não que isso seja certo. Características que se misturam em manifestações ditas a favor do país, mas que destroem bens públicos ou que pertencem a outrem. Traços aflorados em eventos esportivos no canto do hino à capela. Traços evacuados em tempos de eleição, vencidos pela preguiça de exercitar o pensamento crítico.

Nos eventos esportivos é nítido observar a proteção e exaltação exacerbada pelos brasucas que desfilam habilidades ao redor do mundo, refletindo o proliferado em nossa terra pela cobertura local de times de futebol que priorizam justamente os times locais. Há aí o perigo do ufanismo e da visão distorcida dos fatos em prol de ressaltar o produto oriundo da raiz.

A NBA experimentou o fútil, o medíocre e o complexo de vira-lata às avessas dos brasileiros, exemplificados no tratamento dado aos jogadores Leandrinho e Nenê. A MLB é a próxima liga americana que pode sofre desse mal que vem de baixo da linha do equador. Isso pela dupla André Rienzo (25 anos, Chicago White Sox) e Yan Gomes (26 anos, Cleveland Indians), nascidos no Brasil e hoje membros da liga de beisebol que tem como sede os EUA/Canadá e jogadores de todas as partes do mundo (Itália, Alemanha, Holanda, Austrália, Arábia Saudita...).

A terra brasilis com esses dois representantes marca seu espaço num esporte que tem grande potencial de crescimento no país do futebol. As franquias da MLB há anos estão de olho nos talentos daqui não por caridade, e sim pela qualidade que os jogadores têm e pelo lucro/sucesso que podem trazer aos clubes da liga.

O pensamento nacionalista radical cega aqueles que bebem dessa água, impedindo de enxergar o que de fato acontece e abraçam ideia utópicas, colocando Rienzo e Gomes como os semideuses do esporte. Dessa forma não são feitas as análises corretas e precisas.

E se Rienzo e Gomes não fossem brasileiros?

Ajudaria a entendê-los melhor, sem dúvida – e sem a vigente patriotada infundada.

Rienzo é o melhor exemplo. O pitcher é fruto de um trabalho extenso dos White Sox depois do garimpo em toda a América Latina. O clube deixou de lado esse método de recrutamento no começo dos anos 00’s e retomou em 2004 com a contratação do olheiro Dave Wilder (diretor de desenvolvimento de jogadores), responsável por avaliar adolescentes de 16-15 anos nos países latinos. Apesar da pouca tradição, o Brasil entrou na rota, mesmo a prioridade sendo Venezuela e República Dominicana. O beisebol na República Dominicana é igual ao futebol no Brasil.

Esse tipo de recrutamento não é uma tarefa fácil, pois são vários olheiros ligados nos mais jovens craques do beisebol e muitos empresários querendo tirar proveito (dinheiro). Então Wilder entrou na onda da corrupção e supervalorizou a compra dos jogadores que os White Sox contratavam, ficando com o excedente para repartir com os atravessadores no esquema. Em Março de 2008 Wlider foi preso na alfândega americana no Aeroporto Internacional de Miami por tentar entrar nos EUA com cerca de 40 mil dólares em dinheiro vivo não declarado. O Departamento de Justiça passou a investigar o caso e Wilder deixou a organização.

A contratação de Rienzo (e Anderson Gomes e Murilo Gouvea) está nesse rolo de Wilder. Rienzo foi contratado em 17 de Novembro de 2006. Apesar da confusão toda, o jogador não tem nada a ver com isso e dos três, Wilder acertou pelo menos um.

Rienzo chegou aos White Sox com 18 anos e o planejamento da franquia deu certo. Sete anos depois ele estreou na MLB, preparado para permanecer em Chicago por um longo tempo. Rienzo não é um cara que surgiu “do nada” – ou está na MLB por ser brasileiro. Os White Sox trabalharam duro para preparar um pitcher de alto nível. Nem mesmo o doping no ano passado (punição de 50 jogos nas ligas de base) foi empecilho. Acreditaram em Rienzo, afinal sabiam do que ele podia entregar para o time.

Agora o futuro só depende de Rienzo. Os White Sox fizeram de tudo para dar condições de se concentrar somente em arremessar. De Rienzo depende se será um titular ou um reliever. A situação atual o favorece, visto que Rienzo está na rotação dos pitchers titulares (na quinta posição), atrás de José Quintana, John Danks, Hector Santiago e Chris Sale. Seu desempenho neste final de temporada vai ser a mediação da capacidade de Rienzo de ser um pitcher dentro da rotação no começo do campeonato de 2014 ou um reliever de 7ª ou 8ª entrada.

Anos e anos passaram até Rienzo ter a oportunidade de atuar na MLB. O acaso não é o responsável por Rienzo, tampouco por Yan Gomes. Ambos atingiram o atual patamar que desfrutam por méritos. Ambos são jogadores da MLB. Nada mais, nada menos.

Yan Gomes foi duas vezes All-American (nomeado entre os melhores jogadores universitários) por dois anos: um defendendo a Universidade de Tennessee e outro pela Universidade Bradley. Atleta extremamente voluntarioso e disposto, com habilidade para jogar bem como catcher ou 1B. No ano passado, em Toronto, ele apareceu para a MLB e foi trocado para o Cleveland Indians. Hoje Gomes é um dos nomes mais sólidos na equipe e a franquia quer mantê-lo por muito tempo – não por ser brasileiro, mas pelo seu trabalho e dedicação.

Com a estreia de Rienzo frases simples passaram a ser ridículas pela desnecessária ênfase dada na entonação, similar com o que aconteceu no primeiro jogo de Gomes. “O primeiro strikeout de um brasileiro na MLB”, “o primeiro cuspe de um brasileiro no montinho da MLB”, “o primeiro ... de um brasileiro na MLB”; e outras baboseiras.

O efeito pernicioso da patriotada tem poder de embriagar, fazendo com que se enxerguem coisas que não são reais. Rienzo e Gomes são jogadores utilitários na MLB, assim como tantos outros entre 120 poucos jogadores (Mike Moustakas, Darwin Barney, Bud Norris, Felix Doubront...).

Quem quiser beber o drink ufanista fique à vontade. Mas tomar um gole de realidade é mais saboroso e faz bem.


(GL)
Escrito por João da Paz

Ryan Braun e como lidar com um mentiroso


Parafraseando: atire a primeira pedra quem nunca mentiu.

Mas a mentira tem gradações? Tipo, há uma mentira mais grave que a outra? Ou mentir por si só é ruim o bastante?

Situações do cotidiano nos colocam a ponto de não falar a verdade, de omitir algo para se beneficiar, para escapar de um inconveniente. A honestidade é tão rara que é tida como uma virtude...

Nos inclinamos a acreditar no outro, por mais que tenhamos um coração duro. Sim, os céticos estão por aí, porém dar uma segunda chance a alguém é comum, prática quase que automática.

Todos devem ter uma nova oportunidade?

Ryan Braun, 29 anos, jogador do Milwaukee Brewers, foi suspenso da MLB até o final da temporada 2013 (65 jogos). Ele foi pego num exame antidoping em 2011, que mostrou níveis elevados de testosterona (hormônio masculino) em seu corpo. Em 2012 ele evitou uma punição de 50 jogos alegando que sua amostra foi manipulada e examinada de maneira incorreta. A MLB aceitou o apelo e Braun se colocou em frente a um púlpito em Fevereiro do ano passado para fazer uma auto defesa. Ação que ele pensava ser a ideal, mas que mancharia sua carreira pela cara de pau estampada naquele dia.

Braun, usando um microfone com o logo dos Brewers estampado, se posicionou de cabeça erguida perante a mídia e disse, entre outras coisas:

A verdade é sempre relevante e ela prevaleceu

Eu realmente creio do fundo do meu coração e aposto minha vida que substância alguma entrou em meu corpo em qualquer que seja a ocasião

Quando você sabe que é inocente é extremamente difícil ter que provar isso quando você é 100% culpado até provar inocência

Vou continuar em frente. Nós vencemos porque a verdade está do meu lado

Um ano depois o jornal alternativo Miami New Times (semanal) publicou reportagem que aponta ligação entre a clínica Biogenesis e jogadores da MLB. Essa clínica dava aos atletas esteroides para melhorarem suas performances em campo. Entre os nomes especulados que estivessem envolvidos no esquema, o de Braun estava presente. A substância comercializada é a HGH, responsável por acelerar a produção de hormônios.

A própria imprensa, e não a MLB, tratou de investigar o caso, se o reportado tinha veracidade e quais os laços entre o dono da clínica Biogenesis, Anthony Bosch, e os jogadores que teria atendido – entre eles Braun. Do portal Yahoo! à ESPN brotavam notícias sobre o caso e que de fato havia a tal conexão. Restava a MLB agir.

A liga dizia que seria rigorosa nas punições, seguindo o acordo firmado com o sindicato dos atletas. Se um atleta for flagrado no doping pela primeira vez, punição de 50 jogos; pela segunda vez, punição de 100 jogos; pela terceira vez, expulsão definitiva da MLB. Braun e Alex Rodriguez (do New York Yankees) seriam os primeiros nomes apresentados pela liga para iniciar o processo de punição – Rodriguez uma suspensão de 100 jogos. No último dia 22 de Julho a suspensão de Braun foi anunciada e o jogador sequer apelou. Assinou, concordou e não se colocou em frente a um púlpito para responder questões da mídia. Uma nota mequetrefe foi espalhada por aí, com uma frase que diz: “Quero pedir desculpas a todos que decepcionei...”.

Suficiente?

Braun vai perder uns US$ 3 milhões com essa suspensão, mas volta em 2014 para receber um salário anual de US$ 10 milhões. Seu contrato com os Brewers vai até 2020 e ele receberá ao final do vinculo mais de US$ 145 milhões.

Então?

Ao aceitar a suspensão sem argumentar contra, Braun admite que se dopou, que sabia o que estava fazendo e que violava as regras da MLB. Fora as mentiras que disse sem escrúpulo algum! Afinal, são assim os mentirosos: manipulam sem escrúpulos morais e não têm medo de que as pessoas desconfiem. Só que a casa caiu para ele; em termos, lógico.

Em termos porque seu mega-multi-milionário contrato está vigente. No ano que vem Braun estará jogando pelos Brewers ouvindo um forte apoio dos torcedores de Milwaukee. A franquia vai estar ao seu lado, pois o MVP da Liga Nacional de 2012 é o melhor jogador da equipe, o único capaz de gerar lucro ao clube que está no menor mercado comercial da MLB. Sem Braun, até a cidade de Milwaukee sofre.

Um pitcher dos Brewers, em entrevista ao repórter Pedro Gomez da ESPN, colocou em discussão um ponto de vista interessante: “Se um familiar/parente seu é pego trapaceando, você vai deixar de amá-lo? Você pode ficar triste, decepcionado, mas não vai deixar de amar alguém que é parte da família, não vai deixar a pessoa largada sem apoio, sem um conforto. Braun é família para nós”.

Uma justificativa que os fãs também vão usar. Braun não será vaiado no Mller Park, isso é certeza. O chefe de operações dos Brewers, Rick Schlesinger, disse em entrevista ao diário Mlwaukee Journal Sentinel que as vendas de produtos relacionados a Braun teve uma aumento de vendas no estádio após o anúncio da suspensão.

Até Barry Bonds é aplaudido, vejam só. Em San Francisco ele está imune às vaias, como se a cidade não soubesse o que aconteceu com Bonds, um cara indiciado em acusações de perjúrio (jurar falsamente) por dizer que nunca tomou esteroides e obstrução de justiça por mentir para um júri  (investigação do caso BALCO). Foi condenado.

Os apologistas de Bonds usam cada desculpa esfarrapada para defendê-lo que dá aquela famosa vergonha alheia. Braun terá apologistas do mesmo naipe? Talvez. Contudo cabe refletir sobre o seguinte: Bonds e Braun merecem uma condenação eterna por mentir? E o perdão?

Especialistas e ex-jogadores querem uma punição mais rigorosa para quem busca tirar proveito ao usar substâncias ilegais. Lembram dos atletas que jogam limpo, daqueles que – por exemplo – foram preteridos pelos dopados em Jogos das Estrelas, perdendo a oportunidade de se expor ao grande público e de firmar bons contratos publicitários, de ganhar bônus e etc.

Quem fere o regulamento comete um erro. E quem mente ao dizer que não feriu o regulamento, erra mais? Essa pessoa, que jura inocência mesmo com o conhecimento puro de ter violado as regras, é digno de aplausos e um contrato anual de US$ 10 milhões?


(GL)
Escrito por João da Paz

Jackie Robinson, o fim da segregação racial e as semelhanças com a aceitação homossexual


Estreia o filme “42”, nos Estados Unidos, que conta a história de Jackie Robinson, primeiro jogador afro-americano a atuar num time da MLB (Major League Baseball). Seu primeiro jogo foi no dia 15 de Abril de 1947 e neste domingo 14, como comumente acontece, todos os atletas da liga usarão o número 42 em sua homenagem. Lembrança da barreira que foi estraçalhada com sua contratação, 600 dólares por mês, pelo então Brooklyn Dodgers.

A segregação racial nos EUA vigorava em sua deplorável plenitude. Os negros tinham que sentar nos bancos de trás dos ônibus, dormir em hotéis separados de brancos, comer em restaurantes somente em lugares reservados. Mas, por exemplo, eles podiam servir as forças armadas da nação. Logo uma voz ecoava: se morrem em guerras e lutam pela bandeira americana, por que não participar do passatempo yankee?

O tradicionalismo misturado com um conservadorismo forte fazia a situação não ser tão simples. Similar posição que se nota em 2013 com a expectativa de jogadores dos esportes americanos assumirem serem gays e permanecerem jogando. Esse assunto foi tratado aqui no grandes ligas no texto “Aspectos sociológicos acerca de jogador gay na NFL”.

Jackie Robinson não era um nome qualquer escolhido entre mais de 100 para ser o pioneiro numa árdua luta que deixou muitos mortos e feridos. A batalha homossexual se iguala na questão do direito individual e erradicação da intolerância. Para tanto, os jogadores gays que assumirem sua sexualidades – se espera que na NFL sejam quatro atletas – tenham uma reputação esportiva acima da média, sejam carismáticos com o público e de franquias exemplares, para assim poder segurar o provável ataque inconsequente que receberão.

Branch Rickey era o diretor de beisebol do Brooklyn Dodgers, cargo que assumiu em 1943. Rickey gozava de um sucesso ímpar no esporte: quatro títulos da World Series como GM do Saint Louis Cardinals (1926, 32, 34 e 42). Um ano após o quarto troféu foi para New York com a missão de construir um time campeão. Com isso em mente ele arquitetou um plano de montar o melhor elenco de jogadores. Olhar as chamadas Negro Leagues era crucial, pois lá o talento brotava.

Os negros tinham sua liga própria porque eram proibidos de jogar beisebol desde 1884 (imagina...). O primeiro comissário da MLB, Kennesaw Mountain Landis (1920-1944) era oposto a integração de negros no beisebol profissional. Diversos artigos de jornais da época confirmam isso, mas em alguns dos seus discursos ele desconversava, jogando a responsabilidade nos donos das franquias. Fato é que nem Landis nem os diretores faziam qualquer esforço para contratar afro-americanos.

Até Branch Rickey entrar em cena.

Rickey, papel interpretado por Harrison Ford no filme “42”, assumiu os Dodgers uma temporada depois do segundo comissário passar a gerir a MLB: Happy Chandler (1945-1951). Um político influente, Chandler vinha de uma sequência importante na carreira, sendo governador do estado de Kentucky (1935-39) e senador (1939-45). De pensamento esquerdista, membro do Partido Democrata, ele era voz ecoante a favor de leis trabalhistas em prol dos operários. Sua participação no caso Robinson foi fundamental.

Em seu primeiro ano como comissário Rickey assinou Robinson para ser membro do time de base localizado em Montreal, Canadá. Era um teste para todos. Por uma temporada o diretor dos Dodgers conversava com Chandler sobre Robinson jogar na MLB. Rickey falava maravilhas do atleta formado na UCLA e com um talento especial apresentado em quatro esportes: football, basquete, beisebol e atletismo (salto em distância). Militar, Robinson era um homem preparado, educado e pronto para encarar o desafio enorme que viria ao seu encontro. Jogar beisebol seria o menor dos problemas.

Rickey fez uma peneira nas Negros Leagues. O afunilamento era resultado da busca por alguém com uma habilidade em campo excelente e com mente suficiente centrada para administrar a pressão de ser o primeiro negro na MLB.


Confiante que Robinson era o cara, Rickey assinou o “vultoso” contrato e Chandler aprovou. Robinson representou, segurou a onda em campo e levou pra casa o prêmio de novato do ano. Mas fora dele, como infelizmente era de se esperar, os ataques racistas eram constantes.

Os torcedores esbravejam impropérios da mais baixa ordem. Até aí era complicado de se fazer algo. Agora quando os ataques partiam de dentro da MLB, Chandler assumia a responsabilidade e defendia Robinson com intensidade. Em 1947 ele precisou se impor duas vezes, uma contra o Philadelphia Phillies (seu então treinador, Ben Chapman xingava Robinson explicitamente), e outra contra os Cardinals (os jogadores do clube ameaçavam não jogar contra os Dodgers com Robinson em campo; Chandler informou que quem fizesse isso seria suspenso indefinidamente).

Robinson defendeu os Dodgers por 10 temporadas. Seis vezes participou do Jogo das Estrelas, MVP em 1947 e campeão da World Series em 1955. Sua qualidade estupenda facilitou e conforme os anos foram passando as pessoas olhavam para ele sem notar a cor da pele. Os ignorantes comentários racistas continuaram, contudo Robinson manteve-se firme e não respondia com ira. Mesmo atuando na MLB tinha situações, principalmente na Região Sul dos EUA, que era obrigado a sentar na parte de trás dos ônibus, a sair de aviões expulsos por brancos... Numa sociedade completamente dividida pela questão racial, Robinson foi um personagem primordial no rompimento desse tabu.

Existem jogadores gays nos esportes americanos, evidentemente. Entretanto esses não assumem devido a fatores que não estão sob controle próprio. Os que tomarem coragem irão enfrentar revoltas. Daí a preparação cuidadosa para a revelação que logo será divulgada. Os jogadores são da elite, com pessoas ao redor aptas a defendê-los incondicionalmente, seja para organizar uma marcha ou movimento; seja para criar um ambiente sem estardalhaço.

Quem não teve a oportunidade de acompanhar a carreira de Robinson, ou saber de sua história, terá a oportunidade de conhecê-la através do filme “42”. Embora neste momento estamos vivendo um “filme”, acompanhando a história se desenrolar. E anos mais tarde ela será retratada num roteiro hollywoodiano com as pitadas de realismo que observamos decorrer bem na nossa frente.

É a queda de mais um estúpido muro.



(GL)
Escrito por João da Paz
© 1 por The Roosevelts

O futebol no Brasil e o beisebol na República Dominicana


Uma criança brasileira tem o sonho de ser jogador de futebol profissional para não somente atuar em grandes times e conquistar importantes títulos, mas justamente ter uma profissão. Milhões de reais almejados para ajudar a família sair da vida precária e difícil, transformação para vida de luxo e glamour.

Um garoto da República Dominicana tem sonho parecido, as diferenças são o esporte (beisebol) e o nome do dinheiro (dólar).

No próximo dia 13 será lançado nos Estados Unidos – e também online – o documentário “Ballplayer: Peloteros”, que tem como produtor executivo o atual treinador do Boston Red Sox, Bobby Valentine, e narração do ator John Leguizamo. O filme conta a história de dois adolescentes dominicanos que buscam espaço na MLB.

Note: adolescentes. Assim como no futebol brasileiro, onde os talentos são sugados cada vez mais jovens e sendo explorados por empresários, na República Dominicana os olheiros da MLB observam meninos de 16 anos, e esta tem de ser a idade, pois mais jovem não dá devido regras da liga e mais velho é considerado isto, muito velho para ser alvo de aposta e contrato.

Surge, assim, um problema grave que acontece no país caribenho e que o documentário aborda: a falsificação de idade. Jovens que dizem ter 16 anos, mas na verdade tem 2, até 3 anos a mais. Alguns, para provar que realmente tem 16 anos, mostram fotos de recentes aniversários, sempre ao lado do bolo com as velas em cima dele representando uma espécie de contagem progressiva de idade.

“Ballplayer: Peloteros” explora este lado obscuro do beisebol na República Dominicana, mostrando os comportamentos escusos dos nativos e de representantes dos clubes da MLB. Corrupção, tudo para conseguir levar aos EUA o próximo talento do esporte, vulgo máquina de fazer dinheiro.

Não há “santinho” nesta história. Os empresários dominicanos, que recebem 30% caso seu jogador assine com um clube da MLB, forjam datas de nascimento e cometem outro ilícito: induz garotos a tomar esteroides para “bombar” o corpo. Eis então mais um problema que o documentário discute.

Por outro lado, “Ballplayer: Peloteros” mostra um lado humano fácil de identificar. Os dois garotos protagonistas, Miguel Sano e Jean Carlos Batista, são de bairros paupérrimos. Lutam para conseguir uma refeição diária, passam por dificuldades básicas. A saída da miséria é ir para os EUA e jogar beisebol. É a saída. Não atingir esta meta trará um futuro obscuro, pois deixar a escola de lado torna “fundamental” para se dedicar ao jogo e ter seu nome chamado por uma franquia.

Quantos garotos brasileiros fizeram isto? Ou fazem neste exato momento? Largam a escola, fogem de casa e tentam vaga num time grande de seu estado para poder ter uma profissão. Talvez não tenham talento para integrar um grande time e conquistar aqueles importantes títulos. Logo um contrato com uma equipe búlgara, belga, ou qualquer que seja, é a meta para juntar dinheiro e sustentar sua família, levar alivio ao bairro pobre da cidade pequena.


O documentário foi filmado em 2009 e um dos garotos está na MLB: Miguel Sano (foto acima). Ele é uma das 20 melhores promessas da liga, após receber bônus de 3,1 milhões de dólares ao assinar com o Minnesota Twins. Hoje Sano tem 18 anos.

Como no Brasil, são poucos os que conseguem se profissionalizar. Como no Brasil, são muitos os que fazem sucesso no grande palco. Isto creditado a qualidade dos jogadores e empenho necessário para ter o privilégio de receber uma grana por ser um atleta. Não é qualquer um que é chamado nas peneiras em ambos os países. Fora a habilidade, é preciso dedicação, compromisso.

A República Dominicana recebe uma atenção especial da MLB por ser um celeiro de craques. Na temporada 2012, 11% dos jogadores inscritos na liga são dominicanos. Por coincidência, 11% (8 de 70) é o número de jogadores do país que estarão atuando no Jogo das Estrelas da MLB que acontecerá no próximo dia 10 (terça) em Kansas City:

- Robinson Canó (New York Yankees)
- Adrian Beltre (Texas Rangers)
- Jose Bautista (Toronto Blue jays) – saiba mais sobre o jogador no artigo “Jose Bautista escolheu esperar
- David Ortiz (Boston Red Sox)
- Fernando Rodney (Tampa Bay Rays)
- Rafael Furcal (Saint Louis Cardinals)
- Melky Cabrera (San Francisco Giants)
- Starlin Castro (Chicago Cubs)

Destes, seis são titulares ou na Liga Americana ou na Liga Nacional, uma porcentagem de 33% (6 de 18). Número expressivo, levando também em consideração que estes seis foram escolhidos pelos torcedores em votação.

Todos têm histórias cativantes, vamos conhecer a jornada até a MLB de três deles.

DAVID ORTIZ

Ortiz enfrentou dois problemas citados aqui: acusado de usar esteroides e de mentir sobre sua idade. Nada comprovado.

Assinou com o Seattle Mariners no limite do considerado padrão, 10 dias antes de completar 17 anos. Tem um currículo rico na MLB e faz questão de ajudar jovens garotos do seu país a chegar na liga sem esquecer os estudos, tendo assim uma segunda opção se porventura o primeiro plano falhar.

Esta vontade em ajudar começou logo cedo em sua carreira e Ortiz, em 1991, conheceu uma futura estrela do seu país: Robinson Canó. Na época Ortiz estava nos Twins, com 20 e poucos anos; Canó um adolescente. Agora estão em lados opostos de uma das rivalidades mais intensas da MLB – Ortiz nos Red Sox e Cano nos Yankees – mas a amizade é forte e o Big Papi (Ortiz) mantém sua atitude e honra o apelido.

ROBINSON CANÓ

Canó desfrutou de vantagens em sua vida: pai arremessador profissional (com curta carreira na MLB) e viver/estudar por três anos nos EUA, da sétima até a nona série do ensino médio. Isso facilitou o caminho de Canó até a liga, contando com seu pai fazendo a vez de treinador, arremessando as bolas para o filho rebater.

O jogador é presença constante na periferia da sua cidade: San Pedro de Macoris. Lugar muito carente, que até pouco tempo não tinha ambulância para atender a população, por exemplo. Não tinha porque Canó recentemente doou 6 veículos para a prefeitura. San Pedro de Macoris é famosa por revelar talentos para a MLB: total de 76 jogadores nascidos na cidade jogaram/jogam na liga – a população (2012) é de 263 mil habitantes. Sammy Sosa e Alfonso Soriano são de lá.

ADRIAN BELTRE

Começou “tarde” no beisebol, com 12 anos. Logo se destacou e assinou com os Dodgers em 1994, ganhando bônus de 23 mil dólares. Mas este acordo criou um grande problema, pois o dominicano tinha 15 anos.

Beltre não forjou sua idade, apenas não sabia que existia esta regra de assinar com apenas 16 anos. Os Dodgers pensaram que Beltre estava no limite permitido. A franquia foi punida por um ano e os olheiros do clube na República Dominicana foram suspensos. Beltre nada sofreu e no ano seguinte entrou na MLB defendo o próprio Dodgers.


 (GL)
Escrito por João da Paz

© 1 Casey Becker / de “Ballplayer: Peloteros”
© 2 Tony Farlow / MiLB Media

O que a ESPN americana ensina a folha.com; e a outros sites que cobram por conteúdo

Desde 21 de Junho deste ano, o site do jornal Folha de S. Paulo passou por remodelação, tentando se adaptar ao novo momento da mídia. Deixou de se chamar Folha.com, passou a ter o logo do jornal e implantou uma modalidade nova na imprensa online brasileira: cobrança por conteúdo. Apesar de uma prática difundida entre grandes nomes do jornalismo mundial, a Folha não está preparada para pôr em atividade o modelo chamado de paywall (“muro de cobrança”) e deveria olhar para a ESPN americana como exemplo, ao invés de se espelhar no New York Times.

O paywall da Folha funciona da seguinte maneira: o leitor tem acesso ao conteúdo completo do jornal (antes alguns textos eram restritos a assinantes), porém só pode ler 20 textos por mês. Após atingir esta cota, receberá um convite para preencher um cadastro, que lhe dará direito a outros 20 textos. A partir do 41º, o convite passa a ser para assinar o jornal e ler o site sem limites.

Vários erros são possíveis observar, a começar pela iniciativa e passar pelo trâmite do processo. O jornal diz que são 40 textos/mês livres ao usuário. Mas na verdade são 20, pois a outra metade não terá muitos adeptos pelo “simples” cadastro a ser feito. Nem os primeiros 20 devem ser utilizados realmente, visto que muitos leitores não irão voltar a visitar o site justamente por saber que terão uma parede logo a frente para bloqueá-los.

Um fato dito por Sérgio Dávila, editor executivo da Folha, é que o leitor geral não sentirá esta restrição.  Quem lê mais de 20 textos por mês no site? Porém só o funcionamento desse método afastou os leitores.

Sérgio justifica a ação da Folha dizendo que o jornalismo de qualidade custa caro, por isso quer angariar mais assinantes para bancar o conteúdo do jornal. Quem responde melhor este tópico é a ombudsman da Folha, Suzana Singer, responsável por avaliar o comportamento do jornal e de suas iniciativas:

Para ler pequenos informes sobre o que aconteceu nas últimas horas, em textos mal-ajambrados, ou para saber das fofocas mais recentes sobre celebridades do 'mundo B', ninguém precisa gastar um centavo, há uma oferta enorme de sites e blogs gratuitos na rede".

A Folha se compara ao New York Times, jornal americano que cobra por conteúdo. Entretanto são realidades totalmente diferentes (e conteúdos diferentes, diga-se). Uma coisa é o NYT criar o tal “muro de cobrança”, outra coisa é a Folha querer o mesmo.

No NYT você não vê manchetes deste naipe: "Gretchen toca sino de 'A Fazenda' e pode deixar programa".

O diretor executivo do jornal paulistano se sustenta na boa receptividade que os leitores do NYT tiveram com o paywall, aumentando o número de assinantes online – e com um detalhe, reduzindo o limite de textos gratuitos de 20 para 10. Mas esqueceu de pontuar um aspecto importante, a resposta para a pergunta: Por que existe o paywall?

O New York Times está no limbo como tantos outros jornais do mundo, tendo queda no número de vendas em bancas, acarretando uma gravidade, que é o declínio da publicidade impressa. No último bimestre de 2011, o lucro do NYT caiu 12%, puxado pela queda das propagandas no jornal impresso (8%). Isto contribuiu para que a perda do NYT em 2011 fosse de US$ 40 milhões.

Apostar no paywall para cobrir o rombo que o jornal impresso presenteia não é a melhor estratégia para a o NYT (muito menos para a Folha). Ao invés disto, a estratégia tem de ser outra, apostar num conteúdo gratuito online que seja diferencial do impresso, gerando mais leitores de página única e assim atraindo mais patrocinadores.

O jornalismo de qualidade entra em cena agora.

E o exemplo melhor disto é o que a ESPN americana faz.

O canal de esportes via TV por assinatura tem uma vantagem, visto que arrecada muito através da venda individual que tem nos EUA – o canal é vendido separadamente pelas operadoras, num custo em volta dos 5 dólares, o canal mais caro (de longe) das TVs por assinatura.

Nesta brincadeira se ganha um bom dinheiro.

Mas a plataforma digital é outra mina de ouro que a ESPN explora com eficiência e chama a atenção o que ela faz gratuitamente. Antes, vale ressaltar, que eles tem um espaço para assinante, chamado de “insider”, lugar com conteúdo exclusivo onde as análises de comentaristas/especialistas são os destaques – e não a notícia.

Isto impede que um futuro "muro" impeça que um internauta, em meio a um momento de notícia urgente (breaking news), encontre uma indesejada mensagem-convite ao procurar o desdobramento do assunto mais quente em questão. Risco que correm os jornais adeptos do paywall em notícias.

A ESPN fez de seu site um portal esportivo completo de informações e notícias. Conforme medição em Maio deste ano, realizada pela comScore Media Metrix, foi o terceiro site esportivo mais visitados por americanos, atrás da FOX/MSN e Yahoo. 

O site espn.com traz conteúdo diferente do que é visto na TV e em rádios pertencentes ao grupo. Assim, quem é assinante do canal e/ou ouvinte sabe que no site irá encontrar matérias exclusivas. Abrange um maior público, que pode ser leitor do site e não telespectador ou ouvinte. Como se fossem veículos independentes.

Ou seja, a atração do site da ESPN não é o que a Folha prega para que você “atravesse o muro da cobrança” e leia o conteúdo completo do jornal impresso.

Um modelo deste trabalho primoroso da ESPN é o realizado com o programa “Outside  The Lines”, grife da emissora que só perde para o Sportscenter em importância. O OTL é um programa investigativo e de debates sobre assuntos “além das linhas” de jogo. Somente ia pro ar aos domingos de manhã, mas ganhou uma versão diária pela tarde e transmissão via rádio também.

No site o trabalho é magnífico e as matérias publicadas são diferentes das edições diárias ou semanais do OTL na TV. Clique nos links abaixo e observe:




Note a extensão do texto, o trabalho gráfico, as fotos, a qualidade da informação... Tudo isso de graça, sem custo algum para o internauta.

A ESPN aposta nisto para gerar tráfego, page views e atrair patrocinadores – arrecadando dinheiro para fazer um jornalismo de qualidade.

Esta é a melhor estratégia.


(GL)
Escrito por João da Paz

Faz sentido vender o New York Yankees


Esta foi a capa (à esq.) do tabloide New York Daily News de ontem: “Buy, Buy, George?” – e a contra capa (à dir), que dá sempre destaque para o esporte local, com a manchete “The $ 3 billion question”. Tamanho destaque que leva a uma reportagem do jornal que mostra indícios da venda do New York Yankees; dando adeus à família Sreinbrenner (por isso a brincadeira na capa de “Buy, Buy” [tr. compre, compre], que tem pronúncia parecida com “Bye, Bye” [tr. tchau, tchau]) e mostrando o valor que potencialmente a franquia pode ser vendida.

Não é exagero dizer que vale mais que US$ 3 bilhões.

A cidade de New York ficou efervescida e o assunto passou a ser o tema da vez em conversas informais, programas de rádio e TV, nas plataformas sociais online... Por isso os Steinbrenner’s representados por Hal, um dos filhos de George que assumiu a franquia após a morte do pai em 2010, deixaram claro que não tem intenção de vender os Yankees e que a reportagem é “ficção”.

Verdade ou não, eles não iriam admitir que “procura-se” compradores para, segundo a revista de economia Forbes, o segundo clube esportivo mais valioso do mundo: US$ 1.850 bi (valor estipulado em 2011) – ficando atrás do Manchester United (futebol, Inglaterra) e empatado com o Dallas Cowboys (NFL).

Quando se fala em venda de clube da MLB, principalmente na atual conjuntura financeira que a liga passa, logo se pensa que tal produto está falido ou indo pra falência. São os casos do Los Angeles Dodgers e Texas Rangers, clubes que recentemente passaram por mudanças de donos.

Os Rangers, atuais bicampeões da Liga Americana, começaram a mostrar problemas financeiros em 2009 quando o dono era Tom Hicks. Em Janeiro de 2010 Hicks entrou em acordo com um grupo liderado pelo lendário pitcher Nolan Ryan e o advogado Chuck Greenberg para vender o clube por US$ 570 milhões (aproximadamente). O negócio acabou não sendo fechado, virou uma confusão e a liga ameaçando assumir o controle do time, e em Maio do mesmo ano, com uma dívida em torno de US$ 575 milhões (grande parte de salários atrasados de jogadores) os Rangers declaram falência. Em 4 de Agosto de 2010 a corte de falências local declara um leilão público para decidir quem assume o clube e Ryan/Greenberg ganham com uma oferta de US$ 385 milhões, vencendo o grupo do empresário Jim Crane – Crane, em Novembro de 2011, comprou o Houston Astros.

Falta de um acordo firmado anteriormente causou prejuízo à Tom Hicks acima do esperado, não aproveitou a oportunidade.

Os Dodgers passaram por uma novela mexicana cheia de capítulos envolvendo o divórcio dos antigos donos, Frank e Jamie McCourt – que você acompanhou aqui no Grandes Ligas em Suave Veneno e Ainda resta uma esperança. Em 2011, o comissário da MLB, Bud Selig, assumiu o controle da franquia por se preocupar com a administração das finanças. Em 27 de Junho do mesmo ano os Dodgers declaram falência. Em Março de 2012 a venda dos Dodgers foi fechada com um grupo de investidores (com a participação de Magic Johnson, lenda da NBA) que comprou os azuis de Los Angeles por US$ 2 bilhões.


A Forbes avaliava os Dodgers por volta de US$ 1.4 bilhões. Logo após acontecer esta histórica (e astronômica) aquisição o presidente dos Yankees, Randy Levine (foto acima © AP), foi questionado pela ESPN sobre a venda da tradicional franquia e disse: “É um preço incrível. Se eles valem 2 bilhões, só posso imaginar quanto vale os Yankees. Mas o interesse de vender a franquia é absolutamente zero”.

Justamente nesta curiosidade de saber quanto vale os Yankees que a família Steinbrenner entrou em Wall Street, centro financeiro de New York, para saber quanto vale sua franquia. O repórter do Daily News, Bill Madden, ouviu pessoas influentes do mercado nova-iorquino e defende a veracidade da sua matéria contra a negação de Hal. Sabiamente, Madden afirmou que ouviu pessoas com conhecimento da causa e que sabem do burburinho, não pessoas anônimas que escolheu aleatoriamente nas ruas da cidade.

Longe de passar por crise financeira, a venda dos Yankees faz sentido por aproveitar o momento do mercado e a situação que o clube a família se encontram.  A inocente pergunta “Se os Dodgers valem 2 bi, quanto vale os Yankees?” pode ter uma resposta do tipo “3 bi!” e atiçar a vontade de não desperdiçar a oportunidade. Este valor, 3 bi, foi o que a reportagem de Madden apurou com os homens de negócios de Wall Street.

Vale mais. Os Yankees tem uma ficha histórica sem igual em todos os esportes americanos. Assim como os Dodgers (em Los Angeles), estão num grande centro metropolitano, só que New York é a megalópole mais importante do mundo. Possui uma base de fãs incomparável e um importantíssimo empreendimento no mundo de hoje da MLB: uma TV própria.

A YES Network tem participação direta nas ações do clube (34%) junto com os Steinbrenner’s. A rede de TV por assinatura, que transmite os jogos dos Yankees, faturou em 2011 a bagatela de US$ 224 milhões – US$ 90 mi pagos ao NYY pelos direitos de imagem. É um ativo super importante porque controla os jogos ao vivo, de grande importância pela audiência que atrai (o trunfo das TV’s americanas) e, consequentemente, pelo relacionamento com os patrocinadores locais, por tratar diretamente com os fãs dos Yankees em New York.

Somado a isso tem o moderno estádio e jogadores de imenso prestígio no elenco.

Vale mais que US$ 3 bilhões.

Bom, este é o valor que se cogita agora, mas pode cair posteriormente. Com um olhar na escalação do time, percebem-se atletas de grande talento, porém de idade avançada e com contratos altíssimos de longa duração. Não há uma renovação nítida em operação nos Yankees. O próprio Hal expôs a vontade de reduzir a folha salarial e não tomar atitudes que seu pai fazia: pagar quanto queria aos jogadores e injetar dinheiro da família para conseguir isto – na MLB não existe teto salarial. Há uma multa quando um valor é ultrapassado, contudo ela pode ser paga sem problemas e os Yankees, até então, nunca se importaram com isto.

Esta postura de Hal indica que não há tanta dedicação dele, muito menos de seu irmão Hank (também dono da franquia) em tocar os Yankees com a paixão que o pai deles tinha. Era um personagem polêmico e folclórico, satirizado com maestria pelo seriado Seinfeld, mas se dedicava ao clube e tudo que o envolvia, mesmo morando nos últimos dias da sua vida na cidade de Tampa Bay.

Os fãs não viram com surpresa a notícia da possível venda dos Yankees. Grande parcela, inclusive, quer a família Steinbrenner fora. Se por parte de Hal e Hank não existe um fervor para tocar o clube como deve ser, e se concentrar em outros negócios, o momento certo de vender é agora. Com o mercador inflacionado pela venda dos Dodgers, esta é a chance de ganhar um bom dinheiro; o futuro pode trazer uma quantia menor quando a empolgação do mercado abaixar.

Um homem bilionário ficou em segundo lugar na venda dos Rangers e dos Dodgers e está louco para acrescentar um clube de beisebol aos seus “brinquedinhos administrativos” (até o Chicago Cubs tentou comprar). Seu nome: Mark Cuban.

Vender os Yankees faz sentido, mas para o Mark Cuban?



(GL)
Escrito por João da Paz

Liberdade de expressão nos EUA, Fidel Castro e Ozzie Guillén

Noite de 13 de Abril de 2012. Data marcada para ser terror na vida de Ozzie Guillén, treinador do Miami Marlins, time da MLB representante do estado da Flórida. Foi o primeiro jogo em casa após a polêmica declaração do venezuelano sobre Fidel Castro, dada à revista Time:

Eu adoro Fidel Castro. Eu respeito ele. Sabe por quê? Um monte de gente quis matá-lo nos últimos 60 anos, mas aquele filho da **** está ainda aqui”.

Certo ou errado, a opinião de Guillén gerou indignação na população cubana-americana que habita na cidade de Miami. A publicação da entrevista saiu no começo da semana, porém a discussão sobre o teor dela rendeu e se esperava protestos ao redor do Marlins Park na última sexta.

Não aconteceu nada de grande proporção.

Entretanto uma pessoa compareceu para mostrar descontentamento e seu gesto é simbólico e ajuda a entender esse cenário.

Lazaro Diaz é como se chama o homem que dirigiu por 3 horas até chegar ao estádio dos Marlins. Levou o filho representando a terceira geração da família. O avô do garoto penou nas mãos do regime ditatorial de Fidel Castro. Dois tios de Lázaro foram executados pela revolução cubana. Do lado de fora do Marlins Park, ele disse:

Vim até aqui para expressar que sou contra ele [Guillén] e que o clube deveria demiti-lo. Ele tem todo direito de desfrutar da liberdade de expressão, mas não deveria ter feito uma declaração infeliz, especialmente pelo que ele [Fidel Castro] fez com nossa comunidade [cubanos-americanos]”.

Diferente do ventilado em muitos veículos, existe sim liberdade de expressão nos Estados Unidos e ela está muito bem, obrigado. Se o governo interviesse contra Guillén, isto é cerceamento da liberdade, mas quando uma entidade privada, que tem relação direta com o agente da polêmica, a história é outra.

Guillén está na primeira temporada em Miami – antes estava com os White Sox de Chicago. Lá, inclusive, demonstrou carinho por Fidel. Detalhe: era outra cidade, outro clube.

Em Miami é diferente. O alvo dos Marlins é atrair a comunidade latina da cidade. A principal contratação para o campeonato de 2012 foi um dominicano (José Reyes) e Guillén chegou justamente para reforçar esta ligação. O estádio do clube fica num bairro chamado “Pequena Havana” – Havana é a capital de Cuba.

As lojas do clube vendem camisas do treinador e a saída da peça é alta. Este simples exemplo mostra a representatividade e popularidade de Guillén. Qual clube esportivo consegue comercializar uma camisa do técnico?

Ozzie veio para somar, acabou dividindo o público do clube e multiplicando um furor que tem fundamento lógico de quem sofre/sofreu com o regime político de Fidel Castro.

Um empregado (ou colaborador, na nova linguagem de hoje) dos Marlins em hipótese alguma poderia dizer algo do tipo, pois vai contra o que a franquia quer. A punição dada a Guillén foi pouca – multa e fora de ação por cinco jogos –, deveria ter sido maior pelo estrago criado e do que potencialmente pode acontecer.

A comunidade cubana-americana e latina ensaiou um protesto para a sexta feira 13. Não houve manifestação massiva, porém algo além da fala de Lazaro aconteceu: o estádio ficou vazio no jogo contra o Houston Astros. Permanecendo isto a longo prazo, tende a ser um desastre para o clube. O Marlins Park, que estreou nesta temporada, custou US$ 515 milhões (com US$ 160 milhões de impostos). Da franquia saiu US$ 355 milhões, verba planejada para ser recuperada com público próximo da capacidade total (36 mil pessoas). Mas se o protesto consistir em não comparecer ao estádio...

E se deixarem de comprar os produtos licenciados dos Marlins?

O lado ferido pela declaração de Guillén o quer fora do clube. Sem mais.

Para alguns de nós é difícil entender, contudo é extremamente forte e dolorosa a frase de Guillén. Os cubanos-americanos, grande parte de forma direta, padeceram com Fidel Castro. Alguns tiveram parentes mortos em Cuba, alguns perderam entes queridos no caminho à Flórida via Oceano Atlântico, alguns têm familiares em Cuba que sofrem represálias por ter um membro morando nos EUA...

Não há como compreender isto sem usar a compaixão.

O esporte tem um papel influente tão profundo que causa fortes emoções. O contexto no qual Guillén vive dificultou a situação. Mas, como disse aos seus jogadores na pré-temporada, quem errar é preciso admitir ao invés de omitir.

Guillén assim fez, pediu desculpa e foi contrito.

Não resolveu muito, embora se expôs para amenizar o dano.

Nos Estados Unidos outras celebridades mostraram admiração por Fidel em diversas formas, porém não dentro de um ambiente latino.


Bud Selig (comissário da MLB) organizou um jogo em Cuba em 1999 e sentou ao lado de Fidel.

Distintas situações.

Não houve exagero na reação dos cubanos-americanos e latinos contra Guillén. Pedir demissão dele também não está fora da realidade. Conforme os dias passam, a raiva pode diminuir, mas não irá desaparecer.

Tudo isto por uma declaração? Sim, porque não foi uma declaração qualquer. Ter liberdade de expressão traz no kit a responsabilidade pelo o que é dito. Quem vive numa democracia é livre pra fazer o que bem entender, só que neste regime também existem leis e regras – quem as ferir é punido.

Como dito anteriormente, ninguém do governo americano ou de qualquer esfera política repreendeu Guillén por dizer que admira Fidel Castro, assim como não há punição a quem criticar Barack Obama, presidente dos EUA. A liberdade de expressão que existe é constitucional.

Em ambientes empresariais a ordem é outra. O colaborador que falar mal da empresa vai ser punido de acordo com a gravidade da situação. É assim em qualquer organização séria. Os Marlins puniram Guillén mais como resposta ao caos criado, visto que a repreensão não corresponde ao equívoco cometido.


(GL)
Escrito por João da Paz


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