Caso Ray Rice: A maior crise de reputação da história da NFL


Sim, é a melhor liga esportiva do mundo (mais competitiva, mais rentável...). Mas o vídeo que muitos da NFL tinham medo vazar, vazou. O site TMZ divulgou nesta segunda, 8, a imagem de Ray Rice simplesmente nocauteando sua então noiva Janay Palmer. O “deus” Roger Goodell acobertou a agressão, deu uma palmada na mão do jogador e não fez o que deveria: suspender Rice, por, ao menos, uma temporada.

A NFL agiu inconsequentemente, tentando proteger o escudo e limpá-lo da (...) feita.

Não deu.

E, claro, após o vídeo ser revelado, do soco de Ray Rice na Janay, não tinha como a liga tomar outra decisão: tinha de suspendê-lo indefinidamente.

A vítima não foi levada em consideração em todo esse caso. Assim, a NFL caiu na rede de mentiras de Rice, agindo como um sindicato protegendo seus pares.

Toda essa confusão de punir corretamente Rice, e o vídeo prova o que aconteceu no elevador, é uma constatação de como a liga agiu da pior maneira possível. Atrapalhada, desiludida. Achando que está numa bolha onde fatores externos não interferem.

E o que temia vai acontecer: toda a mídia vai reportar o fato da suspensão de Rice, vai replicar o vídeo da covardia e pontuar que a NFL não tomou as medidas corretas no momento necessário.

Aquelas falas de relações públicas, para inglês ver, ficam apenas como prova da má preparação da NFL numa situação tão delicada como essa.

A emenda saiu pior que o soneto.

(GL)
Escrito por João da Paz

Caso Ray Rice: A tentativa da NFL em tirar essa mancha do ‘imaculado’ escudo


O deus Roger Goodell, do poderoso e bilionário reino chamado NFL, terá trabalho para expurgar seu mais recente pecado.

A chance de desfrutar de voos angelicais foi perdida quando uma insignificante punição foi dada a Ray Rice (foto acima), jogador do Baltimore Ravens, por suposta agressão a sua mulher, então noiva, Janay Palmer, há seis meses.

Goodell lavou as mãos e suspendeu Rice por apenas dois jogos, simplesmente expondo ao público que é mais grave fumar maconha do que bater em uma mulher. As reações raivosas e racionais contrárias a esse julgamento pífio eram questão de tempo que surgissem.

Mídia, ONG’s, sociedade... Foi massacrante o repúdio à postura da NFL perante essa situação, deixando passar “impune” quem comete a chamada violência doméstica. Era uma oportunidade única para a liga agir com severidade contra tal crime covarde, o que faria muito sentido e serviria como exemplo. Protegeria o escudo da organização.

Ao contrário. Há nele agora uma mancha que será difícil de tirar.

Na última quinta, 13, o jornal Washington Post revelou que a NFL discute mudar esse cenário para eventuais futuras ocorrências, aumentando a pena para quem atacar alguém do sexo feminino.

De acordo com o Post, o flagrado em primeira ofensa pegará gancho de quatro a seis jogos. O reincidente poderá ficar fora da NFL por um ano. Ambos os castigos sem os vencimentos ($$$) semanais, evidente.

Nada disso, contudo, é suficiente. A notícia é o claro exemplo de um vazamento proposital. A NFL, ciente, deixa a informação chegar a imprensa (logo ao público) para ver qual a resposta recebida – se positiva ou negativa.

No mínimo, tem de ser seis jogos de suspensão para o réu primário. Daí pra frente o debate pode prosseguir.

Não deve haver qualquer movimento de hesitação nesse caso. A NFL é muito importante, tem muita influência na sociedade para lidar com esse tema tão sensível de forma tão fria.

Lembrando que Goodell, em entrevista para repórteres na sede do Hall da Fama de futebol americano na cidade de Canton, Ohio, defendeu a punição original dada a Rice...

Eis a mancha impregnada no ‘puro’ escudo da NFL.

Por mais que mudanças sejam feitas e a liga passe a ser mais rígida em casos de violência doméstica, não dará para apagar o que foi feito primeiramente – e da benção do deus.

A movimentação nos bastidores da NFL é para remediar o que for possível dessa bagunça, um nada exemplar gerenciamento de crise. Isso à luz das declarações de Rice, que se posicionou em frente aos repórteres CT dos Ravens e disse:

Minhas ações são indesculpáveis

O que aconteceu naquela noite [da agressão] é algo que vou carregar para o resto da minha vida

Eu decepcionei tantas pessoas por causa de 30 segundos da minha vida que eu sei que não tenho como recuperá-los

Falas que reforçam a gravidade do episódio.

Não vai conseguir limpar completamente, mas vale a tentativa da NFL de fazer algo para não ficar com uma imagem tão ruim perante os fãs e imprensa. Após esse vazamento, logo virá o anúncio oficial de que a liga “não irá mais tolerar situações de violência contra a mulher” e de que “tomará atitudes drásticas contra os que praticarem um ato repugnante como o tal”.

O cuidado necessário é para não se sujar mais tentando limpar a (...) que fez...

(GL)
Escrito por João da Paz

O dilema de Michael Sam: levantar a bandeira homossexual ou voltar para o armário?


Além de ser o palco onde os times da NFL escolhem seus futuros craques, o draft de 2014 teve um tempero a mais, um ingrediente histórico. Havia a expectativa de qual clube escolheria o DE (defensive end) Michael Sam, fazendo assim dele o primeiro jogador assumidamente gay a integrar um time da maior liga esportiva do mundo.

O drama aumentou com o passar dos dias do draft. Seis rodadas de seleção, dois dias completos e nada de Sam ser escolhido. A imprensa já pré-julgava se o preconceito estava sendo fator determinante para essa demora, se as franquias tinham tomado um posicionamento de evitar as tais “distrações”.

Porém o momento chegou. Na sétima rodada – e última –, na posição número 249, no terceiro dia do draft, o Saint Louis Rams escolheu Sam. A cena marcante foi transmitida ao vivo para todo os Estados Unidos e mundo: ele comemorando com um beijo em seu namorado Vito Cammisano.

Assim a história se fez. Sam está na NFL e desde o começo desta semana luta por um espaço no elenco de 53 jogadores, para que possa atuar durante toda a próxima temporada da liga defendendo a camisa dos Rams.

Mas, fora isso, Sam tem obrigações extras?

Apenas ser, eis a questão

A homossexualidade de Sam é o assunto do momento na NFL, queiram ou não. Em seu primeiro treinamento com o time de Saint Louis, na terça dia 29, Sam, camisa 96, atraiu uma multidão de repórteres e uma simples entrevista de seis minutos teve o cenário que você vê na imagem abaixo.


Entre tantas perguntas, a maioria esmagadora tratava sobre o que ele representa para a comunidade gay, qual deve ser o seu papel: ser um advogado da causa ou passar despercebido e se concentrar apenas no jogo.

Para expandir essa discussão, conversei com dois amigos gays: Gilvan Marques, 27, que assumiu sua homossexualidade há oito anos, e Alex (nome fictício), 30.

Alex entende que “[Sam] não deve levantar a bandeira gay. Cada um sabe o que fazer da vida e não ficar achando que todos devam se assumir”. Esse é um argumento que vai de encontro a quem acha a oportunidade muito rara para ser desperdiçada, ou seja, Sam deveria reafirmar constantemente a homossexualidade e encorajar outros a fazerem o mesmo.

Gilvan acredita que Sam tem de “fazer aquilo que ele se sinta mais à vontade” e concorda com o ponto de vista de Alex, mas estende um pouco esse raciocínio. “É óbvio que devemos lutar por direitos iguais para todos, independentemente da cor, religião e orientação sexual, e não de um seleto grupo de nossa sociedade. Ser gay não é coisa de outro mundo e é essa a mensagem que devemos transmitir”.

Exemplo pelo exemplo

“Ele [Michael Sam] tem de agir naturalmente. Dessa forma ele vai conseguir respeito. O esporte já é um lugar de todos, não precisa de ativismo”, observa Alex. Porém, como aponta Gilvan, “Michael Sam e Ian Thorpe (nadador australiano) ajudam a abrir debates sobre o assunto”.

Há dúvidas de como o torcedor da NFL reagirá a Sam. Fato é que na NCAA (nível universitário) não houve qualquer resistência. Ele abriu o jogo para seus companheiros da facul, Missouri Tigers, antes de entrar em sua temporada de veterano no ano passado. O sigilo foi mantido. Enquanto o público não sabia de nada sobra sua homossexualidade, Sam teve seu melhor campeonato, junto com Missouri, que venceu sete jogos a mais que em 2012 e ele foi eleito o melhor defensor do ano da Conferência SEC, a qual Missouri pertence.

Publicamente, Sam assumiu em Fevereiro deste ano, no dia 9, em entrevista para o programa Outside The Lines na ESPN. Desde então, diversas linhas de debate surgiram sobre qual sua representatividade na NFL perante a comunidade gay.

Vale dizer que Sam não se esquiva quando indagações do tipo surgem. Como dito na entrevista da última terça, ele deixa claro que seu objetivo é entrar no time do Saint Louis Rams e que as dúvidas sobre seu jogo serão deixadas para trás “quando eu deixar um cara estirado no chão após um tackle”.

Sam não voltou ao armário, mas está discreto. Demonstra seus sentimentos e pensamentos livremente em suas contas nas redes sociais. Em campo, tem sido um jogador exemplar, ciente que não tem espaço no time titular. Por isso, tem se esforçado para desempenhar seu melhor e conseguir uma vaga no grupo, nem que seja no time de especialistas.

Fundamental é que ele seja Michael Sam. E as impressões até agora são excelentes. Ao contrário dos pensamentos mais retrógrados, não são apenas homossexuais que torcem para o sucesso do jogador. Um torcedor dos Rams que pegou um autógrafo com Sam no CT do clube na terça, disse para uma emissora de TV local: “Num ambiente machista que é a NFL o cara tomar uma posição como ele fez? Sou mais fã dele por isso e desejo toda sorte”.

No texto que escrevi em março de 2013 intitulado Aspectos sociológicos acerca de jogador gay na NFL, pontuei algumas características que esse atleta teria de ter – e Sam cumpre todas elas, assim como os Rams. “...ser bom; ser de um franquia capaz de ajudá-lo nas relações públicas; ter companheiros e técnicos que o darão retaguarda; ser carismático e de bom relacionamento com a mídia...”.

Para a comunidade gay, há dois atributos que esperam de Sam, resumidos sistematicamente por Gilvan:

“Que ele seja apenas um bom exemplo de caráter e profissional”.

(GL)
Escrito por João da Paz

Para a NFL, usar maconha é mais grave que violência contra a mulher


Punição por usar drogas = 1 ano.

Punição por bater em mulher = 2 jogos.

Uma conta simples e lógica indica o absurdo. A NFL anunciou na última quinta, 24, que o jogador Ray Rice, do Baltimore Ravens, está suspenso por dois jogos na próxima temporada, em consequência de uma briga com sua então noiva, hoje mulher, Janay Palmer (ambos de mãos dadas, foto acima), em Fevereiro deste ano. Rice foi preso, assim como sua parceira, acusado de atacá-la. Ele não foi condenado pela justiça e evitará ficha suja se cumprir um programa de intervenção.

Somente neste ano dois atletas sofreram suspensões mais severas por uso de “substâncias proibidas” (maconha): Josh Gordon, um ano, e Justin Blackmon, tempo indeterminado.

Essa discrepância evidencia o problema que a NFL tem em julgar jogadores que descumprem o código de abuso de substâncias (Gordon e Blackmon) e o código de conduta pessoal (Rice). Em meio aos detalhes técnicos que ambas as cartilhas apresentam, a liga se coloca numa posição delicada frente a 45% do seu público, segundo levantamento do departamento de marketing da liga.

As mulheres cada vez mais têm adotado a NFL como esporte favorito. O instituto eMarketer, que fez um estudo em 2013 da audiência de jogos da NFL nos EUA, descobriu que 47% dos telespectadores são mulheres entre 25 e 44 anos. De olho neste mercado, a NFL tem adotado medidas de marketing direcionadas às mulheres, esperando ter um retorno financeiro que tanto almeja.

Porém a boa vontade aos poucos está desmoronando. A campanha Outubro Rosa, quando a NFL dedica o décimo mês do ano para contribuir com a luta contra o câncer de mama, não é mais reconhecida como um favor que a liga faz às mulheres, pois os negócios obscuros feitos com os produtos rosa ganham manchetes, acabando com o glamour do “gesto filantrópico” e expondo o marketing capitalista explícito.

Nessa equação há o mau trato das franquias contra as cheerleaders, algo que há anos é praticado, mas somente agora as moças estão entrando na justiça por direitos básicos (salário mínimo, por exemplo).

Dar a Rice uma suspensão de um ano serviria como exemplo. Contudo, a NFL seguiu o que faz corriqueiramente ao não agir com firmeza em casos de violência contra a mulher.

Greg Hardy (Carolina Panthers) e Daryl Washington (Arizona Cardinals) são os mais recentes nomes pegos em violência doméstica na NFL. O próprio Ravens tem um caso em sua história, quando em 2008 o cornerback Fabian Washington foi suspenso por uma mísera partida após se envolver em uma briga com sua mulher.

É necessário mudar os parâmetros. Não é mais tolerável uma repreensão tão sutil a um crime tão grave e um castigo tão implacável a uma violação leve (além de ser legal em dois estados dos EUA que são sedes de franquias da NFL, está na hora de a liga mudar sua postura contra a maconha).

Os códigos/cartilhas da NFL não andam de mãos dadas com o mundo judicial. Por ser uma instituição privada, a liga toma suas decisões com base em avaliações e julgamentos próprios. Ou seja, um jogador pode ser “condenado” mesmo que seja absolvido pela leia civil – e vice-versa.

O site TMZ divulgou vídeo de Rice arrastando Janay, que aparenta estar inconsciente naquela noite de Fevereiro. Informações divulgadas pela ESPN dão conta que Rice nocauteou Janay com um soco na cara. Por mais que não exista evidencia da agressão, a percepção do público é a de que Rice a violentou e passa – pode se dizer – impune por isso.

Janay decidiu manter o noivado e casar-se com Rice semanas após o incidente. O que ambos decidem e conversam não é de domínio público. Mas, mesmo que a NFL não tenha visto vídeo da agressão, por que a liga agiu com tanta cumplicidade? Qual vídeo que o comissário da NFL, Roger Goodell, precisa ver para que um jogador seja punido por agredir uma mulher? Imagina...

O futuro pode revelar o tal vídeo do golpe de Rice. Ou revelar que a razão de Janay estar inconsciente é a bebida alcoólica.

Independente disso, a oportunidade da NFL foi perdida. Poderia se posicionar contra qualquer tipo de ataque contra mulher, porém se tornou complacente.

Assim é que os fãs, homens ou mulheres, veem esse caso no presente momento.

(GL)
Escrito por João da Paz

NBA, basquete americano e o futebol brasileiro


A eliminação da seleção brasileira de futebol da Copa do Mundo 2014, fruto de um sonoro 7 a 1 a favor da Alemanha nas semifinais da competição realizada no Brasil, desencadeou em discursos loucos, desvirtuados e inconsequentes da mídia especializada, que, logicamente repercutiu nos torcedores, público.

O principal elemento do grito utópico é de que o futebol brasileiro precisa de uma reformulação, de uma revolução. “É necessário resgatar a essência perdida após o penta conquistado em 2002”, esbofaram alguns. “Vamos voltar ao futebol moleque apresentado nos gramados da campeão moral de 1982”, dizem outros. Ambos os argumentos, e o que se encontram entre eles, são resultados de uma paixão transformada em falas jornalísticas, prestando um mau serviço, pois deixam de citar a realidade e se escoram num heroísmo fajuto.

Os jogadores brasileiros têm tanto domínio no futebol como os atletas americanos tem no basquete. Interessante que em 2002, o time dos Estados Unidos não apenas perdeu o Mundial de basquete realizado em casa, mas ficou em 6º lugar. O que aconteceu na época? Havia escassez de talento em solo yankee? O futebol brasileiro precisa dar um reset, visto que não forma mais craques, aqueles de elite?

A seleção brasileira de futebol precisa fazer exatamente o que a federação americana de basquete fez com sua equipe depois de seguidos vexames internacionais.

Balanço do futebol brasileiro

O torcedor comum tem direito a qualquer opinião, assim como o jornalista que exerce a função de analista. Porém, a diferença é que o profissional precisa apontar sua avaliação – sobre qual assunto for – de uma maneira mais ampla, didática e embasada.

O Brasil, independente do tratamento que as categorias de base recebem, revela centenas de talentos anualmente. Montar um elenco com os melhores jogadores em suas respectivas posições não é tão simples, mas faz parte dos desafios de ser o treinador da Seleção. Os 23 convocados para disputar a Copa do Mundo no Brasil representam a melhor safra que há no momento de jogadores nascidos em terra brasilis. Se opor a isso é ir contra os fatos.

Clubes do mais alto nível do futebol europeu, o mais rico e importante do mundo, disputam ferozmente quem vai ficar com esses jogadores que formaram o time do Brasil na Copa de 2014. A maioria deles tem um currículo recheado de conquistas importantes atuando diretamente na busca por cada um dos troféus cobiçados do futebol mundial.

Júlio César: quatro vezes campeão italiano, 2006 -2010; Liga dos Campeões e Mundial de Clubes em 2010; todos com a Internazionale... David Luiz: Liga dos Campeões em 2012 com o Chelsea... Thiago Silva: campeão italiano em 2011 com o Milan... Dante: campeão alemão duas vezes, um título da Liga dos Campeões e um Mundial de Clubes, todos com o Bayern Munique... Daniel Alves: quatro títulos do campeonato espanhol, duas Ligas dos Campeões e dois Mundiais de Clubes, todos com o Barcelona... Maicon: cinco títulos do campeonato italiano, uma Liga dos Campeões e um Mundial, todos pela Internazionale... Marcelo: três títulos do campeonato espanhol e uma Liga dos Campeões, todos com o Real Madrid... Fernandinho: campeão inglês com o Manchester City... Luiz Gustavo: campeão alemão e da Liga dos Campeões com o Bayern Munique... Ramires: Liga dos Campeões com o Chelsea...

E tudo isso de 2002 pra cá.

De 2002 pra cá, “nessa crise” (forjada pela imprensa) do futebol brasileiro, a Seleção ganhou cinco competições oficiais da Fifa: três Copa das Confederações (2005, 2009 e 2013) e duas Copa América (2004 e 2007). Além de estar entre as quatro seleções melhores do mundo em 2014, chegando às semifinais de um Copa do Mundo pela primeiras vez desde... 2002.

De 2002 pra cá, o Brasil teve seis campeões da Taça Libertadores da América: São Paulo em 2005, Internacional em 2006, Internacional em 2010, Santos em 2011, Corinthians em 2012 e Atlético Mineiro em 2013. Perceba que os últimos quatro campeões da principal competição de clubes da América Latina são brasileiros...

De 2002 pra cá, o Mundial de Clubes foi conquistado pelo Brasil três vezes, num total de nove edições (São Paulo em 2005, Internacional em 2006 e Corinthians em 2012). Itália e Espanha tiveram dos campeões; Inglaterra e Alemanha um cada.

De 2002 pra cá, somente um time que conquistou a Liga dos Campeões da Europa, o Liverpool de 2004-05, não tinha um brasileiro no elenco, todos os outros 11 times tinham um representante do Brasil participando diretamente do elenco vencedor.

De 2002 pra cá, o Brasil teve três jogadores eleitos melhor do mundo: Ronaldinho duas vezes (2004, 2005) e Kaká (2007). Os dois, junto com Ronaldo e Rivaldo, estavam no elenco campeão da Copa de 2002, única vez (e talvez nunca se repita) que uma equipe teve quatro jogadores com o título de melhor do mundo.

Se ir até 1982 é pior. Até 2014, o Brasil é o único país que venceu a Copa do Mundo duas vezes.

O que a Seleção precisa fazer então? Se espelhar no exemplo americano.

Do sonho à redenção – passando pela soneca e pelo pesadelo

No texto Patriotismo sim, até a página 3, explico com mais detalhes o processo de mudança de postura do basquete americano em competições internacionais: Mundial e Jogos Olímpicos. Tudo começou quando os Estados Unidos passaram por um vexame histórico (manchete que serviu para resumir o que aconteceu com o Brasil no jogo contra a Alemanha). Também em casa, a maior força do basquete não apenas deixou de ser campeão, ficou em 6º lugar.

Foi quando o Time dos Sonhos, campeão olímpico em 1992 e seus derivados (campeão do mundial em 1994 e das Olimpíadas de 1996 e 2000), deu lugar ao Time da Soneca.

Na ocasião, a NBA estava cheia de talentos que poderiam dar o título ao país em sua casa, mas se recusaram a participar do evento – nomes como Tim Duncan, Kevin Garnett, Kobe Bryant, Tracy McGrady e Michael Jordan.

Dois anos depois o fundo da decepção foi atingido. Nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004, mais uma leva de jogadores da NBA se recusaram a servir a seleção e o que se viu em quadra, apesar da medalha de bronze, foi um show de horrores proporcionado pelo selecionado americano. O apelido de Time do Pesadelo resume bem. Após outro 3º lugar, agora no Mundial de 2006, uma mudança de postura era necessária ser aplicada.

A NBA não deixou de produzir talentos. Os Estados Unidos, neste período de cinco anos, ainda entregava ao mundo formidáveis atletas do esporte da bola laranja. O que não se tinha era o comprometimento pela excelência, de ganhar todas as competições e mostrar em quadra qual é o melhor basquete do mundo.

“Não tem mais bobo no futebol” é uma frase que se aplica a vários outros esportes, e o basquete é um deles. Com a expansão da NBA e a absorção de talentos internacionais, outros países se tornaram mais forte no esporte e se evaporou o tempo que os EUA apenas entravam em quadra e atropelavam seus oponentes.

Iugoslávia, bicampeã do mundo (1998, 2002). Espanha, campeã do mundo em 2006. Argentina, medalha de ouro em 2004. Países que passaram a fazer frente ao jogo peladeiro dos EUA. Se nada fosse feito, o país do basquete não voltaria ao topo.

Outra postura foi adotada. A federação de basquete firmou compromisso com os melhores jogadores da NBA para que eles se juntassem e retomassem o domínio no aspecto global do jogo, com um técnico altamente renomado e conhecedor do jogo internacional. Contudo, um acordo em longo prazo precisava ser firmado. Assim, as maiores estrelas da NBA se colocaram a disposição do desafio e formaram o chamado Time da Redenção, medalha de ouro em 2008 e 2012, campeão mundial em 2010.

E, lógico, é o grande favorito para ganhar o Mundial deste ano, que começa em agosto na Espanha.

Mudanças sem pandemônio

O futebol brasileiro não precisa de um reboot e sim de uma mudança de postura. O desastre visto no dia 8 de julho no estádio do Mineirão está marcado como a maior derrota da história do futebol brasileiro. Mesmo assim, o desespero alucinado é desproporcional.

Há qualidade e talento suficiente para que o Brasil permaneça na elite do futebol mundial. Os jogadores brasileiros são presença certa nos melhores clubes do mundo. O passo para vencer é comprometimento de todos, federação, técnico e jogadores, para que se possa subir o degrau a mais que separa a disputa de um 3º lugar para brigar pelo título.

Após 12 anos, o Brasil completou uma etapa. Se mantiver o trabalho, aparar as arestas e consertar os defeitos, em 2018, na Rússia, a Seleção entrará na competição novamente favorita a levantar a Copa do Mundo.

Para tanto, basta não entrar na onda do caos e deixar a angústia insana aos catastróficos.

(GL)
Escrito por João da Paz

O que diferencia um discurso motivacional energético do assédio moral?


Não importa com qual letra rotulam a geração de jovens adultos enraizados no virtual e entrelaçados em redes sociais online, fato é que estes são mais sentimentais dos de outrora. A correção paternal era severa, a tiração no pátio das escolas liberada e encarada sem problemas. Tornaram-se adultos mais calejados.

Hoje há lei que regula diretamente como pais devem educar seus filhos. A zoação virou grife com nome estrangeiro (bullying). Vão se tornar adultos mais fracos?

A Universidade de Charleston, estado americano da Carolina do Sul, iniciou investigação para descobrir se realmente o treinador da equipe masculina de basquete, Doug Wojcik (foto acima), cometeu agressões verbais contra os jogadores da equipe.

Segundo relatos do próprio elenco, que se reuniu com o comitê diretor da universidade na última segunda, 30 de junho, não houve por parte do técnico nenhum ataque físico, homofóbico ou racista. As acusações giram em torno do assédio moral, ofensas contra as personalidades dos atletas, humilhação e palavras pejorativas a cada um deles e seus familiares.

Logo vem à memória um caso mais grave que aconteceu na NCAA envolvendo também um treinador de basquete masculino. Porém, houve agressões físicas, registradas em vídeo, e ele, Mike Rice, da Universidade Rutgers (estado de New Jersey), foi demitido (saiba mais lendo “Jornalismo esportivo de impacto” no Observatório da Imprensa. Mostra como a ESPN foi decisiva na demissão de Rice).

Nesse caso atual da Universidade de Charleston só há palavras ríspidas e um discurso mais apaixonado do seu treinador. Há necessidade de punir Wojcik?

O comitê diretor da universidade discute só dar uma palmada (suspensão de um mês de salário e forçá-lo a ir em cursos de anger management). Contudo, o diretor de esportes de Charleston, Joe Hull, com quem os atletas conversaram, já queria dispensar Wojcik na segunda mesmo.

Os que são da velha escola criticam a decisão dos jogadores de Charleston por todo esse “choro”, dizem que estão ficando muito “frouxos”. Afinal, em outrora era apenas abaixar a cabeça e ouvir os impropérios calados (seja de pais, professores, treinadores...).

Agora é diferente. Uma postura agressiva e arrogante é vista como desnecessária. O xingamento, o grito, a brutalidade não são bem recebidos.

Na verdade, depende de cada um, do indivíduo. Tem os que reagem melhor a uma intervenção de choque, a uma provocação. Em contrapartida existem os que preferem uma aproximação suave, didática.

Podemos fazer uma relação com chefes que temos ou tivemos (ou com pais, professores, treinadores... que passaram – ou estão – em nossas vidas). Eu tive dois patrões ignorantes e trogloditas, daqueles bem ogros na hora de chamar a atenção, dar uma bronca. Com um eu resisti certo tempo, com o outro também, mas levou a desistência, porque cruzou a linha do comportamento rude ao assédio moral.

Quem vai dizer o que é o que? Só quem passa pela situação, só quem viveu. Logo, os jogadores de Charleston são os apropriados para testemunharem sobre o que aconteceu quando eles estavam com seu treinador em palestras e atividades.

Os defensores de Wojcik relatam que ele é nada mais do que respeitoso com seus atletas, que eles são como seus filhos. Pessoas próximas dizem maravilhas de Wojcik, mas tudo em questões fora de quadra.

Interessante. Pois esses chefes que citei são pessoas agradáveis quando não estão embaixo do stress laboral. São gentis, carinhosos, educados, agradáveis...

É a primeira vez que algo do tipo é relacionado com o trabalho de Wojcik, que há nove anos é treinador na NCAA. Durante sete temporadas treinou o time da Universidade de Tulsa e, além de ser o técnico mais vitorioso do programa, não recebeu nenhuma crítica sequer pelo seu comportamento por lá.

Em Charleston, com quem firmou um contrato de cinco temporadas (duas já cumpridas) – salário anual de US$ 400 mil –, começaram surgir as acusações.

O porquê talvez seja fácil entender.

Quando treinava Tulsa, Wojcik teve um início fácil e muitos dos atletas foram recrutados por ele direto das escolas de ensino médio (high school). Já em Charleston, a maioria do elenco foi escolhida pelo antigo treinador, Bobby Cremins, considerado um cara mais relaxado, leve, tranquilo.

Esse choque motivacional, uma mudança brusca de estilos, afetaram os jogadores. O discurso incentivador mudou de tom drasticamente, de um oposto ao outro. Aí cabe a universidade pesar e avalizar: são os atletas que estão mal acostumados ou o treinador que cruzou a linha do politicamente correto?

Se Wojcik sair desse problema e permanecer na universidade, como ele irá lidar com os jogadores que o denunciou? Eles vão querer jogar para Wojcik? Se a universidade demiti-lo, vai apenas ficar de bem com a opinião pública por se posicionar a favor da mansidão?

A Universidade de Charleston está numa posição comum aos seres humanos que tem de pensar bem ponderadamente ao responder a pergunta:

O que diferencia um discurso motivacional mais emotivo do assédio moral?

(GL)
Escrito por João da Paz

A Copa das Copas e o espaço do futebol entre os esportes americanos


Quinta, dia 26 de junho.

A seleção de futebol dos Estados Unidos decidiu seu destino na Copa do Mundo 2014 contra a Alemanha. Apesar da derrota, o time americano se classificou para as oitavas de final - passou da fase de grupos pela terceira vez nas últimas quatro Copas.

Ao mesmo tempo, fatos importantes nos esportes americanos ocorriam paralelamente: LeBron James e Carmelo Anthony, dois alicerces da redenção do basquete do país nas duas últimas Olimpíadas (Pequim-2008 e Londres-2012), escolheram ser agentes livres, decisão que movimenta o mercado da NBA, pois estão disponíveis para qualquer time os contratar; o draft da NBA, considerado um dos melhores das últimas duas décadas, ocorreu no mesmo 26 de junho; o arremessador do San Francisco Giants, Tim Lincecum, no dia anterior, conseguiu seu segundo no-hitter da carreira; Tiger Woods voltou aos campos de golfe.

NBA, MLB, Golfe, LeBron James, Tiger Woods.

Mas o assunto mais popular entre os americanos, liderando as chamadas nos principais veículos de comunicação, foi a partida entre EUA e Alemanha.

O jogo aconteceu às 12h no horário de Washington. Assim, em grande parte dos EUA os americanos fizeram algo que seria natural se fosse no Brasil: estenderam a parada do almoço e assistiram ao duelo se aglomerando em frente de qualquer TV. É um simbolismo importante que evidencia o quão popular é o futebol na terra do Tio Sam, aniquilando aquela história de “quando que o futebol vai ‘pegar’ nos EUA?”.

Contra Portugal, encontro que aconteceu no domingo, dia 21, a audiência televisiva foi a maior da história para um jogo de futebol por lá. Já é forte o movimento para que as empresas dispensem seus funcionários mais cedo na próxima terça, 1º de julho, assim todos poderão acompanhar o confronto contra a Bélgica, às 16h, horário local.

Cronologia de sucesso

O futebol nos EUA só tende a crescer mais e mais. Uma ação da Fifa poderia ajudar isso, mas o erro cometido pode ser consertado. A Copa do Mundo de 2022 é destinada para ser em solo americano. Contudo a corrupção fez com que a maior organização do futebol mundial “escolhesse” o Catar. As denúncias de fraude estão evidentes e isso levará a Fifa a reconsiderar sua “escolha” inicial. Para corrigir plenamente, tem de escolher os EUA como sede, uma nação mais do que pronta para receber um evento de enorme porte.

A Copa do Mundo de 1994 (nos EUA) é criticada por motivos tolos, seja em aspectos dentro ou fora de campo. Porém, se esquecem de um detalhe: foi o torneio que teve a maior média de público de todas as Copas e o maior número total de torcedores nos estádios. Os jogos foram em estádios gigantes. Desenhados a priori para serem palcos de football, ficaram cheios de admiradores do soccer.

Dois anos depois a MLS (Major League Soccer) teve sua primeira temporada. A tentativa mais sólida de criar uma liga de futebol forte e competitiva no mercado. Hoje, a MLS é um sucesso: tem público, dinheiro e estabilidade. É um bebê de 19 anos se comparada com a MLB (145 anos), NHL (97), NFL (94) ou NBA (68), porém compete de igual para igual com as grandes ligas; e a NHL.

A média de público da MLS no ano passado foi maior do que NBA e NHL.

Repetindo:

A média de público da MLS no ano passado foi maior do que NBA e NHL.

Em porcentagem de capacidade de estádio de futebol, a MLS fica apenas atrás da Premier League (campeonato inglês) e da Bundesliga (campeonato alemão).

O público não é mais de apenas hispânicos, latinos. A classe média abraçou o esporte bretão e percebeu algo que há anos o brasileiro sabe: é um esporte barato. Basta usar a imaginação, fazer um gol em qualquer lugar, pegar bola e play on! Eis, aliás, um dos motivos da queda de popularidade da NHL nos Estados Unidos. Jogar hóquei é caro e, antes de ter habilidade para controlar o puck, é preciso aprender a patinar (e patinar bem...).

O futebol é um esporte menos complicado. Os telespectadores tem percebido isso. Em menos de duas horas uma partida acaba e em sua duração não há breaks comerciais quando um dos tempos estão em andamento. Eis, aliás, um dos motivos da queda de popularidade da MLB nos Estados Unidos. O beisebol é um esporte longo, parado e pouco atrativo para os jovens, que estão cada vez mais jogando futebol.

Outro ponto interessante é que o Fifa 14, popular jogo de vídeo game da EA Sports, é o mais vendido na América. Jogo esse que foi criado na onda da Copa do Mundo de 1994 – o primeiro exemplar, Fifa International Soccer, foi lançado em 1993.

Popular ou não?

Essa pergunta, quase clichê quando se trata de futebol nos EUA, é ultrapassada e quem a traz não enxerga de fato o que está acontecendo.

Um exemplo prático disso é o que trouxe a conceituada revista britânica The Economist na edição de junho deste ano. A reportagem “Um jogo de dois tempos” traz um questionamento interessante, mostrando se o futebol é mesmo o esporte mais popular/praticado em todo o mundo. Para tanto, traz exemplos dos países mais populosos da Terra, China e Índia, apresentando fatos de que o futebol em ambas as nações está longe de ser um esporte do povo – na China o desenvolvimento é um pouco melhor que na Índia. Neste mix, a revista fala também sobre os EUA, o que não cabe qualquer comparação com os países supracitados.

A decisão da Copa do Mundo de 2010, entre Holanda e Espanha, teve audiência de 24,3 milhões de americanos. Para se ter uma perspectiva, o decisivo jogo 5 da World Series (final da MLB) entre Texas Rangers e San Francisco Giants, no mesmo ano, teve audiência de 15 milhões... A audiência do jogo 7 da final da NBA entre Los Angeles Lakers e Boston Celtics, também em 2010, teve apenas 4 milhões a mais de telespectadores do que a partida entre holandeses e espanhóis...

Na belíssima Copa das Copas, que tem o Brasil como anfitrião, são os americanos o público estrangeiro que mais comprou ingressos para assistir as partidas do torneio.

Se a Fifa confirmar a Copa de 2022 nos Estados Unidos, o ano será um marco para a MLS e o futebol, que é popular sim.

Quando que você imaginou que americanos deixariam de trabalhar para verem uma partida de Copa do Mundo de futebol?

Brasileiros tudo bem, mas os americanos...

(GL)
Escrito por João da Paz

A culpa é (não só) das estrelas


A festa foi em casa e merecida.

O San Antonio Spurs, com a vitória no último domingo, 15, sobre o Miami Heat conquistou o quinto título da franquia, ficando na quarta posição entre os clubes que mais foram campeões da NBA, atrás do Chicago Bulls (seis), Los Angeles Lakers (16) e Boston Celtics (17).

Após perderem de forma dramática no ano passado para o mesmo Heat, o principal líder dos Spurs, o pivô Tim Duncan, único jogador da equipe que tem todos os cinco anéis de campeão da franquia, lamentou o revés, mas garantiu que na temporada seguinte o time estaria de volta, só que mais competitivo para não deixar o título escapar da forma como foi.

A determinação de Duncan, junto com a do armador francês Tony Parker e do ala argentino Manu Ginóbili motivou seus companheiros e a diretoria da equipe, que não agiu inconsequentemente e, depois de perder a taça por tão pouco, manteve a cabeça no lugar, mexeu apenas no necessário e permaneceu confiando no trio base do time, acreditando que eles seriam capazes de realizar o que almejaram.

Trio esse que, juntos, custam menos do que 30 milhões de dólares/ano na folha salarial dos Spurs – o brasileiro Tiago Splitter ganha 3 milhões de dólares a mais do que Ginóbili. (o trio de Miami, LeBron/Chris Bosh/Dwyane Wade receberam nesta temporada, juntos, 56 milhões de dólares).

Mais um título. E assim se fez.

Os Spurs não só derrotaram o Heat, deram um outro significado para a palavra atropelamento. As quatro vitórias alcançadas que levaram à conquista foram devastadoras, deixando o mínimo de dúvida sobre quem levou a melhor no duelo melhor time x melhor jogador (LeBron James).

Com os veteranos dando o exemplo, sendo somente mais alguns elos da engrenagem sincrônica que são os Spurs, ficou fácil para os coadjuvantes aparecerem e facilitarem o trabalho ofensivo e defensivo de todos do elenco. Uma das características desse time que ficará marcada é a eficiência mostrada no ataque, com um engajamento executado à beira da perfeição, puro exemplo de companheirismo em detrimento ao individualismo, com cada jogador trocando um bom arremesso seu por um melhor arremesso de um colega. Cada passe feito com precisão cirúrgica, cada passe que levou a uma cesta, cada cesta que contribui para um massacre inesperado.

Tudo isso é resultado de comprometimento e cumplicidade.

As estrelas apareceram, brilharam, estavam lá. Mas quem desfrutou os holofotes mesmo foi uma que reluz de forma tímida, mas que também apareceu, brilhou, estava lá.


Kawhi Leonard, ala, foi eleito o MVP das Finais (melhor jogador) - acima recebendo o troféu do lendário Bill Russell. Assim que entrou na NBA, em 2011, era uma das apostas para ser um jogador de impacto e os Spurs eram o destino ideal. Acabou acontecendo justamente isso. O clube trocou um jogador importante para o time então, George Hill, por Leonard, aquisição que aconteceu na noite do draft daquele ano – quem escolheu Leonard, na 15ª posição, foi o Indiana Pacers.

Três temporadas depois Leonard mostrou sua importância, seguindo a liderança das estrelas maiores e sendo, com 22 anos, o mais novo MVP das Finais da NBA nos últimos 34 anos (junto com Duncan, que tinha a mesma idade em 1999, ano do seu primeiro título).

A postura de Leonard somada a dos seus companheiros levaram os Spurs a mais um título.

Uma postura semelhante não se viu do outro lado.

Antes do decisivo jogo 5, LeBron juntou seus colegas e os incentivou. Proferiu palavras de ordem e deu a dica: “Siga minha liderança”.

Nada disso.

LeBron entregou mais um jogo dentro do seu alto nível, marcando 31 pontos, um pouco a cima da média que teve durante toda a série final: 28.2 pontos por jogo, com aproveitamento de arremessos de quadra excelente, 57%. A diferença, total, que deu o título aos Spurs, é que LeBron teve ajuda nula de seus companheiros, não seguiram a liderança, o exemplo, a estrela maior.

A culpa é (não só) das estrelas.

E para os Spurs não há problema que os chamem de time muito velho, muito pragmático, muito entediante...

Só lamento!



(GL)
Escrito por João da Paz

Neymar e LeBron James são os amores preferidos dos recalcados

Um beijinho no ombro não faz o recalque passar longe.

Nesta quinta, 12, inicia-se a competição esportiva mais importante do planeta: a Copa do Mundo. Realizada pela segunda vez no Brasil, a Copa-14 será mais um palco de cobrança para Neymar, camisa 10 da Seleção e responsável em dar o título ao país que perdeu a taça na Copa-50, sendo então derrotado na final pelo time do Uruguai.

Essa cobrança teria um ar de normalidade se fosse ela por si, mas não, vem com uma torcida contra e com um ódio inútil. Mesma situação passa LeBron James, melhor jogador da NBA, que paralelamente à Copa disputa as Finais em busca do seu terceiro título na carreira.

É possível explicar porque há tanta hostilidade contra Neymar e LeBon?

Sim.

Antes de virar gíria e ser presença comum em letras de funk, a palavra recalque já existia e o conceito não foi desenvolvido por qualquer um, apenas pelo pai da psicanálise, Sigmund Freud.

Existem duas definições interessantes sobre quem são e o que pensam os recalcados. No dicionário Aulete, recalque é um “mecanismo psicológico de defesa pelo qual desejos, sentimentos, lembranças que repugnam à mentalidade ou à formação do indivíduo são excluídos do domínio da consciência e conservados no inconsciente, continuando, assim, a fazer parte da atividade psíquica do indivíduo e a produzir nela certos distúrbios de maior ou menor gravidade”. Já para o dicionário Michaelis, é uma “exclusão inconsciente, do campo da consciência, de certas ideias, sentimentos e desejos que o indivíduo não quisera admitir e que todavia continuam a fazer parte de sua vida psíquica, podendo dar origem a graves distúrbios”.


O melhor jogador do Brasil


Neymar, 22, é a síntese do que todo homem gostaria de ser quando sonhava na infância chutando uma bola de plástico no quintal de casa: ser jogador de um time grande na Europa (Barcelona), camisa 10 da Seleção e astro do principal torneio de futebol do mundo, ainda mais no Brasil. Fora isso, é estrela de comerciais, patrocinado por marcas famosíssimas e faz sucesso com as mulheres.

Quem nega isso não quer admitir o sentimento de recalque. Mas ele existe. Evidente que o gostar de alguém ou não é inerente a cada ser, nem todos devem admirar o próximo somente porque sim. Neymar, contudo, é vítima desse sentimento que não vai passar, seja qual for seu sucesso dentro ou fora de campo. O recalque está enraizado naquele que o deixa brotar no seu íntimo, impedindo que a razão sobreponha opiniões vinda do inconsciente, externadas em forma de ódio – não aquele enfurecido, mas o brando, porém tão nocivo quanto.

Na última partida do Brasil antes da estreia da Copa, contra s Sérvia em São Paulo, Neymar saiu de campo no final do segundo tempo. A substituição veio com um mix de vaias e aplausos da arquibancada paulistana. E o Brasil estava vencendo...

Por que as vaias, então?

Quem o vaiou também não saberá dizer efetivamente o motivo. Foi um comportamento involuntário da lembrança de que “É preciso vaiar Neymar”. Daí vem a torcida para ele falhar, para não ir bem na Copa, para ser um fracasso. E isso vem dos próprios fanáticos brasileiros.

Kaká, em 2007, foi o último jogador do Brasil a ser escolhido o melhor do mundo. Antes dele, em 13 edições do prêmio dado pela Fifa ao melhor jogador de futebol do mundo, entre 1994 e 2006, sete vezes o Brasil teve um atleta em primeiro lugar (Romário, Rivaldo, Ronaldinho-2 vezes e Ronaldo-3 vezes). De 2008 a 2013, seis edições, o Brasil se quer teve um representante entre os três primeiros colocados.

Neymar é a chance real de o Brasil voltar a ter um melhor jogador do mundo. Até pode ser neste ano, vai depender do seu desempenho na Copa.

Um jogador completo, Neymar teve a oportunidade de ser o camisa 10 do Santos e trazer a taça Libertadores da América de volta ao litoral paulista, marcando gol na final, inclusive. Jovem, é a aposta do Barcelona para manter o clube espanhol em alta nas disputas europeias. É o camisa 10 da Seleção... E, em 340 jogos na carreira, marcou 200 gols, média altíssima de 0,6 gols por partida.

Ganha uma fortuna com comerciais dos mais diversos produtos. Não importa a razão, as mulheres estão em cima dele. A inveja vem de caras com a mesma idade de Neymar ou mais velhos. Todos frustrados porque queriam ser ele, mas não admitem.

Quem o admira são as crianças. Porém querem ser justamente o que Neymar é.

Sem recalque.


O melhor jogador (da história) da NBA


LeBron, 29, está a caminho de ser...

Aí entram os recalcados para impedir que a frase acima seja completa, pois ela “só pertence” a um jogador: Michael Jordan.

Essa defesa, literal e mental, vem por sentimentos fortalecidos na infância. Similar ao que acontece com Neymar, Jordan tem seus admiradores as pessoas que o acompanharam quando criança/adolescente. As imagens dele voando em quadra e convertendo cestas incríveis fincam lar no inconsciente, criando uma empatia mitológica que faz com que esqueçam os erros da “sua majestade”.

Jordan errou e teve suas falhas em quadra em tamanho proporcional a LeBron. Mas como um não viveu na era das overdoses dos números e outro sim, só LeBron é criticado de maneira exacerbada por seus tropeços em jogos importantes.

A ilusão criada pelo recalque de que Jordan foi imune ao erro e sempre atuou de forma infalível é perpetuada incorretamente. Em todas as seis temporadas que o Chicago Bulls, time de Jordan, foi vitorioso, o camisa 23 teve performances dúbias. Seja com números acima da média e mesmo assim os Bulls perderam, ou com atuações pífias e os Bulls venceram.

Alguns exemplos:

1991 – Jogo 3 contra o Philadelphia Sixers, Jordan marcou 46 pontos. Derrota dos Bulls.

1992 – Jogo 2 das Finais contra o Portland Trail Blazers, Jordan marcou 39 pontos. Derrota dos Bulls.

1993 – Jogo 2 contra o Cleveland Cavaliers, Jordan marcou 18 pontos em 31 minutos. Vitória dos Bulls... Jogo 3 e 5 das Finais contra o Phoenix Suns, Jordan marcou, respectivamente, 44 e 41 pontos. Derrota dos Bulls em ambas as partidas.

1996 – Jogo 3 contra o New York Knicks. Jordan marcou 46 pontos. Derrota dos Bulls... Jogo 3 contra o Orlando Magic. Jordan marcou 17 pontos em 39 minutos. Vitória dos Bulls.

1998 – Jogo 6 contra o Indiana Pacers. Jordan marcou 35 pontos. Derrota dos Bulls... Jogo 1 das Finais contra o Utah Jazz. Jordan marcou 33 pontos. Derrota dos Bulls.

Tudo isso, uma pequena amostra, para deixar claro que Jordan foi humano dentro de quadra. Os Bulls perdiam com ele jogando bem e venciam com ele jogando mal. Passou por situações comuns a outros grandes nomes da NBA. Contudo, recebe um tratamento como se suas falhas fossem meros pormenores.

E as de LeBron são sinais do apocalipse.

Não importa qual seja o resultado da sua quarta final seguida da NBA. Venha o título ou não, terá irrisória influência no resultado final de sua carreira. LeBron não precisa de sete títulos para ser maior que Jordan, afinal, outros jogadores tem mais anéis de campeão o que os dois juntos. Outros jogadores marcaram mais pontos que Jordan na carreira, mais assistências, mais rebotes, com melhor aproveitamento de quadra...

Jordan é a figura que transformou a NBA, ele foi a cara da globalização da liga. Seu talento e qualidade são inquestionáveis. Mas o título de melhor jogador da história da NBA não. Para ele, ficará o honroso rótulo de melhor cestinha de todos os tempos do basquete.

LeBron, um jogador mais completo e eficiente em todos os aspectos do jogo, caminha para destronar “sua majestade”.

O recalque vem para tentar desmentir.

A ladainha formada em torno de “Jordan, o melhor jogador da história da NBA” é dita ininterruptamente pelos recalcados. Mas vai exaurir. A psicanalista Maria Rita Kehl, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo em 24 de março de 2013, intitulado “A verdade e o recalque”, define bem o que se passa na mente de quem é invejoso e ranzinza, que vive longe de parâmetros reais e é abastecido por devaneios:

A fantasia recalcada revela que a verdade psíquica é capaz de libertar o neurótico das repetições sintomáticas”.

E a neurose nada mais é do que expressões simbólicas de um conflito psíquico enraizado na história infantojuvenil de cada ser humano.

(GL)
Escrito por João da Paz

Miami Heat em seu lugar apropriado


Respeito.

Quando o time do Miami Heat, atual campeão da NBA, visitou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em janeiro deste ano, essa palavra os conectou.

“Ás vezes, parece que eles [Heat] ainda estão lutando por um pouco de respeito – eu me identifico com isso”, disse Obama em seu discurso, mostrando entender o que grandes nomes, mesmo realizando grandes feitos, não são reconhecidos como deveriam. Pelo contrário até, são desmoralizados e desvalorizados.

Nesta quinta, 5, começa as Finais da NBA temporada 2013-14 e será a quarta vez consecutiva que o Heat disputa o título. É um feito tão raro que apenas duas outras franquias conseguiram atingi-lo em 67 anos: Boston Celtics (duas vezes) e Los Angeles Lakers (uma vez).

A última vez que uma equipe chegou a esse status foi na década de 80. Os Lakers entre 1982 e 1985, e os Celtics entre 1984 e 1987. Ambas conseguiram dois títulos em suas respectivas sequências. Ambas têm trio de jogadores considerados lendas da NBA (Lakers: Magic Johnson, James Worthy e Kareem Abdul-Jabbar; Celtics: Larry Bird, Robert Parrish e Kevin McHale).

Porém, o senso comum questionará, caso o Heat seja derrotado pelo San Antonio Spurs em 2014, o papel na história da NBA do time e do trio LeBron James, Dwyane Wade e Chris Bosh.

O mínimo de dúvida beira o ridículo.

Somos testemunhas da história e tem os que não aproveitam para desfrutar e escolhem a murmuração e o ranger de dentes. É indissociável gostar de basquete e não admitir a grandeza das conquistas alcançadas pelo Heat em apenas quatro anos.

Note que é preciso voltar duas décadas e meia para ver que algo parecido aconteceu na NBA. A liga, que vive seu melhor momento, é cada vez mais competitiva e disputada no topo. Estrelas surgem, grandes times são formados e torna a mera repetição uma dificuldade imensa.

Agora, manter o mesmo nível elite por quatro anos seguidos, repetindo jogos em Finais? É formidável e merece mais do que destaque.

O Heat tem cumprido todas as expectativas autoimpostas. É muito tentador desviar o foco e se acomodar quando se consegue cumprir uma meta almejada. Com o Miami, além disso, há a sede de continuar e alta, de não esmorecer.

O que LeBron, Wade e Bosh conseguiram - a quarta final seguida – nem Michael Jordan, Kobe Bryant, Shaquille O’Neal ou mesmo Tim Duncan (estrela dos Spurs) obtiveram ao longo da carreira.

Nesse período de quatro temporadas, o Heat venceu 14 séries de playoffs de 15 disputadas (perdeu para o Dallas Mavericks nas Finais de 2011). Foram 10 jogos decisivos em casa, venceu todos eles. Foram três jogos número 7 disputados, venceu todos eles. Não foi páreo para nenhum concorrente da Conferência Leste nos playoffs, destroçando o Boston Celtics duas vezes, o Indiana Pacers três vezes e o Chicago Bulls duas vezes – fora eliminando novamente Paul Pierce e Kevin Garnett nesta pós-temporada, agora com o Brooklyn Nets, antes com os Celtics.

Não bastassem esses impressionantes números, outra estatística chama mais atenção por ser fundamental para o sucesso nos playoffs: o Heat tem ao menos uma vitória fora de casa em cada uma das séries de playoffs que disputou nos últimos quatro anos.

Esse sentimento que a imprensa (e fãs) apregoam contra os grandes times/grandes jogadores é curioso. O mundo dos esportes é recheado de casos que esses tipos não são apreciados. Só aumenta a conta deles quando não ligam para isso e buscam a cada dia provar que são dignos de estarem em lugares altos.

Ambos os títulos do Heat da era LeBron-Wade-Bosh são contestados. Inclusive é possível ler/ouvir que a última vitória nas Finais contra os Spurs foi produto da sorte...

Por mais que o Miami perca para San Antonio nestas Finais, o lugar do Heat entre os grandes times da história da NBA está assegurado. Assim como para o trio formado pelos seus principais jogadores.

Qualquer coisa diferente disso é estupidez e uma cegueira burra.

Similar ao que é feito com o técnico do Heat, Erik Spoelstra. É clichê diminuir o trabalho do treinador, em qualquer esporte coletivo, quando sua equipe é formada por atletas de talento. Dizem “com um time desse é fácil ganhar”. Não tem visão mais torpe, simplista e preguiçosa.

Na NBA, Mike Brown ganhou o troféu de melhor treinador na temporada 2008-09 (66 vitórias com o Cleveland Cavaliers em 82 jogos de temporada regular. LeBron James estava em Cleveland). Em 2012-13, Brown estava a frente dos Lakers com um dos quartetos mais incríveis colocados juntos no mesmo time: Steve Nash (duas vezes MVP), Kobe Bryant (MVP), Pau Gasol (MVP do Mundial de Basquete) e Dwight Howard (três vezes melhor defensor). Em oito jogos na pré-temporada, os Lakers perderam todos. Nos cinco primeiros jogos da temporada regular, foram quatro derrotas. Mike Brown foi demitido.

No futebol, já que estamos em clima de Copa do Mundo, temos dois exemplos interessantes com a Seleção brasileira.

Em 1970, o time do Brasil foi campeão e justamente o treinador Zagallo não ganha créditos, porque “com um time desse é fácil ganhar”. Havia cinco camisas 10 no time titular: Jairizinho (Botafogo), Gérson (São Paulo), Rivelino (Corinthians), Pelé (Santos) e Tostão (Cruzeiro). Levantaram a taça.

Na Copa de 2006, a seleção brasileira tinha tantos jogadores bons que o camisa 10 do Real Madrid era banco (Robinho). Mesmo assim, o ataque ganhou o apelido de quadrado mágico, com outros dois camisas 10 de grandes clubes europeus: Ronaldinho (Barcelona) e Adriano (Inter), com o complemento de Ronaldo, nada mais nada menos - Kaká vestia a 22 no Milan, mas é um típico camisa 10. Neste quarteto, perceba que tem três jogadores eleitos melhores do mundo: Ronaldinho, Kaká e Ronaldo. Com o treinador Parreira no comando, a Seleção não passou das quartas-de-final.

Com LeBron-Wade-Bosh, Spoelstra não apenas vence, mas domina as quadras da NBA com atuações consistentes.

Seja com o tricampeonato ou não, ele tem de receber respeito pelo seu trabalho como um dos grandes treinadores da NBA – enterrando de vez o rótulo de articulista de um time cheio de peladeiros.

Outra taça dará a Spoelstra o terceiro título em seis temporadas na associação. Assim sendo, igualará o que Pat Riley, seu tutor, treinador daquele Lakers da década de 80 e presidente do Heat, atingiu na mesma quantidade de campeonatos.

Riley é venerado.

Spoelstra, não?

Se não o tratam devidamente agora, não será mais um título que mudará o resultado da equação.

Obama, ao ganhar das mãos de Spoelstra um troféu simbólico da NBA, pôde sentir que o Heat e seus integrantes estão em busca de ideais similares.

Respeito.

(GL)
Escrito por João da Paz

Será o fim dos abusos cometidos por times da NFL contra suas cheerleaders?


Na semana do draft, um dos eventos mais importantes no calendário da NFL, a liga sofreu mais um golpe que sozinho não é capaz de tonteá-la, mas junto com os outros três recebidos ao longo deste ano pode deixar marcas na organização tida como uma das mais exemplares no mundo esportivo.

Quem ataca são as cheerleaders, expondo abusos graves e vergonhosos que franquias impõe em cada uma delas. É um assunto que hora ou outra ventilava, ganhava destaques em sites/blogs, porém logo desparecia. A diferença é que agora são processos judiciais a arma usada pelas moças para conseguir o básico de direitos e respeito, nada mais.

De janeiro até maio, foram quatro processos protocolados contra times da NFL, todos acusando os dirigentes de não praticarem a mínima legislação trabalhista. Quem iniciou a onda foi Lacy T., ex- cheerleader do Oakland Raiders, que pôs sua luta contra as Raiderettes na Justiça em janeiro; no mês seguinte, foi a vez de Alexa Brenneman, ex-cheerleader do Cincinnatti Bengals; no mês passado, cinco ex- cheerleaders do Buffalo Bills assumiram a batalha nos tribunais. E, no último dia 06, Krystal C., ex- cheerleader do New York Jets, engrossou a lista processual que a NFL precisa ficar de olho para não permitir uma mancha em sua imagem.

Todos os casos têm em comum uma coisa: salário abaixo do mínimo estipulado por lei.

As integrantes da Flight Crew, equipe de cheerleaders dos Jets, recebem por jogo US$ 150 e US$ 100 dólares por eventos extras. Porém, somando todos os vencimentos e despesas obrigatórias que têm com a própria função, o salário por hora trabalhada é US$ 1,50, bem menor do que o salário mínimo do estado de New York: US$ 7,25.

Krystal C. decidiu entrar na briga pelo necessário, não exigindo luxo. Contudo, até no mundo das cheerleaders há corporativismo, pois companheiras que estão na mesma situação dela decidiram não participar do processo, se mostrando coniventes com a situação de trabalho precária. Fora isso, ela, assim como as outras que optaram por colocar a cara a tapa, sofrem ameaças e intimidações de cheerleaders veteranas.

Além dos vencimentos irrisórios, tem a questão do abuso moral cometido pelas equipes de cheerleaders. Algumas são contratadas como “parceiras independentes “, mas muitas, como a Flight Crew, as cheerleaders são consideradas empregadas dos clubes. Essa associação direta é que deveria preocupar a NFL e fazer com que a diretoria da liga se antecipe a uma crise e resolva a situação.

Isso porque se tudo o que acontece com as cheerleaders for vazado para a imprensa, será potencialmente trágico. O caso mais grave acontece com as Buffalo Jills, cheerleaders do Buffalo Bills. A cartilha comportamental entregue a elas na temporada passada foi divulgada na mídia, praticamente em conjunto com o processo, protocolado no final de abril. As cheerleaders também recebiam menos que o mínimo estadual – a cidade de Buffalo está no estado de New York, mas o que chama mais a atenção são as exigências impostas às garotas, desde como se comportar corretamente em um jantar até sobre não paquerar. Regras mandavam que não conversassem sobre política, religião e fofocas. Eram encorajadas a não ter “opiniões fortes, polêmicas” acerca de qualquer tema. Chagava ao ponto de determinar como deveria ser a higiene íntima das moças (menstruação e depilação).

Esse caso envolvendo a Buffalo Jills é tão grave que os Bills suspenderam as atividades da equipe e não se sabe ao certo se na estreia do time em casa na temporada 2014-15 haverá cheerleaders na linha lateral de campo.

O que sofre os Bills é similar ao que acontece com as cheerleaders do Baltimore Ravens em 2009. Uma cartilha cheia de demandas absurda foi espalhada na internet, mas nada se fez na época. A discussão agora atingindo o campo judicial, não será surpresa se outras cartilhas aparecerem.

Com as Ben-Gals (Cincinnati Benglas) e Raiderettes, por enquanto o que se discute são salários. As cheerleaders dos Bengals recebem US$ 90/jogo, US$ 2,85/hora na temporada passada. O piso salarial no estado de Ohio é US$ 7,85/hora.

As Raiderettes, em 2013, receberam menos de US$ 5/hora, sendo que o salário mínimo na California é US$ 8/hora.

Obrigadas a ir em viagens, eventos filantrópicos, e custear o salão de beleza e uniformes, as cheerleaders de clubes da NFL estão a caminho de revolucionar um setor da liga que é destaque pela beleza e atração, mas tem um submundo cruel e desumano. Muitos fãs demonstram desinteresse para com elas, reforçando que a participação nos jogos é irrelevante e que atraem pouca receita para a franquia. Independente disso, a partir do momento que um time da NFL se compromete a montar uma equipe de cheerleaders, o mínimo a elas tem de ser dado – principalmente em questões trabalhistas.

Há o glamour? Sim, mas poucas desfrutam disso. A equipe de cheerleaders mais famosa da NFL, do Dallas Cowboys, está num patamar diferenciado e pode ser considerada a única que tem uma estrutura sólida e diferente – apesar de que cada uma delas não recebem muito: US$ 150/jogo. Leia "Dallas Cowboys ganha uma fortuna com suas cheerleaders. Elas se preocupam mais com a fama do que com o salário" e saiba mais sobre as DCC.

Se considerado um esporte, cheerleading seria o que causa mais lesões em todo os Estados Unidos. Quem é praticante desconsidera o que as moças da NFL fazem como cheerleading, Seja como for, elas também não devem estar ali de graça, ou pagando para ser vestir uma roupa curta, sensual e dançar para +80 mil pessoas.

Em cinco meses são quatro processos. A NFL tem de se posicionar para impedir que esse número cresça e tentar impedir o sangramento de futuras informações que possam surgir contra as equipes de cheerleaders das franquias. Agindo com força nos bastidores, a NFL pode fazer valer o ditado “há males que vem para o bem” e transformar a onda de processos em algo bom.

A NFL dá uma atenção especial a mulher, por mais que as ações no Outubro Rosa (campanha contra o câncer de mama) tenha interesse comercial. A liga busca lucro e não seria ruim ganhar uma grana se criasse um plano de atividade especial para as cheerleaders, elaborando um sistema padrão que cumprisse determinações básicas de trabalho. Adicionando uma valorização no status, dando a elas um sentimento de fazer parte da engrenagem rica que é a NFL, a liga pode vender que está fazendo alguma coisa para coibir abusos e melhorar as condições das cheerleaders.

Seria uma bela ação de marketing, combinada com uma propaganda institucional de primeira linha.

(GL)
Escrito por João da Paz

Aquele time do Canadá – sim, o Toronto Raptors – se distancia do desaparecimento


Fundado há 19 anos, o Toronto Raptors está no caminho certo que o levará à sobrevivência na NBA. Assim como Vince Carter fez no final da década de 90, a nova direção da franquia toma atitudes agressivas para estabelecê-la como a representante do Canadá na maior liga de basquete do mundo.

Com cores de time de segunda divisão, logo e nome bregas, os Raptors chegaram junto com o Vancouver Grizzlies para inserir o basquete da NBA no país ao norte dos Estados Unidos. Os Grizzlies, também com nome e logo infantis, duraram pouco, graças a campanhas horrendas (em 1998-99, venceu apenas 8 vezes em 50 partidas, aproveitamento de 16% em vitórias) e má vontade de todos (franquias, NBA e fãs locais). Após somente seis temporadas, os Grizzlies deixaram Vancouver e aterrissaram em Memphis (2001-02). Sem nenhuma pós-temporada quando estava no Canadá, a franquia participa agora do sétimo playoffs, o quarto seguido.

Se não fosse por Vince Carter, certamente os Raptors não estariam mais no norte, fato. Carter chegou como estrela vindo da tradicional Universidade da Carolina do Norte, reduto de estrelas da NBA. Ele sofreu um pouco com a depressão da associação que desejava loucamente um substituto para Michael Jordan, mas fez seu trabalho em Toronto com empenho e seu estilo de jogo ajudou a franquia a criar um vínculo maior com a cidade.

Em seu primeiro ano na NBA, Carter levou o prêmio de melhor novato. Na segunda temporada, levou o time aos playoffs. No ano após a estreia na pós-temporada, os Raptors estiveram a uma cesta de avançar às finais da Conferência Leste. Porém, o arremesso dado por Carter contra o Philadelphia 76ers de Allen Iverson tocou no aro e a sirene soou, anunciando o fim do jogo sete.

Com Carter, os Raptors estiveram presentes em três playoffs. Mas sua contribuição foi maior que isso. Carter tornou o time do Canadá popular entre crianças/adolescentes. Era carismático, jogava ousadamente e tinha nas enterradas sua principal assinatura.

Indiscutivelmente, Carter apresentou a melhor sequência de enterradas apresentadas em um final de semana do Jogo das Estrelas. (Nota: Veja o vídeo abaixo, com a íntegra de todas os lances de Carter, e entenda porque ele "estragou" o torneio de enterradas. Foi tão incrível que ninguém vai chegar perto de igualá-lo. Sinta a reaão da torcida e jogadores).



Ao lado do seu primo Tracy McGrady, Carter fazia uma dupla jovem e empolgante, agradando a parcela mais jovem do público da NBA. Porém, nem tudo dura pra sempre. A franquia não administrou bem o fora de quadra de ambos e não tinham outra saída a não ser buscarem um melhor lugar na liga. McGrady deixou os Raptors em 2000 e foi para Orlando – com a camisa do Magic, foi duas vezes seguidas o cestinha da NBA (2003 e 2004). Em 2004 foi a vez de Carter largar a camisa roxa e preta, indo defender os Nets em New Jersey.

O fim dos Raptors passou a ser mais nítido.

A partir da saída de Carter os Raptors não sabiam que rumo tomar: reconstrução, mudança por completo, continuidade... Chris Bosh, escolhido no draft de 2003, foi “eleito” o sucessor, rótulo que além dele não querer, era incompatível com seu estilo (de jogo e postura). Um sucesso repentino, título da Divisão do Atlântico na temporada 2006-07 (campeonato que nem Boston Celtics e New York Knicks estavam competitivos e ficaram de fora dos playoffs), prejudicou a franquia, pois se iludiram pensando que faziam a coisa certa.

Não.

Fracassos vieram, em grande parte por decidirem optar por uma revolução, revolução sem qualquer sentido. Os Raptors escolheram montar um time “europeu” na NBA. Daí se formou um mutante, um clube sem identidade verdadeira. Era um falso time da NBA que mandava seus jogos em Toronto.

FUNDAÇÃO URBANA

Dentro de quadra, o novo Toronto Raptors, este que está nos playoffs da temporada 2013-14, chegou a tal ponto com o título da Divisão do Atlântico, novamente se beneficiando da má fase de Celtics e Knicks – nenhum dos dois avançaram.

As trocas de Rudy Gay (Kings) e Andrea Bargnani (Knicks) foram decisões acertadíssimas. Desta maneira, o time teria de se sustentar nos líderes DeMar DeRozan e Kyle Lowry. Com ginga urbana e um street style que remete ao que Carter e McGrady faziam a uma década atrás, os Raptors tem dois jogadores de talento e potencial para recuperar o aspecto contemporâneo que marcou o time no seu tempo áureo.

A franquia, antes do inicio dos playoffs desta temporada, lançou uma ótima campanha publicitária chamada “We The North” (tr. Nós do Norte). Uma das metas da ação é mostrar o basquete praticada nas ruas, nas áreas urbanas de Toronto. E destaca, claro, DeRozan e Lowry, atletas certos para serem a face da propaganda.

Aqueles adolescentes, sejam eles do Canadá ou não, fãs de Carter e McGrady, abandonaram os Raptors. A franquia não soube prender os torcedores, que se dispersaram. A mídia também esqueceu o clube. Os patrocinadores idem. A irrelevância a cada dia, jogo, mês, temporada se apoderava dos Raptors, que trilhava com agonia rumo ao deslocamento (para os EUA), ou ao desaparecimento (redução de times da NBA, projeto que está ativo e pronto para ser executado).

Colocando uma tag urbana na franquia, e com jogadores ideais para sustentá-la, os Raptors tentam resgatar os fãs perdidos de Carter e McGrady, na mesma toada que buscam cativar novos torcedores, os que são admiradores do estilo NBA de jogar basquete: contra-ataque showtime, enterradas, jogadas de efeito e marra.

Lembrando ainda que no atual elenco dos Raptors, o terceiro jogador em importância é Tereence Ross, exímio enterrador, campeão do torneio de enterradas em 2013.

Aliás, nos últimos 18 anos, o Toronto Raptors é o único time com dois jogadores diferentes campeões do torneio de enterradas (Carter e Ross).

TIME DO CANADÁ


A campanha We The North tem mais um objetivo principal: instituir os Raptors o time oficial do norte da fronteira.

É interessante isso, pois transformar um comentário negativo (“aquele time do Canadá”) a seu favor (“sim, somos aquele time do Canadá”).

Nisso tudo, evidente, há um estratégia de marketing pensada. Já que, sendo assim, os Raptors teriam o maior mercado da NBA (a população do Canadá é de, aproximadamente, 35 milhões de pessoas).

Timidamente, os Raptors já tentaram se aproximar mais do público canadense. Um dos gestos foi pôr a maple leaf no uniforme. Depois, alterar as cores da equipe, despejando o roxo na lixeira e assumindo as cores do país, branco e vermelho.

Contudo, a segunda fase da campanha é radicalizar mais no visual, com mudança no logo sendo a mais primordial O nome Raptors, por mais que seja tão cafona quanto sua inspiração (Jurassic Park), será mantido.

O passo a vir depois é atrair/criar jogadores canadenses. O clube organiza amistosos e clínicas de treinamento ao redor de todo o Canadá, almejando apertar/criar laços com fãs. A fase do basquete canadense atualmente é morna – está fora do Mundial da Espanha deste ano –, mas o futuro é promissor e os Raptors podem aproveitar esta onda.

A safra é muito boa no país do hockey. Tristan Thompson (Cleveland Cavaliers), Andy Rautins (Tulsa 66ers/NBDL), Joel Anthony (Boston Celtics), Cory Joseph (San Antonio Spurs) e Andrew Nicholson (Orlando Magic) são bons jogadores que estão no quinteto titular da seleção canadense. Outros nomes (jovens) podem reforçar a equipe na busca por vaga nos Jogos Olímpicos do Rio-16, como Andrew Wiggins (cotado para ser uma escolha alta no draft-2014), Anthony Bennett (número 1 do draft do ano passado, Cavaliers), Robert Sacre (Los Angeles Lakers) e Nick Stauskas (Universidade de Michigan).

Não é uma má ideia buscar fazer dos Raptors o time do Canadá. A seu favor, conta a boa gestão que a atual diretoria está fazendo. É o combustível necessário para tirar a franquia do limbo e levá-la a estabilidade (também às transmissões da ESPN/TNT e ao centro da conversa dos fãs da NBA).

Entre os 30 times da associação o Toronto Raptors, segundo a revista Forbes, é o 18º mais valioso, a frente de Philadelphia 76ers, Washington Wizards, Atlanta Hawks e Detroit Pistons, todos times de grandes cidades dos Estados Unidos. Após muita disputa e lobby, o time do norte vai ser sede de um Jogo das Estrelas. O evento será realizado pela primeira vez no Canadá e servirá para comemorar os 20 anos dos Raptors na NBA – evento que renderá para Toronto uma injeção de US$ 100 milhões.

Para não fazer feio, e realizar uma bela homenagem em casa para caras como Carter e Ross no torneio de enterradas daqui a dois anos, a diretoria tem de continuar o bom trabalho e manter o Toronto Raptors competitivo nas próximas temporadas, mesmo que os rivais de divisão Celtics e Knicks se recuperem.

(GL)
Escrito por João da Paz


Veja vídeo da campanha do Toronto Raptors - We The North

Enquanto tradicionalistas murmuram, NBA vive seu melhor momento


As viúvas esportivas são as piores. Se prendem à valores primitivos e não prestam atenção na genialidade que desfila em quadra a cada jogo da NBA. Com os melhores números ofensivos em 20 temporadas e exemplar saúde financeira na administração, a maior liga de basquete do mundo está em sua melhor fase da história.

A temporada 2013-14 registrou o jogo mais veloz estatisticamente, em tempo de posse de bola, desde o campeonato de 1993-94. A média de pontos por jogo, 101, é a maior dos últimos 19 anos. Todos esses dados podem ser observados em dois duelos de playoffs que começam neste sábado: Houston Rocktes x Portland Trail Blazers e Golden State Warriors x Los Angeles Clippers.

É totalmente válido o argumento de que ambos os duelos sejam os mais empolgantes que uma primeira rodada de pós-temporada já teve. Serão partidas típicas da nova era da NBA: jogo de transição forte, contra-ataque a todo instante e muitos arremessos de três pontos.

Dos 16 times que vão disputar o troféu Larry O’Brien, entregue ao campeão da associação, há exemplos de trabalho consistente e exemplar (San Antonio Spurs), um que superou perda de dois líderes e mesmo assim conseguiu classificação aos playoffs (Chicago Bulls) e até aquele time canadense avançou, como campeão da Divisão Atlântico ainda por cima (Toronto Raptors).

O sentimento de glória da NBA hoje é meio amargo para três times tradicionais, uma vez que sem eles a liga desfruta de um formidável momento.

Pela primeira vez na história da competição que Los Angeles Lakers, New York Knicks e Boston Celtics ficam, ao mesmo tempo, fora dos playoffs. Porém, o trio tem condições plenas de voltar, desde que, evidentemente, seja feito um bom trabalho de recuperação. A situação dos Celtics é a mais complicada, a dos Knicks intermediária e a dos Lakers a mais rápida de ser solucionada.

As tais viúvas bramam e destilam veneno ao não admitir que, mesmo sem forças da velha escola, a NBA consegue não apenas manter um nível excelente de jogo, mas elevá-lo. Claro, os playoffs da NBA seria mais charmoso com Lakers, Knicks e Celtics, mas a ausência é um simbolismo importante. A NBA não depende tanto assim do sucesso deles para estar bem.

Um tema recorrente aqui no grandes ligas é o desapego, aprender a viver no presente e deixar o passado, para trás. Do mesmo modo, há quatro anos um especial do blog levou o leitor a refletir sobre um fato: a qualidade de jogadores de nível A que atuam na NBA.

Com o título de Prósperos, o texto detalha feitos de grandes nomes da liga, como Tony Parker, Dirk Nowitzki, Derrick Rose, Chris Paul, Dwyane Wade, Kobe Bryant, Carmelo Anthony, Deron Williams, Dwight Howard...

E, óbvio, Kevin Durant e LeBron James.

Ambos estão em outro patamar, de fato. E a NBA merece que Durant destrone LeBron - pelo menos por uma temporada – e ganhe o MVP da atual temporada.

Os tradicionalistas, com seus argumentos nocivos e postura ranzinza, permeiam todos os setores... não é?

“Hoje não se faz boa música. Qualidade era lá em antigamente”

Filmes? Só vemos explosão e sexo nas telas. Coisa boa são os filmes em preto branco”

“Hoje só tem jogador de futebol perna de pau. Chamá-los de craques? Craques só os de outrora”

Engraçado que esse método de raciocínio interfere até na discussão do estado da nossa sociedade. Os jovens de ontem criticam aos quatro cantos o comportamento dos jovens de hoje, dizendo que tudo é baixaria, que não há mais responsabilidade.

Quando surgiu a revolução sexual, onde tudo era amor, sexo, drogas e rock and roll? Lá não existia esse comprometimento todo que os adultos de hoje (jovens de ontem), pregam.

Logo, a NBA que é tão contemporânea e progressiva, que dita regras e inova a cada instante, não é digna de ser ditada por valores antiquados e entrar na furada de propagar o que passou como superior apenas porque sim.

A NBA realmente está no seu melhor momento. Os tempos de thug players está bem longe e placares com mais de 100 pontos mais recorrentes. O novo comissário, Adam Silver, está estudando as melhores maneiras de criar meios para fazer a NBA progredir mais, ser mais próspera – entrará corretamente no mercado de patrocínio em camisas de jogo, próxima inevitável ação, porém essencial para continuar na modernidade.

E ainda conta com o camisa 6 do Miami Heat, que está prestes a se tornar o melhor jogador da história da liga.

Quem é inteligente e deixa o rancor de lado, percebe.

(GL)
Escrito por João da Paz

NBA merece que Kevin Durant destrone LeBron James – pelo menos por uma temporada


Melhor jogador da NBA nas últimas cinco temporadas, levando o prêmio de MVP em quatro delas, LeBron James, ala do Miami Heat, terá sua sequência dominadora outra vez interrompida, só que agora com merecimento: Kevin Durant, ala do Oklahoma City Thunder, é o MVP do atual campeonato da associação.

Durant tem um discurso pronto de que odeia ser o segundo (segundo melhor atleta da sua classe no high school, segunda escolha do draft, segundo colocado nas eleições de MVP, vice-campeão...). Luta a cada dia para quebrar essa sina.

Ele está naquela temida lista de grandes jogadores que ficam atrás de um fora de série. Sentimento que Reggie Miller, Charles Barkley e Karl Malone, por exemplo, experimentaram ao atuarem à sombra de Michael Jordan. Na era LeBron James, a caminho de ser o melhor jogador da história da NBA, Durant está na caixinha junto com Carmelo Anthony, Chris Paul, e outros, desfrutando o dissabor de ver LeBron reinar.

A vantagem que faz Durant ficar à frente de LeBron na corrida de MVP nesta temporada é o aprimoramento do seu jogo. Daí entra um toque de nerdice do ala do Thunder, que contratou um especialista em números analíticos da NBA para o orientar sobre quais melhores arremessos a serem feitos em determinados lugares na quadra.

Isso tem contribuído para seu jogo melhorar. Durant tem mantido o ótimo aproveitamento de 51% nos jumps, alcançado no ano passado. Está com uma formidável média de pontos por jogo, 32, cinco pontos à frente do segundo colocado: Carmelo Anthony.

Continuando nesse ritmo, Durant será cestinha da NBA pela quarta vez (outras foram entre 2010 e 2012). Com mais de sete rebotes por jogo (vice-líder entre os alas, atrás de Carmelo) e com mais de cinco assistências (também vice-líder, só que atrás de LeBron), Durant será apenas o quarto jogador em toda história da liga a terminar uma temporada com 32-7-5, igualando marcas registradas por Michael Jordan, Kareem Abdul-Jabbar e Bob McAdoo).

Outro aspecto que demonstra a evolução do camisa 35 do Thunder é a defesa, fundamento que LeBron é mestre. Durant tem sido eficiente no setor e rendido muito e com eficiência para a equipe, a quinta melhor defesa da associação.

Ser mais participativo com o time do Thunder ajuda Durant no seu caso de MVP, principalmente por ter aumentada em uma assistência, da temporada passada para a atual, sua média neste fundamento, que demonstra sua colaboração mais disposta para com o grupo – algo que LeBron faz desde sempre.

Durant apresentou uma postura menos egoísta no momento mais crítico do seu time, quando ficou, por oito semanas, sem o armador Russell Westbrook (cirurgia no joelho). Com a ausência do All-Star, Durant brilhou, mostrando-se decisivo quando foi exigido. Arremessou mais e converteu mais cestas (sua média de pontos por jogo com Westbrook é 26; sem ele, 32).

Lembrando que em janeiro, Durant teve 12 jogos seguidos com ao menos 30 pontos.

Com 25 anos de idade, são várias conquistas que o “veterano” de 6 anos tem. Uma delas é internacional, super importante: MVP do Mundial de basquete de 2010. Esse feito nem remotamente é lembrado, como se nem tivesse acontecido. Nem o próprio Durant menciona...

Sua vontade de ser o melhor jogador da NBA, pelo menos por uma temporada, está próxima de se realizar.

O título? Também está próximo.

Mas uma coisa de cada vez.

(GL)
Escrito por João da Paz

MLB na Fox Sports Brasil e como a tecla SAP é o grande trunfo da ESPN Brasil


Na semana passada a assessoria de imprensa da Fox Sports Brasil confirmou que transmitirá a temporada 2014 da MLB (liga americana de beisebol). É mais uma investida do canal no grande filão esportivo da TV paga: os esportes americanos.

O Fox Sports Brasil agrega a MLB ao pacote de basquete universitário (NCAA) e corridas de stock cars (NASCAR). Tudo isso com o aporte da matriz dos Estados Unidos, um dos mais importantes canais esportivos do país.

Essa mais recente ação da Fox Sports Brasil é uma clara ameaça à hegemonia da ESPN Brasil na cobertura de jogos ao vivo dos esportes americanos – status alcançado, em grande parte, pela exclusividade de mercado. A concorrência é sempre saudável e benéfica, com o cliente saindo sempre como o grande vencedor.

Porém, o assinante precisa agir com inteligência, para não acontecer o mesmo que o BandSports enfrentou quando transmitia a NFL.

Imediatamente após o anúncio da MLB na Fox Sports Brasil, fãs vociferaram palavras contrárias, negativas contra essa excelente novidade. Ao invés de celebrarem mais um espaço (raro) dos esportes americanos na TV brasileira, as criticas vieram supondo que as transmissões serão ruins, com profissionais despreparados e etc.

Similares palavras eram recebidas pelo BandSports quando inovou e trouxe ao Brasil jogos da NFL nas tardes de domingo no final da década passada. Servia como alternativa para que o telespectador pudesse acompanhar mais times e jogadores, além dos que apresentados aos domingos e segundas à noite na ESPN Brasil.

O BandSports hoje transmite o basquete universitário da NCAA, mas com uma aquisição de direitos “mais na raça” do que em berço esplêndido, que é o caso da ESPN Brasil e Fox Sports Brasil, pois ambos canais têm como fonte as matrizes americanas, que são concorrentes ferrenhas nos Estados Unidos e essa boa briga está se transferindo para cá.

Com a criação de um segundo canal, a Fox Sports Brasil criou um novo espaço para aproveitar direitos de transmissão de importantes competições de esportes americanos que sua matriz detém – que lá há o núcleo parte do canal aberto, Fox; diversos canais esportivos locais de TV por assinatura; e o recente criado canal nacional Fox Spots 1, para ser um rival direto a ESPN.

De direitos de transmissões plenos, a Fox Sports dos Estados Unidos têm a MLB com jogos aos sábados, NFL com jogos ao domingo, futebol americano universitário e a NASCAR. No âmbito local, há ainda NBA, NHL, basquete da NCAA. Todo esse leque é possível de chegar aos fãs brasileiros (parte já está aqui) e a MLB é mais um passo para que o canal assuma uma posição consolidada para ameaçar a ESPN Brasil também nos esportes americanos – lembrando que no futebol internacional, a Fox Sports está lado a lado com a rival, inclusive tendo direitos exclusivos do Campeonato Italiano e futuramente do Campeonato Alemão; nos Estados Unidos, a Fox Sports tirou a Liga dos Campeões da ESPN.

O grande trunfo da ESPN Brasil é a tecla SAP, serviço que desde a origem do canal é disponibilizado aos assinantes para que possam ouvir os jogos de esportes americanos com a narração original em inglês. Esse diferencial é importante, pois é bastante utilizado pelos telespectadores que não gostam dos narradores/comentaristas brasileiros. A Fox Sports Brasil, por enquanto, não oferece essa opção.

Não é desvalorizar os profissionais, mas vender as transmissões de esportes americanos valorizando o fato de ter a tecla SAP à disposição do telespectador é uma estratégia inteligente da ESPN Brasil em se destacar em relação à Fox Sports Brasil que, com o anúncio das transmissões da MLB, dá mais um passo para entrar definitivamente no mercado lucrativo dos esportes americanos.

É importante, contudo, reforçar que os fãs tem papel importante na manutenção da MLB na Fox Sports Brasil e na inclusão de outros eventos na grade de programação do canal. Incentivar e dar audiência são melhores atitudes do que criticar e desmerecer as transmissões – basta não assistir.

No Fox Sports Brasil 2, a MLB terá a concorrência do futebol e será preterido algumas vezes pelo esporte que é paixão nacional e registra números de audiência superiores. Mesma situação pela qual a NFL no BandSports sofreu. Os fãs, então, inconsequentemente, destilaram veneno contra o canal do Grupo Bandeirantes. Que agora sejam mais compreensíveis e apoiem a iniciativa da Fox Sports Brasil.

Tudo isso é bom, até mesmo para a ESPN Brasil, que precisa sair da zona de conforto e investir mais (especificamente na MLB), pois uma concorrente de peso está, aos poucos, ameaçando a autointitulada “líder mundial em esportes”.

(GL)
Escrito por João da Paz