Aquele time do Canadá – sim, o Toronto Raptors – se distancia do desaparecimento


Fundado há 19 anos, o Toronto Raptors está no caminho certo que o levará à sobrevivência na NBA. Assim como Vince Carter fez no final da década de 90, a nova direção da franquia toma atitudes agressivas para estabelecê-la como a representante do Canadá na maior liga de basquete do mundo.

Com cores de time de segunda divisão, logo e nome bregas, os Raptors chegaram junto com o Vancouver Grizzlies para inserir o basquete da NBA no país ao norte dos Estados Unidos. Os Grizzlies, também com nome e logo infantis, duraram pouco, graças a campanhas horrendas (em 1998-99, venceu apenas 8 vezes em 50 partidas, aproveitamento de 16% em vitórias) e má vontade de todos (franquias, NBA e fãs locais). Após somente seis temporadas, os Grizzlies deixaram Vancouver e aterrissaram em Memphis (2001-02). Sem nenhuma pós-temporada quando estava no Canadá, a franquia participa agora do sétimo playoffs, o quarto seguido.

Se não fosse por Vince Carter, certamente os Raptors não estariam mais no norte, fato. Carter chegou como estrela vindo da tradicional Universidade da Carolina do Norte, reduto de estrelas da NBA. Ele sofreu um pouco com a depressão da associação que desejava loucamente um substituto para Michael Jordan, mas fez seu trabalho em Toronto com empenho e seu estilo de jogo ajudou a franquia a criar um vínculo maior com a cidade.

Em seu primeiro ano na NBA, Carter levou o prêmio de melhor novato. Na segunda temporada, levou o time aos playoffs. No ano após a estreia na pós-temporada, os Raptors estiveram a uma cesta de avançar às finais da Conferência Leste. Porém, o arremesso dado por Carter contra o Philadelphia 76ers de Allen Iverson tocou no aro e a sirene soou, anunciando o fim do jogo sete.

Com Carter, os Raptors estiveram presentes em três playoffs. Mas sua contribuição foi maior que isso. Carter tornou o time do Canadá popular entre crianças/adolescentes. Era carismático, jogava ousadamente e tinha nas enterradas sua principal assinatura.

Indiscutivelmente, Carter apresentou a melhor sequência de enterradas apresentadas em um final de semana do Jogo das Estrelas. (Nota: Veja o vídeo abaixo, com a íntegra de todas os lances de Carter, e entenda porque ele "estragou" o torneio de enterradas. Foi tão incrível que ninguém vai chegar perto de igualá-lo. Sinta a reaão da torcida e jogadores).



Ao lado do seu primo Tracy McGrady, Carter fazia uma dupla jovem e empolgante, agradando a parcela mais jovem do público da NBA. Porém, nem tudo dura pra sempre. A franquia não administrou bem o fora de quadra de ambos e não tinham outra saída a não ser buscarem um melhor lugar na liga. McGrady deixou os Raptors em 2000 e foi para Orlando – com a camisa do Magic, foi duas vezes seguidas o cestinha da NBA (2003 e 2004). Em 2004 foi a vez de Carter largar a camisa roxa e preta, indo defender os Nets em New Jersey.

O fim dos Raptors passou a ser mais nítido.

A partir da saída de Carter os Raptors não sabiam que rumo tomar: reconstrução, mudança por completo, continuidade... Chris Bosh, escolhido no draft de 2003, foi “eleito” o sucessor, rótulo que além dele não querer, era incompatível com seu estilo (de jogo e postura). Um sucesso repentino, título da Divisão do Atlântico na temporada 2006-07 (campeonato que nem Boston Celtics e New York Knicks estavam competitivos e ficaram de fora dos playoffs), prejudicou a franquia, pois se iludiram pensando que faziam a coisa certa.

Não.

Fracassos vieram, em grande parte por decidirem optar por uma revolução, revolução sem qualquer sentido. Os Raptors escolheram montar um time “europeu” na NBA. Daí se formou um mutante, um clube sem identidade verdadeira. Era um falso time da NBA que mandava seus jogos em Toronto.

FUNDAÇÃO URBANA

Dentro de quadra, o novo Toronto Raptors, este que está nos playoffs da temporada 2013-14, chegou a tal ponto com o título da Divisão do Atlântico, novamente se beneficiando da má fase de Celtics e Knicks – nenhum dos dois avançaram.

As trocas de Rudy Gay (Kings) e Andrea Bargnani (Knicks) foram decisões acertadíssimas. Desta maneira, o time teria de se sustentar nos líderes DeMar DeRozan e Kyle Lowry. Com ginga urbana e um street style que remete ao que Carter e McGrady faziam a uma década atrás, os Raptors tem dois jogadores de talento e potencial para recuperar o aspecto contemporâneo que marcou o time no seu tempo áureo.

A franquia, antes do inicio dos playoffs desta temporada, lançou uma ótima campanha publicitária chamada “We The North” (tr. Nós do Norte). Uma das metas da ação é mostrar o basquete praticada nas ruas, nas áreas urbanas de Toronto. E destaca, claro, DeRozan e Lowry, atletas certos para serem a face da propaganda.

Aqueles adolescentes, sejam eles do Canadá ou não, fãs de Carter e McGrady, abandonaram os Raptors. A franquia não soube prender os torcedores, que se dispersaram. A mídia também esqueceu o clube. Os patrocinadores idem. A irrelevância a cada dia, jogo, mês, temporada se apoderava dos Raptors, que trilhava com agonia rumo ao deslocamento (para os EUA), ou ao desaparecimento (redução de times da NBA, projeto que está ativo e pronto para ser executado).

Colocando uma tag urbana na franquia, e com jogadores ideais para sustentá-la, os Raptors tentam resgatar os fãs perdidos de Carter e McGrady, na mesma toada que buscam cativar novos torcedores, os que são admiradores do estilo NBA de jogar basquete: contra-ataque showtime, enterradas, jogadas de efeito e marra.

Lembrando ainda que no atual elenco dos Raptors, o terceiro jogador em importância é Tereence Ross, exímio enterrador, campeão do torneio de enterradas em 2013.

Aliás, nos últimos 18 anos, o Toronto Raptors é o único time com dois jogadores diferentes campeões do torneio de enterradas (Carter e Ross).

TIME DO CANADÁ


A campanha We The North tem mais um objetivo principal: instituir os Raptors o time oficial do norte da fronteira.

É interessante isso, pois transformar um comentário negativo (“aquele time do Canadá”) a seu favor (“sim, somos aquele time do Canadá”).

Nisso tudo, evidente, há um estratégia de marketing pensada. Já que, sendo assim, os Raptors teriam o maior mercado da NBA (a população do Canadá é de, aproximadamente, 35 milhões de pessoas).

Timidamente, os Raptors já tentaram se aproximar mais do público canadense. Um dos gestos foi pôr a maple leaf no uniforme. Depois, alterar as cores da equipe, despejando o roxo na lixeira e assumindo as cores do país, branco e vermelho.

Contudo, a segunda fase da campanha é radicalizar mais no visual, com mudança no logo sendo a mais primordial O nome Raptors, por mais que seja tão cafona quanto sua inspiração (Jurassic Park), será mantido.

O passo a vir depois é atrair/criar jogadores canadenses. O clube organiza amistosos e clínicas de treinamento ao redor de todo o Canadá, almejando apertar/criar laços com fãs. A fase do basquete canadense atualmente é morna – está fora do Mundial da Espanha deste ano –, mas o futuro é promissor e os Raptors podem aproveitar esta onda.

A safra é muito boa no país do hockey. Tristan Thompson (Cleveland Cavaliers), Andy Rautins (Tulsa 66ers/NBDL), Joel Anthony (Boston Celtics), Cory Joseph (San Antonio Spurs) e Andrew Nicholson (Orlando Magic) são bons jogadores que estão no quinteto titular da seleção canadense. Outros nomes (jovens) podem reforçar a equipe na busca por vaga nos Jogos Olímpicos do Rio-16, como Andrew Wiggins (cotado para ser uma escolha alta no draft-2014), Anthony Bennett (número 1 do draft do ano passado, Cavaliers), Robert Sacre (Los Angeles Lakers) e Nick Stauskas (Universidade de Michigan).

Não é uma má ideia buscar fazer dos Raptors o time do Canadá. A seu favor, conta a boa gestão que a atual diretoria está fazendo. É o combustível necessário para tirar a franquia do limbo e levá-la a estabilidade (também às transmissões da ESPN/TNT e ao centro da conversa dos fãs da NBA).

Entre os 30 times da associação o Toronto Raptors, segundo a revista Forbes, é o 18º mais valioso, a frente de Philadelphia 76ers, Washington Wizards, Atlanta Hawks e Detroit Pistons, todos times de grandes cidades dos Estados Unidos. Após muita disputa e lobby, o time do norte vai ser sede de um Jogo das Estrelas. O evento será realizado pela primeira vez no Canadá e servirá para comemorar os 20 anos dos Raptors na NBA – evento que renderá para Toronto uma injeção de US$ 100 milhões.

Para não fazer feio, e realizar uma bela homenagem em casa para caras como Carter e Ross no torneio de enterradas daqui a dois anos, a diretoria tem de continuar o bom trabalho e manter o Toronto Raptors competitivo nas próximas temporadas, mesmo que os rivais de divisão Celtics e Knicks se recuperem.

(GL)
Escrito por João da Paz


Veja vídeo da campanha do Toronto Raptors - We The North

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