A Copa das Copas e o espaço do futebol entre os esportes americanos


Quinta, dia 26 de junho.

A seleção de futebol dos Estados Unidos decidiu seu destino na Copa do Mundo 2014 contra a Alemanha. Apesar da derrota, o time americano se classificou para as oitavas de final - passou da fase de grupos pela terceira vez nas últimas quatro Copas.

Ao mesmo tempo, fatos importantes nos esportes americanos ocorriam paralelamente: LeBron James e Carmelo Anthony, dois alicerces da redenção do basquete do país nas duas últimas Olimpíadas (Pequim-2008 e Londres-2012), escolheram ser agentes livres, decisão que movimenta o mercado da NBA, pois estão disponíveis para qualquer time os contratar; o draft da NBA, considerado um dos melhores das últimas duas décadas, ocorreu no mesmo 26 de junho; o arremessador do San Francisco Giants, Tim Lincecum, no dia anterior, conseguiu seu segundo no-hitter da carreira; Tiger Woods voltou aos campos de golfe.

NBA, MLB, Golfe, LeBron James, Tiger Woods.

Mas o assunto mais popular entre os americanos, liderando as chamadas nos principais veículos de comunicação, foi a partida entre EUA e Alemanha.

O jogo aconteceu às 12h no horário de Washington. Assim, em grande parte dos EUA os americanos fizeram algo que seria natural se fosse no Brasil: estenderam a parada do almoço e assistiram ao duelo se aglomerando em frente de qualquer TV. É um simbolismo importante que evidencia o quão popular é o futebol na terra do Tio Sam, aniquilando aquela história de “quando que o futebol vai ‘pegar’ nos EUA?”.

Contra Portugal, encontro que aconteceu no domingo, dia 21, a audiência televisiva foi a maior da história para um jogo de futebol por lá. Já é forte o movimento para que as empresas dispensem seus funcionários mais cedo na próxima terça, 1º de julho, assim todos poderão acompanhar o confronto contra a Bélgica, às 16h, horário local.

Cronologia de sucesso

O futebol nos EUA só tende a crescer mais e mais. Uma ação da Fifa poderia ajudar isso, mas o erro cometido pode ser consertado. A Copa do Mundo de 2022 é destinada para ser em solo americano. Contudo a corrupção fez com que a maior organização do futebol mundial “escolhesse” o Catar. As denúncias de fraude estão evidentes e isso levará a Fifa a reconsiderar sua “escolha” inicial. Para corrigir plenamente, tem de escolher os EUA como sede, uma nação mais do que pronta para receber um evento de enorme porte.

A Copa do Mundo de 1994 (nos EUA) é criticada por motivos tolos, seja em aspectos dentro ou fora de campo. Porém, se esquecem de um detalhe: foi o torneio que teve a maior média de público de todas as Copas e o maior número total de torcedores nos estádios. Os jogos foram em estádios gigantes. Desenhados a priori para serem palcos de football, ficaram cheios de admiradores do soccer.

Dois anos depois a MLS (Major League Soccer) teve sua primeira temporada. A tentativa mais sólida de criar uma liga de futebol forte e competitiva no mercado. Hoje, a MLS é um sucesso: tem público, dinheiro e estabilidade. É um bebê de 19 anos se comparada com a MLB (145 anos), NHL (97), NFL (94) ou NBA (68), porém compete de igual para igual com as grandes ligas; e a NHL.

A média de público da MLS no ano passado foi maior do que NBA e NHL.

Repetindo:

A média de público da MLS no ano passado foi maior do que NBA e NHL.

Em porcentagem de capacidade de estádio de futebol, a MLS fica apenas atrás da Premier League (campeonato inglês) e da Bundesliga (campeonato alemão).

O público não é mais de apenas hispânicos, latinos. A classe média abraçou o esporte bretão e percebeu algo que há anos o brasileiro sabe: é um esporte barato. Basta usar a imaginação, fazer um gol em qualquer lugar, pegar bola e play on! Eis, aliás, um dos motivos da queda de popularidade da NHL nos Estados Unidos. Jogar hóquei é caro e, antes de ter habilidade para controlar o puck, é preciso aprender a patinar (e patinar bem...).

O futebol é um esporte menos complicado. Os telespectadores tem percebido isso. Em menos de duas horas uma partida acaba e em sua duração não há breaks comerciais quando um dos tempos estão em andamento. Eis, aliás, um dos motivos da queda de popularidade da MLB nos Estados Unidos. O beisebol é um esporte longo, parado e pouco atrativo para os jovens, que estão cada vez mais jogando futebol.

Outro ponto interessante é que o Fifa 14, popular jogo de vídeo game da EA Sports, é o mais vendido na América. Jogo esse que foi criado na onda da Copa do Mundo de 1994 – o primeiro exemplar, Fifa International Soccer, foi lançado em 1993.

Popular ou não?

Essa pergunta, quase clichê quando se trata de futebol nos EUA, é ultrapassada e quem a traz não enxerga de fato o que está acontecendo.

Um exemplo prático disso é o que trouxe a conceituada revista britânica The Economist na edição de junho deste ano. A reportagem “Um jogo de dois tempos” traz um questionamento interessante, mostrando se o futebol é mesmo o esporte mais popular/praticado em todo o mundo. Para tanto, traz exemplos dos países mais populosos da Terra, China e Índia, apresentando fatos de que o futebol em ambas as nações está longe de ser um esporte do povo – na China o desenvolvimento é um pouco melhor que na Índia. Neste mix, a revista fala também sobre os EUA, o que não cabe qualquer comparação com os países supracitados.

A decisão da Copa do Mundo de 2010, entre Holanda e Espanha, teve audiência de 24,3 milhões de americanos. Para se ter uma perspectiva, o decisivo jogo 5 da World Series (final da MLB) entre Texas Rangers e San Francisco Giants, no mesmo ano, teve audiência de 15 milhões... A audiência do jogo 7 da final da NBA entre Los Angeles Lakers e Boston Celtics, também em 2010, teve apenas 4 milhões a mais de telespectadores do que a partida entre holandeses e espanhóis...

Na belíssima Copa das Copas, que tem o Brasil como anfitrião, são os americanos o público estrangeiro que mais comprou ingressos para assistir as partidas do torneio.

Se a Fifa confirmar a Copa de 2022 nos Estados Unidos, o ano será um marco para a MLS e o futebol, que é popular sim.

Quando que você imaginou que americanos deixariam de trabalhar para verem uma partida de Copa do Mundo de futebol?

Brasileiros tudo bem, mas os americanos...

(GL)
Escrito por João da Paz

A culpa é (não só) das estrelas


A festa foi em casa e merecida.

O San Antonio Spurs, com a vitória no último domingo, 15, sobre o Miami Heat conquistou o quinto título da franquia, ficando na quarta posição entre os clubes que mais foram campeões da NBA, atrás do Chicago Bulls (seis), Los Angeles Lakers (16) e Boston Celtics (17).

Após perderem de forma dramática no ano passado para o mesmo Heat, o principal líder dos Spurs, o pivô Tim Duncan, único jogador da equipe que tem todos os cinco anéis de campeão da franquia, lamentou o revés, mas garantiu que na temporada seguinte o time estaria de volta, só que mais competitivo para não deixar o título escapar da forma como foi.

A determinação de Duncan, junto com a do armador francês Tony Parker e do ala argentino Manu Ginóbili motivou seus companheiros e a diretoria da equipe, que não agiu inconsequentemente e, depois de perder a taça por tão pouco, manteve a cabeça no lugar, mexeu apenas no necessário e permaneceu confiando no trio base do time, acreditando que eles seriam capazes de realizar o que almejaram.

Trio esse que, juntos, custam menos do que 30 milhões de dólares/ano na folha salarial dos Spurs – o brasileiro Tiago Splitter ganha 3 milhões de dólares a mais do que Ginóbili. (o trio de Miami, LeBron/Chris Bosh/Dwyane Wade receberam nesta temporada, juntos, 56 milhões de dólares).

Mais um título. E assim se fez.

Os Spurs não só derrotaram o Heat, deram um outro significado para a palavra atropelamento. As quatro vitórias alcançadas que levaram à conquista foram devastadoras, deixando o mínimo de dúvida sobre quem levou a melhor no duelo melhor time x melhor jogador (LeBron James).

Com os veteranos dando o exemplo, sendo somente mais alguns elos da engrenagem sincrônica que são os Spurs, ficou fácil para os coadjuvantes aparecerem e facilitarem o trabalho ofensivo e defensivo de todos do elenco. Uma das características desse time que ficará marcada é a eficiência mostrada no ataque, com um engajamento executado à beira da perfeição, puro exemplo de companheirismo em detrimento ao individualismo, com cada jogador trocando um bom arremesso seu por um melhor arremesso de um colega. Cada passe feito com precisão cirúrgica, cada passe que levou a uma cesta, cada cesta que contribui para um massacre inesperado.

Tudo isso é resultado de comprometimento e cumplicidade.

As estrelas apareceram, brilharam, estavam lá. Mas quem desfrutou os holofotes mesmo foi uma que reluz de forma tímida, mas que também apareceu, brilhou, estava lá.


Kawhi Leonard, ala, foi eleito o MVP das Finais (melhor jogador) - acima recebendo o troféu do lendário Bill Russell. Assim que entrou na NBA, em 2011, era uma das apostas para ser um jogador de impacto e os Spurs eram o destino ideal. Acabou acontecendo justamente isso. O clube trocou um jogador importante para o time então, George Hill, por Leonard, aquisição que aconteceu na noite do draft daquele ano – quem escolheu Leonard, na 15ª posição, foi o Indiana Pacers.

Três temporadas depois Leonard mostrou sua importância, seguindo a liderança das estrelas maiores e sendo, com 22 anos, o mais novo MVP das Finais da NBA nos últimos 34 anos (junto com Duncan, que tinha a mesma idade em 1999, ano do seu primeiro título).

A postura de Leonard somada a dos seus companheiros levaram os Spurs a mais um título.

Uma postura semelhante não se viu do outro lado.

Antes do decisivo jogo 5, LeBron juntou seus colegas e os incentivou. Proferiu palavras de ordem e deu a dica: “Siga minha liderança”.

Nada disso.

LeBron entregou mais um jogo dentro do seu alto nível, marcando 31 pontos, um pouco a cima da média que teve durante toda a série final: 28.2 pontos por jogo, com aproveitamento de arremessos de quadra excelente, 57%. A diferença, total, que deu o título aos Spurs, é que LeBron teve ajuda nula de seus companheiros, não seguiram a liderança, o exemplo, a estrela maior.

A culpa é (não só) das estrelas.

E para os Spurs não há problema que os chamem de time muito velho, muito pragmático, muito entediante...

Só lamento!



(GL)
Escrito por João da Paz

Neymar e LeBron James são os amores preferidos dos recalcados

Um beijinho no ombro não faz o recalque passar longe.

Nesta quinta, 12, inicia-se a competição esportiva mais importante do planeta: a Copa do Mundo. Realizada pela segunda vez no Brasil, a Copa-14 será mais um palco de cobrança para Neymar, camisa 10 da Seleção e responsável em dar o título ao país que perdeu a taça na Copa-50, sendo então derrotado na final pelo time do Uruguai.

Essa cobrança teria um ar de normalidade se fosse ela por si, mas não, vem com uma torcida contra e com um ódio inútil. Mesma situação passa LeBron James, melhor jogador da NBA, que paralelamente à Copa disputa as Finais em busca do seu terceiro título na carreira.

É possível explicar porque há tanta hostilidade contra Neymar e LeBon?

Sim.

Antes de virar gíria e ser presença comum em letras de funk, a palavra recalque já existia e o conceito não foi desenvolvido por qualquer um, apenas pelo pai da psicanálise, Sigmund Freud.

Existem duas definições interessantes sobre quem são e o que pensam os recalcados. No dicionário Aulete, recalque é um “mecanismo psicológico de defesa pelo qual desejos, sentimentos, lembranças que repugnam à mentalidade ou à formação do indivíduo são excluídos do domínio da consciência e conservados no inconsciente, continuando, assim, a fazer parte da atividade psíquica do indivíduo e a produzir nela certos distúrbios de maior ou menor gravidade”. Já para o dicionário Michaelis, é uma “exclusão inconsciente, do campo da consciência, de certas ideias, sentimentos e desejos que o indivíduo não quisera admitir e que todavia continuam a fazer parte de sua vida psíquica, podendo dar origem a graves distúrbios”.


O melhor jogador do Brasil


Neymar, 22, é a síntese do que todo homem gostaria de ser quando sonhava na infância chutando uma bola de plástico no quintal de casa: ser jogador de um time grande na Europa (Barcelona), camisa 10 da Seleção e astro do principal torneio de futebol do mundo, ainda mais no Brasil. Fora isso, é estrela de comerciais, patrocinado por marcas famosíssimas e faz sucesso com as mulheres.

Quem nega isso não quer admitir o sentimento de recalque. Mas ele existe. Evidente que o gostar de alguém ou não é inerente a cada ser, nem todos devem admirar o próximo somente porque sim. Neymar, contudo, é vítima desse sentimento que não vai passar, seja qual for seu sucesso dentro ou fora de campo. O recalque está enraizado naquele que o deixa brotar no seu íntimo, impedindo que a razão sobreponha opiniões vinda do inconsciente, externadas em forma de ódio – não aquele enfurecido, mas o brando, porém tão nocivo quanto.

Na última partida do Brasil antes da estreia da Copa, contra s Sérvia em São Paulo, Neymar saiu de campo no final do segundo tempo. A substituição veio com um mix de vaias e aplausos da arquibancada paulistana. E o Brasil estava vencendo...

Por que as vaias, então?

Quem o vaiou também não saberá dizer efetivamente o motivo. Foi um comportamento involuntário da lembrança de que “É preciso vaiar Neymar”. Daí vem a torcida para ele falhar, para não ir bem na Copa, para ser um fracasso. E isso vem dos próprios fanáticos brasileiros.

Kaká, em 2007, foi o último jogador do Brasil a ser escolhido o melhor do mundo. Antes dele, em 13 edições do prêmio dado pela Fifa ao melhor jogador de futebol do mundo, entre 1994 e 2006, sete vezes o Brasil teve um atleta em primeiro lugar (Romário, Rivaldo, Ronaldinho-2 vezes e Ronaldo-3 vezes). De 2008 a 2013, seis edições, o Brasil se quer teve um representante entre os três primeiros colocados.

Neymar é a chance real de o Brasil voltar a ter um melhor jogador do mundo. Até pode ser neste ano, vai depender do seu desempenho na Copa.

Um jogador completo, Neymar teve a oportunidade de ser o camisa 10 do Santos e trazer a taça Libertadores da América de volta ao litoral paulista, marcando gol na final, inclusive. Jovem, é a aposta do Barcelona para manter o clube espanhol em alta nas disputas europeias. É o camisa 10 da Seleção... E, em 340 jogos na carreira, marcou 200 gols, média altíssima de 0,6 gols por partida.

Ganha uma fortuna com comerciais dos mais diversos produtos. Não importa a razão, as mulheres estão em cima dele. A inveja vem de caras com a mesma idade de Neymar ou mais velhos. Todos frustrados porque queriam ser ele, mas não admitem.

Quem o admira são as crianças. Porém querem ser justamente o que Neymar é.

Sem recalque.


O melhor jogador (da história) da NBA


LeBron, 29, está a caminho de ser...

Aí entram os recalcados para impedir que a frase acima seja completa, pois ela “só pertence” a um jogador: Michael Jordan.

Essa defesa, literal e mental, vem por sentimentos fortalecidos na infância. Similar ao que acontece com Neymar, Jordan tem seus admiradores as pessoas que o acompanharam quando criança/adolescente. As imagens dele voando em quadra e convertendo cestas incríveis fincam lar no inconsciente, criando uma empatia mitológica que faz com que esqueçam os erros da “sua majestade”.

Jordan errou e teve suas falhas em quadra em tamanho proporcional a LeBron. Mas como um não viveu na era das overdoses dos números e outro sim, só LeBron é criticado de maneira exacerbada por seus tropeços em jogos importantes.

A ilusão criada pelo recalque de que Jordan foi imune ao erro e sempre atuou de forma infalível é perpetuada incorretamente. Em todas as seis temporadas que o Chicago Bulls, time de Jordan, foi vitorioso, o camisa 23 teve performances dúbias. Seja com números acima da média e mesmo assim os Bulls perderam, ou com atuações pífias e os Bulls venceram.

Alguns exemplos:

1991 – Jogo 3 contra o Philadelphia Sixers, Jordan marcou 46 pontos. Derrota dos Bulls.

1992 – Jogo 2 das Finais contra o Portland Trail Blazers, Jordan marcou 39 pontos. Derrota dos Bulls.

1993 – Jogo 2 contra o Cleveland Cavaliers, Jordan marcou 18 pontos em 31 minutos. Vitória dos Bulls... Jogo 3 e 5 das Finais contra o Phoenix Suns, Jordan marcou, respectivamente, 44 e 41 pontos. Derrota dos Bulls em ambas as partidas.

1996 – Jogo 3 contra o New York Knicks. Jordan marcou 46 pontos. Derrota dos Bulls... Jogo 3 contra o Orlando Magic. Jordan marcou 17 pontos em 39 minutos. Vitória dos Bulls.

1998 – Jogo 6 contra o Indiana Pacers. Jordan marcou 35 pontos. Derrota dos Bulls... Jogo 1 das Finais contra o Utah Jazz. Jordan marcou 33 pontos. Derrota dos Bulls.

Tudo isso, uma pequena amostra, para deixar claro que Jordan foi humano dentro de quadra. Os Bulls perdiam com ele jogando bem e venciam com ele jogando mal. Passou por situações comuns a outros grandes nomes da NBA. Contudo, recebe um tratamento como se suas falhas fossem meros pormenores.

E as de LeBron são sinais do apocalipse.

Não importa qual seja o resultado da sua quarta final seguida da NBA. Venha o título ou não, terá irrisória influência no resultado final de sua carreira. LeBron não precisa de sete títulos para ser maior que Jordan, afinal, outros jogadores tem mais anéis de campeão o que os dois juntos. Outros jogadores marcaram mais pontos que Jordan na carreira, mais assistências, mais rebotes, com melhor aproveitamento de quadra...

Jordan é a figura que transformou a NBA, ele foi a cara da globalização da liga. Seu talento e qualidade são inquestionáveis. Mas o título de melhor jogador da história da NBA não. Para ele, ficará o honroso rótulo de melhor cestinha de todos os tempos do basquete.

LeBron, um jogador mais completo e eficiente em todos os aspectos do jogo, caminha para destronar “sua majestade”.

O recalque vem para tentar desmentir.

A ladainha formada em torno de “Jordan, o melhor jogador da história da NBA” é dita ininterruptamente pelos recalcados. Mas vai exaurir. A psicanalista Maria Rita Kehl, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo em 24 de março de 2013, intitulado “A verdade e o recalque”, define bem o que se passa na mente de quem é invejoso e ranzinza, que vive longe de parâmetros reais e é abastecido por devaneios:

A fantasia recalcada revela que a verdade psíquica é capaz de libertar o neurótico das repetições sintomáticas”.

E a neurose nada mais é do que expressões simbólicas de um conflito psíquico enraizado na história infantojuvenil de cada ser humano.

(GL)
Escrito por João da Paz

Miami Heat em seu lugar apropriado


Respeito.

Quando o time do Miami Heat, atual campeão da NBA, visitou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em janeiro deste ano, essa palavra os conectou.

“Ás vezes, parece que eles [Heat] ainda estão lutando por um pouco de respeito – eu me identifico com isso”, disse Obama em seu discurso, mostrando entender o que grandes nomes, mesmo realizando grandes feitos, não são reconhecidos como deveriam. Pelo contrário até, são desmoralizados e desvalorizados.

Nesta quinta, 5, começa as Finais da NBA temporada 2013-14 e será a quarta vez consecutiva que o Heat disputa o título. É um feito tão raro que apenas duas outras franquias conseguiram atingi-lo em 67 anos: Boston Celtics (duas vezes) e Los Angeles Lakers (uma vez).

A última vez que uma equipe chegou a esse status foi na década de 80. Os Lakers entre 1982 e 1985, e os Celtics entre 1984 e 1987. Ambas conseguiram dois títulos em suas respectivas sequências. Ambas têm trio de jogadores considerados lendas da NBA (Lakers: Magic Johnson, James Worthy e Kareem Abdul-Jabbar; Celtics: Larry Bird, Robert Parrish e Kevin McHale).

Porém, o senso comum questionará, caso o Heat seja derrotado pelo San Antonio Spurs em 2014, o papel na história da NBA do time e do trio LeBron James, Dwyane Wade e Chris Bosh.

O mínimo de dúvida beira o ridículo.

Somos testemunhas da história e tem os que não aproveitam para desfrutar e escolhem a murmuração e o ranger de dentes. É indissociável gostar de basquete e não admitir a grandeza das conquistas alcançadas pelo Heat em apenas quatro anos.

Note que é preciso voltar duas décadas e meia para ver que algo parecido aconteceu na NBA. A liga, que vive seu melhor momento, é cada vez mais competitiva e disputada no topo. Estrelas surgem, grandes times são formados e torna a mera repetição uma dificuldade imensa.

Agora, manter o mesmo nível elite por quatro anos seguidos, repetindo jogos em Finais? É formidável e merece mais do que destaque.

O Heat tem cumprido todas as expectativas autoimpostas. É muito tentador desviar o foco e se acomodar quando se consegue cumprir uma meta almejada. Com o Miami, além disso, há a sede de continuar e alta, de não esmorecer.

O que LeBron, Wade e Bosh conseguiram - a quarta final seguida – nem Michael Jordan, Kobe Bryant, Shaquille O’Neal ou mesmo Tim Duncan (estrela dos Spurs) obtiveram ao longo da carreira.

Nesse período de quatro temporadas, o Heat venceu 14 séries de playoffs de 15 disputadas (perdeu para o Dallas Mavericks nas Finais de 2011). Foram 10 jogos decisivos em casa, venceu todos eles. Foram três jogos número 7 disputados, venceu todos eles. Não foi páreo para nenhum concorrente da Conferência Leste nos playoffs, destroçando o Boston Celtics duas vezes, o Indiana Pacers três vezes e o Chicago Bulls duas vezes – fora eliminando novamente Paul Pierce e Kevin Garnett nesta pós-temporada, agora com o Brooklyn Nets, antes com os Celtics.

Não bastassem esses impressionantes números, outra estatística chama mais atenção por ser fundamental para o sucesso nos playoffs: o Heat tem ao menos uma vitória fora de casa em cada uma das séries de playoffs que disputou nos últimos quatro anos.

Esse sentimento que a imprensa (e fãs) apregoam contra os grandes times/grandes jogadores é curioso. O mundo dos esportes é recheado de casos que esses tipos não são apreciados. Só aumenta a conta deles quando não ligam para isso e buscam a cada dia provar que são dignos de estarem em lugares altos.

Ambos os títulos do Heat da era LeBron-Wade-Bosh são contestados. Inclusive é possível ler/ouvir que a última vitória nas Finais contra os Spurs foi produto da sorte...

Por mais que o Miami perca para San Antonio nestas Finais, o lugar do Heat entre os grandes times da história da NBA está assegurado. Assim como para o trio formado pelos seus principais jogadores.

Qualquer coisa diferente disso é estupidez e uma cegueira burra.

Similar ao que é feito com o técnico do Heat, Erik Spoelstra. É clichê diminuir o trabalho do treinador, em qualquer esporte coletivo, quando sua equipe é formada por atletas de talento. Dizem “com um time desse é fácil ganhar”. Não tem visão mais torpe, simplista e preguiçosa.

Na NBA, Mike Brown ganhou o troféu de melhor treinador na temporada 2008-09 (66 vitórias com o Cleveland Cavaliers em 82 jogos de temporada regular. LeBron James estava em Cleveland). Em 2012-13, Brown estava a frente dos Lakers com um dos quartetos mais incríveis colocados juntos no mesmo time: Steve Nash (duas vezes MVP), Kobe Bryant (MVP), Pau Gasol (MVP do Mundial de Basquete) e Dwight Howard (três vezes melhor defensor). Em oito jogos na pré-temporada, os Lakers perderam todos. Nos cinco primeiros jogos da temporada regular, foram quatro derrotas. Mike Brown foi demitido.

No futebol, já que estamos em clima de Copa do Mundo, temos dois exemplos interessantes com a Seleção brasileira.

Em 1970, o time do Brasil foi campeão e justamente o treinador Zagallo não ganha créditos, porque “com um time desse é fácil ganhar”. Havia cinco camisas 10 no time titular: Jairizinho (Botafogo), Gérson (São Paulo), Rivelino (Corinthians), Pelé (Santos) e Tostão (Cruzeiro). Levantaram a taça.

Na Copa de 2006, a seleção brasileira tinha tantos jogadores bons que o camisa 10 do Real Madrid era banco (Robinho). Mesmo assim, o ataque ganhou o apelido de quadrado mágico, com outros dois camisas 10 de grandes clubes europeus: Ronaldinho (Barcelona) e Adriano (Inter), com o complemento de Ronaldo, nada mais nada menos - Kaká vestia a 22 no Milan, mas é um típico camisa 10. Neste quarteto, perceba que tem três jogadores eleitos melhores do mundo: Ronaldinho, Kaká e Ronaldo. Com o treinador Parreira no comando, a Seleção não passou das quartas-de-final.

Com LeBron-Wade-Bosh, Spoelstra não apenas vence, mas domina as quadras da NBA com atuações consistentes.

Seja com o tricampeonato ou não, ele tem de receber respeito pelo seu trabalho como um dos grandes treinadores da NBA – enterrando de vez o rótulo de articulista de um time cheio de peladeiros.

Outra taça dará a Spoelstra o terceiro título em seis temporadas na associação. Assim sendo, igualará o que Pat Riley, seu tutor, treinador daquele Lakers da década de 80 e presidente do Heat, atingiu na mesma quantidade de campeonatos.

Riley é venerado.

Spoelstra, não?

Se não o tratam devidamente agora, não será mais um título que mudará o resultado da equação.

Obama, ao ganhar das mãos de Spoelstra um troféu simbólico da NBA, pôde sentir que o Heat e seus integrantes estão em busca de ideais similares.

Respeito.

(GL)
Escrito por João da Paz