Quem tem LeBron e Wade vence e sorri. Quem não tem, aflige e range os dentes

Em público causa uma má impressão, mas o esforço para não mostrar a corriqueira alegria é em vão. Segurar a felicidade estampada no rosto não é a especialidade de Erik Spoelstra e Pat Riley, respectivamente treinador e presidente do Miami Heat. O que eles sabem é executar suas funções com fina habilidade: um comandando a equipe de super estrelas e o outro a administrando.

No decorrer do jogo 1 das Finais da NBA na última terça o Heat adotou um ritmo despreocupado, relaxante. Quando tinha oportunidade de estourar num contra-ataque, reduzia a velocidade e trabalhava a bola em meia quadra. Se o Dallas Mavericks, adversário campeão da Conferência Oeste, abrisse certa vantagem no placar a preocupação passava longe do elenco do Heat. Sabiam eles que na hora da decisão as duas principais estrelas iriam aparecer.

Riley visualizou isso quando orquestrou a reunião dos amigos, Spoelstra é ciente que no momento mais crítico LeBron James e Dwyane Wade assumirão o controle. Por mais previsível que seja, é difícil não sorrir.

O entrosamento entre os dois está cada vez melhor e Wade afirmou isto após a vitória na primeira partida. Estão no mesmo ritmo e com a mesma linha de trabalho. Na ocasião eles executaram suas funções com fina habilidade: um assumiu o jogo no 3º quarto e o outro no quarto final.

O primeiro tempo terminou com os Mavericks liderando: 44 a 43. Dallas dominou em pequenos momentos, porém não foram suficientes para abrir uma larga vantagem e nem para afugentar o poder maior do Heat. No 3º período LeBron tomou conta do jogo em todos os aspectos, marcou forte na defesa e dominou o ataque. Dos 22 pontos que o Heat anotou no 3º quarto, 13 tiveram participação dele: converteu 3 arremessos de três e deu 2 assistências.

O 4º período iniciou com Miami na frente: 65 a 61. Então foi a vez de Wade dominar o quarto. Dos 27 pontos que o Heat marcou, 13 tiveram participação dele: 7 pontos e 3 assistências. Coincidiu com o desaparecimento de Dirk Nowitzki, principal arma ofensiva dos Mavs. O alemão converteu dois pontos restando 9 minutos para acabar o jogo (numa bandeja) e só voltou a anotar outros pontos faltando 3 minutos para encerrar a partida (em lances livres).

A imprensa de Dallas abraçou a ideia de cobrar mais do melhor jogador do clube, mas não deixou de lado os amargos comentários contra LeBron e Wade, chamando o camisa 6 de “coadjuvante” – como se uma provocação do tipo ajudasse.

Na verdade ajuda, só se for para o próprio LeBron. A caixinha com o rótulo “Invejosos de LeBron” está cada vez mais cheia e protagoniza cenas hilárias. A principal fonte é Cleveland. Lá uma camisa está ganhando fama, tipo a que víamos em tempos atrás no Brasil (Boca Juniors/Corinthians x Palmeiras; River/Palmeiras x Corinthians). Um famoso designer pegou o logo antigo dos Cavs em laranja, colocou um “M” azul em cima do “C” e um chapéu de cowboy no “S”. Este é o resultado do dissabor:


Entretanto em Cleveland é assim: torcem mais contra LeBron do quê a favor do time local. Há um sentimento que explica isto e um pesquisador tem a resposta. O jornal “The New York Times” divulgou um levantamento feito pelo instituto Public Policy Polling de Raleigh, Carolina do Norte, avaliando o nível de apoio de LeBron em sua terra natal. 49% dos entrevistados são contra o jogador, 28% indiferente e 23% torcem pela prata da casa. O diretor do órgão, Tom Jensen, afirma: “Sem dúvida o fator ciúme está presente, as pessoas estão percebendo que provavelmente ele [LeBron] vai ser campeão e não será com o time deles”.

Vilão sempre atrai audiência, por isso Cleveland aparece entre as cidades que dão mais telespectadores nos jogos do Heat. Aliás LeBron, mesmo com uma postura duvidosa em certos casos e passíveis de repreensão, consegue algo que a NBA a muito tempo não obtém: pessoas que assistem um jogo de basquete mesmo sem gostar do esporte, mas querem saber qual será o final deste conto.

David Stern, comissário da associação, disse à FOX: “Quando temos muitas pessoas assistindo um evento, alguns que sequer nunca viram um jogo da NBA antes, isto aumenta o interesse de tantas outras para fazerem o mesmo”.

É isto que aconteceu (e acontecerá) com as Finais 2011 da NBA, transmitida nos EUA pela ABC. O jogo 1 teve uma audiência 3% maior que o jogo 1 do ano passado entre duas franquias tradicionais em dois grandes mercados publicitários: Boston x Los Angeles. O número da última terça foi 20% maior que as Finais de 2009 (Los Angeles x Orlando) e 15% maior que as Finais de 2006 (entre as mesmas equipes que se enfrentam neste ano).

O produto será usado como um coringa pela ABC. Na faixa etária mais importante para o marketing, adultos entre 18 e 49 anos, ela liderou o ibope durante todo o jogo. No público geral, porém, perdeu na primeira hora (21hs-22hs, horário dos EUA) para o “America’s Got Talent” da NBC, episódio inédito do início de temporada (que o SBT tem a versão brasileira chamada de “Qual é o Seu Talento?”) e perdeu na segunda hora (22hs-23hs) para o “The Voice” também da NBC. Deixou de ser segundo para liderar na meia hora final.

Os jogos das Finais são um trunfo da ABC para ganhar em audiência das rivais. Hoje será um grande teste, pois quinta à noite é o dia mais importante para a TV americana, horário dos principais programas e que gera mais público. Porém a concorrência nesta quinta será com reprises de episódios das séries “CSI” e “The Mentalist” (CBS), “The Office” (NBC) e “Glee” (FOX).

Quem compartilha do mesmo motivo da risada de Riley e Spoelstra são os diretores da ABC. Eles também contam com LeBron e Wade para derrotar os adversários. Caso vá até o jogo 7, as Finais da NBA serão realizadas em mais duas terças, dois domingos e uma quinta. Aqui não importa muito o resultado dos jogos, desde que haja emoção, lances espetaculares e pontos de exclamação como este:



(GL)
Escrito por João da Paz

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