Aniquilação de fábulas, como ‘Mais ajuda para Nowitzki’ e afins

Existem as formas mais diversas para analisar os acontecimentos de uma partida de basquete. O ponto de vista específico do comentarista aparecerá em suas opiniões, dentro da sua linha de raciocínio. Cada um tem uma particular visão de um lance ou momento do jogo. Porém há fatos e ações que não mudam, são intrínsecas ao corpo do jogo.

Nestas Finais da NBA entre Dallas Mavericks e Miami Heat, após três encontros, dá para nitidamente perceber certas nuances comuns e diferenciadas. Encontram-se afirmações que um diz e o outro acredita e passa pra frente. Assim aquela primeira visão não foi abordada de maneira correta e lhe foi imputada verdade. Por ter sido disseminada com força, mesmo que não tenha tamanho valor, ganha importância desproporcional.

Aqui serão ponderados três temas recorrentes a estas Finais. Começando com um que diz o seguinte:

Mais Ajuda Para Nowitzki

Esta corrente ganhou um adepto de peso, o próprio Nowitzki. Entretanto sua motivação é outra (e será explicada). Ontem, no encontro com repórteres, o alemão disse que precisa de mais ajuda, principalmente de Jason Terry, segundo cestinha do time.

Dirk abraçou esta ideia porque o favorece, não que seja necessariamente verdade. Ao final do jogo 3 a mídia procurou algo que justificasse a derrota dos Mavericks por apenas dois pontos em casa. Ao analisar superficialmente o desenrolar da partida e os números, chegou a conclusão que Nowitzki não teve ajuda substancial dos seus companheiros, por isso o Dallas perdeu.

Nem tanto, nem tanto... Note, tudo que aconteceu nos segundos finais do jogo 3 foi similar ao jogo 2: duas bolas decisivas com Nowitzki. No jogo 2 ele converteu um arremesso de três pontos e fez a bandeja da vitória. No jogo 3 ele errou um passe e errou um arremesso que poderia levar o jogo para a prorrogação. Neste último lance específico, foto abaixo, Nowitzki disse em entrevista coletiva que “A visão que tive da cesta foi a melhor possível”.


No jogo 3 Dirk marcou 12 pontos seguidos no 4º período; no jogo 2 foram 9 pontos seguidos no quarto final. No jogo 2 foi ele que venceu e no jogo 3 faltou ajuda?

Ao levar em consideração a participação dos outros jogadores do Dallas no 4º período no jogo 3, é visto uma porcentagem muito baixa. Nowitzki marcou mais de dois terços dos pontos do time nesta ocasião. No jogo 2 (vitória dos Mavs), a participação de Nowitzki foi menor e teve mais ajuda, o alemão marcou pouco mais que um terço dos pontos (9 de 24).

Aí alguém diz: “Tá vendo, com mais ajuda o Dallas venceu”.

Só que no quarto período do jogo 1, Nowitzki também marcou pouco mais que um terço dos pontos (10 de 23) e o Dallas perdeu...

Reservas do Dallas

Quando eles entram na discussão, as coisas ficam mais interessantes.

Após o jogo 1, dentro daquela linha de buscar algo que justificasse a vitória por 8 pontos de diferença do Miami Heat, alguém olhou para os reservas e a lâmpada em cima da sua cabeça acendeu: “É isto! Veja, os reservas do Heat marcaram 27 pontos enquanto os do Dallas 17. Se a equipe texana quiser vencer o jogo 2 precisa de maior contribuição do seu banco”.

Ótimo. Acaba o jogo 2, Nowitzki ganha a partida e entre os argumentos surge a participação dos reservas: “Olha só! O banco do Dallas produziu 23 pontos e o do Heat 11 pontos. Como é importante...”.

Não.

Este volume dos reservas do Dallas no jogo 2 é incontestável, mas não foi determinante para a vitória da equipe. Quando restavam 5m45s para acabar o jogo, Jason Terry (reserva) marcou uma bandeja que diminuiu a vantagem do Heat no placar para 11 pontos (77 Dallas, 88 Miami). Neste exato instante os reservas dos Mavs tinham 19 pontos contra 8 (!) dos reservas do Heat. Tinham 11 pontos a mais, entretanto o time perdia por 11 pontos.

No jogo 3, mais uma vez, os reservas do Dallas foram mais eficientes do que o adversário, marcando 25 pontos contra 18. Ué? Não são mais pontos que o jogo 2? Se lá Nowitzki teve auxílio dos reservas, no jogo 3 foi diferente?

Fator LeBron

Definitivamente falta bom senso ao analisar a importância do LeBron James nestas Finais. No jogo 3 ele recebeu críticas que mais pareciam terem sidos tiradas de um roteiro de comediantes estilo stand-up. Dizer que ele não contribuiu em nada e que só prejudicou com erros...

Sim, no 4º período ele andou duas vezes e estes erros afetaram o time. Mas ele teve quatro assistências no quarto decisivo (Jason Kidd, Dallas, só uma). Na jogada vitoriosa do Heat, a assistência veio do camisa 6 que mostra a “pobre visão de jogo” que ele tem num “passe extremamente fácil, qualquer um consegue!” [:28]. Tire suas conclusões:



Na coletiva de imprensa depois da partida o jornalista Gregg Doyel (CBS) provoca LeBron e faz uma pergunta que muitos queriam fazer, destacando que ele “Não tem jogado como uma super estrela no 4º período nestas Finais. Por que isto vem acontecendo?" (Note que Doyel está falando do mesmo cara que nas séries anteriores contra Boston Celtics e Chicago Bulls foi extremamente importante nos lances finais de ataque dentro dos jogos de fechamento da série).

LeBron, com calma, respondeu assim:

Vejo que você está se concentrando em apenas um lado da quadra, se concentrando nas estatísticas. Honestamente, sou um jogador com duas funções. Hoje, já que D[wyane] Wade estava bem no lado ofensivo, permitimos que ele jogasse com tranquilidade no ataque. Hum... você deve assistir o jogo de novo e ver o que fiz defensivamente e amanhã você pode me fazer uma pergunta melhor

Ouch!

O que LeBron fez foi anular Jason Terry e Nowitzki, quando disse ontem que precisa de mais ajuda, notou para este fato: “Eles [Heat] mantém ele [LeBron] na cola do Terry durante o quarto período e ele [LeBron] está fazendo um bom trabalho”.

Em todos jogos dos playoffs, quem é marcado por LeBron tem um aproveitamento aquém do normal: 35.6% (58 de 163 - segundo a firma Synergy Sports). Ele, somente nestas Finais, tem sete roubos de bola - nenhum jogador do Dallas tem mais que três.

Quando super estrelas atuam bem na defesa, às vezes precisam se dedicar a isto. No jogo 2 da série entre New Orleans Hornets e Los Angeles Lakers, Kobe Bryant dedicou seus minutos para parar Chris Paul. No jogo 1 Bryant marcou 34 pontos com 50% de aproveitamento nos arremessos (LA perdeu); no jogo 2 ele marcou 11 pontos com 30% de aproveitamento nos arremessos (LA ganhou). Neste caso as manchetes pós jogo 2 caminhou na linha “Kobe Bryant não produziu no ataque porque estava anulando Chris Paul”

Nada de “11 pontos? Talvez você não seja tão importante para a equipe, afinal...”.

A insensatez não foi usada aqui, mas não pouparam LeBron. Evidente caso de dois pesos, duas medidas.


(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Mark Humphrey / AP
© 2 Ronald Martinez / Getty Images

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