O marketing de Jimmer Fredette


O melhor jogador universitário da temporada passada foi a principal atração do draft 2011 da NBA. O interesse era grande para saber qual seria o destino profissional do nome que carrega um poder peculiar no mundo do basquete. James Taft Fredette, mais conhecido por Jimmer Fredette (22 anos) não foi para a cidade que o colocaria numa posição mais favorável que a atual, mas a franquia que o escolheu está contente com a aquisição e os resultados fora de quadra são pequenas amostras do que virá.

Numa seleção que teve 3 jogadores europeus entre os 6 primeiros, a atenção maior estava voltada em Jimmer. A expectativa era grande para sua ida ao Utah Jazz na 12ª posição, porém o Sacramento Kings trocou sua 7ª escolha pela 10ª e pegou o veterano da Brigham Young University (BYU). Esta inquietação rendeu ao draft 2011 a maior audiência nos Estados Unidos desde 2007, ano que dois jogadores americanos estavam em alta: Greg Oden e Kevin Durant.

Os Kings apostam em Jimmer como a salvação da franquia. Não em quadra. Logo após o término do campeonato 2010-11 a cidade de Sacramento por pouco não ficou sem o clube de basquete, que pretendia mudar para Anaheim, também no estado da Califórnia. Muitas negociações ocorreram e os irmãos Maloof (Joe e Gavin) decidiram ficar por pelo menos mais uma temporada. Esperam trazer torcedores, reavivar o mercado Kings e conseguir a aprovação para construção de uma novo e moderno ginásio.

Nome: Jimmer. Função: fazer tudo isto acontecer.

Gavin Maloof, menos de 24 horas depois de selecionar Fredette, anunciou que a venda neste curto período dos carnês de ingressos para toda próxima temporada superou a quantidade total negociada em 2010-11. Jimmer, na entrevista coletiva de apresentação, disse estar ciente de que para o time permanecer em Sacramento vai ser necessário atrair torcedores e criar novamente um forte interesse local. O primeiro passo foi dado.

Os irmãos Maloof tentam arduamente não expor que Fredette vai ser usado com força no trabalho de marketing do clube, só que não tem como esconder. Até em Las Vegas, terra onde está um dos negócios da família – o hotel/casino Palms – o painel de boas vindas dizia o seguinte em letras garrafais:


Junto com o Minnesota Timberwolves (Kevin Love), os Kings irão gerenciar nas propagandas um jogador americano branco; somente estas duas franquias tem tal possibilidade. E os Maloofs não vão perder a oportunidade de aproveitar este nicho, embarcando na lotada carona da popularidade do jogador natural do interior do estado de New York.

Em Glenn Falls, cidade com 14.700 habitantes, Jimmer foi destaque no nível escolar, terminando a carreira sendo o sexto maior cestinha em toda história do estado – incluindo a cidade de New York, famosa por produzir importantes nomes para o basquete. Entretanto não recebeu propostas de grandes universidades e entre Siena e BYU, escolheu a última.

Decisão que teve influência da sua irmã Lindsay e pesou o lado religioso na questão. Siena é uma universidade católica que fica no estado de New York, BYU é uma universidade mórmon que fica no estado de Utah – a maior universidade religiosa dos EUA e a quarta maior instituição privada do país. A mãe de Jimmer é católica, o pai mórmon. Apesar da ambiguidade, Jimmer nunca foi forçado a escolher uma religião e naturalmente inclinou-se para a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmon).

Morar em um lugar tão distante de casa não era problema, então Jimmer foi para a cidade de Provo em Utah e ingressou em BYU. Ele estava ciente do esforço necessário para encarar a rigidez da universidade, mas sentia-se em casa já que cerca de 98% dos estudantes de BYU (30 mil) são mórmons. Utah é o estado onde essa igreja é mais ativa.

Brigham Young, quando fundou a universidade em 1875, era o presidente da igreja. Baseou as doutrinas ensinadas nos templos para moldar o corpo estudantil. Ao longo do tempo isto passou a ser mandatório e todo estudante da BYU precisa seguir um código de conduta que segue a linha de ensinamentos morais, éticos e religiosos dos mórmons.


Durante os quatro anos que esteve em BYU, Jimmer cumpriu bem as diretrizes ordenadas. Quando seu jogo ganhou notoriedade nacional em seu ano de veterano, tornou-se símbolo local, admirado por todos da cidade de Provo e por todo estado de Utah. Conheciam sua história, sua caminhada e o viam brilhar nas quadras levando o nome da universidade a novos ares.

Queriam que fosse para o Utah Jazz, a escolha perfeita. Contudo os Maloofs anteciparam a escolha (a 12ª) e são eles que vão administrar estes valores que o jogador traz à Sacramento. Inicialmente quem perdeu foi o atleta, pois cálculos de agências dão conta que Jimmer deixou de ganhar, somente com a assinatura com o Jazz, 1 milhão de dólares. Dinheiro que viria de patrocínios e propaganda.

Os irmãos Maloof estão perdendo espaço em Las Vegas e o controle do hotel/casino Palms está ficando longe da família. Eles já venderam grande parte dos negócios dos quais eram donos e os Kings permanecem como um dos poucos fortes ativos do clã. Na ideia de arriscar o jogo no “All In” (vai ou racha), os Maloofs vão se dedicar em reestruturar o clube de basquete alicerçado no totalmente famoso Fredette.

Mais conhecido por um nome só, Jimmer desfruta de uma tietagem ferrenha. Em Utah ele só podia fazer reservas em restaurantes com um nome fictício para não causar tumulto. Tumulto este que acontecia no campus da BYU, que chegou ao ponto do reitor da universidade, em Abril deste ano, pedir que Jimmer terminasse o curso de Estudos Americanos pela internet no conforto de sua casa, porque sua presença nas salas de aula causava distração nos colegas.

A chegada em Sacramento foi marcante. Autógrafos, fotos, abraços... Gavin Maloof sabia que seu mais novo jogador tinha sua fatia de popularidade, mas ao ver o assédio na noite do draft na costa leste e presenciar um alvoroço no costa oeste, incluindo o sucesso em Utah, sentiu o gostinho tentador de ganhar um mega prêmio depois de apostar todas as fichas que tem.

Din din com um pouquinho de chuá.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 José Luis Villegas / SacBee

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