Correção moral que vem de dentro

Pior que as atuações em campo, o violento sentimento interno ardia.

Foram 622 dias na prisão, 28 meses longe da NFL e Plaxico Burress, wide reciever do New York Jets, até o domingo dia 23, não fez uma atuação considerada boa na temporada 2011. Para o público, para os espectadores, criou-se aquele maçante pensamento de que a mudança no caráter não foi completa, que Burress estava pensando em outra coisa além do football. Mas ele focava seu trabalho em melhorar as atuações no gramado, não que isto fizesse com que as pessoas mudassem de opinião, contudo isto ajudaria a ter nova perspectiva.

No dia seguinte do infeliz incidente, a reação nas ruas era ecoada num uníssono burburinho que encontrava repouso facilmente. Este era acolhido pelos faladores, passando a informação pra frente de mais uma prisão de um afro-americano na NFL. Ao saberem que o tal era Burress, o cheiro de coisa ruim subiu. Muitos não foram a fundo para descobrirem o fato da imprudência, os saberes superficiais bastavam.

Alterna o parecer se informados do que realmente ocorreu? O começo e o desenvolvimento não modificam o final: posse de arma de fogo não licenciada. O tiro no pé (literal) de Burress foi o estopim de um trajeto espinhoso que precisou percorrer. Explicações, explicações. O pré-julgamento poderia não mudar, mas o relato dele – o veredicto – é um só.

Na semana do confronto contra o Washington Redskins, Burress foi cortado por lesão na virilha; isto na sexta feira à tarde (28 de Novembro de 2008). De noite, talvez para espairecer e atraídos pelas luzes de New York, ele, junto com amigos e companheiros de time foram à balada na Avenida Lexington com esquina da rua 48 (perto da sede da NFL). O nome do lugar é Latin Square – como sempre, lotado. Burress é revistado, o segurança sente que ele está com uma arma na cintura, mas o deixa entrar. Casa noturna cheia e um dos organizadores da festa levam Burress e seus companheiros até a área VIP. Subindo as escadas para o espaço reservado, Burress sente a arma escorregar por dentro da sua calça e rapidamente põe a mão impedindo que caísse. Colocada na cintura novamente, continuou andando. Sentiu o pé molhado, ensopado. Olhou e viu uma mancha. Viu de perto e percebeu que era vermelha. Cutucou Antonio Pierce, ex-jogador do New York Giants e atual comentarista da ESPN, e disse: “Me leva pro hospital. Acho que atirei no meu pé”.

Numa probabilidade raríssima, na hora que Burress colocou as mãos sobre a calça impedindo que a arma caísse, o gatilho foi acionado. Na casa noturna ninguém ouviu o tiro e do hospital a notícia se espalhou, tratando de um jogador da NFL vítima de um revólver.

Justificativa aceita, mas e arma? Licença para carregar? Quente ou fria?

As investigações da polícia concluíram que a arma era fria. Fácil, enquadramento por porte ilegal. Na cidade de New York as leis são rígidas nesta esfera e o prefeito Michael Bloomberg aproveitou a fama do jogador para usá-lo como exemplo de aplicação da lei. Evidente, não por isso [ser famoso] que Burress sairia impune, mas o caso foi mal administrado. Bloomberg exagerou na depreciação do atleta, colaborando para arranhar a imagem tão desgastada dele. Seria isto um drama extra para enfrentar.


Seu ex-treinador, Tom Coughlin, reagiu assim ao saber do incidente: “Fico contente em saber que você não matou ninguém!”. Fora isto tinha a cobrança da sua esposa em deixá-la sozinha, grávida.

Na prisão tinha o tratamento de choque psicológico. Os presos afirmavam que ali era o fim de Burress, nada mais de “rock star”, jogador de renome da NFL não adianta de nada. Os policiais faziam igual ou pior, xingando, o chamando de idiota, burro.

Os 622 dias não foram desfrutados e sim vividos de maneira angustiante, como se fossem multiplicados por 3 ou 4. A liberdade condicional foi entregue e Burress saiu do xis. Primeira ação era ficar um tempo com a família, abraçar a recente integrante, vista apenas através de fotos, e arrumar um emprego, parte fundamental da condição da sua liberdade.

A busca de um time cessou rapidamente. Nada de Giants, não depois do “carinho” emitido por Coughlin. Burress visitou o rival alviverde ao lembrar uma conversa que teve antes de ser preso.

Em Abril de 2009 o jogador foi mandado embora dos Giants por acharem que seu julgamento iria durar mais que o esperado – sua prisão foi decretada em 20 de Agosto do mesmo ano. Neste intervalo, o dono do New York Jets, Woody Johnson, e o diretor de football do clube, Mike Tannenbaum, conversaram com Burress e demonstraram apoio, confiança. Os longos dias na cadeia não apagaram da memória este encontro e Burress os procurou após sua saída.

Assinado um contrato de um ano (US$ 3 milhões), o jogador se dispôs a voltar ao football em um time grande e de alto nível. Voltaria ele a ser um jogador de alto nível?

Assistir os vídeos dos jogos desta temporada incomodava Burress. Não enxergava um receiver em seu pleno potencial. Isto o fazia treinar com tenacidade, executar as rotas destinadas a ele com precisão e se entrosar com o quarterback Mark Sanchez. Contra o San Diego Charges, dia 23/10, Burress não teve uma atuação espetacular em números absolutos, porém foi eficiente na região do campo mais importante: a end zone. Foram 4 recepções, sendo 3 delas para touchdown – em 2007, no dia 9 de setembro, foi quando Burress marcou pela última vez 3 touchdowns num único jogo.

Isso muda alguma coisa? Sim. Para quem importa sim. Burress teve um aumento em sua autoconfiança, necessária para que os desempenhos em campo melhorem. Consequentemente sua relação fora dele também sofre um aperfeiçoamento. Porque a vida não se divide em duas: a vida pessoal e a vida profissional. Ela é uma só, única e que não deve ser desperdiçada.

Belos jogos por franquias tradicionais (Steelers e Giants), anel de campeão do Super Bowl com direito a touchdown decisivo, Plaxico usufruía do sucesso em parte de sua vida; a outra estava bagunçada. Um lado precisou ser concertado e o equilíbrio foi alcançado. Feliz de volta ao lar junto com a família, faltava as boas atuações com a bola oval. Contra os Charges este prazer votou a deixar um gostinho na boca, aquele de “quero mais”. Burress vai continuar na busca deste balanceamento e caminhar de bem com a vida.

Descobriu ser o próprio redentor.




(GL)
Escrito por João da Paz


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Mais um jogo da NFL em Londres. Quem sabe depois um Super Bowl; uma franquia com sede lá...


Pelo quinto ano consecutivo, o estádio Wembley sediará um jogo da temporada regular da NFL. Os felizardos da vez são Tampa Bay Buccaneers e Chicago Bears na partida classificada de International Series (tr. Série Internacional), que apesar de ter este nome é concentrada na Inglaterra. Evento integrante do plano da NFL em realizar um Super Bowl e implantar uma franquia na pátria mãe dos Estados Unidos.

Esquece a falida e finada NFL Europa; puro fracasso. Agora a liga, liderada por Roger Goodell, comissário, está mais aplicada em desenvolver o futebol americano no velho continente e na recente reunião entre os 32 donos de franquias foi decidido que os jogos de temporada regular vão continuar na Inglaterra até 2016, com o objetivo de realizar mais que um encontro por campeonato.

Isto porque há um bom mercado consumidor. Desde 2006, os números da NFL na Inglaterra só crescem. No primeiro jogo tinham um patrocinador, hoje são 10; a audiência na TV aumentou 91% neste período – a do Super Bowl aumentou 74%. A liga divulga um dado que é duvidoso por partir dela própria, porém serve como defesa desta investida: ela diz que existem no Reino Unido 11 milhões de pessoas que assistem regularmente futebol americano e que 2 milhões destes são fãs assíduos.

Porém, uma das metas traçadas como sinal claro de estabilização da NFL entre os ingleses (ainda) não foi alcançada: estar entre os cinco esportes populares. Uma lista difícil de entrar, composta pelo futebol, golfe, tênis, críquete e rugby. Aumentar a quantidade de jogos visa aprimorar o atual status da NFL.


Serve também como parte integrante do estudo em andamento sobre a potencialidade de Londres ser sede de uma franquia da NFL. Isto é comentado frequentemente entre os diretores e executivos da liga, que entendem o momento e enxergam com bons olhos o interesse de franquias em se mudar pra lá (a saber: Jaguars e Buccaneers), mas é preciso fazer mais avaliações para dar início numa aventura que dê certo e não repetir o erro da NFL Europa.

Goodell quer que os dois jogos em Londres sejam colocados na tabela a partir de 2012 – é bem provável que isto aconteça. Assim serão observados detalhes: os londrinos vão para os dois jogos com a mesma paixão? A mídia local vai cobrir os confrontos com a mesma ênfase e igual entusiasmo?

O chefão da NFL entende que para isto acontecer é importante repetir uma visita de um clube e perceber a identificação dos fãs com este time. Uma ocasião do destino fez com que isso acontecesse nesta temporada.

A negociação para resolver o lockout impediu um planejamento padrão para a Série Internacional 2011. Contudo, na divulgação da tabela apareceu “Estádio Wembley” como mando de campo de uma das partidas dos Buccaneers, uma semana antes do comum em anos anteriores. Segunda vez que o time de Tampa vai para Londres – na última perdeu para o New England Patriots em 2009, 35 a 7.

Não foi imputado como desculpa, mas a viagem que os Bucs fizeram há dois anos influenciou na parte física dos seus atletas. Encararam a semana do jogo dentro dos padrões normais, viajando para Londres na sexta – como se estivessem indo para a costa oeste americana (Tampa fica na costa leste). O esquema sofreu alterações neste ano e saíram dos EUA na segunda, com folga para os jogadores na terça e quatro dias de treinamentos e reuniões no solo inglês. Logística teste que faz a NFL projetar como se comportará uma franquia com sede na Inglaterra, como será as viagens para os EUA e como os visitantes viajarão.

Nos eventos pré-jogo, que começa sexta (21), a prova é sentir de perto como os torcedores estão interagindo com o futebol americano. São inúmeras atividades e entre elas estão: exibição de “Jerry Maguire – A Grande Virada” (dia 21) com a presença de Cuba Gooding Jr., vencedor do Oscar de 1997, ator coadjuvante, pelo papel de Rod Tidwell no filme; no sábado festa típica de universidades e high schools chamada de “Rally” na Trafalgar Square, praça central de Londres, com a presença de bandas, cantores (as), cheerleaders do Tampa Bay Buccaneers (os Bears não têm animadoras) e dos ex-jogadores Marshall Faulk, Jerome Bettis, Richard Dent, Otis Wilson, Brad Johnson e Jimie Giles; no domingo será promovido o tradicional churrasco no estacionamento, evento super popular nos estádios dos EUA e que terá a versão inglesa em Wembley.


A partida deste domingo colocará mais dados nas planilhas de estudos da NFL, que põe em prática a vontade de se estabilizar na Inglaterra, mais precisamente em Londres. Bem melhor do que tentar atingir toda a Europa e não conseguir vínculo forte e consistente com nenhum país, nenhuma cidade. Londres foi escolhida pela NFL como teste, tem dado certo e a liga acredita que a capital está pronta para receber dois jogos por ano. O próximo estágio é mais ousado.

Londres concorreu para ser sede do Super Bowl em 2014, perdeu. Em 2015 houve abstinência e em 2016 pode ser uma das candidatas. Ano no qual finaliza o acordo fechado nesta temporada e que pode encerrar com glamour, alcançando ambos os desejos concebidos.



(GL)
Escrito por João da Paz


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Persistir no erro é burrice; insistir no acerto é esperteza


Jon Daniels, diretor de beisebol (GM) do Texas Rangers, repetiu um belo gesto após seu clube vencer pelo segundo ano consecutivo a Liga Americana e chegar a World Series. Em entrevista coletiva, o jovem de 33 anos fez questão de dedicar este êxito à sua equipe de bastidores, principalmente os scouts, responsáveis direto pela qualidade que a equipe possui. Com uma folha salarial média – começou a temporada 2011 em 13º na lista de gasto com jogadores – é necessário garimpar talentos e buscar boas ofertas fora e dentro da MLB.

No ano passado foi a mesma coisa: disputou a World Series graças a um grupo jovem e promissor. Daniels, então, assim que teve os microfones direcionados para si, mencionou o eficiente trabalho dos seus scouts. O legal é que no primeiro jogo em casa dos playoffs da série divisional em 2010, o GM convidou todos eles para irem até o montinho e receber uma salva de palmas da torcida.

Esse excelente trabalho de Daniels e seus scouts, junto com os assistentes dele, rendem à franquia um valor significativo. Com a exposição na mídia, vem os patrocinadores, com estes vem o dinheiro e daí pode ser investido mais na folha salarial e manter as estrelas do clube e, possivelmente, contratar um bom jogador à disposição. No campeonato passado isto se concretizou com a aquisição do arremessador Cliff Lee. Após o término, os Rangers optaram por não fazer loucura ao recusar entrar num leilão do atleta, assim o Philadelphia Phillies o contratou. Por ser um dos nomes mais importantes da MLB e parte primordial do time que avançou até a WS, sem ele acreditava-se que os Rangers iriam sucumbir.

Preocupação legítima, mas estavam bem.

Daniels apostou no ataque e foi atrás do 3B Adrian Beltre, talvez a única estrela da liga que vestiu recentemente a camisa tricolor com este status. A maior parte do elenco veio até Texas desacreditado ou sem muito reconhecimento, porém juntos fizeram um conjunto forte e temido; logo construído por indivíduos que consequentemente ganharam seu mérito. Um exemplo é o arremessador CJ Wilson, desejado pelos clubes ricos da MLB, encabeçados pelo New York Yankees, e que será agente livre ao término desta temporada.

Um investimento alto será necessário para renovar com Wilson. Um dos planos é assinar com o jogador e trocá-lo por CC Sabathia, arremessador dos Yankees que poderá escolher ser agente livre – negócio é possível se Sabathia também renovar com NY. Daniels tem outra opção de deixar Wilson livre e esperar Sabathia sair de NY, assim pode fazer uma transação direta com o jogador.

Uma estratégia para ajustar as finanças de acordo com o que o clube pode gastar: jogadores que antes desacreditados (mais baratos) foram formando um competitivo time recheado de grandes destaques (mais caros). Assim uma boa jogada administrativa é bem vinda e Daniels conhece bem as nuances desta porfia.

Formado em Gestão Econômica Aplicada pela Universidade Cornell (membro da Ivy league, conferência das melhores universidades dos EUA), Daniels trabalha com logística de beisebol desde sua chegada na MLB com o Colorado Rockies em 2001 – 24 anos de idade. Quatro anos mais tarde assume a diretoria de beisebol dos Rangers e começa a mudar a metodologia do clube, com apoio de duas pessoas importantes: seus assistentes AJ Preller e Ted Levine.

A Divisão Oeste da Liga Americana tinha um dominador: os Angels. O clube de Los Angeles (Anaheim) ganhou 5 títulos de divisão entre 2004 e 2009 (quem quebrou a sequência foi o Oakland Athletics em 2006). O clube de LA é regido com um marketing melhor e mais agressivo, tem mais dinheiro e mais status. Contudo, nos últimos anos, quem ditou o ritmo na divisão foi o Texas Rangers. Na temporada 2011 isto ficou mais nítido com os Angels terminando o campeonato regular 10 jogos atrás dos Rangers. Dois anos sem ir aos playoffs custou o cargo do diretor de beisebol dos Angels, Tony Reagins, e de seus dois assistentes – um dos candidatos ao posto vago de GM é Levine. Texas conseguiu a primeira colocação com uma larga vantagem mesmo gastando na folha salarial US$ 50 milhões de dólares a menos que seu rival de divisão.

O cuidado com os investimentos e o gasto consciente na aquisição de jogadores continuará sendo o lema principal dos Rangers enquanto Daniels estiver por lá. Porém em 2014 o clube ganhará uma folguinha, uma margem maior para a manutenção e aprimoramento do elenco. A partir do ano da copa, os Rangers entrarão num bilionário acordo com a TV por assinatura local da FOX (Sports Southwest): US$ 1.6 bilhões por 20 anos. Nesta faixa de US$ 80 milhões/ano via TV, só Yankees e Boston Red Sox estão.

Vitórias em campo e exemplo de administração nos bastidores são os alicerces que fazem os Rangers gozar de prestígio e fama. A fórmula que trouxe resultados positivos é repetida e será assim. Como dito aqui no Grandes Ligas há um ano: “Os Rangers têm talento suficiente para ficar por muito tempo na elite da Liga Americana; e este é o plano de Daniels”. O diretor de beisebol disse numa conversa com a filiada local da ABC (TV-WFAA) que a meta é ganhar a WS, criar no clube a cultura de vencedor e competir sempre para ser campeão. Daniels tem sim uma ajuda essencial para manter os Rangers no topo, mas ele é o fundamento principal que direciona e sustenta a franquia.

A modéstia não o deixa assumir os louros das conquistas e na primeira oportunidade agradece o auxílio recebido. Só que a persistência no que acha correto parte das suas intenções, elas que criaram um modelo triunfante, estabelecido pela sua inteligência em saber o que é melhor para si, para seus subordinados, para os jogadores, para os torcedores...



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 John Ricco / NYDN

Sem Yankees e Phillies, pós-temporada da MLB perde a graça

O esporte rotulado de “passatempo dos americanos” passa por um problema e este tema já foi abordado por aqui em “O beisebol nos EUA e o paradoxo da sua popularidade”. Essa definição ainda é usada hoje, mas fixada no saudosismo e não na realidade. E tudo que a MLB não precisava era finais das Ligas sem os dois clubes de mais poderio financeiro e que atraem público além dos fãs de beisebol. A ausência de New York Yankees e Philadelphia Phillies machuca o bolso da liga, afeta as TV’s que transmitem os jogos em Outubro e prejudicará todas as outras franquias no futuro.

Antes de entrar na audiência destes playoffs, que se continuar baixa pode diminuir o dinheiro que as emissoras distribuem à liga, que o repassa igualitariamente a seus membros, vale ressaltar um fato: Yankees e Phillies foram os times que registraram as melhores médias de público em casa nos seus respectivos estádios, únicos que ultrapassaram a marca de 45 mil pagantes/jogo; nas partidas fora, Yankees foi o primeiro em média de público (33.228/jogo) e os Phillies o quarto (33.000/jogo).

A discrepância é observada de forma mais categórica no ibope da pós-temporada. A TBS (Turner Broadcasting System), divisão do grupo Time Warner e que agora tem seu conteúdo muito divertido disponível no Brasil, Transmitiu os jogos divisionais dos playoffs e está com os direitos da final da Liga Nacional. Pois bem, nenhum jogo transmitido pela TBS teve maior audiência que o pré-jogo da FOX sobre a NFL num domingo á tarde. Nenhum! O que salvou a TBS foram os Yankees que na semana passada colocou 4 jogos nos quais eles estavam jogando entre as 20 maiores audiências da TV por assinatura nos EUA.

Saint Louis Cardinals e Milwaukee Brewers são os times que a TBS terá que fazer a cobertura. Triste. O jogo de domingo à tarde, disputando com a NFL, teve uma queda de audiência de 62% (62%!) em relação ao jogo 1 da final da Liga Americana de 2010 (também transmitida pela TBS). Na ocasião os Yankees duelavam contra o Texas Rangers.

Os Brewers têm uma história legal que agrada aos fãs de beisebol. Dizem por aí, bem baixinho, que é o time para torcer caso seu clube não esteja entre os quatro semifinalistas. Possui grandes nomes no elenco como Zach Greinke, Ryan Braun e Prince Fileder, é um exemplo de organização e administração, mas não consegue atrair público no mercado local. Sem contar a NFL, o interesse pelo time de futebol da Universidade Wisconsin (os Badgers), invicto na temporada com 5 vitórias, é superior ao time de beisebol da maior cidade do estado de Wisconsin (a sede da universidade fica na capital Madison). Ao colocar a NFL na conversa, fica até injusto, porém serve como ilustração num exemplo claro que ocorreu no ultimo dia 2 de Outubro.


Os Packers (NFL) recebiam em Green Bay (Wisconsin) o Denver Broncos para o quarto jogo da temporada regular. Os Brewers (MLB) recebiam o Arizona Diamondbacks para o segundo jogo dos playoffs, fase divisional. Ambos os estádios estavam cheios, tanto o Lambeau Field-Packers quanto o Miller Park-Brewers. Nas residências, porém, o interesse preferencial tornou-se notório. Concentrando apenas na cidade de Milwaukee, o jogo dos Packers teve a atenção de 44,6% dos televisores locais, enquanto o jogo dos Brewers teve 20.3%.

Do outro lado da chave dos playoffs da MLB, se encontra um problema parecido. Um time que faz campanha fantástica e histórica, mas rivaliza com um time da NFL que goza de um enorme sucesso. Detroit tem nos Lions (NFL) um time invicto com 5 vitorias, o último triunfo ocorreu na segunda passada (10) e coincidiu com o emocionante duelo entre os Tigers (MLB) contra os Rangers pela decisão da Liga Americana, jogo 2, decidido em entradas extras e finalizado com um grand slam de Nelson Cruz (foto abaixo), lance inédito em playoffs. A partida da MLB foi ao ar pela TV aberta nos EUA (FOX) e da NFL pela TV por assinatura (ESPN); quem teve maior audiência em números absolutos e percentuais foi a ESPN numa larga vantagem.


Mudando para o jogo 1 da série entre Tigers e Rangers, percebe-se um declínio na FOX similar ao que acontece com a TBS. A partida de abertura da final da LA teve uma redução de 25% na audiência em comparação ao jogo 1 de 2010 transmitido pela FOX (final da LN entre Phillies e San Francisco Giants) e queda de 43% em relação ao jogo 1 de 2009 transmitido pela FOX (final da LA entre Yankees e Los Angeles Angels).

Desejar que esta série vá até o jogo 7, para chamar mais a atenção pela emoção de um jogo eliminatório, talvez não seja uma boa ideia. Caso assim for, o jogo decisivo será no próximo domingo (16) e coincidirá com o Detroit Lions recebendo o San Francisco 49ers e o Dallas Cowboys jogando contra o Tamba Bay Buccnaeers. O jogo dos Lions será às 13hs (horário do leste americano), dos Cowboys às 16hs e o jogo 7 da MLB às 20hs – todos eles transmitidos pela FOX. E mais: este possível jogo 7 concorrerá com o imbatível Sunday Night Football da NBC, que na ocasião terá o duelo de divisão entre Minnesota Vikings e Chicago Bears.

Quem defende o equilíbrio e a paridade, tá feliz. Claro, este não tem patrocínios na FOX e TBS, muito menos é executivo de uma delas. Na diretoria da MLB há uma típica confusão por não saberem o que querem, visto que paridade e audiência não andam de mãos dadas. Pelo sistema de distribuição dos direitos da TV, quanto mais times populares no ar, melhor – arrecada-se mais dinheiro e ganha mais exposição. Porém este dinheiro é distribuído de forma igual e Milwaukee recebe uma a mesma quantia que o NY Yankees. Isto dá a oportunidade de times pequenos chegarem ao grande palco (playoffs), mas aí não conseguirão gerar audiência...

Não adianta fugir: esse problema de público na MLB é sério. Nos estádios, a MLS é uma ameaça real. Na TV perde cada vez mais espaço, mesmo na parte mais importante do campeonato. Se com grandes clubes na disputa da pós-temporada a briga é dura contra a NFL, imagina com equipes de menor expressão? A MLB pode não se importar com estes detalhes e cuidar do seu espaço, embora não seja desta forma. Indiretamente mostra preocupação, tenta alternativas para juntar mais público e, por enquanto, não está dando certo. Existem as exceções mostradas naquele pífio “olha a família no estádio, crianças e mulheres” que ouvimos por aqui na voz de Galvão Bueno e parodiadas brilhantemente pelo comediante Marcelo Adnet no Rock Gol deste ano. Até é bonito, mas não lucrativo se em uma casa qualquer a família do mesmo patamar preferir fazer outra coisa a ficar três horas assistindo um jogo de beisebol.



(GL)
Escrito por João da Paz


(*) Na camisa da foto principal está escrito “Major League Boring”, uma brincadeira que substitui “Baseball” por “Boring” (tr. Chato)

Kobe Bryant não deve nada à NBA. Ou será que sim?


Carmelo Anthony? Presente.

Dwyane Wade? Presente.

LeBron James? Presente.

Kobe Bryant? Faltou.

A NBA está travada, ação impetrada pelos donos das franquias. A discussão para resolver este impasse chega ao momento crítico porque se o lockout durar mais dias, a temporada regular com 82 jogos (por equipe) pode ser a vítima de uma iminente ameaça: diminuição de partidas. Hoje as conversas prosseguem em New York entre o Sindicato dos Jogadores e a NBA. Semana passada essas conversas atingiram um ponto chave e o sindicato pediu a presença das principais estrelas da associação num gesto de protesto e afirmação. Muitos apareceram, mas um dos principais não compareceu.

O pedido feito por Derek Fisher, presidente do sindicato e armador do Los Angeles Lakers, foi atendido por 15 jogadores e entre eles estavam grandes nomes da atualidade como Kevin Durant, Chris Paul, Paul Pierce, Wade, Anthony e LeBron. Enquanto estes estavam de terno e gravata brigando pelas reivindicações da classe, Kobe – 5 vezes campeão, 2 vezes MVP das Finais e 1 vez MVP da temporada regular –, além de não marcar presença para, ao menos, mostrar apoio, negocia sua ida para a Itália.

Kobe procura cuidar da sua vida, o que é um problema particular. Porém, por também ser feito de imagem, como ela fica após este episódio?

O status do lockout é muito variável e a cada dia que passa muda a projeção, junto com a data de início do próximo campeonato. Hoje o cenário leva a crer que a temporada não começará em tempo de ter os 82 jogos tradicionais, então muitos jogadores buscam alternativas para se manter em atividade até a temporada da NBA começar.

No caso de Kobe o time fortemente interessado é o Virtus Bologna. A proposta do time italiano é de um contrato no valor de US$ 3 milhões por 10 jogos. Bryant aceitou, o clube está disposto a pagar, mas há um problema de calendário para ajustar a participação do americano. O Virtus quer 5 jogos em casa e 5 fora nos principais ginásios da Itália. Isto causa um desconforto em alguns times que precisam mudar seu calendário para agradar o Virtus. A organização da liga italiana diz que intervirá com o objetivo de convencer os clubes insatisfeitos a concordarem com a reformulação proposta, usando o argumento que a vinda de Kobe ajudará, financeiramente, todos os participantes.

Esse acordo precisa ser feito até o final desta semana, antes do fechamento de inscrições para o primeiro jogo do Virtus contra o Roma neste próximo domingo.


A vontade de Kobe é grande em participar da liga da nação eureopeia onde passou a infância, dos 6 aos 13 anos de idade, acompanhando a carreira profissional do seu pai nas quadras de basquete do “país da bota”. Bryant deseja realizar o sonho de atuar na Itália e dedica seu tempo a solucionar os problemas burocráticos da sua transferência. Mesmo que seja por apenas 10 jogos ele quer ir. E depois, acaba o contrato, neste meio tempo o lockout acabou e Kobe volta para a NBA como se nada tivesse acontecido? Perderá a imagem de líder?

O prestígio dele só é grande para que uma liga se desdobre em busca de recebê-lo por uma dezena de partidas somente através do sucesso adquirido na NBA. Ela o ajudou e vice-versa, contudo este é o momento de mostrar sua experiência e estar junto com outras super estrelas que debatem contra seus patrões. Se os jogadores citados no começo do texto podem ir às reuniões, por que Kobe não?

Wade, inclusive, na última sexta (30 de Setembro), discutiu com o chefão da NBA, o comissário David Stern, sobre um assunto que a associação queria impor aos jogadores dando a entender que eles já recebem ($) demais. Stern não mostrou discernimento e pouco esperava uma resposta quente do astro do Miami Heat. Wade estava na mesa de discussões, ouviu algo que não gostou e decidiu responder.

Uma atitude que dá força aos jogadores, mostram que estão por dentro do que está sendo posto em debate. Quando Fisher pediu o comparecimento das estrelas nas reuniões, não foi para fazer uma mera figuração, mas sim para participar ativamente e mostrar aos donos e à NBA que a classe está ciente dos pormenores - e Wade aproveitou a chance e deixou sua impressão.


Outro que é ativo na dialética é Paul Pierce (foto acima). Fisher aponta o ala do Boston Celtics como uma das peças fundamentais na defesa pelo interesse do sindicato. Pierce fala com uma boa dicção, usa o convencimento e consegue fazer com que os donos se posicionem com mais flexibilidade. Esteve presente em todas as movimentações de bastidores e ontem, num encontro só entre os executivos do sindicato (em preparação para hoje e os outros dias da semana) Pierce foi o único não-membro presente.

3 a 7 de Outubro tinha que ser marcado como uma semana super importante para Kobe. Na verdade é, mas pelo motivo que não lhe ajudará. Ao invés de lutar e colaborar com seus companheiros da NBA pelo fim do lockout, ele se preocupa com sua ida à Itália. Será muito dinheiro ganho em pouco tempo, contudo é passível da pergunta: vale a pena? Fora deixar fãs da NBA e colegas de classe decepcionados, encontrará um ambiente hostil ao vestir a camisa do Virtus Bologna. Quem deu o recado é o americano Daniel Hackett, formado pela Universidade do Sul da Califórnia (USC) e que joga no Pesaro, time da primeira divisão do basquetebol italiano. Ele assim falou ao jornal “La Gazzetta dello Sport”.

A única maneira de parar um cara tão bom é através de faltas duras e ele sabe disso. Tenho cinco faltas para cometer e elas serão as faltas mais duras que já cometi (...). Espero que Kobe não se rebaixe a este nível por razões econômicas e comerciais. Pra mim será uma grande decepção o ver aceitar estas circunstâncias. Perderei o respeito por um jogador que é muito grande para sujar as mãos na nossa liga”.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Harry How / Getty Images