Pior que as atuações em campo, o violento sentimento interno ardia.
Foram 622 dias na prisão, 28 meses longe da NFL e Plaxico Burress, wide reciever do New York Jets, até o domingo dia 23, não fez uma atuação considerada boa na temporada 2011. Para o público, para os espectadores, criou-se aquele maçante pensamento de que a mudança no caráter não foi completa, que Burress estava pensando em outra coisa além do football. Mas ele focava seu trabalho em melhorar as atuações no gramado, não que isto fizesse com que as pessoas mudassem de opinião, contudo isto ajudaria a ter nova perspectiva.
No dia seguinte do infeliz incidente, a reação nas ruas era ecoada num uníssono burburinho que encontrava repouso facilmente. Este era acolhido pelos faladores, passando a informação pra frente de mais uma prisão de um afro-americano na NFL. Ao saberem que o tal era Burress, o cheiro de coisa ruim subiu. Muitos não foram a fundo para descobrirem o fato da imprudência, os saberes superficiais bastavam.
Alterna o parecer se informados do que realmente ocorreu? O começo e o desenvolvimento não modificam o final: posse de arma de fogo não licenciada. O tiro no pé (literal) de Burress foi o estopim de um trajeto espinhoso que precisou percorrer. Explicações, explicações. O pré-julgamento poderia não mudar, mas o relato dele – o veredicto – é um só.
Na semana do confronto contra o Washington Redskins, Burress foi cortado por lesão na virilha; isto na sexta feira à tarde (28 de Novembro de 2008). De noite, talvez para espairecer e atraídos pelas luzes de New York, ele, junto com amigos e companheiros de time foram à balada na Avenida Lexington com esquina da rua 48 (perto da sede da NFL). O nome do lugar é Latin Square – como sempre, lotado. Burress é revistado, o segurança sente que ele está com uma arma na cintura, mas o deixa entrar. Casa noturna cheia e um dos organizadores da festa levam Burress e seus companheiros até a área VIP. Subindo as escadas para o espaço reservado, Burress sente a arma escorregar por dentro da sua calça e rapidamente põe a mão impedindo que caísse. Colocada na cintura novamente, continuou andando. Sentiu o pé molhado, ensopado. Olhou e viu uma mancha. Viu de perto e percebeu que era vermelha. Cutucou Antonio Pierce, ex-jogador do New York Giants e atual comentarista da ESPN, e disse: “Me leva pro hospital. Acho que atirei no meu pé”.
Numa probabilidade raríssima, na hora que Burress colocou as mãos sobre a calça impedindo que a arma caísse, o gatilho foi acionado. Na casa noturna ninguém ouviu o tiro e do hospital a notícia se espalhou, tratando de um jogador da NFL vítima de um revólver.
Justificativa aceita, mas e arma? Licença para carregar? Quente ou fria?
As investigações da polícia concluíram que a arma era fria. Fácil, enquadramento por porte ilegal. Na cidade de New York as leis são rígidas nesta esfera e o prefeito Michael Bloomberg aproveitou a fama do jogador para usá-lo como exemplo de aplicação da lei. Evidente, não por isso [ser famoso] que Burress sairia impune, mas o caso foi mal administrado. Bloomberg exagerou na depreciação do atleta, colaborando para arranhar a imagem tão desgastada dele. Seria isto um drama extra para enfrentar.
Seu ex-treinador, Tom Coughlin, reagiu assim ao saber do incidente: “Fico contente em saber que você não matou ninguém!”. Fora isto tinha a cobrança da sua esposa em deixá-la sozinha, grávida.
Na prisão tinha o tratamento de choque psicológico. Os presos afirmavam que ali era o fim de Burress, nada mais de “rock star”, jogador de renome da NFL não adianta de nada. Os policiais faziam igual ou pior, xingando, o chamando de idiota, burro.
Os 622 dias não foram desfrutados e sim vividos de maneira angustiante, como se fossem multiplicados por 3 ou 4. A liberdade condicional foi entregue e Burress saiu do xis. Primeira ação era ficar um tempo com a família, abraçar a recente integrante, vista apenas através de fotos, e arrumar um emprego, parte fundamental da condição da sua liberdade.
A busca de um time cessou rapidamente. Nada de Giants, não depois do “carinho” emitido por Coughlin. Burress visitou o rival alviverde ao lembrar uma conversa que teve antes de ser preso.
Em Abril de 2009 o jogador foi mandado embora dos Giants por acharem que seu julgamento iria durar mais que o esperado – sua prisão foi decretada em 20 de Agosto do mesmo ano. Neste intervalo, o dono do New York Jets, Woody Johnson, e o diretor de football do clube, Mike Tannenbaum, conversaram com Burress e demonstraram apoio, confiança. Os longos dias na cadeia não apagaram da memória este encontro e Burress os procurou após sua saída.
Assinado um contrato de um ano (US$ 3 milhões), o jogador se dispôs a voltar ao football em um time grande e de alto nível. Voltaria ele a ser um jogador de alto nível?
Assistir os vídeos dos jogos desta temporada incomodava Burress. Não enxergava um receiver em seu pleno potencial. Isto o fazia treinar com tenacidade, executar as rotas destinadas a ele com precisão e se entrosar com o quarterback Mark Sanchez. Contra o San Diego Charges, dia 23/10, Burress não teve uma atuação espetacular em números absolutos, porém foi eficiente na região do campo mais importante: a end zone. Foram 4 recepções, sendo 3 delas para touchdown – em 2007, no dia 9 de setembro, foi quando Burress marcou pela última vez 3 touchdowns num único jogo.
Isso muda alguma coisa? Sim. Para quem importa sim. Burress teve um aumento em sua autoconfiança, necessária para que os desempenhos em campo melhorem. Consequentemente sua relação fora dele também sofre um aperfeiçoamento. Porque a vida não se divide em duas: a vida pessoal e a vida profissional. Ela é uma só, única e que não deve ser desperdiçada.
Belos jogos por franquias tradicionais (Steelers e Giants), anel de campeão do Super Bowl com direito a touchdown decisivo, Plaxico usufruía do sucesso em parte de sua vida; a outra estava bagunçada. Um lado precisou ser concertado e o equilíbrio foi alcançado. Feliz de volta ao lar junto com a família, faltava as boas atuações com a bola oval. Contra os Charges este prazer votou a deixar um gostinho na boca, aquele de “quero mais”. Burress vai continuar na busca deste balanceamento e caminhar de bem com a vida.
Descobriu ser o próprio redentor.
Foram 622 dias na prisão, 28 meses longe da NFL e Plaxico Burress, wide reciever do New York Jets, até o domingo dia 23, não fez uma atuação considerada boa na temporada 2011. Para o público, para os espectadores, criou-se aquele maçante pensamento de que a mudança no caráter não foi completa, que Burress estava pensando em outra coisa além do football. Mas ele focava seu trabalho em melhorar as atuações no gramado, não que isto fizesse com que as pessoas mudassem de opinião, contudo isto ajudaria a ter nova perspectiva.
No dia seguinte do infeliz incidente, a reação nas ruas era ecoada num uníssono burburinho que encontrava repouso facilmente. Este era acolhido pelos faladores, passando a informação pra frente de mais uma prisão de um afro-americano na NFL. Ao saberem que o tal era Burress, o cheiro de coisa ruim subiu. Muitos não foram a fundo para descobrirem o fato da imprudência, os saberes superficiais bastavam.
Alterna o parecer se informados do que realmente ocorreu? O começo e o desenvolvimento não modificam o final: posse de arma de fogo não licenciada. O tiro no pé (literal) de Burress foi o estopim de um trajeto espinhoso que precisou percorrer. Explicações, explicações. O pré-julgamento poderia não mudar, mas o relato dele – o veredicto – é um só.
Na semana do confronto contra o Washington Redskins, Burress foi cortado por lesão na virilha; isto na sexta feira à tarde (28 de Novembro de 2008). De noite, talvez para espairecer e atraídos pelas luzes de New York, ele, junto com amigos e companheiros de time foram à balada na Avenida Lexington com esquina da rua 48 (perto da sede da NFL). O nome do lugar é Latin Square – como sempre, lotado. Burress é revistado, o segurança sente que ele está com uma arma na cintura, mas o deixa entrar. Casa noturna cheia e um dos organizadores da festa levam Burress e seus companheiros até a área VIP. Subindo as escadas para o espaço reservado, Burress sente a arma escorregar por dentro da sua calça e rapidamente põe a mão impedindo que caísse. Colocada na cintura novamente, continuou andando. Sentiu o pé molhado, ensopado. Olhou e viu uma mancha. Viu de perto e percebeu que era vermelha. Cutucou Antonio Pierce, ex-jogador do New York Giants e atual comentarista da ESPN, e disse: “Me leva pro hospital. Acho que atirei no meu pé”.
Numa probabilidade raríssima, na hora que Burress colocou as mãos sobre a calça impedindo que a arma caísse, o gatilho foi acionado. Na casa noturna ninguém ouviu o tiro e do hospital a notícia se espalhou, tratando de um jogador da NFL vítima de um revólver.
Justificativa aceita, mas e arma? Licença para carregar? Quente ou fria?
As investigações da polícia concluíram que a arma era fria. Fácil, enquadramento por porte ilegal. Na cidade de New York as leis são rígidas nesta esfera e o prefeito Michael Bloomberg aproveitou a fama do jogador para usá-lo como exemplo de aplicação da lei. Evidente, não por isso [ser famoso] que Burress sairia impune, mas o caso foi mal administrado. Bloomberg exagerou na depreciação do atleta, colaborando para arranhar a imagem tão desgastada dele. Seria isto um drama extra para enfrentar.
Seu ex-treinador, Tom Coughlin, reagiu assim ao saber do incidente: “Fico contente em saber que você não matou ninguém!”. Fora isto tinha a cobrança da sua esposa em deixá-la sozinha, grávida.
Na prisão tinha o tratamento de choque psicológico. Os presos afirmavam que ali era o fim de Burress, nada mais de “rock star”, jogador de renome da NFL não adianta de nada. Os policiais faziam igual ou pior, xingando, o chamando de idiota, burro.
Os 622 dias não foram desfrutados e sim vividos de maneira angustiante, como se fossem multiplicados por 3 ou 4. A liberdade condicional foi entregue e Burress saiu do xis. Primeira ação era ficar um tempo com a família, abraçar a recente integrante, vista apenas através de fotos, e arrumar um emprego, parte fundamental da condição da sua liberdade.
A busca de um time cessou rapidamente. Nada de Giants, não depois do “carinho” emitido por Coughlin. Burress visitou o rival alviverde ao lembrar uma conversa que teve antes de ser preso.
Em Abril de 2009 o jogador foi mandado embora dos Giants por acharem que seu julgamento iria durar mais que o esperado – sua prisão foi decretada em 20 de Agosto do mesmo ano. Neste intervalo, o dono do New York Jets, Woody Johnson, e o diretor de football do clube, Mike Tannenbaum, conversaram com Burress e demonstraram apoio, confiança. Os longos dias na cadeia não apagaram da memória este encontro e Burress os procurou após sua saída.
Assinado um contrato de um ano (US$ 3 milhões), o jogador se dispôs a voltar ao football em um time grande e de alto nível. Voltaria ele a ser um jogador de alto nível?
Assistir os vídeos dos jogos desta temporada incomodava Burress. Não enxergava um receiver em seu pleno potencial. Isto o fazia treinar com tenacidade, executar as rotas destinadas a ele com precisão e se entrosar com o quarterback Mark Sanchez. Contra o San Diego Charges, dia 23/10, Burress não teve uma atuação espetacular em números absolutos, porém foi eficiente na região do campo mais importante: a end zone. Foram 4 recepções, sendo 3 delas para touchdown – em 2007, no dia 9 de setembro, foi quando Burress marcou pela última vez 3 touchdowns num único jogo.
Isso muda alguma coisa? Sim. Para quem importa sim. Burress teve um aumento em sua autoconfiança, necessária para que os desempenhos em campo melhorem. Consequentemente sua relação fora dele também sofre um aperfeiçoamento. Porque a vida não se divide em duas: a vida pessoal e a vida profissional. Ela é uma só, única e que não deve ser desperdiçada.
Belos jogos por franquias tradicionais (Steelers e Giants), anel de campeão do Super Bowl com direito a touchdown decisivo, Plaxico usufruía do sucesso em parte de sua vida; a outra estava bagunçada. Um lado precisou ser concertado e o equilíbrio foi alcançado. Feliz de volta ao lar junto com a família, faltava as boas atuações com a bola oval. Contra os Charges este prazer votou a deixar um gostinho na boca, aquele de “quero mais”. Burress vai continuar na busca deste balanceamento e caminhar de bem com a vida.
Descobriu ser o próprio redentor.
(GL)
Escrito por João da Paz
Escrito por João da Paz
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© 2 Seth Wenig / AP
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