O clube VIP de Oprah, Adele, Princesa Kate e Tim Tebow

O conservadorismo se encontra com o liberalismo. O puro com o profano. O cristão com a babilônia. Tim Tebow, o popular quarterbackque é mais famoso por ser quem é do que pelas qualidades dentro de campo –, é membro do New York Jets. Na capital do planeta Terra ele terá desafios a cada segundo que respirar; mesma proporção da grana que desembolsará por lá.

Sem perder tempo, um de seus patrocinadores, a fabricante de roupa íntima masculina Jockey, fez este outdoor que você vê na foto acima. Da sexta 23 até ontem (30), ficou num dos lugares mais movimentados da cidade, o Túnel Lincoln que liga New York com New Jersey. A empresa calculou que mais de 500 mil pessoas viram o painel eletrônico: “Nós apoiamos Tebow & New York – Jockey”.

A estratégia da marca foi se antecipar e chamar atenção o quanto antes. Tebow é um produto em si que rende muito dinheiro, publicidade e credibilidade. A agência Davie-Brown Index divulga semanalmente um ranking que mostra quais celebridades são mais cobiçadas/comercializáveis, ou seja, que tem um apelo maior para ser usado pelas empresas. Baseia esta pesquisa em confiança, atrativo, sinceridade, influência, entre outros.

Na lista divulgada nesta semana, Tim Tebow ficou em quarto lugar, atrás apenas da Princesa Kate, Adele (cantora) e Oprah Winfrey (apresentadora ) – nesta ordem. Algo muito significativo para um jogador que vem para os Jets para ser reserva.

Mas não um reserva qualquer. Na apresentação oficial, a entrevista coletiva teve de ser feita fora da sala de imprensa, porque o número de pessoas credenciadas era maior do que a capacidade do lugar. Então arranjaram um espaço no centro de treinamento que comportasse 200 pessoas credenciadas e 35 câmeras de TV. Lembrando, Tebow chega para ser o QB reserva...

Este clima de empolgação que cercou New York nos últimos dias mostra porque Tebow é importante no mundo da propaganda. Ele atrai muita atenção. Com tanta coisa acontecendo na cidade, o QB foi por três dias seguidos capa principal de um dos maiores tabloides da babilônia: o New York Daily News. A imprensa local falou (fala) constantemente de Tebow, deixando os dois principais times de NY de lado; isto em momentos especiais. O New York Giants (NFL) é o atual campeão do Super Bowl, título conquistada há poucos meses; e o New York Yankees (MLB) está prestes a iniciar a temporada 2012.

Porém o assunto em destaque é Tebow e os Jets. O dono da franquia, Woody Johnson, quer exatamente isto, fazer do seu clube o mais comentado de New York.


Nesta carona de popularidade, a Reebok (fabricante de material esportivo ligada a Adidas), tentou se aproveitar da situação e imediatamente após o anúncio da contratação de Tebow fez milhares de camisas alviverdes com o número 15 e o nome “Tebow” nas costas. O problema: a Nike é a nova fornecedora de uniformes da NFL, substituindo a Reebok.

O imbróglio, que foi resolvido na justiça, é que a Reebok teve oficialmente o contrato rompido com a NFL momentos antes da troca de Tebow ser divulgada. A Nike então passou a ter os direitos sobre os uniformes da NFL. Só que a Reebok agiu com esperteza e fez rapidamente as camisas as disponibilizou, mas a Nike entrou com um processo para que estes produtos fossem retirados das lojas, pois não teve autorização dela.

Na última quarta (28) a Nike ganhou a causa.

A Nike, que junto com a Jockey e a EA Sports são as únicas empresas que tem acordo diretamente com Tebow, vai fazer o lançamento dos novos uniformes da NFL na próxima sexta, dia 06. Ela alegou que os uniformes oficiais que a Reebok pode comercializar e distribuir são os que dizem respeito até a temporada passada, 2011-12. Quer dizer, o juiz do caso determinou que a Reebok só pode vender camisas com o nome “Tebow” nas costas, e o número 15 estampado, do seu antigo clube, o Denver Broncos, e que foram produzidas até 1º de Março.

Envolve muito dinheiro nesta briga que não demorou para ser resolvida. Ter um produto associado com o nome “Tebow” vale muito. O QB tem uma imagem boa para ser usada no marketing. Até o momento não tem sua reputação manchada. Até o presente momento...

É, porque, afinal, Tebow está em New York. As grandes marcas de moda, os grandes organizadores dos mais badalados encontros sociais estão lotando a agenda do jogador para que ele marque presença, que dê o ar da graça. Suficiente para atrair gente, e mais gente.

Tebow é atraente para ambos os sexos. As mulheres veem nele o solteiro mais requisitado da cidade, querem tirar foto, uma casquinha... Os homens querem tirar uma fotinha também, para dizer que estiveram ao lado dele e se gabar por aí...


Os olhos das empresas brilham com isso – na verdade se transformam em cifrões. Mesmo que seja uma que fabrique roupas íntimas masculinas, no caso da Jockey, e crie uma associação esquisita com um cristão convicto e virgem assumido. Esta junção rende dólares para ambos os envolvidos.

Mas tem um risco enorme nesta história. Atende pelo nome de babilônia. Se não existe amor em SP, não existe perdão em NY. Pense quantos paparazzi estão vigiando Tebow neste exato instante. Qualquer deslize humano de Tebow (e Tebow é um ser humano, importante ressaltar) será capa dos sedentos tabloides que clamam por polêmicas. Um segundo que pode acabar com a imagem atual que Tebow tem de invulnerável. Por outro lado, este negócio de risco com o atleta tem potencial para ser muito rentável caso consiga manter-se firme no que acredita e zelar essa imagem.

“Ontem” Tim Tebow era popular na NFL. “Hoje” ele ganha o mundo por estar no centro dele, na cidade do glamour. Numa lista dos melhores QB´s da liga, ele vai estar na parte de baixo, despercebido. Agora, numa lista das celebridades mais cobiçadas, Tebow tem ao seu redor só as mais solicitadas. Não é exagero, ficar junto com Princesa Kate, Adele e Oprah mostra aos que não acompanham a NFL o que Tebow representa no mundo da publicidade e propaganda.

Embora seja um quaterback reserva.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 James Keivom / NYDN
© 2 Washington Post
© 3 Jockey

Somos Trayvon Martin: O poderoso protesto do Miami Heat

Bandidos? Suspeitos?

Não. Estas 13 pessoas da foto, usando um casaco (hoodie) do Miami Heat, são atletas da franquia que jogaram contra o Detroit Pistons ontem à noite – Mike Miller e Shane Battier não estão na foto porque não viajaram com o time para a cidade do motor.

Numa iniciativa que começou com a mulher do Dwyane Wade, a atriz Gabrielle Union, o camisa 3 do Heat, junto com LeBron James, organizaram esta foto no hotel em que estavam para protestar contra a morte de Trayvon Martin. LeBron colocou na sua conta pessoal no Twitter a imagem com a hashtag #WeAreTrayvonMartin (#SomosTrayvonMartin).

Martin, 17 anos, foi assassinado por um guarda de bairro no dia 26 de Fevereiro deste ano na cidade de Sanford, estado da Florida. O adolescente estava visitando seu pai e voltava de um mercadinho onde foi comprar bala e um chá gelado. Martin usava um casaco e estava com a toca na cabeça quando o vigilante George Zimmerman atirou no garoto. Apesar da polícia local investigar o caso, Zimmerman não foi acusado de nenhum crime.

Existe uma lei no estado da Flórida que permite o “atire primeiro e pergunte depois”, o que Zimmerman alega. Ele diz que agiu em legítima defesa. O estado permite que usem armas caso isto aconteça.

Porém, as informações mostram que Martin estava simplesmente andando com um casaco, toca na cabeça e um pacote de balas e chá gelada nas mãos. Por ser afro-americano, reascendeu nos Estados Unidos o debate sobre o racismo. Ver alguém andando por aí, num bairro de elite ou periférico, usando um casaco pode ser perigoso... (?)

O filme “Crash – No Limite” (vencedor do Oscar de melhor filme em 2006 – PS: melhor filme que assisti) debate este tema de uma forma polêmica, mas com traços de realidade. As personagens de Ludacris e Larenz Tate discutem, no começo, o papel do afro-americano na sociedade americana. É uma conversa esquisita porque ambos são bandidos e estão planejando um assalto. As vítimas são as personagens de Sandra Bullock (Jean) e Brendan Fraser (Rick). Antes de ser surpreendido pelos assaltantes, o casal atravessa a rua porque estão andando em direção dos dois homens. Rick então fala com Jean porque fez isto. Os bandidos percebem o que aconteceu e conversam:

“- Espera... Viu o que aquela mulher fez? (Tate)

- Não começa... Olhe à sua volta. (Ludacris)

- Você não conseguiria achar uma área da cidade mais branca, segura e iluminada. E, mesmo assim, essa branquela vê dois negros que parecem universitários caminhando pela calçada e a sua reação é de medo? Olhe para nós. Por acaso usamos roupas de assaltantes? Não. Parecemos ameaçadores? Não. É... Se alguém deveria ter medo por aqui, somos nós! Somos os dois únicos negros rodeados por um mar de brancos com excesso de cafeína e patrulhados pela violenta polícia de Los Angeles (Tate)”

Nos Estados Unidos chamam de perfil racial, achar que determinado tipo de pessoa, usando determinada peça de roupa, andando de determinado jeito, falando de um determinado modo é um bandido/suspeito de alguma coisa. No Brasil é possível ver isto no cotidiano de cada um, seja em qual cidade/região for. Há este perfil racial.

Mal sabem que os grandes bandidos da nação usam terno, ganham dinheiro público e praticam seus atos criminosos usando uma caneta Cartier...

Embora os EUA tenham um presidente afro-americano, Barack Obama, e que esta parcela da sociedade tenha alcançado grandes conquistas, a vida diária ainda prega essas infelicidades. Ontem Obama deu uma forte declaração, que incentivou ainda mais os jogadores do Heat a fazerem o simbólico protesto:

Se eu tivesse um filho, ele seria parecido com Trayvon Martin” – Obama tem duas filhas.

Dos jogadores do Heat, alguns se comoveram de forma especial com este caso. James Jones e Udonis Haslem foram criados no mesmo subúrbio que Martin cresceu: Miami Gardens. Mas com Wade foi mais profundo.

Sua mulher, Gabrielle, o deixava a par de tudo que ocorrera no dia do assassinato de Martin e fazia atualizações de como a investigação caminhava e a repercussão na imprensa. Wade e Gabrielle receberam LeBron em sua residência - como fazem constantemente – e os três debatiam a delicada situação. Então, Wade lembrou que no último natal, seus filhos mais velhos pediram de presente um casaco com toca, igual ao que Martin usou no dia da sua morte, igual ao que os jogadores do Heat usaram na foto-protesto.

Wade colocou no avatar da conta do Twitter uma foto sua usando um hoodie.

O que os jogadores do Heat fizeram foi corajoso porque colocou a marca do clube na ira que transformaram em imagem. E o registro ganha força extra justamente por ter o apoio da franquia. O dono do Heat, Micky Arison, divulgou em nota:

Nós apoiamos nossos jogadores e juntamos a eles na esperança que a suas imagens e nosso logo possam ajudar no diálogo nacional que ajude a curar nossa nação”.

Casos tristes como o de Martin servem para rever conceitos. Infelizmente uma vida tem de ser perdida para que certos posicionamentos sejam reavaliados. Martin foi o único nas últimas semanas que sofreu preconceito? Não. Porém a sua causa foi abraçada por gente de peso e serve como exemplo para que a justiça seja feita e que o alerta permaneça para que acabe com o tal do perfil racial.

Uma luta árdua de ser travada, mas do lado certo está a força maior. Uma simples declaração do presidente Obama se torna poderosa pelo seu teor. Uma simples foto traz uma mensagem eficaz pelo simbolismo.

#WeAreTrayvonMartin

Eu também.




(GL)
Escrito por João da Paz

O fútil, o medíocre e o complexo de vira-lata às avessas


Dois brasileiros foram forçados a mudar de time na NBA. Lendrinho saiu do Toronto Raptors para o Indiana Pacers e Nenê saiu do Denver Nuggets para o Washington Wizards. Uma frase feita surgiu: “Leandrinho se deu bem, já o Nenê...”. Nós, patriotas e amantes da NBA, tomamos partido nestas duas questões e colocamos o ponto de vista que achamos o adequado. Assim entra em destaque o complexo de vira-lata às avessas.

Nelson Rodrigues (1912-1980), um dos mais respeitados jornalistas brasileiros, disse: “por 'complexo de vira-lata' entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”. Declaração que tinha como alertar ao olhar que nós vemos os outros, achando que não temos nada de bom, pois o melhor vem do “estrangeiro”.

Tem o lado oposto a este, o de achar que um feito pífio de um brasileiro no exterior é algo que merece feriado – Nelson Rodrigues escreveu que o “Brasil é um feriado”. É a supervalorização dos brazucas, uma falta de perspectiva para enxergar a realidade.


Leandrinho (foto acima) é um jogador da NBA? Com 12 pontos em média por jogo, e nada substancial a mais que isto, serve como um complemento em um time qualquer. Nos Pacers será deste modo, um jogador para somar, reserva, disputando espaço com 6 companheiros de posição (Darren Collison, Paul George, AJ Price, Dahntay Jones, Lance Stephenson, e George Hill – destes, só Jones é mais velho que Leandrinho: 31 anos contra 29).

Para validar esta transação, alguns irmãos da pátria esbravejaram que o Leandrinho agora está num time grande da NBA...

Expressão emprestada do futebol, o Indiana Pacers não é uma franquia grande da associação. Está numa ótima temporada, tem um elenco excelente e empolgante, porém tá bem longe de ser um time grande – nem título da NBA tem; sem contar que nas últimas cinco temporadas regulares teve um aproveitamento inferior a 50%.

Forçar uma representatividade de um time para sublinhar o nome de Leandrinho como importante na NBA não dá. Ele tava feliz no Toronto Raptors (aquele time do Canadá). Estava feliz sendo reserva de uma franquia patética. Estava feliz em não ir aos playoffs, porque poderia então vir ao Brasil jogar pelo Flamengo no NBB (Novo Basquete Brasil). Claro, ir para os Pacers deixou o jogador triste por não jogar no Flamengo nos playoffs do mega campeonato brasileiro de basquete.

Ria ou chore.

Fique atento, acompanhe o fim de carreira do Leandrinho. Jogador que pensa na NBA como sua irmã mais nova, a WNBA, na qual as jogadoras fazem a transição Europa-EUA por necessidade e sobrevivência. Vá lá, é isto que Leandrinho vê no Flamengo, necessidade e sobrevivência. Seu momento na NBA se resume a disputar com seis jogadores 48 minutos de jogo. 12 pontos em média por partida. Suficiente né?

Melhor que em Toronto, fato!

Mas foi do fútil ao medíocre.

Tanto que ficou surpreso com a troca, tipo “um time de qualidade me quer?”.

A transação Denver-Washington causou surpresa também, tipo “como assim Wizards?”.


Sim, Nenê foi um agente livre muito requisitado (com razão) na última baixa temporada. Com 29 primaveras vividas, optou pela segurança e pelo certo, ficou em Denver e garantiu um bom contrato: 67 milhões de dólares em cinco anos.

Os Nuggets tinham em mãos uma boa peça sob controle. Poderia mantê-lo na franquia, um pivô de habilidade difícil de encontrar na NBA e em qualquer outro nível de basquete. Ou poderia negociá-lo visando reformular o elenco. Optou pela segunda alternativa.

Na temporada passada, Nenê teve um aproveitamento de quadra espetacular: 61,5%. No atual campeonato, seu aproveitamento é notável, mas caiu sensivelmente: 50,9%. A diretoria dos Nuggets escolheu se livrar deste alto contrato do brasileiro para abrir espaço na folha salarial e contratar um jogador mais jovem – ventila-se que este jovem seja Wilson Chandler.

Os Wizards estão no limbo total – apesar de ser franquia mais robusta que os Pacers: tem mais títulos de conferência (4x1) e um título da NBA. Temporada ruim após outra pior, má administração comprovada. Contudo, irmãos da pátria projetam uma reviravolta no clube alicerçado em John Wall, Nenê... É melhor para por aqui.

John Wall não é líder. Sem mais. Grande talento, uma das apostas do Grandes Ligas, mas não é sábio quem projeta montar uma franquia ao seu redor – Kyrie Irving merece tal status, por exemplo.

Quer confiar ou dá crédito à atual administração dos Wizards? Como informou o pessoal do Bola Presa num tweet: “Ano que vem Wizards gastará 43,8 milhões de dólares no trio Rashard Lewis, Nenê e Andray Blatche”. Minutos depois eles informaram mais um dado curioso respondendo quanto o Miami Heat gasta com seu trio: “LeBron+Wade+Bosh = 47.5 milhões”.

E aí?

O rótulo irônico de “bem feito” foi posto nesta troca do Nenê. É, foi bem feito mesmo, ganhar 67 milhões de dólares di boa... O problema é que ninguém vai assisti-lo, o mesmo acontecia com Leandrinho em Toronto.

“Mas os Pacers vão aos playoffs!” Clamam os que têm um complexo de vira-lata às avessas. Em Indiana Leandrinho está para somar; em Washington Nenê está para subtrair (a grana).

Não há lealdade. Fidelidade não existe. Medíocres brasileiros na NBA, a vida como ela é.

E Nelson Rodrigues diria: “O dinheiro compra até amor sincero”.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Hipolito Pereira / O Globo
© 2 Arquivo Agência Estado
© 3 Getty Images

Elas e o futebol americano: histórias de alegria e tristeza

Na semana internacional da mulher, foi escrito mais um capítulo da encorajadora luta por espaço. Presidente de empresas e líderes de nações, as mulheres têm alcançado pontos significativos e de relevância na sociedade pós-moderna. Logo, entrar num time de futebol americano não é lá tão importante. Mas para Mary Morlan Isom (conhecida por Mo Isom – foto acima) conseguir entrar no time de football da LSU, super tradicional universidade da NCAA, é um desafio que vale ser enfrentado.

Para repetir o que Katie Hnida fez em 2003 na Universidade de New Mexico, a primeira mulher a ser kicker em um time da NCAA. Porém Mo Isom tem uma história mais alegre de ser contada do que Katie.

Mo Isom é formada na LSU em jornalismo e nos seus quatro anos de graduação atuou como goleira no time de futebol da universidade. Teve performances marcantes neste período e ganhou destaque ao conseguir marcar um gol após cobrar uma falta no seu lado defensivo, chute que atravessou todo o campo e um quique traiçoeiro enganou a guarda metas adversária.



Mesmo com o diploma em mãos, ela pode atuar por um ano no time de football e desde o ano passado a ideia foi se desenvolvendo. Mo Isom chamou um ex-center da LSU, Jason Crappell, para ajudá-la em kickoffs e field goals. O treinamento rendia muito e ela procurava aprimorar sua condição física na sala de musculação dos Tigers.

Em Janeiro de 2012 o time de football recebeu um comunicado dela se podia participar da seletiva de Março para fazer parte do elenco. O renomado treinador Les Miles aceitou e disse que a encontrava dois meses depois.

A situação passou a ficar séria. Mo Isom não tava pra brincadeira e a confirmação da sua participação na concorrida seletiva mostrava que a comissão técnica da equipe queria ver a habilidade desta garota. O treinamento, então, passou a ser mais intensivo com duração de segunda à sexta, alternando exercícios físicos e treinamento com bola.

Neste período ela ganhava mais apoiadores, principalmente vindo dos (futuros?) companheiros de time. Mo Isom é muito popular na universidade e conviveu com muitos dos meninos no campus e em classes ao longo destas últimas quatro temporadas. Ela os recebia nos jogos de futebol e levava suas colegas para assistir os jogos de football. Além disto, Mo Isom tem uma reputação forte na universidade, muito participativa em várias áreas: trabalho voluntário, debates... É bem engajada em tudo relacionado aos Tigers.

Tem também o título de “Rainha”, a musa da universidade.

Um dos obstáculos seus é justamente este: mostrar que é mais que um rosto (corpo e tudo mais) bonito. Esta tentativa de entrar num dos programas elite de football da NCAA é visto pelos seus críticos como uma jogada de marketing, para chamar a atenção. LSU também sofre este tipo de comentário, por ganhar uma publicidade extra com esta seletiva.

Por isso que tudo ficaria às claras quando o teste começasse.

Dois dias de treinamento no campo. O primeiro foi na terça dia 6, mas os kickers (e a kicker) não tiveram bom rendimento devido às condições climáticas desfavoráveis – foi aproveitado para fazer outras análises. Então quinta dia 8, o Dia Internacional da Mulher, se desenhava como decisivo.

Mo Isom foi muito bem. Acertou field goals e kickoffs com uma constância acima da média e conseguiu converter field goals de 50 jardas (!), um do centro do campo e outro da hash marks (linha pontilhada). Produção excelente. Resta aguardar.

Amanhã (dia 12), o treinador Les Miles irá divulgar os resultados. Ela aguarda ansiosamente o resultado. Pode ser mínima, mas existe a chance dela entrar no time. Repetindo o feito que Katie Hnida conquistou, mas Mo Isom quer ter um roteiro diferente.


Katie (foto acima) também teve ao seu lado um renomado treinador: Rick Neuheisel. Katie entrou no time da Universidade do Colorado em seu ano de novata com o aval de Neuheisel. Contudo ele deixou o time indo para a Universidade de Washington. Seu substituto, Gary Barnett, não concordava com a participação de Katie, a manteve no elenco como kicker, mas não a colocou pra jogar em nenhum jogo – apesar de sempre ser inscrita para os jogos.

Na sala de aula Katie aprendia como lidar com o pensamento humano e seu comportamento. Escolheu psicologia como curso de graduação. Nos três anos que esteve em Colorado, teve que lidar com estas características. Todos os dias.

Foi abusada. No começo eram piadinhas dentro do vestiário. Não era só o treinador que não queria ela no time, os jogadores também. Do verbal passou para o visual. Os meninos mostravam suas partes íntimas para ela. Do visual passou para o sensorial. Nos momentos de reunião do grupo (huddle), em campo ou no vestiário, os meninos passavam a mão nela, tocando-a em todas as partes do corpo. Do sensorial passou para o criminal.

A situação passou a ficar séria. Estava na casa de um de seus companheiros de time assistindo televisão. Aos poucos o rapaz foi se aproximando dela. Katie buscava se desvencilhar do grandalhão, mas não obteve sucesso: foi estuprada. Num momento de vacilo do infeliz, Katie conseguiu escapar. Mas uma página tenebrosa se fez em sua vida, difícil de ser arrancada.

As aulas de psicologia, ao menos, ajudaram Katie e superar o trauma que viveu. Saiu de Colorado em 2001 e no ano seguinte entrou na Universidade de New Mexico. Tornou-se kicker do time de football dos Lobos. No dia 30 de Agosto de 2003, Katie marcou dois pontos extras contra a Universidade Estadual do Texas, a primeira mulher a marcar pontos na história da NCAA (primeira divisão).

Batalhas mentais das mais tensas foram travadas e Katie teve habilidade para sobrepor às adversidades. Um momento simplesmente repugnante teve que ficar pra trás. Não foi esquecido. Mas sempre que falarem sobre mulher em time de football é necessário lembrar de Katie Hnida. Por mais que tenha enfrentado degradantes episódios, desbancou situações desagradáveis. E marcou os pontos que a fez entrar para a história, pontos que deram a ela um lugar entra as grandes mulheres que buscam seu espaço.

Se Mo Isom entrar para o time da LSU, será pelo que ela fez no Dia Internacional da Mulher. Nada mais simbólico! Se for reprovada, não será problema. No meio deste ano terá outra seletiva e ela disse que estará presente. Nada de desistir facilmente.

Mo Isom leva a sério sua tentativa de ser uma kicker num time de futebol americano. Elas já comandam tudo e a todos; ser membro de um esporte de homem é o que faltava? Presidentes de empresas, líderes de nações... Uma destas mais famosas dá a dica para manter a esperança:

Bem antes das eleições de 2010, em Fevereiro, a CNT/Sensus divulgou uma pesquisa que mostrava Dilma Rousseff se aproximando do então primeiro colocado José Serra. Visto como uma crescente positiva, Dilma mostrou enxergar a realidade e saber qual era seu lugar ao dizer: “Na vida, a gente não sobe em salto alto. É só uma pesquisa. Feliz eu não estou”.

Insatisfação que a fez presidente do Brasil.



(GL)
Escrito por João da Paz


* Leia Eu gosto de macarrão de salsicha: o ódio à NFL e porque elas têm razão – as mulheres torcedoras

Bastidores e Curiosidades do Grandes Ligas – Especial de Aniversário

Vitória! A História de Michael Oher (29 de Abril de 2009)


Este é o artigo mais popular do Grandes Ligas. A maioria dos leitores que chegam até o texto não são fãs dos esportes americanos e sim admiradores do personagem real Michael Oher, do filme “Um Sonho Possível”. Meu primeiro contato com o jogador do Baltimore Ravens veio através do livro de Michael Lewis, best-seller do jornal The New York Times: “The Blind Side: Evolution of a Game”.

Depois disto acompanhei mais de perto seus jogos pela Ole Miss – facilidade por a universidade fazer parte da SEC. Acumulei informações por lazer (o GL não existia). Quando o GL entrou no ar, projetei que antes do draft escreveria sobre Oher. Fiz assim e passou a ser referência após o filme ter sido lançado no Brasil, afinal todos que se emocionavam ao assisti-lo queriam saber quem é este Michael Oher.

Quando o filme estreou nos cinemas brasileiros, a quantidade de leitores deste texto atingia altos números. O mesmo aconteceu quando o filme entrou na grade da HBO (e se repete quando passa outras vezes). Imagina quando chegar na TV aberta...

O 1 de 101%(03 de Março de 2010)

Inicialmente era uma parte do livro que pretendo publicar. (fase de projeto). É um longo artigo, um dos maiores do GL, e ainda sofreu algumas edições e revisões porque o original é bem extenso. A vida de Josh Hamilton sempre trouxe fascínio pra mim e enxergava que poderia trazer uma lição para todos nós. Entendo ser essencial incluir tópicos diferentes (quando possível) para atrair outros tipos de leitores. No caso, coloquei opinião de especialistas em psicologia, mestre em enfermagem... Tudo para agregar valor ao que queria mostrar com a história de Hamilton. Considero um dos textos mais impactantes do GL.

Recessão Econômica e (...)

Programei um especial falando sobre como a crise econômica afetou cidades que possuem times da MLB – e como estes estavam inseridos neste contexto. Entre as diversas hipóteses de pauta que o tema traz, crise econômica e os esportes americanos, optei por ser bem mais específico e não só de falar de qualquer cidade, mas as que sofreram mais com o baque financeiro sentido pelos Estados Unidos. Não escrevi o nome das franquias no titilo, somente o da cidade. A região escolhida foi a russ belt “cinturão da ferrugem” e saíram 4 artigos que integram este especial

- Recessão Econômica e Cincinnati: Lembranças do Passado (03 de Maio de 2011)

- Recessão Econômica e Cleveland: Testemunhas (10 de Maio de 2011)

- Recessão Econômica e Detroit: Na levada de um rapper (17 de Maio de 2011) – este foi bem legal porque consegui falar um pouco sobre Eminem, natural da “cidade do motor”.

- Recessão Econômica e Pittsburgh: À espera de um milagre (31 de Maio de 2011) – aqui tem uma das melhores capas do GL, explicando numa imagem o motivo do artigo.

Mesmo com a ruindade dos Colts, Tom Brady ainda é melhor que Peyton Manning (12 de Setembro de 2011)

Gosto deste texto porque vive até este momento. Ele será atual até a volta de Peyton Manning aos gramados, dependendo em qual nível qualitativo retornará. Uma das minhas metas, aliás, é não fazer um texto “vencer” amanhã, ou seja: que o artigo possa ser lido em dias posteriores e fazer algum sentido, que possa passar algo de interessante. Eu fico do lado do melhor quarterback e uso um dado absurdo promovido pela NFL Network, emissora oficial da liga, divulgado em 2010 – “a NFL Network fez junto com especialistas uma relação com os 100 melhores jogadores da NFL de todos os tempos. Manning ficou em oitavo e Brady foi o vigésimo primeiro...” (trecho do artigo).

Faz um 21 (25 de Outubro de 2010)

Com a enorme expectativa da estreia do Tiago Splitter na NBA, defendendo o super San Antonio Spurs, fiz uma brincadeira usando a camisa do brasileiro (22) com a camisa do Tim Duncan (21), em tese quem Tiago deveria substituir. O título também faz alusão ao slogan da Empresa Brasileira de Telecomunicação, Embratel. A arte que fiz para a capa foi usada pelo Splitter como avatar da sua conta no Twitter por um bom tempo.


(GL)
Escrito por João da Paz

Três anos do Grandes Ligas - a mídia brasileira e os esportes americanos


Com um texto falando sobre as chances de alguns times da NBA de chegar à pós-temporada 2008-09, o Grandes Ligas entrou no ar falando sobre “A luta por vagas nos playoffs” em 04 de Março de 2009. Passaram meses, anos e este é o artigo de número 354 que é publicado.

Minha infância se misturou com os esportes americanos: assistia jogos de soccer do São Paulo (de Raí) usando uma camisa do Brooklyn Dodgers, acompanhava os programas esportivos da TV colando figurinhas do álbum da NBA, colecionava times de botão (permanecem intactos e guardados – 63 times) e juntava cards, revistas, reportagens de jornais, fitas VHS de jogos... enfim, tudo relacionado aos esportes americanos.

Alguém aí deve se lembrar: na metade de 2011 estava assistindo um jogo da MLB e ligado em outros tantos assuntos relacionados às grandes ligas... e parei. Me emocionei e postei no Twitter o quanto amo os esportes americanos. Mesma emoção que sentia ao me preparar para assistir aqueles jogos da NBA de sexta à noite na Band – e o NBA Action no sábado à tarde.

Minha resposta para a pergunta básica “O que você quer ser quando crescer?” era fácil: jornalista esportivo. E mais, de esportes americanos. Conforme a adolescência chegava, aumentava a percepção que tais competições eram depreciadas pela imprensa brasileira.

Até o Lance! aparecer em 1997.

Uma coluna na edição de quarta surgiu, assinada por Marcelo Barreto (hoje no SporTV) chamada de “Made in USA”. Nome funcional, mas não original. Era uma presença fundamental para informações/opiniões sobre as grandes ligas. Mas começou como página inteira, depois metade, depois coluna...

Jogos ao vivo são espaços consideráveis dos esportes americanos na TV (aberta ou por assinatura)? Sim. Porém o importante é a cobertura e esta não existe hoje na mídia brasileira.

Quando destaco que não existe, ressalto que não é algo de qualidade. Quer dizer, notícias saem por aí, um acontecimento especial também, contudo a cobertura como deve ser de fato feita é irrisória pra dizer que existe.

Nunca me esqueço de um Bate-Bola, programa chave da ESPN Brasil, no qual o apresentador João Carlos Albuquerque teve de apresentar um take de uns jogos da NHL – melhores momentos – e disse pra todos ouvirem: “Deixa isto pra lá! Quem se importa com estes jogos?”. É a visão de uma pessoa, que tem suas razões para tê-la, embora mostre como a própria emissora trata este produto, esmagado nos minutos finais.

A ESPN Brasil é a mais falha de todas as organizações, justamente por possuir espaço, profissionais e material para fazer uma verdadeira cobertura dos esportes americanos. Na grade atual há o programa semanal “The Book is on the Table”. Fora o nome ridículo (cômico), serve como caridade para os fãs das grandes ligas. Não funciona para acrescentar nada de novo, tão pouco é original. Mas, ao menos, tá lá. Algum telespectador absorve algo de importante ali. Só que, na perspectiva mais importante, não serve para acrescentar nada de grande valor.

Pronto. Acaba aqui o que podemos chamar de “espaço dos esportes americanos na grande mídia brasileira”. Lembrando que não estão sendo citadas reportagens de jogos do tipo “Time X venceu o time Y”, ou jogos transmitidos ao vivo.

A caçula Esporte Interativo teve um tal de “Doctor´s alguma coisa”. Programa com um ótimo apresentador (Luan Knaya) que conhece do assunto made in usa, mas transmiti-lo às 16h do domingo...

[...]

Sem dúvida, a internet abriu espaço para que algo mais sustentável fosse feito em relação aos esportes americanos, seja por amadores ou profissionais. Isto porque não há necessidade de ser mídia dominante para estar online. A saudável possibilidade de falar sobre o que bem entender criou uma liberdade ótima. Existem os lixos e trabalhos chulos, mas quem faz com qualidade mantém o serviço por um bom tempo.

O Grandes Ligas nasceu nesta toada, entretanto trazia um pouco daquilo que eu pensava na infância: opinião sobre esportes americanos feita por brasileiros. Tantos jornalistas comentando daqui os campeonatos de futebol da Itália, Espanha, Inglaterra, França.... Por que não fazer o mesmo com a NBA, MLB, NFL e NCAA?

Você já notou que falam que quem cobre os esportes americanos copia tudo da mídia americana, mas não dizem que quem cobre os campeonatos europeus de futebol faz o mesmo com a mídia de lá?

[...]

Quer dizer, quase de forma literal, o recém criado “melhor site sobre esportes americanos em português” (que mudou o prepotente slogan para "notícias, análises e histórias dos esportes americanos"), copia notícias sim da imprensa dos Estados Unidos. O que pode ser baseado no que editorias de certas redações fazem ao usar matérias de agências internacionais (como a AP e Reuters). É uma linha de trabalho válida, mas também não acrescenta valor.

Sempre senti falta de opinião, de alguém explicar um ponto de vista sobre os assuntos do momento – como observamos na imprensa futebolística brasileira. Não interessa se é certo ou errado, interessa é que uma ideia está exposta para ser debatida, questionada.

Procuro fazer isto, junto com um trabalho de mostrar os bastidores dos times, histórias dos jogadores, etc. Compartilhar um pouco do meu conhecimento com um público difícil de lidar, mas que merece só o melhor.

Procuro fazer isto, escrever algo de qualidade, por mais que você discorde - ou não. O essencial é ser diferente sem inventar muito, simplesmente cumprir a função de cobrir as grandes ligas como acredito que deve ser feito.

Dos 354 textos existem diversos equívocos, inúmeros acertos. Isto dito pelos mais diversos comentários, partindo de fãs veteranos ou novatos. Escrever para camadas diferentes de admiradores das grandes ligas é um gostoso desafio. Um texto mais simples pode ser taxado de inútil pelo veterano, mas fundamental para o novato. Um texto mais complexo pode ser taxado inútil pelo novato, mas fundamental para o veterano. Nesta linha caminho e, até agora, tudo tem ocorrido bem.

Vou exagerar e usar uma comparação esdrúxula: artistas e esportistas dizem que quando perdem o frio na barriga antes de uma atuação, acabou a vontade de fazer o que tanto gostam. Eu, toda vez que produzo/escrevo um artigo, tenho esta sensação de gelar. Quero sempre que o meu melhor seja entregue e que você leitor chegue na minha assinatura satisfeito com a arte final. Aí entra o momento de criticar.

A razão do Grandes Ligas permanecer forte e numa crescente contínua é você leitor. Poderia estender, mas paro por aqui e peço a sua ajuda. Chegou a hora de contar um pouco dos bastidores e curiosidades destes 354 artigos. Quero compartilhar com vocês como eles foram realizados, porque tal tema foi abordado e coisas do tipo.

Qual texto você que saber mais um pouco? Qual artigo mais lhe chamou atenção? Respondam estas perguntas por onde preferir (Caixa de comentários, Twitter, Facebook, e-mail...). Nos próximos dias este especial será postado.

Será o texto número 355.

E contando...



(GL)
Escrito por João da Paz

Relação Pública sim, visto que a MLB têm cervejeiros além de Milwaukee

Num movimento para agradar público e mídia, o novo treinador do Boston Red Sox, Bobby Valentine, proibiu consumo de bebidas alcoólicas no vestiário (clubhouse) e nos voos quando o time retorna para Boston. Apesar de ser mais um entre outros 20 clubes da MLB que impedem, essencialmente, cerveja entre seus atletas, outros 10 não fazem o mesmo e a liga se cala neste sentido porque não tem moral pra falar sobre o assunto.

Isto até quando uma franquia filiada a ela se chamar “Cervejeiros” (Brewers) – assunto pra daqui a pouco.

Na questão Red Sox, o antecessor de Valentine, hoje comentarista Terry Francona, disse que esta ação foi algo que partiu do pressuposto de melhorar a imagem do clube, uma medida de Relações Públicas. Claro, Valentine contestou se sustentando que quando comandava o New York Mets, entre 1996 até 2002, também baniu álcool por lá.

O porém é que desde o final da temporada passada, quando foi vazado por alguém de dentro da franquia que alguns membros do elenco estavam bebendo no vestiário enquanto um jogo rolava dentro de campo, a reputação dos Red Sox foi arranhada e se nada fosse feito, ficaria uma situação na qual o clube poderia ser rotulado de omisso e/ou conivente.

Os Red Sox optaram por tratar seus adultos como crianças (o que não tem nada de errado nisto) e decidiu por dezenas de homens que deveriam saber bem o que fazem e em que lugar. A única via era agir no campo das Relações Públicas, não tem porque negar.

Um ponto central é o gerenciamento de crises, no caso uma crise de imagem. Junto com o vazamento da fofoca, tem em anexo o colapso do time na parte final da temporada regular do ano passado quando, na última rodada, deixou de se classificar aos playoffs. A fofoca foi isolada e não teve nenhum efeito direto relacionado ao que aconteceu no diamond, mas para o público em geral a percepção é outra, de descaso.

Logo, precisou alguém aparecer para analisar como a mídia estava reportando essa história e como o público reagia. Um estudo do relacionamento da instituição com quem está de fora. Como o resultado final era retomar a imagem positiva do clube, banir bebidas alcoólicas foi a ação que contribuiu para tanto.

Para entender melhor, eis o que diz parte de um decreto de 1968 que formaliza a categoria de Relações Públicas no Brasil, expondo uma das funções do profissional que diz respeito:

d) ao assessoramento na solução de problemas institucionais que influem na posição da entidade perante a opinião pública

Este posicionamento dos Red Sox é puramente individual, interessa só à franquia. Nada garante que isto vai ser cumprido e muito provavelmente não será. Se os jogadores quiserem, sempre vai ter alguém pra lhes entregar uma “geladinha”. Mas perante a opinião pública (imprensa/mídia) o clube tá bem, tomou uma atitude.

Quando cobria um time de futebol do interior de Pernambuco presenciei algo do tipo. Vários jogadores moravam num alojamento que tinha determinadas regras, inclusive um toque de recolher às 22h. Entre as regras estava a proibição de bebidas dentro do alojamento. Os jogadores até obedeciam – o toque de recolher –, mas em questão das bebidas... Faziam um esquema para um cara entregar cervejas e afins num certo lugar. Todos sabiam, inclusive gente da diretoria, entretanto a percepção que se tinha era que todos os atletas estavam bem comportadinhos no alojamento, todos dormindo às 22h. De certa forma, era melhor beber lá dentro, sem ninguém ver, do que estar num bar qualquer e um torcedor flagrar; aí vai até a imprensa, tira foto, divulga na internet...

É o que Francona comentou: “se os jogadores quiserem, vão encontrar bebidas”. Impedir isto é difícil. Se não for no vestiário será em outro lugar.

Ao ser questionado sobre esse assunto, o treinador do Tampa Bay Rays, Joe Maddon, foi excelente e enfático na sua posição:

Não somos o Boston Red Sox. Disse mais de cem vezes: para mim, no final das contas, prefiro que nossos jogadores tomem boas decisões e se você é maior de idade e pode beber, então é game over. Você suou bastante, perdeu vários quilos e quer sentar, descansar e tomar uma cerveja. Não vejo nada de errado nisto”.

Ron Gardenhire, treinador do Minnesota Twins, disse:

Cada um cuida do seu: lá são os Red Sox aqui é diferente. Lá eles têm as suas políticas internas, aqui temos a nossa. Não vamos mudar, estamos bem”.

São exemplos de duas franquias que não irão alterar como administram a questão da bebida na clubhouse. E a MLB, não tem autoridade pra criar um padrão, banir de vez em todos os vestiários?

Autoridade tem, não tem moral.

Como a liga vai falar alguma coisa se uma das suas franquias tem cerveja no nome? E os estádios com nome de marcas de cerveja: Coors Field – Cervejaria Coors (estádio do Colorado Rockies); Busch Stadium – Cervejaria Anheuser-Busch Inbev, produz a Budweiser (estádio do Saint Louis Cardinals); e Miller Park – Cervejaria Miller Brewing (estádio do Milwaukee Brewers)?

Isto sem citar os patrocínios diretos com estas e outras cervejarias. Como banir bebida alcoólica nos clubes se há um envolvimento tão grande com as empresas do ramo?

Um dia pode acontecer? Pode, mas improvável que venha uma ordem de cima, os clubes terão, assim como fazem, de tomar as próprias decisões conforme acharem necessário.

Os 10 clubes que permitem bebidas no vestiário não são complacentes com um mau comportamento num ambiente de trabalho. Queiram ou não, quem ganha milhões de dólares por mês têm regalias que um trabalhador comum não tem. São privilégios que existem e não só com atletas, mas em outras profissões diferenciadas.

E vestiário não é ambiente de trabalho! Local em que homens andam pelados, brincam de "guerra da toalha", ouvem música alta, usam os mais variados palavrões...

Se este tópico for posto à mesa para discussão, é pior o que os jogadores de beisebol fazem no verdadeiro ambiente de trabalho deles: o campo de jogo. Mastigam tabaco, cospem no chão e coçam a virilha. Isto em frente de milhares de pessoas – e de câmeras que levam esta “didática e instrutiva” imagem a milhões pelo mundo afora.



(GL)
Escrito por João da Paz


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