Recessão Econômica e Cincinnati: Lembranças do Passado

A cidade sobrevive e passa por um processo de recuperação da crise financeira que abalou os EUA entre Dezembro de 2007 e Junho de 2009. O time de beisebol, os Reds, vem de uma temporada vitoriosa com o título da Divisão Central da Liga Nacional de 2010 e embora tenha aumentado seu valor, atravessa um momento turbulento agravado pela dificuldade que a população de Cincinnati enfrenta diariamente.

Na grande recessão do final da década passada, muitos moradores não conseguiram superar o baque ou simplesmente fugiram de algo pior. No último censo americano (2010), Cincinnati perdeu 10.4% da sua população e a franquia da MLB sofre com isto. Muitos foram para os estados vizinhos; a cidade faz divisa com Kentucky e fica próxima de Indiana. Existem nestes lugares fãs dos Reds, mas cada vez menos eles estão indo ao Great American Park, estádio do clube. Os ingressos têm preços acessíveis, o problema é o transporte.

O contingente maior de torcedores vai ao estádio de carro, porém a alta no preço dos combustíveis afasta o público. No último final de semana o preço médio do galão de gasolina (equivalente a quatro litros) chegou ao nível mais alto na história de Cincinnati: US$ 4.11. Hoje está por volta de US$ 4.09/galão, uma alta de US$ 1.27 em relação ao mesmo período do ano passado.

Além disto, há aquela reação em cadeia resultante do aumento da gasolina. O ponto forte que afeta as famílias é o alto custo dos alimentos que já é possível notar em mercados da região. Uma população que luta contra o desemprego, comprar um ingresso para assistir um jogo de beisebol não está nos primeiros planos.

Quando a Grande Recessão passou, Cincinnati computou 57 mil e 400 empregos perdidos, um declínio maior que a média de todo país (5.5% contra 5.3%). Depois da crise a cidade perdeu mais 4 mil e 700 empregos, um declínio maior que a média de todo país (0.4% contra 0.2%). O cenário de abandono das fábricas e indústrias trouxe á memória a viva frase de como aquela região é conhecida: "cinturão da ferrugem".

Nos tempos áureos, começo do século XX, o rótulo do local era “cinturão da manufatura”. Esta extensa divisão setorial junta cidades e estados que tinham como força produtora as indústrias clássicas: metalurgia, siderurgia, alimentícia, têxtil, petroquímica e mecânica – em Cincinnati predominavam a alimentícia e mecânica. Tudo mudou quando a Grande Depressão veio, época entre 1929 e 1940, período que o mundo passou por sérios problemas na economia, fruto da brusca queda das ações na Bolsa de Valores de New York em 4 de Setembro de 1929.

Cincinnati sofreu bastante, mas conseguiu superar o crítico momento durante mais tempo que outras cidades do cinturão por ter o Rio Ohio como limite de território com Kentucky. O transporte marítimo de cargas era mais barato que o rodoviário e as indústrias locais conseguiram produzir e vender seus respectivos produtos em escala razoável. Porém uma hora a situação ficaria irreversível e logo os grandes galpões ganharam a ferrugem como sinal do abandono e símbolo de um tempo abundante que se transformou em um grande vazio.


A cidade foi resistindo e aos poucos voltando à ativa. Hoje, 9 empresas na lista das 500 maiores dos EUA da revista Fortune CNN estão em Cincinnati, entre elas a Procter & Gamble (conglomerado de empresas alimentícias e de produtos de higiene e limpeza) e a Kroger (mega rede de supermercados).

Os Reds não desfrutaram de tanta sorte e no auge da grande depressão, em 1931, a franquia pediu falência. Um magnata das indústrias eletrônicas, Powel Crosley Jr., comprou o alvirrubro e manteve em atividade o clube de beisebol mais antigo dos EUA (desde 1866). Nove anos depois o time ganhou a World Series, segunda num total de 5 (1919, 40, 75, 76 e 90).

Segundo a avaliação anual da revista Forbes sobre as franquias mais valiosas da MLB, os Reds tiveram um acréscimo no valor do clube (US$ 370 milhões é o preço atual da franquia). Entretanto o time é o 23° entre os clubes mais valiosos da liga e só está na frente do Pittsburgh Pirates dentro da Divisão Central da LN. O sucesso de 2010 se concretizou apenas neste quesito e o restante permaneceu na mesma. Até que houve um aumento na procura de ingressos, mas 11.000 é o número total de torcedores que possuem carnê de entradas para toda temporada 2011 – o Great American Park tem capacidade para 43 mil pessoas.

O arrocho que a franquia passa não chegará ao extremo que aconteceu há 80 anos atrás, mas a semelhança entre diferentes épocas não é mera coincidência.


(GL)
Escrito por João da Paz

Um comentário:

Anônimo disse...

Prezado João,
Acompanho seu blog não faz muito tempo, talvez 1 ano. Mas não sei se você já falou algo a respeito da sustentabilidade econômica de alguns clubes em pequenas cidades economicamente falando. Você já comentou a respeito do GB PAckers, mas existem algumas cidades como San Diego e Buffalo na NFL.
Abraços,
Tibúrcio Barros.

Postar um comentário