Por que Dirk Nowitzki não é um jogador Top 10 da história da NBA


Na natural tendência de reagir com emoção e sem razão após um grande acontecimento, a brilhante atuação de Dirk Nowitzki no jogo 1 das finais da Conferência Oeste contra o Oklahoma City Thunder serviu, para alguns, como validação da provocativa declaração do seu treinador, Rick Carlisle, à TV ESPN na semana anterior:

Na minha opinião, ele [Nowitzki] é um jogador Top 10 da história da NBA pelo seu estilo de jogo único e como ele carregou a franquia nas costas por mais de uma década”.

Há pontos discutíveis nesta posição de Carlisle e que cria uma saudável discussão sobre o que o alemão tem feito na associação, sobre qual é a sua atual representatividade. Vamos dividir a opinião do treinador em duas partes e adentrar com mais profundidade em dois aspectos

- “Na minha opinião, ele [Nowitzki] é um jogador Top 10 da história da NBA(...)”.

O ponto chave desta frase está no “é”. Nowitzki tem 32 anos e boas temporadas de basquete o espera no futuro, o que poderá lhe colocar no status de “ser” um Top 10. Hoje, entretanto, ele nem perto chega dos melhores. Num exercício rápido é possível chegar aos seguintes nomes que com certeza estão à frente de Dirk:

Bill Russell, Dwyane Wade, Earvin “Magic” Johnson, Hakeem Olajuwon, Isiah Thomas, Kareem Abdul-Jabbar, Kevin Garnett, Kobe Bryant, Larry Bird, Michael Jordan, Moses Malone, Oscar Robertson, Paul Pierce, Shaquille O’Neal, Tim Duncan, Tony Parker, Wes Unseld, Willis Reed e Wilt Chamberlain.

O que estes jogadores acima têm em comum? Pelo menos um título e pelo menos um MVP (temporada regular ou Finais). Com uma boa defesa argumentativa e mediadores a seu favor, Nowitzki poderia estar entre os Top 20 (20º), mas a falta de uma conquista o desvaloriza neste específico tópico. Sendo assim, entendo que é difícil pra ele sequer entrar no Top 5 dos jogadores que já foram MVP mas que não ganharam um título:

Allen Iverson, Charles Barkley, Karl Malone, LeBron James e Steve Nash.

- “(...)pelo seu estilo de jogo único e como ele carregou a franquia nas costas por mais de uma década”.

Sim, um título muda tudo. Caso ganhe, estes fatores citados por Carlisle fará com que Nowitzki ganhe posições entre os Top atletas da história da NBA. No ponto de vista do treinador, essas duas características já são suficientes para estar no Top 10, porém é preciso um gesto para alterar o verdadeiro quadro: levantar a taça.


Nowitzki acredita que agora é o momento, esta é a temporada. Na super lista de agentes livres do ano passado, o alemão estava nela. Optou por ficar mais quatro anos em Dallas e assinou um contrato de US$ 80 milhões. O time buscou reforços e fez uma ótima campanha na temporada 2010-11, terminando em 3º no Oeste com 57 vitórias em 82 jogos.

Individualmente Dirk considera este campeonato como melhor da sua carreira, mesmo com números abaixo da média e mesmo incluindo 2006-07 quando foi o MVP da temporada regular com 24.6 PPJ, 8.9 RPJ e 3.4 APJ. Os Mavericks foram o primeiro do Oeste com 67 vitórias, mas perderam na primeira rodada dos playoffs para o Golden State Warriors.

A prematura eliminação contradiz a campanha da temporada anterior quando os Mavs chegaram às Finais. O Miami Heat ganhou o troféu de campeão após ser derrotado nos dois primeiros jogos da série. A super campanha no ano seguinte não é lembrada, pois a vexatória eliminação para os Warriors é mais marcante – pela primeira vez na NBA, numa série melhor de 7, que o cabeça de chave #8 derrotou o #1.

A equipe destas duas temporadas não era ruim. Tinha Devin Harris, Josh Howard, Jerry Stackhouse, entre outros. Porém uma reformulação completa entrou em ação e só permaneceram Nowitzki e Jason Terry, membros do atual elenco que estiveram em ambas campanhas mencionadas.


Com melhores jogadores ao seu redor (Tyson Chandler, Jason Kidd...) Nowitzki sente mais confiança em seu jogo e pode atuar com mais desenvoltura. Por mais que esta temporada seja inferior, em números, àquela que lhe deu o MVP (23.0 PPJ, 7.0 RPJ e 2.6 APJ), a percepção que ele tem é outra – talvez pelo formidável aproveitamento de 51.7% em arremessos de quadra, o melhor da carreira.

Nos playoffs Nowitzki melhora seus números e nesta pós-temporada não tem sido diferente. São 28.5 PPJ (2º cestinha atrás de Kevin Durant), 8.1 RPJ e 2.9 APJ. O ápice veio no jogo 1 das finais da Conferência quando uma estupenda precisão de arremessos pôde ser vista. Contando arremessos de quadra e lances livres, 39 bolas saíram das mãos de Dirk e somente três não passaram pelo aro: 12 de 15 FG e 24 de 24 em lances livres.

Rumo às Finais, Dirk compreende que esta é a oportunidade mais real que a de 2006. Ele, que acompanhou o processo de avivamento da franquia e fez parte da transformação de time ridicularizado a time respeitado, assume o papel de líder e reconhece ser a face do clube – dentro e fora de quadra. Talvez de forma indireta Nowitzki abraça o time que o escolheu para estar na linha de frente, um líder estrangeiro entre tantos outros forasteiros e americanos. Demorou a falar inglês com fluência, mas hoje sente mais firmeza ao dá uma bronca ou um incentivar companheiros.

Quem é o responsável por isso, por antever o que Nowitzki poderia entregar para franquia e mensurar seu potencial quando ainda era imaturo, atende pelo nome de Don Nelson. Na posição de treinador do Dallas em 1998 ele exigiu uma troca na noite do draft daquele ano. Sua equipe tinha a 6ª escolha e ficou com Robert “Tractor” Taylor. Três escolhas depois o Milwaukee Bucks selecionou Nowitzki e imediatamente Nelson orquestrou a troca dos novatos.

O resto é história.

Tudo o que Nowitzki fez até agora na NBA o credencia para estar na elite assim que encerrar sua carreira. Na lista dos maiores cestinhas da história ele é o atual número 23 e pode (e deve) subir mais posições. Quem chegou mais perto da realidade foi Mark Cuban, dono dos Mavs, que disse numa entrevista a uma rádio local que Nowitzki será um Top 10 assim que se aposentar.

Faltam conquistas e mais números. Top 10 hoje ele não é

Noch Nicht.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 por FlynetPictures
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© 3 Andrew D. Bernstein / Getty Images


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PS: “Noch Nicht” significa “Ainda Não” em alemão

2 comentários:

Anônimo disse...

Prezado,

Sou da época em que o Mavs era o saco de pancadas da NBA. Draft após Draft o time mantinha a mesma história. Lembro nos anos 90 (talvez 1993) um colunista da Folha (que escrevia às terças) comentou a respeito da aquisição de um software por parte do Mavs que identificaria qual a sequência de ação dos craques da época (Michael Jordan principalmente). Ele dizia que isto revolucionaria o sistema defensivo do time. Mas acho que o que realmente fez diferença foram as pessoas.
Em relação aos Top 10 com títulos e sem títulos, em relação a este último existem grandes jogadores (incluiria na sua lista Patrick Ewing, Chris Mullin, Reggie Miller). Mas temos que ter cuidados com jogadores que brilharam em alguns playoffs mas foram incapazes de se destacarem. Neste caso lembro do Sean Payton do Sonics.
Abraços,
Tibúrcio Barros

Rafael David disse...

Tibúrcio é Gary Payton, que tentou ser campeão no Lakers com Karl Malone e não conseguiu....

Agora, depois da partida de ontem...

Meu Deus do céu, só faltou fazer chover!

O Alemão é o CARA!

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