LeBron James não é o Corinthians... mas o Corinthians pode ser o Miami Heat


Aprendemos no ano passado que o LeBron James não é o Corinthians que precisa de um título para afirmar sua grandeza. Em 2012 o alvinegro paulistano conquistou a Copa Libertadores da América e o Miami Heat, time do LeBron James, ganhou o troféu Larry O’Brien de campeão da NBA. Na defesa do título, o Heat passou por uma adversidade que ensina como o Timão pode eliminar o clube argentino Boca Juniors após perder o primeiro jogo das oitavas de final (1 a 0).

Dois aspectos circundaram o Heat que muitos confundem, mas uma linha frágil os separa: arrogância e confiança. Na primeira rodada do atual playoffs, o time de Miami, número 1 da Conferência Leste, enfrentou o número 8, Milwaukee Bucks. Um dos principais atletas dos Bucks, o armador Brandon Jennings, disse antes da série eliminatória que seu time venceria a equipe de LeBron em seis jogos (4 vitórias contra 2).

Declaração de um arrogante.

Pior foi que, após duas partidas nas quais o Heat venceu os Bucks com uma diferença combinada de 35 pontos, Jennings apareceu em rede nacional de televisão e reforçou sua ilusória opinião – perdeu os dois jogos seguintes por um combinado de 24 pontos.

O arrogante é aquele que, falando um português claro, não se enxerga. Aquele que pensa de si mesmo mais do que deveria. Aquele que acredita ser o que não é. Há uma discrepância espacial entre Heat e Bucks: um é o melhor time da NBA e o outro... bem, são os Bucks. Evidente que Jennings não apareceria em frente aos microfones e diria: “Olha, vamos perder 4 jogos do Miami e vamos levar um show dos caras”. Porém existe diferença entre injetar confiança nos companheiros de elenco e ser insolente.

Miami avançou fácil para a fase seguinte, sem dificuldades. Então encontrou o Chicago Bulls, clube que mais deu trabalho ao Heat na era LeBron – Chris Bosh – Dwyane Wade. O tricolor de Chicago, inclusive, terminou com a sequência de vitórias seguidas do Heat em 27 partidas, segunda maior da história da associação.

No primeiro duelo do atual confronto, em Miami, o Chicago veio numa vibe mais de playoffs do que o Heat; derrotou o Brooklyn Nets em 7 jogos. Mesmo com inúmeros desfalques, os Bulls derrotaram o rival, saindo na frente na série e revertendo o mando de quadra.

Evidente que não ficaria por isso só.

O jogo 2 foi um massacre do Heat, deu dó e a vitória deveria valer duas. Em determinado momento da partida o Heat estava 45 pontos – 45 (!!!) – a frente dos Bulls. Quando faltava 3:42 para acabar o primeiro tempo, o placar estava favorável ao Miami, 42 a 38. Aí o Heat marcou 62 pontos contra 20...

Isso levou Nate Robinson, armador do Chicago, a dizer: “Eles [Heat] são os atuais campeões do mundo e jogaram como tais”.

Na coletiva pós jogo Wade explicou a mudança de atitude do seu time:

Passar três meses sem nenhuma adversidade não é o que estamos acostumados. Essa é a primeira no campeonato desde iniciá-lo com 11v-11d fora de casa. Precisavamos olhar no espelho e perguntar: Por que estamos aqui? Hoje fizemos um ótimo trabalho impondo nosso ritmo”.

No jogo 3 Heat venceu por 10 pontos e colocou ordem na coisas, recuperando o mando de quadra.

Os defensores do título precisavam de um revés para acender a luz de alerta. Era necessário perder em casa para que o foco voltasse a ser um só: repetir a dose. A superioridade do Heat é grande e sobrepor os adversários traz suas desvantagens. Um baque foi suficiente e a confiança entrou em ação.

O confiante sabe de si mesmo exatamente o que deveria saber.

Heat sabe que é o melhor time da NBA, sabe que tem condições de levantar novamente o troféu Larry O’Brien. Mas é preciso mostrar isso diariamente, atuar como de fato são. Entender isso é fundamental.

O Corinthians pode levar essa lição para o jogo do dia 15 de Maio contra o Boca, em casa no Estádio do Pacaembu. A superioridade do Corinthians em relação ao time argentino é inegável. Só que se não for mostrado em campo...

O pensamento do Timão deve ser o da confiança e não da arrogância. Na toada do somos melhores e vamos mostrar os porquês. Quem venceu o Boca na decisão da última Libertadores? Quem ganhou a Libertadores de forma invicta? Qual clube é o atual campeão do mundo? Perguntas ideais a serem feitas no vestiário antes da partida desta quarta.

Confiança é conhecer plenamente seu potencial. O Corinthians além de ter mantido o elenco vencedor de 2012, melhorou com os reforços que trouxe. Logo o poder de decisão aumentou. Os jogadores brasileiros têm de compreender que não é menosprezo afirmar qualidades e virtudes de seu time – desde que, de fato, a equipe seja boa.

Os Bulls ajudaram o Heat ao vencer o jogo 1. Apertaram o botão nitro a favor do adversário. A vantagem que o Boca tem contra o Corinthians pode ser nada caso o clube brasileiro se comporte como supremo que é.

Assim como o Heat fez.


(GL)
Escrito por João da Paz

O Logo da NBA e o Golden State Warriors


Em meio a tantas franquias de representatividade histórica na maior e melhor liga de basquete do mundo, os Warriors passam despercebidos. Apesar de ter rodado os Estados Unidos de costa a costa – esteve em Filadélfia (1948-1962), San Francisco (1962-1971), um ano em San Jose (1972) até fincar lugar na atual sede em Oakland – o clube tem uma base fiel de torcedores e tradição, com mais títulos que o New York Knicks e empatado em quinto na lista de campeões com 3 conquistas.

O problema é que o retrospecto recente não ajuda. Tentaram entrar na modernização da NBA ao modificar o escudo da franquia e ser mais contemporâneo, porém os resultados em quadra não ajudaram, figurando sempre os piores times da associação na metade da década de 90, começo dos anos 00’s. Isso após a saída de Chris Mullin (membro do Dream Team) e Chris Webber (novato da temporada 1993-94, última vez que os Warriors se classificaram para os playoffs antes de 2006-07).

Poucas coisas boas aconteceram nesse período. Como destaque teve o prêmio do Gilbert Arenas de Jogador de Maior Evolução no campeonato de 2002-03. Chega 2006-07 e o mesmo troféu é dado a Monta Ellis, ano que os Warriors voltaram aos playoffs após longo hiato e conquistaram um feito raro: era o cabeça de chave número 8 e derrotou o Dallas Mavericks na primeira rodada da pós-temporada, time que se classificou com a melhor campanha na Conferência Oeste.

Na sequência veio outra má fase em quadra, que andava de mãos dadas com uma má gerência na administração da franquia. O então dono dos Warriors, Chris Cohan, que comprou a franquia em 1995 por US$ 119 milhões, vendeu o clube por US$ 450 milhões em Julho de 2010 para um grupo de investidores liderado por Joe Lacob, que era parceiro minoritário do Boston Celtics.

Lacob tratou de reestruturar o departamento de diretores do clube e do setor de basquete. Um ano de limpeza passou para que ele tomasse a mais sábia das decisões: contratou Jerry West em Maio de 2011.

West é uma lenda viva da NBA. Seu apelido, O Logo, diz muito sobre sua importância – o símbolo da NBA é baseado em sua silueta quando atuava pelo Los Angeles Lakers. West tem um currículo fora do comum e é obrigatório descrevê-lo:

- Campeão estadual de basquete no nível escolar em West Virginia; duas vezes All-American na universidade West Virginia; MVP da final da NCAA em 1959 (WVU perdeu para Califórnia); foi capitão da seleção americana de basquete medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1960.

- Jogou 14 anos na NBA defendendo os Lakers, em todas as temporadas foi nomeado para o Jogo das Estrelas.

- Conquistou o primeiro títulos dos Lakers em Los Angeles (1972) – os primeiros 5 títulos da franquia foi quando jogava em Minneapolis, Minnesota.

- Foi MVP das Finais de 1969 mesmo com a derrota dos Lakers para o Boston Celtics.

- Diretor de basquete dos Lakers entre 1982 e 2000, ganhou sete títulos e o prêmio de Executivo do Ano em 1995. Trouxe para Los Angeles Kobe Bryant e Shaquille O’Neal.

- Presidente das Operações de Basquete do Memphis Grizzlies entre 2002 e 2007, venceu outro prêmio de Executivo do Ano em 2004, quando os Grizzlies foram aos playoffs pela primeira vez.

E em dois anos transformou os Warriors.

West tem 74 anos, idade que não permite acompanhar o cotidiano frenético de uma franquia. Ele trabalha como um conselheiro nas decisões diretas de basquete, mas seu cargo oficial é membro do Comitê Executivo.

Trabalha da sua casa em Los Angeles, no sossego.

Suas indicações e conselhos trouxeram resultados positivos e imediatos. Gosta de palpitar no draft e dois titulares do time atual são suas indicações: Klay Thompson e Harrison Barnes. Fora isso assumiu a escolha que os Warriors um dia precisava fazer e tomou a frente do imbróglio: Monta Ellis ou Stephen Curry.

Ambos possuem habilidades peculiares, entretanto muito similares. Em Oakland a conversa dos torcedores era em prol de mantê-los. Sim, ambos em quadra atraiam público e causavam confusão nos adversários sobre quem merecia mais atenção na marcação. Só que um time competitivo e equilibrado não tem em quadra dois jogadores de estilos parecidos e que custam muito dinheiro na folha salarial. A lógica é escolher um para manter no elenco e trocar o outro por jogadores complementares.

Mas e aí, Ellis ou Curry?

Não bastava optar por um, o outro teria de ter valor no mercado para trazer bons atletas em troca. Assim West usou sua habilidade de gerente e manteve Curry, mandando Ellis para o Milwaukee Bucks por Andrew Bogut, escolha número 1 do draft de 2005. Bogut trouxe lesões com ele que o limitou em produtividade, contudo mostrou poder de decisão no jogo chave contra o Denver Nuggets que levou os Warriors à segunda fase da atual pós-temporada: Bogut anotou 14 pontos e pegou 21 rebotes.

Para comandar o time West bancou o ex-jogador Mark Jackson, sem experiência como treinador e estava exercendo trabalho de comentarista na ESPN e ABC. A evolução do clube foi nítida, passando de um aproveitamento de 34,8% em 2011-12 para 57,3% em 2012-13.

West não tem o poder de opinião final nas decisões operacionais de basquete dos Warriors, Mas Lacob, ou qualquer outra pessoa, vai contradizer O Logo? São conselhos que valem ouro e provam ser eficientes. A torcida em Oakland agradece e mostra um apoio incrível, tomando de Oklahoma City o lugar mais difícil de jogar contra a equipe da casa.

E claro que os fãs apoiam mais quando o time tem condições de vencer e West contribui para que os Warriors não tenham apenas uma temporada isolada de sucesso, mas que possa se manter competitivo e relevante, honrando a rica história da franquia.


(GL)
Escrito por João da Paz