LeBron James é o melhor jogador da NBA pela quarta temporada consecutiva

No campeonato de 2008-09 e 2009-10, LeBron James ganhou o troféu de MVP. Campeonato passado a mídia montou um golpe de ”informações” e fabricou Derrick Rose como melhor jogador. Na atual temporada não tem jeito: LeBron = MVP.

Levar o terceiro MVP seguido seria histórico, mas receber a honraria agora também será marcante: somente Larry Bird, Magic Johnson, Kareem Abdul-Jabbar, Bill Russell e Wilt Chamberlain venceram três vezes a disputa de melhor jogador da NBA num período de quatro temporadas.

A votação não será unânime porque ainda existe gente rancorosa e idiota que não percebe o óbvio. É incompreensível alguém que acompanha profissionalmente a NBA votar em outro jogador, a não ser LeBron, como MVP de 2011-12.

Só por “birra” mesmo. Doc Rivers, treinador do Boston Celtics, que entende mais de basquete do que eu e você, disse: “Se ele [LeBron] não ganhar [o MVP], só pode ser porque estão com ‘birra’ dele”.

A mesma “birra” que fez Rose MVP do ano passado. Claramente o melhor jogador foi LeBron, mas criaram o armador do Chicago Bulls como “MVP” – como visto aqui no Grandes Ligas. Bill Simmons, renomado jornalista da ESPN e especialista em NBA (tem voto na eleição de MVP), explicou o que aconteceu na temporada passada:

LeBron teria a chance de ter quatro MVP’s seguidos se ‘A Decisão’ não tivesse ocorrido. A frase ‘Não acho certo votar nele, escolho o Rose’ não ganharia força, que eventualmente corrompeu muitos votantes e pessoas da mídia, incluindo eu
(Bill Simmons – NBA Trade Value, Part 2 – Grantland - 09 de Março de 2012)

Logo, quem votou em Rose pode votar em qualquer um pra ser MVP: Chris Paul, Kevin Love, Kevin Durant... Mas “Durant MVP” chama mais atenção, visto que não existe defesa para este rótulo, porém insistem em defendê-lo.

Posicionamentos esdrúxulos e sem noção tentam sustentar o tal de “Durant MVP”. São risíveis, todos, principalmente este:  “Até fez uma boa temporada igual a Durant, mas LeBron não se apresenta bem nos minutos finais das partidas”.

Então Durant é o “bonzão”? O “bonzão” que contra o Heat em Miami (4 de Abril) errou um arremesso de 2 pontos faltando 1:30 pra acabar a partida e o Oklahoma City Thunder perdendo por 93 a 94? O “bonzão” que, na sequência, errou um arremesso de 3 pontos faltando 0:16 pra acabar a partida e o Thunder perdendo por 93 a 96?

Mas Durant não é chamador de “amarelão”.

Pior é Derrick Rose. Contra o New York Knicks (8 de Abril), faltando 19 segundos pro final do jogo, Rose errou dois lances livres – NY perdendo, 88 a 91. Carmelo Anthony empatou o jogo e Rose teve a chance de vencer, mas errou um jump. Na prorrogação o armador dos Bulls errou três arremessos e cometeu um erro – NY venceu, 100 a 99.

No duelo LeBron x Rose do dia 29 de Janeiro, a manchete pós-jogo foi “Bulls desperdiça duas chances no final e Heat vence”. Quem desperdiçou estas duas chances? Rose (dois lances livres – Bulls atrás, 93 a 94; e um jump – Bulls atrás 93 a 95. Ambos os lances dentro dos 22 segundos finais).

Mas Rose não é chamado de “amarelão”. 


LeBron, após esta partida contra Chicago, disse aos jornalistas no vestiário do Heat: “Vocês avaliam os últimos minutos do jogo ou os últimos 30 segundos do jogo e esquecem que isto é um jogo completo de 48 minutos. Nós entendemos a origem disto. Entendemos o que realmente vira manchete. Este é o mundo em que vivemos".

A temporada 2011-12 do LeBron é uma das melhores da história da NBA, como a revista Sports Illustraded estampa na capa desta semana. Só se compara ao que Michael Jordan fez em 1988-89 – e Jordan só conquistou o seu primeiro título dois anos depois. Detalhe: os números desta temporada magnífica de LeBron não são muito diferentes da anterior:

2010-11: 26.7 PPJ, 7.0 APJ, 7.5 RPJ, 1.9 RPJ, 51% FG
2011-12: 27.1 PPJ, 6.2 APJ, 7.9 RPJ, 1.9 RPJ, 53,1% FG

James é o líder do Heat em pontos, assistências, rebotes e roubos de bola – em tocos o líder é Joel Anthony com 1.3 TPJ; LeBron tem 0.81 TPJ.

Resistir e não admitir que o camisa 6 do Heat é o MVP (disparado) desta temporada é burrice. Tentar ser o entendido do basquete e forjar argumentos contra o que LeBron fez nesta temporada e validar Durant, por exemplo, é um sacrifício de tolo. Porém, cada um pode opinar livremente e quem vota pode escolher quem quiser.

Em seu segundo campeonato em Miami, LeBron (que tem apenas 27 anos, é bom ressaltar), assume esse papel de liderança do time e mesmo com um possível fracasso nestes playoffs, a franquia  o manterá e irá se livrar de Dwyane Wade (30 anos e algumas lesões no currículo) e/ou de Chris Bosh. Vão escolher o certo e ficar com o melhor jogador – desde que os três estão juntos  com o Heat, somente em 5 jogos LeBron atuou sem seus dois amigos em quadra. O Heat venceu estes 5 jogos e LeBron teve média de 34.3 PPJ nesta situação.

Nas paradas técnicas, muitas vezes LeBron assume o papel de porta-voz e passa instruções ao elenco. Todos quietos. Wade admite esta postura do companheiro: “Neste ano, especialmente no quarto período, nós estamos vendo um líder vocal, o jogador inteligente que LeBron é. Seu QI de basquete é fora de série. Então é bom escutar. Principalmente eu”. (declaração dada a Tim Reynolds da Associated Press – 24 de Abril).

Quem odeia continua fazendo o que sabe melhor. Quem é inteligente aprecia.

Após o fenomenal final de jogo contra o New Jersey Nets (16 de Abril), quando LeBron marcou os últimos 17 pontos do Heat, fãs brasileiros optaram por achar um defeito nesta atuação magistral do que aplaudir. Disseram, acredite, “Ele só marcou pontos perto da cesta...”.

Pode isso, Arnaldo? Só com a santa paciência e misericórdia...

Sim, foram 17 pontos de bandejas e enterradas (e afins), mas foram 17 pontos! Seguidos! Quem já fez isto na NBA? Hum, pode ser um tal de LeBron James e os últimos 25 pontos do Cleveland Cavaliers contra o Detroit Pistons, numa dupla prorrogação de playoffs? Destacando que ambos os jogos foram fora de casa...

Em New Jersey, LeBron foi vaiado do hino nacional americano até os segundos finais do jogo. Não resistiram e começaram gritar “M-V-P”. Acabou o jogo e o eco das três letras permanecia no ginásio. Sabiamente aproveitaram o momento para admirar um jogador único e digno de ser ovacionado.

A aversão por LeBron, em muitas vezes, é de um erro que cometeu e do qual já se arrependeu, dizendo que não faria de novo: anunciar ao vivo para qual cidade levaria seu talento. Mas escolher Miami e se unir aos amigos Wade e Bosh está bem longe de ser um erro, pois conseguiu juntar o útil e o agradável. LeBron se juntou com duas estrelas da NBA formando um time de qualidade, que na primeira temporada em quadra chegaram às Finais da associação. Contudo o mais importante foi optar por um clima mais amigável, parecido com o que tinha na escola (high school).

LeBron foi criado sem pai por perto. Um dos alicerces que o segurou foi o ciclo de amigos da adolescência, firme até hoje. Em Miami ele conseguiu este ambiente de volta. No vestiário, segundo relato dos seus companheiros, todos agem como jovens, inclinados a ajudarem uns aos outros e se divertirem, porém cientes da responsabilidade que tem.

No Grandes Ligas você leu que LeBron não foi o primeiro, e nem será o último, a exercer o direito adquirido de escolher em qual time quer jogar. Estrelas da NBA que mudam de time? Mais comum do que você imagina. Quem lutou por essa alternativa foi Oscar Robertson e escolheu bem, fazendo uma parceria vitoriosa com Abdul-Jabbar em Milwaukee na temporada 1970-71. Robertson, hoje com 73 anos e conhecedor pleno do basquete, resume bem (frase dita à revista ESPN) o que acontece em volta de LeBron e dá uma dica para quem quiser ser humilde e ouvir uma lenda viva do esporte:

As pessoas deveriam reconhecer a grandeza deste jovem homem [LeBron] e deixar ele jogar basquete



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 e 2 Mike Ehrmann / Getty Images

A renovação carismática de R.R.


Rajon Rondo, armador do Boston Celtics, tem seu jeito.

Em quadra, fora dela... O tempo passa, os líderes do clube ficam velhos (Kevin Garnet – 35, Paul Pierce – 34, Ray Allen – 36) e Rondo também sente a idade chegando, mas são 26 primaveras de amadurecimento.

O alviverde tem uma carta para decidir seu futuro. Rondo, por mais que tenha uma notória representatividade no elenco, foi usado duas vezes como uma tentativa de moeda de troca (antes da temporada 2011-12 e no final da janela de transações). Como isso? Como o jogador é importante e o time quer se livrar dele?

Esta opção da franquia serviu para ver qual o valor do jogador. Foram oferecidas diversas trocas, mas nada digno de se livrar do armador titular.

Permanecendo em Boston, Rondo não sentiu um desprezo do clube, nem ligou pra isto. Numa análise típica, era pra mostrar um “corpo mole”. Só que mostrou disposição como se tivesse acertado um contrato vitalício.

Na semana final das transações, os Celtics estavam em excursão no Oeste dos Estados Unidos jogando contra os times da outra Conferência. Entres os dias 11 e 14 de Março, os adversários foram os Lakers, Clippers e Warriors e Rondo conseguiu, respectivamente, 10, 10 e 14 assistências. O dia final das transações foi de folga para o time, 15 de Março. Nada anunciado e a vida apresentou o próximo capítulo para Rondo: duelo contra os Kings no dia seguinte – 12 assistências.

À surdina, Rondo começava uma sequência histórica que na última terça, 17, completou 23 partidas seguidas com +10 assistências por jogo. Feito que criou perguntas como: “MVP?”.

Nem tanto. Contudo dá para ilustrar como é maravilhoso este momento de Rondo. Nesta linha de 23 jogos, foram 10 duplo-duplo (com +10 pontos) e dois triplo-duplo (com +10 pontos e +10 rebotes). Os seus companheiros brincam que Rondo gostar de brilhar quando tem luzes por perto, pois estes dois triplo-duplo foram em jogos televisionados nacionalmente para os EUA (via ABC).

Ele diz que não, mas quando o assunto surge, nas raras entrevistas que faz, gosta de citar um papo que teve com Pierce antes de um destes jogos que atraem uma grande audiência. O experiente ala provocou o camisa 9, mostrando que aquele era o momento de mostrar que é um armador de elite da NBA e que merece destaque.

Rondo fez isto – e faz. Gosta destas partidas especiais e de aparecer nos grandes confrontos.

Escutando Pierce é uma boa saída. R.R. atrai esta atenção dos membros mais experientes do clube e Kevin Garnett é considerado seu irmão mais velho. Nos tempos de Celtics, Shaquille O’Neal cuidava do jovem armador com tanto carinho que até o carregava no colo ao levá-lo para o vestiário.

Rondo, com isto, absorve o que pode para se tronar um líder. Ainda falta muito. Em quadra, mesmo rodeado por três “hall da fama”, quem dita o jogo é ele. Todo o elenco confia em sua visão de jogo para amar o ataque da melhor e mais eficiente forma possível. Porém ele ainda é emotivo,  uma característica importante nos carismáticos, embora é preciso canalizá-la bem para não afetar outros aspectos.


O’Neal, por exemplo, expôs uma fragilidade de Rondo no seu mais recente livro “Shaq Uncut: My Story”, lançado em Novembro do ano passado. Lá, O’Neal relata um encontro casual que os Celtics tiveram com o presidente dos EUA, Barack Obama. Ao apertar a mão de Rondo, Obama disse para Allen: “Ray, é bom você ensinar este garoto a arremessar”. Todos riram, mas Garnett, que conhece Rondo como poucos, viu que R.R. sentiu a “cornetagem” do presidente Obama – e Shaquille O’Neal  enfatiza isto na história contada, apontando que não foi qualquer um que o criticou, mas o presidente dos EUA.

Nos jogos após o encontro, Shaq disse que Rondo “encurtou o braço”, ou seja, passou a ser menos agressivo, a errar mais arremessos... Então entrou os mais experientes para acalmá-lo e tranquilizar o armador para não se preocupar de mais com a brincadeira que teve um fundo de verdade – na atual temporada, o aproveitamento de arremessos de Rondo (44,8%) só é melhor na carreira do que sua temporada de novato, 2006-07 (41.8%).

Mostra um pouco de volatilidade, mas pelo menos não esconde o que sente e mostra ser bem verdadeiro. Problemas com a confederação americana o fez desistir de participar do Mundial de Basquete da Turquia em 2010. A gota d’água, para ele, foi não jogar um amistoso, por decisão da comissão técnica, e ser o terceiro armador da seleção atrás de Derrick Rose e Russell Westbrook. Um corte precisava ser feito mesmo e Rondo se antecipou. Os EUA ganharam a competição, com Rondo se importando pouco com isto.

Hoje, ao menos para mim, ele é o melhor armador da NBA (faz parte do meu time ideal desta temporada). Ao ser perguntado se quer ir para Londres e participar dos jogos olímpicos, Rondo foi direto: “Não quero ir, porque só penso no meu clube. Gosto de aproveitar o verão” (obs: no hemisfério norte, no meio do ano a estação climática é o verão).

R.R. age com autenticidade e isto o molda como um ser único. Pode não agradar a muitos suas atitudes e nem tomar as melhores decisões quando é cobrado. Mas, dentro do elenco tem seu espaço de liderança. Basta ver como os mega astros Garnett, Allen e Pierce ouvem seu armador e respeitam sua direção com a bola laranja (quicando bem alto) sob suas mãos.

A diretoria dos Celtics, representada na pessoa de Danny Ainge, presidente das Operações de Basquete da franquia, quis negociar Rondo. Bom que não se concretizou. Que percebam R.R. como a renovação do clube, o comandante do alviverde em temporadas futuras.

Tem energia, eficácia e valia (afirmada nas recentes atuações).

Tem uma graça especial.


 (GL)
Escrito por João da Paz

Liberdade de expressão nos EUA, Fidel Castro e Ozzie Guillén

Noite de 13 de Abril de 2012. Data marcada para ser terror na vida de Ozzie Guillén, treinador do Miami Marlins, time da MLB representante do estado da Flórida. Foi o primeiro jogo em casa após a polêmica declaração do venezuelano sobre Fidel Castro, dada à revista Time:

Eu adoro Fidel Castro. Eu respeito ele. Sabe por quê? Um monte de gente quis matá-lo nos últimos 60 anos, mas aquele filho da **** está ainda aqui”.

Certo ou errado, a opinião de Guillén gerou indignação na população cubana-americana que habita na cidade de Miami. A publicação da entrevista saiu no começo da semana, porém a discussão sobre o teor dela rendeu e se esperava protestos ao redor do Marlins Park na última sexta.

Não aconteceu nada de grande proporção.

Entretanto uma pessoa compareceu para mostrar descontentamento e seu gesto é simbólico e ajuda a entender esse cenário.

Lazaro Diaz é como se chama o homem que dirigiu por 3 horas até chegar ao estádio dos Marlins. Levou o filho representando a terceira geração da família. O avô do garoto penou nas mãos do regime ditatorial de Fidel Castro. Dois tios de Lázaro foram executados pela revolução cubana. Do lado de fora do Marlins Park, ele disse:

Vim até aqui para expressar que sou contra ele [Guillén] e que o clube deveria demiti-lo. Ele tem todo direito de desfrutar da liberdade de expressão, mas não deveria ter feito uma declaração infeliz, especialmente pelo que ele [Fidel Castro] fez com nossa comunidade [cubanos-americanos]”.

Diferente do ventilado em muitos veículos, existe sim liberdade de expressão nos Estados Unidos e ela está muito bem, obrigado. Se o governo interviesse contra Guillén, isto é cerceamento da liberdade, mas quando uma entidade privada, que tem relação direta com o agente da polêmica, a história é outra.

Guillén está na primeira temporada em Miami – antes estava com os White Sox de Chicago. Lá, inclusive, demonstrou carinho por Fidel. Detalhe: era outra cidade, outro clube.

Em Miami é diferente. O alvo dos Marlins é atrair a comunidade latina da cidade. A principal contratação para o campeonato de 2012 foi um dominicano (José Reyes) e Guillén chegou justamente para reforçar esta ligação. O estádio do clube fica num bairro chamado “Pequena Havana” – Havana é a capital de Cuba.

As lojas do clube vendem camisas do treinador e a saída da peça é alta. Este simples exemplo mostra a representatividade e popularidade de Guillén. Qual clube esportivo consegue comercializar uma camisa do técnico?

Ozzie veio para somar, acabou dividindo o público do clube e multiplicando um furor que tem fundamento lógico de quem sofre/sofreu com o regime político de Fidel Castro.

Um empregado (ou colaborador, na nova linguagem de hoje) dos Marlins em hipótese alguma poderia dizer algo do tipo, pois vai contra o que a franquia quer. A punição dada a Guillén foi pouca – multa e fora de ação por cinco jogos –, deveria ter sido maior pelo estrago criado e do que potencialmente pode acontecer.

A comunidade cubana-americana e latina ensaiou um protesto para a sexta feira 13. Não houve manifestação massiva, porém algo além da fala de Lazaro aconteceu: o estádio ficou vazio no jogo contra o Houston Astros. Permanecendo isto a longo prazo, tende a ser um desastre para o clube. O Marlins Park, que estreou nesta temporada, custou US$ 515 milhões (com US$ 160 milhões de impostos). Da franquia saiu US$ 355 milhões, verba planejada para ser recuperada com público próximo da capacidade total (36 mil pessoas). Mas se o protesto consistir em não comparecer ao estádio...

E se deixarem de comprar os produtos licenciados dos Marlins?

O lado ferido pela declaração de Guillén o quer fora do clube. Sem mais.

Para alguns de nós é difícil entender, contudo é extremamente forte e dolorosa a frase de Guillén. Os cubanos-americanos, grande parte de forma direta, padeceram com Fidel Castro. Alguns tiveram parentes mortos em Cuba, alguns perderam entes queridos no caminho à Flórida via Oceano Atlântico, alguns têm familiares em Cuba que sofrem represálias por ter um membro morando nos EUA...

Não há como compreender isto sem usar a compaixão.

O esporte tem um papel influente tão profundo que causa fortes emoções. O contexto no qual Guillén vive dificultou a situação. Mas, como disse aos seus jogadores na pré-temporada, quem errar é preciso admitir ao invés de omitir.

Guillén assim fez, pediu desculpa e foi contrito.

Não resolveu muito, embora se expôs para amenizar o dano.

Nos Estados Unidos outras celebridades mostraram admiração por Fidel em diversas formas, porém não dentro de um ambiente latino.


Bud Selig (comissário da MLB) organizou um jogo em Cuba em 1999 e sentou ao lado de Fidel.

Distintas situações.

Não houve exagero na reação dos cubanos-americanos e latinos contra Guillén. Pedir demissão dele também não está fora da realidade. Conforme os dias passam, a raiva pode diminuir, mas não irá desaparecer.

Tudo isto por uma declaração? Sim, porque não foi uma declaração qualquer. Ter liberdade de expressão traz no kit a responsabilidade pelo o que é dito. Quem vive numa democracia é livre pra fazer o que bem entender, só que neste regime também existem leis e regras – quem as ferir é punido.

Como dito anteriormente, ninguém do governo americano ou de qualquer esfera política repreendeu Guillén por dizer que admira Fidel Castro, assim como não há punição a quem criticar Barack Obama, presidente dos EUA. A liberdade de expressão que existe é constitucional.

Em ambientes empresariais a ordem é outra. O colaborador que falar mal da empresa vai ser punido de acordo com a gravidade da situação. É assim em qualquer organização séria. Os Marlins puniram Guillén mais como resposta ao caos criado, visto que a repreensão não corresponde ao equívoco cometido.


(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Ike Ehrmann / Getty Images

Por um melhor produto NBA, adeus aos imaturos


Anthony Davis (foto) conquistou o título da NCAA temporada 2011-12. Com 19 anos de idade, deixa a Universidade Kentucky e vai para a NBA. O talentosíssimo jogador é mais um de tantos que entram na universidade somente para cumprir uma regra da NBA que é falha é precisa ser mudada.

Desde o draft de 2006, os atletas inscritos na seleção tem de ter 19 anos ou mais e com um ano completo após a conclusão do high school (ensino médio). Esta medida foi tomada para impedir que meninos de 18 anos fizessem a transição direta entre o high school e a NBA.

Este imbróglio tem muitas nuances para se discutir e você terá a oportunidade de vê-las aqui. Os intere$$e$ são enormes, pela NBA e NCAA, mas a parte mais interessada nesta história é a NBA, porque seu produto corre o risco de desvalorizar com garotos inexperientes, na vida e no basquete, envolvidos com sua marca.

Jogador de basquete necessita cumprir certos requisitos para assinar com uma franquia além de saber arremessar, correr e quicar uma bola laranja? Não. Contudo a NBA é o mais alto nível de excelência em basquete no mundo e está no topo das ligas mais bem administradas. Por isso o cuidado com quem vai estar em quadra é mais que um “qualquer” controle de qualidade.

Num período de 10 anos, entre 1995 e 2005, a NBA ganhou bons talentos que fizeram a transição high school-NBA. O ano de 1995 foi quando Kevin Garnett entrou no draft sem passar pela NCAA.

Mas para cada Kobe Bryant, LeBron James, Dwight Howard tem um Leon Smith, Korleone Young, Kwame Brown – todos estes entraram na NBA após concluir o ensino médio.

Nos extremos, das grandes estrelas e das decepções, há os medianos. Só que o risco de aceitar este tipo de jogador é muito grande para a integridade da liga. E David Stern, comissário da NBA, pensou num aspecto social ao buscar mudar a regra de inscrição para o draft, pois os olheiros (scouts) das franquias lotavam os ginásios das escolas e aliciavam pais dos meninos mais habilidosos.

Então foi proposta a atual ideia: para um jogador estar apto para entrar na NBA, precisa ter no mínimo 19 anos e um ano completo após a conclusão do ensino médio.

Isto criou outro problema.

A regra não determina onde o jogador deve atuar, pode ser na NCAA, Europa, D-League (liga de desenvolvimento da NBA)... Na maioria das vezes, os garotos escolhem uma universidade, porém vestem o uniforme por um ano e vão embora – e ficam na sala de aula só um semestre.

Assim, aquele jogador que sai do high school “pronto pra NBA” vai para a NCAA só por ir. Kevin Garnett (foto abaixo), por exemplo, não entrou numa universidade porque não conseguiu passar no vestibular (chamado de SAT). Derrick Rose também não atingiu a nota de corte suficiente para cursar a Universidade Memphis, teve que forjar o exame, a fraude foi descoberta e a universidade punida.


A NBA ganhou fenomenais jogadores a partir de 2006 com esta atual regra no draft. Mas para cada Derrick Rose, Kevin Durant, Kevin Love tem um JJ Hickson, Cory Joseph, Daniel Orton – todos entraram na NBA após ficarem um ano na NCAA.

A atitude ideal da NBA e agir igual à NFL e só permitir que atletas que participarem da NCAA por no mínimo três anos estejam aptos para ingressar na NBA. Não pode deixar aberto o local que o atleta pode jogar, pois a tendência é fortalecer uma liga rival, no caso a Euroliga. Com opção de ir para um clube e ganhar dinheiro ou entrar na universidade, a primeira escolha é a mais atrativa. Mesmo que o jogador volte da Europa após três anos e entre na NBA, por três anos a Europa ficou com grandes nomes do basquete americano – e lucrando muito com isto, diga-se.

Entretanto, esta é uma proposta que desagrada o sindicato dos atletas da NBA. Nas negociações do mais recente acordo trabalhista, o sindicato queria voltar ao modelo antigo, permitindo que jogadores com mais de 18 anos e imediatamente após concluírem o ensino médio possam estar disponíveis para as franquias da NBA.

Logo, como assinala Adam Silver, chefe operacional da NBA, o modelo vigente é um meio termo que encontraram, porém longe do ideal.

Pensando nos jogadores, John Calipari, treinador da Universidade de Kentucky, propõe que se um jogador ficar mais de dois anos na NCAA, os clubes da NBA garantem a este atleta um porcentagem maior na assinatura do contrato do que comumente é feita. Esta visão é para tirar o medo dos jogadores que temem perder dinheiro ficando mais tempo na universidade. É uma ideia original e interessante, embora difícil de se concretizar.

Outra ideia é adotar o modelo que a MLB usa, e tem o apoio do treinador Tom Izzo da Universidade Michigan State. A MLB permite que um jogador saia direto do high school para a liga, mas se optar por entrar na universidade é obrigado ficar por três anos na NCAA, se tornando deste modo elegível para o draft.

Isto agradaria gregos e troianos. Um cara como Derrick Rose não perderia tempo na universidade, estudando forçadamente um semestre só para poder se inscrever no time de basquete e, uma vez que o campeonato começa, desaparece do campus e não participa das aulas.


David Stern diz que a NBA não se preocupa socialmente em relação a esta tese aqui abordada. Mas a NBA tem responsabilidade sim com a sociedade. O próprio Stern sabe disto e agiu em prol dela ao impor o “código de vestimenta”, em Outubro de 2005, nos jogadores da NBA em entrevistas coletivas e quando estão em prédios e lugares públicos representando a liga. Era um festival de roupas e trajes inadequados que manchava a imagem da liga perante jovens principalmente, que projetam nos atletas profissionais um modelo, um exemplo.

Qual mensagem é passada ao permitir que um jogador se torne profissional sem passar pela universidade? Qual mensagem é passada ao exigir que um jogador se torne profissional após cursar três anos (mínimo) de universidade?

A NBA é uma empresa privada e tem liberdade para decidir o que bem entender. A repercussão que estas decisões tem, porém, faz com que a liga pense com cuidado qual posição tomar. Ir além de negócios e intere$$e$ pode colocar a NBA numa posição exemplar, exigindo que aqueles responsáveis por desenvolver seu produto (o jogo de basquete) tenham uma educação superior, um comportamento digno. Sendo um espelho para os mais novos e elevando a importância do estudo e aprendizado acadêmico.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Ronald Martinez / Getty Images