Estrelas da NBA que mudam de equipes para conquistar títulos? Mais comum do que você imagina

Demorou, mas a temporada 2011-12 da NBA começa no dia de Natal após um longo e desgastante lockout. As partes envolvidas chegaram num acordo e projetaram um campeonato com 66 jogos iniciando nesta data super especial.

No período de preparação, a conversa nos bastidores girou em torno de duas estrelas da liga, Chris Paul (armador) e Dwight Howard (pivô) que mostraram interesse em sair da suas equipes, New Orleans Hornets e Orlando Magic respectivamente, para ingressar em times com potencial real de disputar um título, seja agora ou num futuro próximo. Ambos os jogadores tem o direito de escolher onde quer jogar e decidir sair do lugar que estão. Mas muitos, sem conhecimento real de causa, criticam este tipo de decisão por achar egoísta. Argumentam que está sendo feita a opção pelo caminho mais fácil para o título.

Ora, ora... Por que não? Se há uma possibilidade de ir para um melhor time, cercado de jogadores com mais qualidade, não é lógico não escolher mudar só para manter uma falsa moral. Paul estava a caminho dos Lakers, mas a NBA, enquanto dona dos Hornets, não permitiu a troca. O armador acabou fechando com o Los Angeles Clippers, que está longe de ter um plantel pronto para o título, mas será um dos times mais interessantes desta temporada.

Howard quer mais. Quer se juntar ao atual campeão Dallas Mavericks, ou ao Los Angeles Lakers, ou ao New Jersey Nets. Qual o problema? Zero. Embora este interesse tenha também em anexo o desejo de morar em outra cidade.

A história da NBA está recheada de estrelas que mudaram de clube só para ser campeão em outro lugar. Em algumas destas trocas estão envolvidos vencedores de MVP! (prêmio dado ao melhor jogador da temporada). Isto porque ninguém é campeão sozinho, o bloco do “EU” não entra nesta avenida...

Muitas equipes vencedoras da associação tinham estrelas sim no elenco, mas rodeado de três ou quatro jogadores de extrema habilidade. Se não possuía uma estrela, o conjunto fazia a diferença. Veja estes exemplos:

Los Angeles Lakers cinco vezes campeão – era Showtime (1979-80, 1981-82, 1984-85, 1986-87, 1987-88)
base: Magic Johnson, Kareem Abdul-Jabbar, Jamaal Wikes, Norm Nixon, Kurt Rambis, Byron Scott e Michael Cooper


Detroit Pistons duas vezes campeão (1988-89, 1989-90)
com Isiah Thomas (camisa 11), Bill Laimbeer (camisa 40), Joe Dumars (camisa 4) e Dennis Rodman (camisa 10)

Chicago Bulls três vezes campeão (1990-91, 1991-92, 1992-93)
com John Paxson, Michael Jordan, Scottie Pippen, Horace Grant e Bill Cartwright

Houston Rockets campeão em 1993-94
com Kenny Smith, Vernon Maxwell, Robert Horry, Otis Thorpe e Hakeem Olajuwon

Los Angeles Lakers três vezes campeão (1999-00, 2000-01, 2001-02)
base: Kobe Bryant e Shaquille O’Neal. Mas contou com outros vencedores da NBA nos títulos conquistados: o titular Ron Harper em 1999-00 (campeão anteriormente com os Bulls), o titular Horace Grant em 2000-01 (campeão anteriormente com os Bulls) e o titular Robert Horry em 2001-02 (campeão anteriormente com os Rockets)

Detroit Pistons campeão em 2003-04
com Ben Wallace, Rasheed Wallace, Tayshaun Prince, Richard Hamilton e Chauncey Billups

San Antonio Spurs campeão nos anos ímpares da década passada (2003, 2005, 2007)
base: Tony Parker, Manu Ginóbili, Bruce Bowen e Tim Duncan

Dallas Mavericks campeão em 2010-11
com Jason Kidd, Shawn Marion, Dirk Nowitzki e Tyson Chandler. A diretoria não perdeu Nowitzki para o mercado de agentes livres e fez uma troca com o Charlotte Bobcats por Chandler

Ao longo da história muitas equipes mesmo com um time forte contrataram estrelas para fortalecer mais ainda o conjunto. Uns atletas chegaram para completar, outros para liderar. Até o final da década de 60, as franquias da NBA faziam trocas entre si normalmente, mas o mercado de jogadores era bem restrito, eles não possuíam muita liberdade para escolher clubes. Muitos ficavam a carreira toda com a franquia que os pegaram via draft. Um jogador decidiu processar a NBA e lutar pelos direitos da classe. Oscar Robertson, então jogador do Cincinnati Royals (atual Sacramento Kings) e presidente do sindicato dos atletas, protocola a ação em 1970. Primeiro passo para a associação criar uma nova regulamentação para os agentes livres e jogadores novatos, porém tal mudança só veio a ser posta em prática 6 anos depois.

Entretanto, a franquia Royals estava preocupada com o que poderia acontecer com Robertson, que poderia sair e o clube ficar sem nada em troca. Então o treinador Bob Cousy, ex-jogador da NBA e membro do Boston Celtics super campeão da década de 50 e 60, começou a oferecer Robertson, (MVP de 1964, novato do ano em 1961 e 3 vezes MVP do Jogo das Estrelas) para as grandes equipes da NBA como Lakers e Knicks. O time de Los Angeles até queria Oscar, mas não iria ceder nem Jerry West e nem Wilt Chamberlain.

Num movimento que surpreendeu a todos do basquete, os Royals fecharam com o Milwaukee Bucks, uma franquia recém chegada na associação. Era o destino preferido de Robertson porque jogaria ao lado de Lew Alcindor (depois mudou de nome para Kareem Abdul-Jabbar), melhor jogador de high school (ensino médio) da história do basquete americano e formado na Universidade da California, Los Angeles (UCLA), 3 vezes campeão universitário e 3 vezes o melhor jogador do Torneio NCAA. No primeiro campeonato juntos, o de 1970-71, foram campeões. Na foto abaixo Kareem é o camisa 33 e Oscar o camisa 1.


Em 1980, os Celtics tinham a primeira escolha do draft e resolveu trocá-la (o que não é usual). O presidente do clube, Red Auerbach, fechou uma transação com o Golden State Warriors. A franquia californiana mandou para Boston o popular pivô Robert Parrish e a 3ª escolha do draft ’80 pela 1ª escolha do draft’80 e outra escolha de primeira rodada. Os Celtics, nesta terceira escolha, pegaram Kevin McHale e junto com Larry Bird formaram o original “Big 3” de Boston. Parrish, McHale e Bird é considerado um dos melhores trios da história da NBA. Conquistaram 3 títulos juntos.

A temporada 1981-82 teve Moses Malone, pivô do Houston Rockets, como MVP. A franquia texana entrou num processo de reconstrução e permitiu que seu principal jogador explorasse o mercado, pois ele era agente livre. Malone escolheu o Philadelphia 76ers que era formado por um quarteto fora de série, vice campeão em 82: Julius Erving, Andrew Toney, Bobby Jones e Maurice Cheeks. Resultado da brincadeira: Sixers campeão da temporada 1982-83 e prêmio de MVP para Moses Malone, único jogador na história da NBA que conseguiu ganhar dois prêmios de MVP consecutivos por duas equipes diferentes.



O Boston Celtics, mesmo com o “melhor trio da história” perdeu para este Sixers nos playoffs. Toney foi um fator na série, comandando a armação ofensiva e marcando bem na defesa. Auerbach, presidente do alviverde, buscou alguém para ser o armador principal da equipe e que jogasse no mesmo nível de Parrish, McHale e Bird. Impossível? Não. Auerbach tirou do Seattle SuperSonics o armador Dennis Johnson, que foi campeão pela franquia e MVP das Finais de 1979. Johnson, conhecido por enterrar bem e ser um cestinha, teve que mudar seu estilo de jogo para se adaptar às feras que estavam ao seu lado, o que ele fez com maior prazer. Os Celtics chegaram novamente às Finais e encontraram o rival Los Angeles Lakers. Boston venceu a série decisiva por 4 a 3 e Dennis foi essencial na conquista por anular o jogo do craque Magic Johnson (foto abaixo). Nos últimos quatro confrontos Magic ficou com média de apenas 17 pontos e cometeu erros cruciais no jogo 4 e 7, causados pela ferrenha marcação de Dennis. Assim, sempre quando os Lakers jogavam contra os Celtics, o armador dos Lakers era chamado de “Tragic Johnson”.


Em Portland, Bill Walton virou agente livre em 1985 e entrou em contato com os finalistas da NBA: Lakers e Celtics. Walton (MVP de 1978, MVP das Finais de 1977 e campeão com o Trail Blazers) queria mudar de time, mas ir para um com condições de disputar títulos. Ele escolheu os Celtics, mesmo tendo que ficar na reserva. Pois bem, vindo do banco, Walton jogou 80 jogos, ganhou o prêmio de Sexto Homem (melhor reserva) e foi campeão com seu novo clube em 1985-86.

LeBron James recebeu críticas por querer jogar com seu amigo Dwyane Wade. E Clyde Drexler com Hakeem Olajuwon? Drexler, então ala do Portland em 1995, estava desiludido com a campanha ruim do seu time, ficando fora da disputa do troféu da associação. Ele pediu para ser trocado e o clube atendeu, fazendo a transação com a cidade na qual Drexler fez a carreira universitária: Portland recebeu Otis Thorpe e Houston recebeu Clyde Drexler. Assim os amigos de longa data, juntos, conseguiram o segundo título seguido dos Rockets em 1994-95. No vídeo abaixo, que mostra os segundo finais do jogo 4 contra o Orlando Magic e a entrega do troféu aos Rockets, Hakeem primeiro agradece a Deus e diz que estar feliz por Clyde ganhar o título pela primeira vez.



Com a volta de Jordan à NBA em 1995, os Bulls precisavam reformular o elenco para torná-lo forte novamente. Uma das perdas maiores foi a saída de Horace Grant, mas a diretoria logo providenciou um substituto. Foi uma aposta alta, mas fizeram uma negociação com o San Antonio Spurs e trouxeram o veterano de 34 anos Dennis Rodman (então duas vezes campeão com o Detroit Pistons e duas vezes eleito o melhor defensor do ano – 1990 e 1991). Assim Rodman está na história por fazer parte da equipe que venceu 72 jogos na temporada regular de 1995-96. Os Bulls ganharam o primeiro de outros três campeonatos; e Rodman abocanhou mais um titulo de principal reboteiro.

Shaquille O’Neal, três vezes campeão com os Lakers e MVP das Finais nas três ocasiões (foi MVP da temporada regular de 2000), saiu de LA em 2004 em direção de Miami numa super troca que deu aos Lakers os seguintes jogadores: Caron Butler, Lamar Odom, Brian Grant e uma escolha de draft. Assim que chegou em Miami, o fanfarrão O’Neal prometeu um título para o Heat, empolgado pela nova dupla formada com Dwyane Wade. Chegaram às finais da Conferência Leste mas perderam no jogo 7 para o Detroit Pistons. Contudo na temporada seguinte (2005-06) veio o título prometido, vencendo os Pistons na final do Leste e o Dallas Mavericks na decisão da NBA.

Na loteria do draft de 2007, os Celtics esperavam ficar numa boa posição. A quinta escolha foi entregue à franquia que decidiu trocá-la com o Seattle SuperSonics. Além da escolha, mandaram Wally Szczerbiak e Delonte West por Ray Allen, grande nome da associação e figura importante para Seattle. Dois meses depois os Celtics ousaram ainda mais e fez uma troca maluca para tirar Kevin Garnett (MVP da temporada regular de 2003-04) do Minnesota Timberwolves. Cinco jogadores foram de Boston para Minnesota: Al Jefferson, Sebastian Telfair, Gerald Green, Theo Ratilff e Ryan Gomes. A adição de Garnett e Allen ao talento de Paul Pierce deu o título para os Celtics na temporada 2007-08.

Kobe Bryant, jogador dos Lakers e três vezes campeão no começo da década passada, estava insatisfeito com as ações da diretoria em relação a contratações de jogadores e em 2007 pediu que fosse trocado. Os “homens de terno” rapidinho abafaram o caso e procuraram prometer reformulações no elenco nas temporadas seguintes. Kobe ficou e na segunda metade da temporada 2008-09 viu uma atitude que trouxe benefícios à franquia. Também numa troca bem maluca, os Lakers mandaram para o Memphis Grizzlies quatro jogadores (Kwame Brown, Javaris Crittenton, Aaron McKie, Marc Gasol e duas escolhas de draft de primeira rodada – em 2008 e 2010) pelo ala pivô espanhol Pau Gasol. Ele se adaptou bem em Los Angeles e principalmente com o time, que ganhou 22 jogos em 27 com ele em quadra na temporada regular 2008-09. Gasol, que chegou nos Lakers com status de melhor jogador no mundial de basquete de 2006, foi campeão nessa temporada e repetiu a dose na seguinte.



(GL)
Escrito por João da Paz


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