Que mundo é este? Aquele registrado nos comerciais de margarina?
Qual ideal? Quem não busca o seu próprio bem qualquer que seja a ocasião?
Neste interminável lockout que a NBA sofre, criado pelos donos das franquias, um destes se sobressaiu nas últimas discussões por defender com veemência seu lado em detrimento dos jogadores. Normal, se o nome do cidadão não fosse Michael Jordan. Uma meia dúzia de três ou quatro logo proferiu: 'Hipócrita! Quando era jogador defendia sua classe e agora está traindo?".
Jordan defendia a classe ou interesses pessoais? Para ter mais vantagem na última paralisação da associação em 1998, ele foi linha de frente nas negociações com os donos, estendendo o que fez com o chefão do Chicago Bulls, Jerry Reinsdorf, clube que atuou em grande parte da carreira. Nos dois anos finais de contrato com os Bulls, Jordan recebeu US$ 30 milhões/ano, que veio de muita conversa pra lá e pra cá. Este tipo de experiência, e por ser uma figura emblemática, fez com que ele fosse um personagem central no lockout daquele ano.
Em prol das necessidades, Jordan batalhou para que os jogadores saíssem vencedores do acordo feito. Por que faria o mesmo agora? Na verdade ele está sendo quem sempre foi: um cara que quer vencer custe o que custar, não quer ser membro dos perdedores. Só que seu lado em 2011 é dos donos e fará de tudo para que a vantagem favoreça sua atual classe.
Não há como agradar a todos. Não tem como o dono Jordan lembrar os tempos de jogador e defender os atletas na negociação deste ano. A posição partidária dele é correta: lutar pelo que é do seu interesse. E nesta guerra, nada de empate, Jordan que vencer e bem!
Hoje o acordo na mesa de negociação é de uma divisão nos lucros da NBA em 50% para cada lado. Esta proposta foi entregue pelo comissário David Stern ao Sindicato dos Atletas (NBPA). Stern alertou para o pior, dando uma espécie de ultimato via entrevista ao SportsCenter da ESPN:
“Entendo que esta é uma ótima proposta [50-50]. Dissemos aos atletas que está ficando tarde, a opção mais racional para nós é concordar com esta oferta, tendo em vista o que tem acontecido com os nossos negócios e nossa indústria; daqui em diante a coisa só irá piorar”.
Os jogadores iniciaram as negociações querendo 57% da fatia – reduzida para 52, e agora 50. Michael Jordan é líder de um grupo de donos, entre 10 e 14 segundo o jornal The New York Times, que não aceita este acordo 50-50 e quer mais para seu lado: 53-47 a favor dos donos (esta deve ser a proposta discutida se os jogadores não aceitarem o 50-50 até amanhã). Todos estes donos que estão com Jordan são de franquias de médio ou de pequeno mercado, Herb Kohl do Milwaukee Bucks e Paul Allen do Portland Trail Blazers são exemplos. Não é a toa que querem estar do lado positivo da divisão.
Aceitar algo menos que 53-47 a favor dos donos é uma derrota para Jordan. Então por que ele iria fazer diferente? Não era pra ninguém se espantar com tal posição.
Isto ganhou uma proporção maior pela reação de alguns jogadores da NBA que criticaram Jordan através da rede social Twitter. Todos os que se manifestaram estão na faixa dos 20-26 anos, cresceram vendo Jordan dando show em quadra, imitavam sua ginga nas quadras e o idolatravam. Porém Jordan é um ex-jogador, atual dono. Não tem motivo de ser procurador de atleta nenhum. Para ele sua opinião e decisão são favoráveis ao basquete, tanto em 1998 quanto em 2011.
Seu clube, o Charlotte Bobcats, na temporada 2010-11, gastou por mês na folha salarial US$ 47.4 milhões; só o trio base do Miami Heat (Dwyane Wade, LeBron James e Chris Bosh) recebeu US$ 47.5 milhões/mês... De alguma forma Jordan quer amenizar este abismo de diferença – excluindo a incompetência na gerência, diga-se.
Nestas negociações entre sindicato, donos e comissário, calorosas e ríspidas discussões foram travadas. Certa vez Wade chegou a gritar contra Stern. As feras da NBA estão presentes e esperam o momento de dizer para Jordan o que ele disse em 1998 ao então dono do Washington Wizards, Abe Pollin: “Se você não consegue lucrar, deveria vender o clube”. Contudo, podem aguardar uma boa resposta de Jordan...
Esta declaração foi dita quando defender os jogadores tinha mais valor para Jordan do que hoje - Outro Reinado, Outras Leis. Defender os jogadores não é algo em si importante, depende do valor que cada um impõe a causa. Antes era de extremo valor para Jordan buscar tudo o que pudesse a favor dos seus companheiros. O jogo mudou, menos o apetite. Jordan vai sim buscar tudo o que puder a favor dos seus companheiros; estes foram anteriormente os jogadores, agora são os donos de clubes médios/pequenos da NBA.
Michael Jordan não luta por conceitos, não levanta a bandeira de princípios belos no papel, mas distorcidos na prática. Quem o critica por ser tão inflexível com os jogadores neste lockout 2011, vai experimentar (ou já experimentou) uma situação na qual teve que ser esperto o bastante para pensar em si e agir conforme a sua vontade.
Não vivemos num mundo ideal. Nem aqueles que supostamente devem ser exemplos vão tomar atitudes nobres como se fossem obras de um script de uma obra “não-real”. Muito menos aqueles que condenam o dono Michael Jordan e são incapazes de fazer um bem ao próximo.
Querem tirar o cisco do olho de quem está perto e/ou longe, mas não tiram a trave que está no próprio olho.
Para avançar, crescer, é preciso pensar grande, sem se prender a coisa alguma. O Brasil, por mais que tenha mazelas e imperfeições, avançou, cresceu... porque pensou grande. O presidente que moldou a carreira política discursando para companheiros trabalhadores defendendo os seus direitos contra os patrões, mudou de visão ao discursar para outros companheiros e defendê-los (os patrões no caso). Aquilo que poderia ser um desastre, antecipação do apocalipse, "foi uma marola que passou...". Quem brigou contra os empresários antigamente, defendeu os interesses destes na crise econômica no final da década passada.
O propósito? O mesmo de sempre.
Nada mudou.
Qual ideal? Quem não busca o seu próprio bem qualquer que seja a ocasião?
Neste interminável lockout que a NBA sofre, criado pelos donos das franquias, um destes se sobressaiu nas últimas discussões por defender com veemência seu lado em detrimento dos jogadores. Normal, se o nome do cidadão não fosse Michael Jordan. Uma meia dúzia de três ou quatro logo proferiu: 'Hipócrita! Quando era jogador defendia sua classe e agora está traindo?".
Jordan defendia a classe ou interesses pessoais? Para ter mais vantagem na última paralisação da associação em 1998, ele foi linha de frente nas negociações com os donos, estendendo o que fez com o chefão do Chicago Bulls, Jerry Reinsdorf, clube que atuou em grande parte da carreira. Nos dois anos finais de contrato com os Bulls, Jordan recebeu US$ 30 milhões/ano, que veio de muita conversa pra lá e pra cá. Este tipo de experiência, e por ser uma figura emblemática, fez com que ele fosse um personagem central no lockout daquele ano.
Em prol das necessidades, Jordan batalhou para que os jogadores saíssem vencedores do acordo feito. Por que faria o mesmo agora? Na verdade ele está sendo quem sempre foi: um cara que quer vencer custe o que custar, não quer ser membro dos perdedores. Só que seu lado em 2011 é dos donos e fará de tudo para que a vantagem favoreça sua atual classe.
Não há como agradar a todos. Não tem como o dono Jordan lembrar os tempos de jogador e defender os atletas na negociação deste ano. A posição partidária dele é correta: lutar pelo que é do seu interesse. E nesta guerra, nada de empate, Jordan que vencer e bem!
Hoje o acordo na mesa de negociação é de uma divisão nos lucros da NBA em 50% para cada lado. Esta proposta foi entregue pelo comissário David Stern ao Sindicato dos Atletas (NBPA). Stern alertou para o pior, dando uma espécie de ultimato via entrevista ao SportsCenter da ESPN:
“Entendo que esta é uma ótima proposta [50-50]. Dissemos aos atletas que está ficando tarde, a opção mais racional para nós é concordar com esta oferta, tendo em vista o que tem acontecido com os nossos negócios e nossa indústria; daqui em diante a coisa só irá piorar”.
Os jogadores iniciaram as negociações querendo 57% da fatia – reduzida para 52, e agora 50. Michael Jordan é líder de um grupo de donos, entre 10 e 14 segundo o jornal The New York Times, que não aceita este acordo 50-50 e quer mais para seu lado: 53-47 a favor dos donos (esta deve ser a proposta discutida se os jogadores não aceitarem o 50-50 até amanhã). Todos estes donos que estão com Jordan são de franquias de médio ou de pequeno mercado, Herb Kohl do Milwaukee Bucks e Paul Allen do Portland Trail Blazers são exemplos. Não é a toa que querem estar do lado positivo da divisão.
Aceitar algo menos que 53-47 a favor dos donos é uma derrota para Jordan. Então por que ele iria fazer diferente? Não era pra ninguém se espantar com tal posição.
Isto ganhou uma proporção maior pela reação de alguns jogadores da NBA que criticaram Jordan através da rede social Twitter. Todos os que se manifestaram estão na faixa dos 20-26 anos, cresceram vendo Jordan dando show em quadra, imitavam sua ginga nas quadras e o idolatravam. Porém Jordan é um ex-jogador, atual dono. Não tem motivo de ser procurador de atleta nenhum. Para ele sua opinião e decisão são favoráveis ao basquete, tanto em 1998 quanto em 2011.
Seu clube, o Charlotte Bobcats, na temporada 2010-11, gastou por mês na folha salarial US$ 47.4 milhões; só o trio base do Miami Heat (Dwyane Wade, LeBron James e Chris Bosh) recebeu US$ 47.5 milhões/mês... De alguma forma Jordan quer amenizar este abismo de diferença – excluindo a incompetência na gerência, diga-se.
Nestas negociações entre sindicato, donos e comissário, calorosas e ríspidas discussões foram travadas. Certa vez Wade chegou a gritar contra Stern. As feras da NBA estão presentes e esperam o momento de dizer para Jordan o que ele disse em 1998 ao então dono do Washington Wizards, Abe Pollin: “Se você não consegue lucrar, deveria vender o clube”. Contudo, podem aguardar uma boa resposta de Jordan...
Esta declaração foi dita quando defender os jogadores tinha mais valor para Jordan do que hoje - Outro Reinado, Outras Leis. Defender os jogadores não é algo em si importante, depende do valor que cada um impõe a causa. Antes era de extremo valor para Jordan buscar tudo o que pudesse a favor dos seus companheiros. O jogo mudou, menos o apetite. Jordan vai sim buscar tudo o que puder a favor dos seus companheiros; estes foram anteriormente os jogadores, agora são os donos de clubes médios/pequenos da NBA.
Michael Jordan não luta por conceitos, não levanta a bandeira de princípios belos no papel, mas distorcidos na prática. Quem o critica por ser tão inflexível com os jogadores neste lockout 2011, vai experimentar (ou já experimentou) uma situação na qual teve que ser esperto o bastante para pensar em si e agir conforme a sua vontade.
Não vivemos num mundo ideal. Nem aqueles que supostamente devem ser exemplos vão tomar atitudes nobres como se fossem obras de um script de uma obra “não-real”. Muito menos aqueles que condenam o dono Michael Jordan e são incapazes de fazer um bem ao próximo.
Querem tirar o cisco do olho de quem está perto e/ou longe, mas não tiram a trave que está no próprio olho.
Para avançar, crescer, é preciso pensar grande, sem se prender a coisa alguma. O Brasil, por mais que tenha mazelas e imperfeições, avançou, cresceu... porque pensou grande. O presidente que moldou a carreira política discursando para companheiros trabalhadores defendendo os seus direitos contra os patrões, mudou de visão ao discursar para outros companheiros e defendê-los (os patrões no caso). Aquilo que poderia ser um desastre, antecipação do apocalipse, "foi uma marola que passou...". Quem brigou contra os empresários antigamente, defendeu os interesses destes na crise econômica no final da década passada.
O propósito? O mesmo de sempre.
Nada mudou.
(GL)
Escrito por João da Paz
Escrito por João da Paz
© 1 e 2 Kent Smith / Getty Images
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