NBA não quer má fama do futebol


Começa os playoffs da NBA e a liga aperta mais o cerco contra os jogadores cai-cai. A temporada 2012-13 marcou o início da fiscalização acirrada contra os brutamontes que desabam ao receberem uma leve brisa batendo em seu corpo. A intenção era envergonhar aqueles nomes famosos por simularem contatos e não aplicar a regra nos playoffs. Mas a associação escolheu aprimorar rigor nesse tipo de lance e deixar a principal etapa do campeonato com menos momentos ludibriosos.

O diretor de operações da NBA, Stu Jackson, é o comandante do projeto que tem por objetivo tirar a perniciosa malandragem do jogo. Em comunicado oficial divulgado no ano passado Stu definiu com clareza a meta a ser alcançada:

A liga quer eliminar simulação de faltas que resultam em embaraçosos replays. É a imagem do jogo, a imagem que árbitros estão sendo enganados para marcar faltas e, mais importante, os torcedores culpam os árbitros que estão sendo enganados pelos jogadores”.

Muito válida a ideia de combater esse jeitinho de cavar faltas e evitar encarar o contato, elemento que faz parte do esporte. Contudo a NBA, por enquanto, está pouco exigente. Na temporada regular o jogador suspeito de simular faltas passava por uma análise em vídeo e se confirmado o cai-cai uma advertência era dada – multa só em reincidência. Nos playoffs o sistema de avaliação será o mesmo, porém o atleta será multado na primeira violação.

No futebol, onde estão os verdadeiros artistas do cai-cai, há uma punição rígida contra o infrator: cartão amarelo. Isso, evidentemente, dentro da interpretação do soprador do apito. Além da orientação do órgão maior que regula o esporte, a FIFA, não existe um plano concreto e pontual para tirar essa mania torpe dos jogadores em cair ao mais leve toque.

Temos à disposição variados exemplos da triste prática dos futebolistas cai-cai. São jogadas ridículas que beiram a comédia. Mas um internauta fez uma interessante montagem que sintetiza isso tudo, mostrando a diferença entre Neymar (atacante do Santos) e Messi (atacante do Barcelona) quando ambos sofrem contato de adversários.



Se Neymar prefere cair ao menor toque, ou até mesmo quando ninguém rela nele, é porque tem um cidadão que anota uma infração – do defensor, no caso. Daí a FIFA passou a orientar os árbitros para advertir o atacante que se joga na tentativa de provocar uma falta a seu favor. O problema é que isso não acontece de forma homogênea e têm os sopradores mais exigentes e os mais deixa-o-jogo-rolar.

A NBA produziu um simples e didático tutorial que explica a todos (fãs, juízes, jogadores) como funciona o processo de punição para os cai-cai. Ilustra quais são as situações que a violação é cometida ou não.



O estilo mais delicado na NBA, um forte contraste com o que acontecia na década de 80-90, é creditado por alguns com a entrada dos jogadores europeus na liga. Ian Thomsen, especialista em NBA da revista Sports Illustraded disse em artigo que o espírito cai-cai está enraizado no lado futebolístico desses caras. Será? Bom, fato é que Danilo Gallinari (Itália), Tony Parker (Francês) estão no topo dos que mais simulam faltas. Sem esquecer do ídolo Vlade Divac (Sérvia), o grande mestre do cai-cai. E se parafrasearmos esse pensamento do Ian, chegamos a outros dois países apaixonados por futebol e que tem duas estrelas no time titular dos cai-cai: Manu Ginobili (Argentina) e Anderson Varejão (Brasil).

Jogador que simula falta é sinônimo de futebol e a NBA não quer essa tag fixada em seu sigla. A política de fiscalização presenteou 5 jogadores com multa de 5 mil dólares (cada) na atual temporada. No total foram 24 jogadores advertidos – entre eles o turco Omir Asik, o georgiano Zaza Pachulia, o francês Tony Parker e o mexicano Gustavo Ayon.

Dos multados o exemplo emblemático é do Reggie Evans, pivô do Brooklyn Nets. Capaz de atravessar uma parede de blocos, Evans se desmancha com um sutil empurrão (como visto no primeiro lance do tutorial da NBA). A liga combate a simulação de contato argumentando:

“É definido como qualquer ação física que tem a intenção de levar os árbitros a anotar falta em outro jogador. O fator principal que determina se o jogador simulou uma falta é se a reação do contato com outro atleta é desproporcional com o que normalmente é esperado pela força do contato aplicado”.

Os contatos ofensivos e defensivos ocorrem naturalmente por motivos óbvios; as infrações da mesma forma. Mas a cultura vigente de incorporar vícios futebolísticos à NBA pode prejudicar a imagem da liga. A NBA é mais que um campeonato de basquete. Atuam em uma dimensão de excelência. Estendem ser inconcebível um jogador de 2m03, 111kg (Evans) cair brutalmente no chão depois de receber uma “cutucada de facebook”.

Nos playoffs acabaram as advertências, serão apenas multas (de valor irrisório para milionários) mas que vem carregadas de vergonha alheia pública. Sem dúvida a NBA vai agir com maior severidade se essa medida for ineficiente, podendo chegar ao ponto de aplicar falta técnica para os infratores.

Certo é que fará o necessário para afastar da liga a repugnante mania dos boleiros do soccer.


(GL)
Escrito por João da Paz
© 1 Stuart Ramson / AP

Jackie Robinson, o fim da segregação racial e as semelhanças com a aceitação homossexual


Estreia o filme “42”, nos Estados Unidos, que conta a história de Jackie Robinson, primeiro jogador afro-americano a atuar num time da MLB (Major League Baseball). Seu primeiro jogo foi no dia 15 de Abril de 1947 e neste domingo 14, como comumente acontece, todos os atletas da liga usarão o número 42 em sua homenagem. Lembrança da barreira que foi estraçalhada com sua contratação, 600 dólares por mês, pelo então Brooklyn Dodgers.

A segregação racial nos EUA vigorava em sua deplorável plenitude. Os negros tinham que sentar nos bancos de trás dos ônibus, dormir em hotéis separados de brancos, comer em restaurantes somente em lugares reservados. Mas, por exemplo, eles podiam servir as forças armadas da nação. Logo uma voz ecoava: se morrem em guerras e lutam pela bandeira americana, por que não participar do passatempo yankee?

O tradicionalismo misturado com um conservadorismo forte fazia a situação não ser tão simples. Similar posição que se nota em 2013 com a expectativa de jogadores dos esportes americanos assumirem serem gays e permanecerem jogando. Esse assunto foi tratado aqui no grandes ligas no texto “Aspectos sociológicos acerca de jogador gay na NFL”.

Jackie Robinson não era um nome qualquer escolhido entre mais de 100 para ser o pioneiro numa árdua luta que deixou muitos mortos e feridos. A batalha homossexual se iguala na questão do direito individual e erradicação da intolerância. Para tanto, os jogadores gays que assumirem sua sexualidades – se espera que na NFL sejam quatro atletas – tenham uma reputação esportiva acima da média, sejam carismáticos com o público e de franquias exemplares, para assim poder segurar o provável ataque inconsequente que receberão.

Branch Rickey era o diretor de beisebol do Brooklyn Dodgers, cargo que assumiu em 1943. Rickey gozava de um sucesso ímpar no esporte: quatro títulos da World Series como GM do Saint Louis Cardinals (1926, 32, 34 e 42). Um ano após o quarto troféu foi para New York com a missão de construir um time campeão. Com isso em mente ele arquitetou um plano de montar o melhor elenco de jogadores. Olhar as chamadas Negro Leagues era crucial, pois lá o talento brotava.

Os negros tinham sua liga própria porque eram proibidos de jogar beisebol desde 1884 (imagina...). O primeiro comissário da MLB, Kennesaw Mountain Landis (1920-1944) era oposto a integração de negros no beisebol profissional. Diversos artigos de jornais da época confirmam isso, mas em alguns dos seus discursos ele desconversava, jogando a responsabilidade nos donos das franquias. Fato é que nem Landis nem os diretores faziam qualquer esforço para contratar afro-americanos.

Até Branch Rickey entrar em cena.

Rickey, papel interpretado por Harrison Ford no filme “42”, assumiu os Dodgers uma temporada depois do segundo comissário passar a gerir a MLB: Happy Chandler (1945-1951). Um político influente, Chandler vinha de uma sequência importante na carreira, sendo governador do estado de Kentucky (1935-39) e senador (1939-45). De pensamento esquerdista, membro do Partido Democrata, ele era voz ecoante a favor de leis trabalhistas em prol dos operários. Sua participação no caso Robinson foi fundamental.

Em seu primeiro ano como comissário Rickey assinou Robinson para ser membro do time de base localizado em Montreal, Canadá. Era um teste para todos. Por uma temporada o diretor dos Dodgers conversava com Chandler sobre Robinson jogar na MLB. Rickey falava maravilhas do atleta formado na UCLA e com um talento especial apresentado em quatro esportes: football, basquete, beisebol e atletismo (salto em distância). Militar, Robinson era um homem preparado, educado e pronto para encarar o desafio enorme que viria ao seu encontro. Jogar beisebol seria o menor dos problemas.

Rickey fez uma peneira nas Negros Leagues. O afunilamento era resultado da busca por alguém com uma habilidade em campo excelente e com mente suficiente centrada para administrar a pressão de ser o primeiro negro na MLB.


Confiante que Robinson era o cara, Rickey assinou o “vultoso” contrato e Chandler aprovou. Robinson representou, segurou a onda em campo e levou pra casa o prêmio de novato do ano. Mas fora dele, como infelizmente era de se esperar, os ataques racistas eram constantes.

Os torcedores esbravejam impropérios da mais baixa ordem. Até aí era complicado de se fazer algo. Agora quando os ataques partiam de dentro da MLB, Chandler assumia a responsabilidade e defendia Robinson com intensidade. Em 1947 ele precisou se impor duas vezes, uma contra o Philadelphia Phillies (seu então treinador, Ben Chapman xingava Robinson explicitamente), e outra contra os Cardinals (os jogadores do clube ameaçavam não jogar contra os Dodgers com Robinson em campo; Chandler informou que quem fizesse isso seria suspenso indefinidamente).

Robinson defendeu os Dodgers por 10 temporadas. Seis vezes participou do Jogo das Estrelas, MVP em 1947 e campeão da World Series em 1955. Sua qualidade estupenda facilitou e conforme os anos foram passando as pessoas olhavam para ele sem notar a cor da pele. Os ignorantes comentários racistas continuaram, contudo Robinson manteve-se firme e não respondia com ira. Mesmo atuando na MLB tinha situações, principalmente na Região Sul dos EUA, que era obrigado a sentar na parte de trás dos ônibus, a sair de aviões expulsos por brancos... Numa sociedade completamente dividida pela questão racial, Robinson foi um personagem primordial no rompimento desse tabu.

Existem jogadores gays nos esportes americanos, evidentemente. Entretanto esses não assumem devido a fatores que não estão sob controle próprio. Os que tomarem coragem irão enfrentar revoltas. Daí a preparação cuidadosa para a revelação que logo será divulgada. Os jogadores são da elite, com pessoas ao redor aptas a defendê-los incondicionalmente, seja para organizar uma marcha ou movimento; seja para criar um ambiente sem estardalhaço.

Quem não teve a oportunidade de acompanhar a carreira de Robinson, ou saber de sua história, terá a oportunidade de conhecê-la através do filme “42”. Embora neste momento estamos vivendo um “filme”, acompanhando a história se desenrolar. E anos mais tarde ela será retratada num roteiro hollywoodiano com as pitadas de realismo que observamos decorrer bem na nossa frente.

É a queda de mais um estúpido muro.



(GL)
Escrito por João da Paz
© 1 por The Roosevelts