O que dizem as tatuagens de Colin Kaepernick


Você sabia que o quarterback do San Francisco 49ers, Colin Kaepernick, tem tatuagens? Se a resposta for negativa, agora sabe depois de ver essa imagem acima; e na próxima partida do time californiano você prestará mais atenção. Acompanho Kaepernick desde a Universidade de Nevada, época que começou a fazer os desenhos em seu corpo. Não os notava porque a prioridade era analisar as atuações do atleta; e outra: muitas vezes usava mangas que cobria seus braços, parte com as tatuagens mais expostas, logicamente (observadas claramente, graças a uma regata, no Combine de 2011).

Porém passei a reparar nelas após um jornalista do site American Online (AOL), David Whitley, escrever um texto criticando as tatuagens de Kaepernick – ele teve o insight ao ver um touchdown que o QB anotou ao cruzar a linha da endzone esticando seus braços, com a imagem da TV deixando nítidos os desenhos.

O trecho do texto de Whitley, publicado no site da revista Sporting News no dia 28 de Novembro, que chama mais atenção e causou controvérsia é este:

Quarterback da NFL é a suprema posição de influência e responsabilidade. É o CEO (diretor executivo) de uma organização de elite, e você não quer que seu CEO tenha aparência de quem acabou de receber liberdade condicional”.

Que criminosos são adeptos de tatuagens não é novidade, entretanto quem garante que diretores executivos, embaixo dos seus ternos importados, não tenham uns desenhos na pele também? Ter tatuagem automaticamente desqualifica a pessoa de exercer cargo de liderança? Como julgar negativamente alguém simplesmente por ter tatuagens?


Embora seja preconceito e inconstitucional, empresas utilizam o fator tatuagem para eliminar candidatos em entrevistas de emprego. Quem tem uma tatuagem mais visível (braço, pescoço) dificilmente será favorecido num cargo que é necessário ter contato com o público, por exemplo. O entrevistador pode omitir esse motivo da dispensa, porém a probabilidade desse critério ser utilizado é imensa. Até em concursos públicos essa avaliação é levada em consideração, mas um desembargador de Santa Catarina decidiu contra a atitude discriminatória.

Um candidato a soldado da Polícia Militar de Santa Catarina foi excluído, em 2010, da quarta fase do concurso (exames físicos) por ter uma tatuagem. Ele entrou com um mandado de segurança e a 3ª Câmara de Distrito Público do Tribunal de Justiça do estado sulista decidiu, em Setembro deste ano, unanimemente a favor do candidato, determinando que “... tatuagem não é condição que incapacite aprovação...”. O relator da sentença, o desembargador Cesar Abreu, corroborou:

A exclusão de candidato de concurso público, baseada no simples fato de possuir uma tatuagem, além de ser discriminatória, contraria os princípios constitucionais de razoabilidade e da proporcionalidade”.

Isso na esfera pública, e no mundo corporativo? As empresas, por ser privadas, podem fazer o quem entendem ser o correto – ou seja, o que é de seu melhor interesse?

Certa vez ouvi numa palestra a história de um sucedido corretor de imóveis de uma empresa líder do setor. Em dois anos no cargo, trabalhando todo dia engomado em ternos chiques, era o principal vendedor, mais efetivo e rentável. Encerrou bem o segundo ano e ganhou férias com direito a um altíssimo bônus de gratificação. Optou por descansar no litoral e, por coincidência, encontrou seu chefe na praia. Quando ele o viu sem camisa, com várias tatuagens no busto, disse com um ar jocoso: “Se soubesse que tinha todas essas tatuagens, jamais teria lhe contratado”. Ao voltar das férias o vendedor recebeu carta de demissão...

Um quarterback tatuado é raro. Nada que justifique um julgamento exagerado como feito, por mais que seja a opinião do jornalista que é averso a tatuagens. Para Whitley as tatuagens de Kaepernick dizem que o jogador não é capaz de ser líder; não é o personagem ideal para exercer comando devido à arte em sua pele. Aquelas que estão no braço e podem ser vistas, pois Whitley não faz igual juízo quando fala de Ben Roethlisberger, quarterback do Pittsburgh Steelers que venceu dois Super Bowls nos cinco primeiros anos de carreira na NFL. Big Ben, como é conhecido, tem uma tattoo no lado direito do seu torso que diz courage. O jornalista argumenta que a tatuagem não é visível quando o QB está com uniforme...

E Kaepernick tem duas (enormes) tatuagens que não ficam amostras quando está em campo: uma nas costas e outra no peito.


O quarterback dos 49ers poderia voltar aos tempos de Nevada e vestir as mangas longas; razão aos críticos. No jogo contra New England Patriots, no marcante Sunday Night, com frio e chuva, Kaepernick escolheu entrar em campo como se estivesse no calor franciscano (foto acima). E se usasse, não só nessa partida mas em outras, ele então seria um atleta apto à função de “CEO”? Quem garante que os verdadeiros CEOs da NFL não têm tatuagens?

É possível contar a história de um desses CEOs, de um dos clubes mais bem administrados da NFL. Jim Irsay não é apenas o diretor executivo do Indianapolis Colts, é o dono da franquia. Admirador do classic rock, Irsay arrisca solos na guitarra, lazer para ele quando frequenta bares. Faz isso e deixa o terno de lado, usa camisetas que deixam aparecer uma marca que tem em seu ombro direito: uma ferradura de cavalo, símbolo dos Colts.


(GL)
Escrito por João da Paz

Montando um time vencedor: o exemplo do Atlanta Falcons


Com uma campanha na temporada 2012-13 de 12 vitórias e 2 derrotas (até 22/12), o Atlanta Falcons é considerado um dos favoritos na disputa do título da NFL. Tem o segundo melhor retrospecto da liga, atrás do Houston Texans. Esse status vencedor vem desde a transformação que a cúpula da franquia implementou na gestão esportiva, contratando Thomas Dimitroff para ser o diretor de football (GM) no ano de 2008. As duas temporadas anteriores a sua chegada tiveram mais derrotas que vitórias; a era pós Dimitroff apresenta cinco campeonatos seguidos com aproveitamento acima dos 50%.

Reflete na atual temporada o trabalho apregoado pelo GM, que ganhou relevância na NFL quando assumiu o comando dos Falcons. O seu pai, Tom, jogou como quarterback no então Boston Patriots (hoje New England), porém o contato com a bola oval começou em Cleveland quando pintava as linhas do gramado para os Browns. Lá conheceu Scott Pioli em uma brincadeira despretensiosa. Criado o laço que o ajudaria.

A vida levou Thomas para lugares inusitados – chegou a treinar time de football no Japão. Quando Pioli entrou nos Patriots ele contratou o garoto que conhecera em Cleveland para ser um dos scouts (olheiros) do clube. Thomas ficou na equipe de scouts em 2002, passando a ser Diretor dos Scouts Universitário em 2003, permanecendo no cargo até 2007 antes de ir para Atlanta.

Estar com Pioli, diretor multi vencedor que levou pra casa o prêmio da revista Sporting News como executivo do ano por dois campeonatos seguidos (2003-2004), contribuiu para Thomas aprender a artimanha de construir um time vencedor, não bem sucedido apenas numa temporada, mas capaz de manter uma consistência. Ele assimilou direitinho as lições e descobriu o caminho do sucesso. Nesses cinco anos com os Falcons, Thomas ganhou dois desses prêmios da Sporting News, o mais importante dado para executivos: levou um em 2008 e outro em 2010.

A sua primeira temporada, de 2008, ditou o ritmo do que viria pela frente. Como ele conseguiu colocar os Falcons no topo da Conferência Nacional (NFC)?

ATAQUE

Tudo começa pelo quarterback, por mais que argumentem o contrário. A posição mais importante no esporte teve tratamento prioritário no draft de 2008. Thomas, com toda a experiência em observar jogadores universitários, sabia que era o momento de escolher um jogador chamado de “franquia” e que não poderia desperdiçar a boa chance que tinha em mãos. Somente dois quarterbacks de elite disponíveis ameaçaram a segurança que o clube tinha por ter a terceira posição no draft.

Quem causava perigo era o Baltimore Ravens, que pretendia trocar escolhas com o Saint Louis Rams (nº 2) e pegar Matt Ryan (Boston College). Acabou não acontecendo e os Falcons ficaram com Ryan – Ravens fez duas trocas (com Jacksonville Jaguars e Texans) e escolheu Joe Flacco (Delaware) na 18ª posição.

Não é apenas o quarterback importante, é necessário protegê-lo e Thomas, na segunda escolha do time no draft, 21ª posição, ficou com offensive tackle Sam Baker (USC). Além disso buscou um corredor à moda antiga, Michael Turner, melhor running back disponível no mercado de agentes livres, para dar segurança ao garoto. Coloque na conta o excelente receiver Roddy White, que já estava no elenco.

O tight end top veio no ano seguinte, numa negociação que Thomas fez com Pioli, agora no Kansas City Chiefs. Buscou o respeitado jogador Tony Gonzalez, cedendo uma escolha de segunda rodada do draft de 2010 na troca. Nesse draft de 2010 a concentração voltou a ser dada à proteção de Ryan, com aquisições de dois guards.

Em 2011 os Falcons causaram alvoroço na NFL, pois queriam de qualquer jeito um jovem wide receiver elite para fazer par com Roddy White. Os alvos em questão eram o atleta da universidade local AJ Green (Georgia) e Julio Jones (Alabama). Detalhe: a escolha de Thomas no draft era a 27ª... Os rumores (que concretizaram) davam conta que o Cincinnati Bengals, com a 4ª posição, escolheria Green. Subir tanto assim na tábua do draft não era bom negócio. Entretanto uma movimentação parecida foi feita e os Falcons deram 4 escolhas de draft (3 em 2011 e 1 em 2012) para os Browns e ficaram com Jones na 6ª posição. E, para substituir Turner após o expirar o contrato de seis anos, assinado em 2008, Thomas agiu com precisão ao pegar o RB Jacquizz Rodgers (Oregon State) na 145ª escolha, 5ª rodada.

No draft deste ano a dedicação para a linha ofensiva voltou a ser ressaltada ao serem escolhidos um center e um offensive tackle.

DEFESA

A fabricação da defesa do atual elenco dos Falcons é mais impressionate: dos 11 atuais titulares, 6 vieram via draft por escolha de Thomas e 2 foram contratados pelo GM – esses oito destaques estão marcados abaixo em negrito.

O primeiro draft do novo diretor teve como prioridade o ataque (lembrando de Thomas DeCoud, safety/California, draftado na 98ª posição, 3ª rodada). Logo, 2009 foi a vez da defesa: escolhidos Peria Jerry, defensive tackle (Ole Miss) na 24ª posição e William Moore, safety (Missouri) na 55ª posição, 2ª rodada.

2010 marcou o ano de prosperidade defensiva para os Falcons: escolheram Sean Weatherspoon, linebacker (Missouri) na 19ª posição e Cory Peters, defensive tackle (Kentucky) na 83ª posição, 3ª rodada. Thomas abriu o cofre da franquia e contratou no mercado de agentes livres o exímio cornerback Dunta Robinson por US$ 54 milhões/6 anos.

A aposta de 2011 foi o defensive end Ray Edwards, jogador proeminente no Minnesota Vikings, mas que não deu certo em Atlanta. Após ter assinado um contrato de 5 anos, Thomas demitiu Edwards em Novembro deste ano - única (?) falha do GM. Via draft veio o linebacker Akeem Dent (Georgia), 91ª posição, 3ª rodada.

Thomas aprendeu com o erro e arriscou num jogador mais confiante em 2012. Cedeu uma escolha de sétima rodada do draft de 2012 para o Philadelphia Eagles em troca do cornerback Asante Samuel. Ótimo negócio e Thomas tem uma história com Samuel, poiso jogador teve indicação do então olheiro dos Patriots no draft de 2003.


(GL)
Escrito por João da Paz
© 1 Kevin C. Cox / Getty Images

Um cogumelo verde para Anderson Varejão


O pivô brasileiro do Cleveland Cavaliers, Anderson Varejão, jogou menos da metade dos jogos possíveis nas últimas duas temporadas da NBA: 56 de 164. Com a saída de Zydrunas Ilgauskas, pivô lituano, ele assumiu a titularidade e a liderança do time sem LeBron James. Mas as lesões no tornozelo direito e no pulso direito fizeram com que ele ficasse ausente das quadras, afetando sensivelmente seu valor. Tudo revertido no atual campeonato, responsável por dar sobrevida ao atleta brazuca.

O primeiro jogo da temporada mostrou dois dados assustadores a favor de Varejão: no duelo contra o Washington Wizards ele deu 9 assistências e pegou 23 rebotes, ambas as marcas as maiores da carreira. Os jogos subsequentes provaram que a atuação na estreia não foi um acaso e sim começo da nova fase.

Mesmo os Cavs sendo uma desgraça (embora tenham o brilhante Kyrie Irving), Varejão fincava seu nome na mídia local pelas atuações acima da média, ganhando assim destaque no cenário nacional e rumores de troca. Seu valor aumentou.

Um dos pontos chaves desta campanha do brasileiro foi contra o Brooklyn Nets no dia 13 de Novembro. Na partida anterior, contra o Oklahoma City Thunder, o pivô marcou meros 6 pontos. Dois dias depois, versus o alvinegro de New York, Varejão anotou 35 pontos, maior marca da carreira (adiciona aí na conta 18 rebotes). Conseguir as maiores marcas da carreira, nos três principais fundamentos do basquete, em apenas 8 jogos até então, simboliza o quanto o atual momento é especial.

Selecionado pelo Orlando Magic na 30ª escolha do draft de 2004, o camisa 17 dos Cavs, um dos favoritos dos torcedores de Cleveland, nunca desfrutou de tanto prestígio como agora nas nove temporadas disputadas no melhor basquete do mundo. Ter 14.3 PPJ e 14.8 RBJ na temporada 2012-12 (estatística de 14/12) traz bons ares e o coloca em uma privilegiada situação: desfruta de uma admiração tremenda dos fãs da franquia e atrai interesse de outras grandes organizações da NBA.

Cavaliers é um dos últimos colocadas da associação em folha salarial. Varejão é o jogador mais bem pago do clube: US$ 8 milhões neste ano – é o segundo brasileiro com maior salário na NBA, Nenê é o primeiro com US$ 13 milhões. É, no sentido financeiro, o atleta mais valioso da franquia, mesmo status da sua importância intangível, símbolo da equipe. Mas e no sentido tático/técnico?

Em especial do Grandes Ligas de 2009, eu e o Dênis do Bola Presa respondemos a pergunta: Qual jogador brasileiro tem mais potencial para crescer? As respostas...

Dênis: Quem não para de evoluir e quem eu acho que mais vai crescer nos próximos anos é o Varejão (...) em um futuro próximo ele pode ser peça importante em todos os setores do jogo para os Cavaliers

Eu: Varejão (...) Toda diretoria e comissão técnica gostam da vontade que Varejão demonstra a todo instante que entra em quadra e reconhecem o seu valor, sabendo o quanto ele pode melhorar em diversos fundamentos – o contrato de 6 anos (US$ 42 milhões) assinado depois da temporada passada exemplifica isso.


Restam dois anos de contrato. Em 2013 o salário aumenta para US$ 9 mi; em 2014 chega a US$ 9,7 mi. Em 2015 torna-se agente livre sem restrições, ou seja, pode negociar diretamente com qualquer clube – e os Cavs não recebem nada. O momento maravilhoso do brasileiro cria um imbróglio a ser resolvido pela diretoria. Uma lista de prós e contras relacionados a troca de Varejão deve ser feita e o final dirá: é melhor negociá-lo.

Por quê? Veja, puramente visando levar vantagem. A tal “importância intangível” é difícil obter. A identificação que Varejão tem com os Cavs é bem peculiar, porém há potencial de alcançar isso com Irving (ou até mesmo com Dion Waiters ou Tristan Thompson). Trocar o pivô faz sentido, ainda mais quando são analisados os pacotes oferecidos.

Isso mesmo, pacotes.

O nível de representatividade que Varejão atinge neste começo de campeonato é demonstrado nos boatos que o circundam. Não é um jogador por outro – ou jogadores ditos “meia-boca”. São jogadores de alto calibre envolvidos nessas conversas. Logo é hora de aproveitar, pois por mais que os Cavs passam por essa draga de dá dó, existe possibilidade de crescimento devido a folha salarial baixa (espaço para contratar agentes livres) e boas escolhas no draft de 2013 (2 na primeira rodada e 2 na segunda rodada) – acrescentando o bônus numa troca do Varejão.

O que rola nos bastidores é que foram oferecidos aos Cavs por Varejão:

- Thaddeus Young e Dorell Wright (Philadelphia 76ers)
- Terrence Jones, Patrick Patterson e Daequan Cook (Houston Rockets)
- Paul Milsap e Enes Kanter (Utah Jazz)

E a melhor oferta (por enquanto), aquela que é boa para todas as partes envolvidas:

- Kendrick Perkins, Jeremy Lamb, Reggie Jackson e Perry Jones III; mais escolhas no draft (Oklahoma City Thunder)

Os Cavs receberiam o pacote de mais qualidade e o brazuca aproveitaria a boa fase num time competitivo que disputa títulos.

Novamente o brasileiro teria chance de disputar uma final da NBA, coroando atuações que o colocam na discussão para participar do Jogo das Estrelas em Houston no ano que vem. Convívio novo para ele que, embora lide com lesões delicadas, revigorou e aprimorou seu jogo. Efeito esse que lhe deu um contrato de “estrela”, atuando sob outros holofotes ao lado da apresentadora Ana Hickmann: Varejão assinou contrato com o Bradesco (HiperFundo) e será garoto propaganda do banco.

Uma vidinha a mais o ajudou.

(GL)
Escrito por João da Paz
© 1 Pop Bola Esporte Clube
© 2 Getty Images

Dois artigos especiais

Um convite aos leitores do grandes ligas: leiam estes dois textos que escrevi

- "Gosto de futebol e não sou clubista: sim é possível!" que está no blog do Vítor Sergio Rodrigues (Esporte Interativo). Trato sobre como é a paixão do torcedor com seu time preferido e aversão com a equipe rival. Será que alguém pode gostar de futebol e não torcer pra clube algum?

- "Era da informação ou da afirmação?" que está no site Observatório da Imprensa. Abordo aqui o caso Jovan Belcher, jogador da NFL que matou sua namorada e cometeu suicídio horas depois. Repercuto o comentário do jornalista Bob Costas (NBC) no Sunday Night Football da semana passada quando ele mostrou-se contra a "cultura de armas" nos Estados Unidos. Opinião afirmativa ou informativa?

Obrigado!