As rimas de Jay-Z e o Brooklyn Nets


4 de Dezembro de 1969.

Nasceu Shawn Corey Carter no distrito de Brooklyn, New York. Infância numa periferia tensa, seguia o ritmo do ambiente. Vendia crack nas ruas do bairro e tinha um esconderijo secreto para seu produtos; aí a polícia só fazia "(..) o seu papel, dinheiro na mão, corrupção a luz do céu". Nesta época entrou no mundo do rap e ganhou o apelido de Jay-Z. Passou a rimar o que via diariamente, seu cotidiano nas letras.

Sucesso seguiu. Músicas de destaque, álbuns bem sucedidos e recordes. É o artista, fora os Beattles, que teve mais discos na primeira posição dos mais vendidos da badalada lista da revista Billboard, vendeu mais de 45 milhões de álbuns e coleciona dezenas de Grammys.

Dinheiro ganho, dinheiro investido. Entre tantos negócios, Jay-Z decidiu colocar uma grana na franquia Nets da NBA, 1 milhão de dólares há nove anos. O russo Mikhail Prokhorov comprou 80% do clube e a participação do rapper nas ações dos Nets reduziu a 1/15. Mas sua influência só aumenta conforme os dias giram.

E todo este universo da NBA está nas rimas de Jay-Z, em suas próprias músicas ou em participações em faixas de outros MC´s. A grande vitória do marido da Beyoncé (ainda tem isto pro cara, né? Poxa vida...) é ter tirado os Nets de New Jersey, cidade vizinha de New York, e instalá-lo no Brooklyn – que se fosse uma cidade, seria a nona em população nos Estados Unidos: 2.6 milhões de habitantes.

Ainda mais por construir a arena dos Nets próximo de sua casa, próximo ao esconderijo secreto daquele seu produto comercializado na adolescência. Na letra da música Empire State of Mind (participação de Alicia Keys – álbum Blueprint de 2009) Jay-Z diz onde muquiava o flagrante:



I used to cop in Harlem,
All of my dominicanos
Right there up on broadway,
Brought me back to that McDonalds,
Took it to my stash spot,
Five Sixty Stage street,

Catch me in the kitchen like a simmons whipping pastry

568 Street. Rua próxima do Barclays Center, local que receberá os jogos dos Nets a partir da próxima temporada da NBA. Contudo, quem irá inaugurá-lo é o próprio Jay-Z, lógico. Serão oito shows, todos com ingressos esgotados.

Foi um traficante. Agora ajudou erguer uma arena da NBA lá no seu gueto. Disto Jay-Z fala no música 3 Kings (do Rick Ross, com participação do Dr. Dre – álbum God Forgives, I Don’t de 2012):



I ran through that buck fifty Live Nation fronted me
They workin' on another deal, they talkin' two hundred fifty
I'm holdin' out for three
Two seventy five and I just might agree
Ex-D-boy, used to park my beamer
Now look at me, I can park in my own arena
I only love her if her weave new
I'm still a hood nigga, what you want me to do?

Do lixo para o luxo. Esta trajetória do rapper incomoda. Desconforto que ultrapassou o limite do bom senso numa coluna do jornalista Phil Mushnick no tabloide New York Post (no dia 4 de Maio de 2012). Uma crítica sobre a reformulação feita nas cores e logo dos Nets, mudanças realizadas por Jay-Z:

“Enquanto os Nets permitirem que Jay-Z continue dando ordens – que surpresa a escolha das cores preta e branca para conectar ao clima urbano da nova casa do time – por que não entregar tudo para Jay-Z e aplicar na franquia o tratamento do rapper?  Por que Brooklyn Nets quando pode ser chamado de Brooklyn Niggers (Os Crioulos do Brooklyn)? As cheerleaders podem ser as Brooklyns Bitches ou Hoes (As Cachorras/Putas do Brooklyn). Símbolo do time? Uma 9mm com cápsulas de munição em volta. Quer estar com Jay-Z? Então vai com tudo!”

Estas palavras foram reforçadas por Mushnick em entrevistas posteriores a publicação do texto. Ele até questionou como a NBA permite que alguém com uma fonte de renda baseada em músicas cheias de conteúdo impróprio pôde atingir o status de dono. Mushnick fez seu ponto de vista ser discutido nos quatro cantos. Diz que não é racista, mas que o rapper sim.

Independente do quanto falem, Jay-Z é isto: dono. E na música On to the Next One (álbum Blueprint 3 de 2009) ele diz:



Traded in the gold for platinum Rolexes
Now a nigga wrist match the status of my records
Used to rock a throwback
Ballin on the corner
Now I rock a tailored suit
Lookin like a owner


Sim, Jay-Z construiu sua fama usando palavras como niggas, bitches, hoes... Se ele pode usar estas palavras e Mushinck não, é tema para outro artigo. Mas quem é das ruas ou passou por elas, deixando para trás as dificuldades e podendo agora descansar em Paris sem preocupação, é condicionado a fazer uma música chamada Niggas in Paris (com Kanye West – álbum Watch The Throne de 2011):


So I ball so hard mothafuckas want to fine me, first niggas got to find me
What's 50 grand to a mothafucka like me, can you please remind me?
(Ball so hard) This shit crazy, y'all don't know that don't shit phase me
The Nets could go 0 for 82 and I look at you like this shit gravy

Levou um time da NBA para a periferia e coloca um nome de bairro em evidência. Nos esportes americanos, Brooklyn já teve um time, os Dodgers da MLB (hoje em Los Angeles). O então Brooklyn Dodgers quebrou a barreira da cor na liga de beisebol – que não tinha negros; eles jogavam em ligas exclusivas, criadas devido à segregação. Em 1947 Branch Ricky, executivo dos Dodgers, assinou com Jackie Robinson. Ricky ganhou destaque também por escolher via draft o primeiro hispânico que se tornou uma superestrela na MLB: Roberto Clemente.

Assim Jay-Z brinca com as palavras do parágrafo acima na música Brooklyn Go Hard (single):



I father, I Brooklyn Dodger them
I Jack, I Rob, I sin
Awww man, I'm Jackie Robinson
Except when I run base, I dodge the pen
Lucky me, lucky we, they didn't get me
Now when I bring the Nets I'm the Black Branch Ricky


Dono de um time, dono de uma arena, dono de um império. Através da música Jay-Z criou seu mundo e entrou legitimamente em tantos outros. O dos negócios é um destes, corroborado com a capa da revista Forbes ao lado de Warren Buffett (terceira pessoa mais rica do planeta em 2011).


O Hip-Hop salvou a vida de Shawn Corey Carter. Com inteligência soube usar seu talento e dinheiro para multiplicar ambos. O resultado não poderia ser outro: estampado em capas de revistas ao invés de estar em cartazes nas ruas de New York com o rótulo de “Procurado pela Polícia” em baixo da sua foto.

No lugar do infame tag, tem “Rei da América”, “Sucesso Pessoal”, “Magnata” e derivados.


(GL)
Escrito por João da Paz

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