O rico, o mimado e o desiludido


Demorou, mas era uma vez Dwight Howard (foto acima) com a camisa do Orlando Magic, que na próxima temporada estará vestindo dourado e roxo na Cidade dos Anjos.

E a ladainha que o rico fica mais rico ganha força.

Com as cores da nobreza, o Los Angeles Lakers agrega outro superstar ao seu elenco e se candidata, novamente, ao título da NBA; e desfrutar os ventos confortantes que o topo do basquete proporciona.

O poder que os Lakers têm é usado de forma primorosa. Quem não tem poder e/ou não é rico reclama da supremacia do time californiano, ao dizer que “roubam” jogadores de times menores – Pau Gasol via Memphis Grizzlies, Dwight Howard via Magic, por exemplo.

Não é isso. Time grande não tem este rótulo por acaso, simplesmente usa a inteligência que os menores não sabem utilizar.

Sem fazer muito esforço, só na persuasão, os Lakers adquiriram o 3 vezes melhor jogador defensivo da associação e forma um quarteto bom suficiente para derrotar o atual campeão Miami Heat:

PG: Steve Nash
SG: Kobe Bryant
SF: “Quem quer que seja”
PF: Pau Gasol
C: Dwight Howard

Após o título do Heat, disse que a equipe para derrotá-lo teria de ter um armador e pivô elite classe A+, posições que Miami é mais carente. Logo, o lugar ideal para Howard era Brooklyn, seu destino preferido conforme dito aos quatro cantos. Uma dupla com Deron Williams seria algo magic.

Porém a franquia Nets não quis bajular um mimado (Howard) e nem alimentar o desiludido (Orlando). Resolveu renovar com o pivô que estaria envolvido numa possível troca, Brook Lopez, decidindo fazer a fila andar.

Do outro lado dos EUA, o rico Lakers traçou caminhos e após alguns telefonemas ficou mais rico. Usou o poder para ficar mais poderoso. Howard vem para reforçar o time em quadra, engrandecer o quinteto titular no objetivo de destronar o Heat. Se Howard é um pivô elite classe A+, Nash seria o armador na mesma categoria? Dava pra afirmar com certeza se estivéssemos em 2005, mas em 2012, com 38 anos de idade, o canadense não está mais neste hall. Difícil afirmar isto do segundo lugar em assistências do campeonato passado, mas...

Num fictício duelo Heat x Lakers, vantagem para quem tem LeBron James...

Rico, poderoso e popular, os Lakers ficam mais famosos com Dwight no elenco. O legal é que o clube não precisa dele para atrair público, muito menos audiência televisiva. Importante salientar que os Lakers tiveram, em média na temporada 2011-12, 97% do Staples Center preenchido como mandante e que a próxima é o primeiro ano do bilionário contrato assinado com a Time Warner Cable (US$ 3 bilhões/20 anos).

Howard capta recursos fora de quadra com seu nome atrelado à Los Angeles. O contrato com a Adidas aumenta por estar numa grande metrópole, e vai lucrar muito nos acordos de patrocínios, sejam os novos ou dos que serão renovados. Causou um reboliço em Orlando, “bateu o pé”, “fez biquinho”, esperneou e acabou lucrando no final das contas.

Recebeu um presente de luxo, mesmo perdendo outro do mesmo naipe. É o garoto que age inconsequentemente por pedir pro papai um Xbox e tem que acabar se contentando com um PS3.

Uma situação crítica de nível elevadíssimo, não?

Nada de New York-New York, da glamourosa vida na capital do mundo, defendendo uma franquia remodulada num alicerce moderno e ousado, que se transformou para criar uma personalidade original e diferente. Restaram as praias e clima veraneio de Los Angeles. Tipo é o que tem pra hoje.

O Magic abraçou esta ideia do é o que tem pra hoje depois de recusar uma ótima e boa proposta. Teve a qualidade de jogadores oferecidos caindo a cada vez que a franquia não flexionava suas exigências. Tinha esperança de receber algo melhor após deixar morrer negociações vantajosas e o medo de não ganhar nada em troca por Howard acabou vencendo.

Primeiro foi oferecido Brook Lopez (Nets), mas o comportamento cheio de nove horas enfureceu o time de New York. Depois teve Andrew Bynum (Lakers), mesmo comportamento e nada feito. A coisa ia de mal a pior, até o brasileiro Anderson Varejão (Cleveland Cavaliers) foi oferecido para o Magic por Howard.

O nível abaixou a tal ponto que o Magic optou por não sofrer mais constrangimentos e receber uma oferta de troca do Charlotte Bobcats oferecendo Tyrus Thomas pelo pivô camisa 12.

Embora a saga Howard não tenha dado um desfecho bom para Orlando. A troca envolveu 4 times e o Magic ficou com o resto da sobra. Os três melhores jogadores foram para os Lakers (Howard), 76ers (Bynum) e Nuggets (Andre Iguodala). O Magic ficou com estas coisas aí:

Arron Afflalo (conhecido no Brasil mais pela força nominal que tem, status dado pelo pessoal do Bola Presa), Al Harrington, Nikola Vucevic, Moe Harkless, Josh McRoberts e Christian Eyenga – além de escolhas em futuros drafts.

Aí, sem Howard, o Magic está com Glen Davis liderando a ação de chamar torcedores para comprar carnês dos jogos em casa de todo o próximo campeonato.

Boa sorte! Vai precisar!

No melhor estilo “é o que tem pra hoje”.

O desiludido Orlando até que tava podendo na baladinha. Uma garota toda boa apareceu em sua frente com a camisa “Vem ni mim que to facim”. Querendo bancar o difícil, na expectativa de arranjar uma melhorzinha, Orlando manteve a tática. A noite passava e permanecia sozinho. Até que chegou aquele momento “é o que tem pra hoje”: era pegar ou largar a feinha-desarrumada-que-ninguém-teve-coragem-de-chegar-perto.

Dwight Howard espalhou sorrisos em sua primeira entrevista coletiva como um laker. Mostrou traços da sua personalidade que o prejudicou e o ajudou ao longo de sua carreira na NBA. Imitou Kobe Bryant – Howard faz uma ótima imitação de Charles Barkley e Stan Van Gundy –, mostrou estar leve e aliviado por ter conseguido sair do Magic e ser parte de um time fortíssimo. Agora é parte de uma franquia histórica. Sem ser agente livre, praticamente escolheu seu destino. Pôs seu antigo clube sob seu controle e mostrou que ser mimado dá resultado.

Howard é rico e vai se tornar mais rico.

E desiludido sim, pois causou caos em Orlando. Demitiu técnico e diretor de basquete e a lembrança que deixará no reino da Disney é o bando de jogadores que chegaram.

(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Kevork Djansezian / Getty Images

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