Foi bom enquanto durou, Dwight Howard

Os dias passam e fica cada vez mais insustentável a relação Dwight Howard – Orlando Magic. Enquanto um fica de birra com o outro, enrolando a instável situação, todos os envolvidos sofrem. De personalidade forte e jogador mais importante da franquia, o pivô fala o que pensa via mídia. Certo ou errado, seu ponto de vista é expresso. O tom das declarações é pesado, longe de ser um exemplo de uma boa relação publica. Ontem (27) o Magic perdeu fora de casa para o New Orleans Hornets, pior equipe da Conferência Oeste. Howard, em entrevista com jornalistas no vestiário, disse:

Eu olho pros caras [do nosso time] e parecem que eles não querem jogar. Disse a eles no intervalo ‘Se não querem jogar, fiquem no vestiário porque não faz sentido perdemos para um time que deveríamos destruir’. Olhem para o elenco deles [Hornets], mas jogam duro toda noite... Nos humilharam hoje não porque tem um time melhor, mas porque jogaram com mais vontade que a gente

Tenso.

Um líder deveria dizer isto, dá uma bronca desta lançando palavras ao vento? Ou um líder não deveria se comportar assim? Só estes dois questionamentos são suficientes para pôr em dúvida qual o papel de Howard na franquia. O contrato entre ambos termina no final desta temporada, porém o fim deveria ser o quanto antes possível.

Dwight fez muito para o Orlando Magic em 7 campeonatos. A primeira escolha do draft de 2004, o atleta, que veio direto do high school para a NBA, remodelou a jovem franquia que teve um sucesso na década de 90 alicerçado em outro mega pivô: Shaquille O'Neal, também primeira escolha no draft, em 1992. Com Howard, após duas temporadas, o Magic foi aos playoffs e repetiu o feito outras quatro vezes. Conquistou 3 títulos de divisão (mais do que com Shaq: 2), chegou às finais da Conferência Leste duas vezes e participou de uma final da NBA.

Há ainda o que aconteceu fora de quadra. O Magic voltou à capa de jornais e revistas nacionais nos Estados Unidos. Tema de reportagens em redes de televisão e Howard aparecia com o logo do Magic embutido. Atrelados. Assim a publicidade a favor da franquia cresce, ganhando exposição que resulta em dinheiro e mais torcedores fora de Orlando.

Mesmo com uma simetria única, não há obrigatoriedade de ser perpétua; por isso existe um contrato que tem um final. Ao ponderar os prós e contras, Howard se inclinou para sair de Orlando e em Dezembro do ano passado fez o pedido publicamente.

A palavra chave aqui é exigir. Dwight Howard exigiu ser trocado para outro clube antes de 15 de Março, quando fecha a janela de transações. Este requerimento do pivô é visto por ele como saudável e o compara ao que aconteceu com O’Neal, que saiu da franquia via agente livre e o Magic ficou sem nada. Se alguma negociação for feita dentro deste prazo estipulado, os dois lados ganham: Howard sai de Orlando e vai para onde quiser e o clube recebe jogadores de qualidade como retorno.

Mas não é tão simples.


Otis Smith, diretor de basquete da franquia (GM - foto acima), tirou do deck uma carta provocativa e a colocou na mesa. Mexeu com dinheiro. O novo acordo trabalhista acertado antes do início desta temporada favorece, em termos, o Magic. Se não houver troca antes do dia 15 de Março, somente Orlando pode oferecer um contrato mais vantajoso para Howard: até 5 anos valendo US$ 110 milhões (cláusula chamada Bird Rights). Caso D12 saia via agente livre, o máximo que ele pode fechar com o clube pretendente é 4 anos e US$ 80 milhões. Então Smith disse à imprensa que Howard pode sofrer um corte de 30 milhões de dólares dependendo da sua decisão – se Dwight for trocado antes do dia 15 de Março, o clube que o receber pode oferecer o contrato de 110/4 anos.

Neste empurra-empurra, Orlando é prejudicado, Dwight nem tanto. Apesar da turbulência, ele é o líder em rebotes na liga e está com médias acima das registradas em sua carreira em pontos, rebotes e assistências. E no concurso popular que chamam de “Jogo das Estrelas”, é o jogador que, até agora, recebeu mais votos.

Dwight bravo é um excelente jogador (leia: Bravo! Bravíssimo – artigo do Grandes Ligas) e está fazendo o que disse antes do jogo contra o Sacramento Kings em 9 de janeiro deste ano:

Nada mudou [sobre querer ser trocado], mas serei o Dwight de sempre: irei me divertir em quadra, alegrar os fãs, bloquear arremessos, marcar pontos, correr por toda quadra, pegar rebotes e fazer o que for preciso para vencer. Esta é a única coisa que posso controlar no momento

Teria Howard razão para criticar a falta de esforço dos seus companheiros, conforme dito no pós-jogo contra os Hornets?

A franquia perde. Jameer Nelson, armador, afirmou se sentir incomodado com as declarações de Howard, principalmente por querer jogar com outros armadores (Deron Williams, Chris Paul) – e Smith fica do lado de Nelson. O clube tem uma das maiores folhas salariais da associação, dinheiro este gasto para juntar ao redor de Howard a maior quantidade/qualidade possível de atletas para conseguir levantar o troféu Larry O’Brien.

Nada. Ao menos tentaram.

Agora é hora de engolir seco e encarar mudanças. Partir para rumos diferentes. O momento é de conflito de interesses, logo, de tomar decisões opostas. Como todo relacionamento, esse pode terminar, não é diferente. Brigas, carinhos. Os momentos bons superam os maus e podem ser amigos sim depois do fim. Basta terminar com dignidade e lembrar que enquanto estavam juntos, foi bom para ambas as partes.


(GL)
Escrito por João da Paz


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