"Milagreiro" não, Tim Tebow é um quarterback

Óbvio, né?! Duh!

Porém as vitórias do Denver Broncos lideradas pelo seu QB não são consideradas meros sucessos: é milagre! Uma forma de tentar explicar porque um jogador rotulado como ruim e fora de posição ganha jogos? Uma forma de menosprezar sua crença pessoal? Seja como for, a mídia invariavelmente junta milagre + Tim Tebow. Neste começo de semana tem sido assim, após os Broncos derrotarem os atuais campeões da Conferência Americana, Pittsburgh Steelers, na prorrogação em Denver.

Por grandes lances apresentados durante a partida, Tebow pouco recebeu méritos pelo que criou. Gritos de milagre foram ouvidos.

O primeiro quarto do duelo entre as equipes teve um Tebow acanhado. Todo o ataque do Denver conquistou apenas 8 jardas neste período. No segundo quarto a situação se transformou da água para o vinho e Tebow deixou a poderosa defesa dos Steelers ao léu. Somente no segundo período, o QB dos Broncos completou 5 de 9 passes tentados para 185 jardas, média de 37.5 jardas por passe. Durante a temporada regular os Steelers, que tinha a melhor defesa da NFL contra o passe, permitiram em média 171.9 jardas por jogo neste quesito.

A concentração do time de Pittsburgh estava em parar o jogo corrido de Denver, o melhor da liga no campeonato 2011-12. O plano de ataque dos Broncos se adaptou bem ao que o adversário apresentou e Tebow contribuiu diretamente para isto acontecer com eficiência. Não recebeu nenhum sack, não cometeu erro e terminou a partida com um índice de passe de 125.6, maior marca da franquia na pós-temporada. Tebow venceu seu primeiro jogo de playoffs, diferente do que aconteceu com John Elway, ídolo e executivo do clube, que perdeu em sua estreia na pós-temporada em 1984 para o Pittsburgh Steelers.

Tebow é qual tipo de quarterback? Muitos rótulos são inventados e distribuídos. Inegável é que, do seu jeito peculiar, Tebow é um quarterback. Contra uma temida defesa, perdendo de 6 pontos logo no início do jogo, ele foi se ajustando e colocou sua equipe na liderança e a classificou para jogar contra os Patriots em New England na rodada Divisional da Conferência Americana.

Veja como isso aconteceu ao longo da partida.

Constantemente a defesa dos Steelers colocou 8 jogadores (às vezes até mais!) pressionando o QB e o jogo corrido. O objetivo era forçar Tebow a lançar a bola e confiar na fama de boa equipe contra o passe. Nesta jogada registrada abaixo que tem 8 defensores dentro de 6 jardas, Tebow foi para esquerda, desviou do sack mas não conseguiu completar o passe direcionado ao tight end Dante Rosario.


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Em algumas situações a defesa dos Steelers mostrava uma falsa blitz e recuava para cobrir os espaços do campo após o snap. No lance do primeiro TD dos Broncos isto aconteceu. Tebow tinha apenas um safety próximo à end zone e o Pittsburgh estava numa Cover 1. Ele finge que passa para a sua esquerda e engana a cobertura.


O safety dá passos para a esquerda do ataque e sai da linha pontilhada da direita. Separação suficiente que deixa o WR #19 Eddie Royal com uma marcação homem a homem. Tebow lança na end zone e o receiver pega a bola para marcar o touchdown.


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Mesmo com desfalques, a defesa de Pittsburgh estava com dois temíveis e respeitados atletas: o safety Troy Polamalu e o linebacker James Harrison. Para produzir algo no ataque, Denver precisou enganar ambos e desviar deles. Neste lance são 11 jogadores da defesa dentro de 7 jardas, contra a formação Weak I Big TE do Denver com 7 jogadores na linha ofensiva.


Tebow faz o play action e congela a defesa no meio do gramado. Demaryius Thomas avança numa post route e Polamalu (marcado no círculo) fica na cobertura do TE Dante Rosario que vem do backfield, posicionado como full back. Thomas ganha separação do marcador e recebe a bola para um passe de 58 jardas.


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Com Harrison a finta foi num fake draw. Usou-se a qualidade de Tebow em correr com a bola, mesmo com Harrison se posicionando como um defensive linemen extra – marcado com a seta.


A proteção mais forte da linha ofensiva está do lado direito do ataque, direção que segue o RB. Porém Tebow faz a finta e não entrega a bola para seu companheiro. Harrison cai e deixa um espaço livre para Tebow correr e alcançar a primeira descida. Quem derrubou o QB foi o próprio Harrison na jarda de número 24.


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Essas leituras foram extremamente bem realizadas pelo sistema ofensivo dos Broncos, que com suas formações e movimentações diferentes venceu a complexa defesa dos Steelers. A adaptação durante todo o jogo, corrigindo posicionamentos e aprimorando os acertos, deu ao time a tranquilidade em decidir corretamente no momento crítico do confronto.

O Denver começou a prorrogação no ataque e a primeira jogada era previsível: corrida. Nos 60 minutos anteriores, Tebow arremessou em primeira descida somente uma vez. A formação ofensiva começou com dois receivers abertos, mas Eddie Royal faz uma movimentação e se aproxima da linha ofensiva. Ao mesmo tempo o S #29 Ryan Mundy sai da cobertura e chega até a linha de 25 jardas.


No instante do snap, os 11 defensores dos Steelers estavam dentro de 5 jardas (entre 20 e 25 no campo de defesa do Denver).


Isto escancarou a defesa dos Steelers que não esperava um passe de Tebow. Mas o QB percebeu a abertura e rapidamente lançou para Demaryius Thomas também numa post route. O CB Ike Taylor foi batido na velocidade e Mundy não conseguiu se recuperar.


O TD de 80 jardas deu a vitória ao Denver Broncos e sobrevida nos playoffs da NFL, através do braço de Tim Tebow e execução excelente do plano de ataque.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Doug Pensinger / Getty Images
*Imagens reprodução CBS ©

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