Velho e experiente, Kobe Bryant assume novo papel nos Jogos de Londres-2012


Os Jogos Olímpicos de Londres-2012 é a segunda participação de Kobe Bryant na maior competição esportiva do mundo; poderia ser a terceira. De 2004 até hoje, nove anos foram registrados na carreira do armador que em cada momento específico desfrutou uma função na seleção americana. A atual é ser um líder fora de quadra e deixar que os mais jovens brilhem e carreguem a equipe ao bi campeonato.

São 12 estrelas num elenco de tremenda qualidade. Tecnicamente, Bryant está atrás de LeBron James, Kevin Durant e Carmelo Anthony. Nos cinco amistosos preparatórios para Londres-12, ele ficou com uma média de pontos menor que a do armador Russell Westbrook: 9.4 versus 8.2. Porém será procurado na hora da decisão das partidas e precisa corresponder para justificar suas declarações polêmicas que o cercaram nesta pré-olimpíada.

Há 20 anos o melhor time de basquete entrou em quadra num Jogos Olímpicos, Barcelona-92, e encantou, ganhando um apropriado apelido: Dream Team (“Time dos Sonhos”). Kobe entrou na pilha da imprensa e disse que a atual seleção americana venceria o tal Dream Team – declaração corroborada por LeBron. Não existe argumento para uma coisa tão sem sentido, mas Bryant mostrou acreditar no potencial deste elenco que conta com alguns desfalques importantes (Dwight Howard e Dwyane Wade), mesmo assim é extremamente forte, habilidosos e o grande favorito da competição.

Esta defesa dele, um certo patriotismo leal, é interessante de se observar, pois Kobe nem sempre foi assim. Apesar de ser o único membro do atual elenco na casa dos 30 anos (33), não é o que tem mais partidas pela seleção principal dos Estados Unidos: por exemplo, LeBron James e Carmelo Anthony tem 50 partidas cada; Kobe tem 25. Poderia ter mais participações se escolhesse defender o país nas primeiras Olimpíadas da década passada.

Em Sydney-2000 e Atenas-2004, Bryant escolheu não participar. Os EUA passaram sufoco em Sydney sem o Black Mamba, conquistando a medalha de ouro com muita dificuldade. Bryant estava no fino da sua forma e foi tri-campeão da NBA logo na sequência dos Jogos (2000-01-02). Já em Atenas não só Bryant, mas 9 dos 12 convocados decidiram não ir para a competição. Com “meninos” na seleção (como LeBron e Wade, novatos na associação) o vexame aconteceu: medalha de bronze. Pela primeira vez desde a permissão dos atletas da NBA em participar das Olimpíadas que os EUA ficaram sem o ouro.

Não só o metal, mas a áurea também se perdeu...

A mística arranhada fez com que a federação americana de basquete criasse um plano para remir a imagem do esporte, surgindo então o Redeem Team (Time da Remissão). Nesta nova estrutura, Kobe Bryant era peça fundamental e aceitou o desafio de retomar a hegemonia do basquete dos EUA.

Em Pequim-2008 a missão era dominar. Bryant vestiu o uniforme para ser referência em quadra, um cestinha. Fundamental para subir no lugar mais alto do pódio nos Jogos da capital chinesa, ele foi o terceiro maior pontuador do elenco, não muito distante dos primeiros (só fera, aliás):

Dwyane Wade – 16.0 Pontos Por Jogo (128 no total)
LeBron James – 15.5 PPJ (124)
Kobe Bryant – 15.0 PPJ (120)

Depois dos Jogos, Bryant foi MVP da NBA (2008 - foto abaixo), bicampeão (2009-10) e bi MVP das Finais (2009-10).


Agora é diferente. Nos cinco amistosos de preparação (contra República Dominicana, Brasil, Grã-Bretanha, França e Espanha), Bryant foi o quinto cestinha:

LeBron James – 18.6 PPJ (93)
Kevin Durant – 17.6 PPJ (88)
Carmelo Anthony – 13.2 PPJ (66)
Russell Westbrook – 9.4 PPJ (47)
Kobe Bryant – 8.2 PPJ (41)

O melhor jogador do time é LeBron James, atual campeão da NBA, MVP e quatro vezes seguida o melhor jogador da temporada regular. Durant é cestinha da liga por três vezes consecutiva. Anthony tem toda sua experiência em competições internacionais... Bryant, logo, tem um novo papel, servindo como líder motivacional.

Dizer que o atual elenco tem condições de vencer o Dream Team talvez não seja a melhor das motivações, mas tem um motivo para dizê-la.

Enquanto isso Kobe aproveita seu final de carreira. Quando entrou na NBA, em 1996, disse que com 35 anos iria se aposentar. Com 33 anos, ainda resta dois anos para cumprir o atual contrato. É bem provável que o que disse no século passado se cumpra.

Nesta fase, é tempo de aproveitar os derradeiros instantes e olhar tudo o que conquistou. Bryant é o quinto maior cestinha da história da NBA, tem 5 títulos, 2 MVP’s, 1 MVP de temporada regular, 1 medalha de ouro... E continua sendo o mais paparicado atleta do time americano.

A imprensa o cerca por onde quer que vá. Chegou em Londres e foi o jogador que mais deu entrevistas, distribui mais autógrafos, tirou mais fotos. Tem certa facilidade com o mundo fora dos EUA por ter morado na Europa dos 6 aos 13 anos de idade e falar dois idiomas do velho continente: italiano e espanhol.   

Tira onda, mas tem espaço para frases explosivas (sempre naquelas: “você quer tudo, menos a verdade”). É saudosista, mas defende a atual geração. Terá menos a bola em suas mãos, mas não perde a característica de finalizador.

Velho, experiente... e perito. Jerry Colangelo, diretor da federação USA Basketball, em conversa com a imprensa dos EUA, explicou o papel de Bryant em Londres-2012:

No final, quando for o último jogo e o último arremesso está para ser definido, penso que tem de considerar Kobe para ter a bola decisiva. Acho que Kobe é o cara, por tudo o que fez em sua carreira; ele converte este arremesso em cesta”.


(GL)
Escrito por João da Paz

© 1 Arte por Sergio Rueda

NFL: a liga do criminoso

Na semana passada, sábado dia 14, Elvis Dumervil (defensive end do Denver Broncos – foto à esquerda), foi preso por agressão. No mesmo dia, Marshawn Lynch (running back do Seattle Seahawks – foto à direita), foi preso por embriaguez ao volante.

Daqui a uma semana começa oficialmente os treinos oficiais dos clubes da NFL, em preparação para a temporada 2012-13, e desde o Super Bowl XLVI, no dia 5 de Fevereiro deste ano, 26 jogadores da liga foram presos.

Um número alarmante. Roger Goodell, comissário da NFL e conhecido por gerir com mão de ferro, não fez qualquer pronunciamento sobre estas prisões. Mas logo deve fazê-lo, já que ter a sigla da liga no caderno policial não é bom para os negócios.

Goodell, assim que assumiu o comando em Setembro de 2006, implantou uma cartilha que cuida do comportamento de membros e filiados. Medida necessária, pois a briga é acirrada com a NBA pelo posto de qual liga dos esportes americanos tem mais criminosos.

Em proporção, a NBA ganha; em números absolutos, a NFL reina. Ao projetar os números de prisões que ocorrem com jogadores da NFL com os que acontecem com os americanos em geral, ou fica tudo igual ou a NFL fica abaixo. Alguns usam este argumento para contra atacar as críticas, segundo estes, exageradas sobre ilegais que estão embaixo do escudo da liga de football.

O principal “deslize de conduta” é embriaguez ao volante. E assim se compara os números da NFL com o da população americana (amostra de 2010):

NFL: 1 preso a cada 144 jogadores
População americana: 1 preso a cada 135 cidadãos

Dado parelho. Contudo, o averege Joe é pego dirigido embriagado e não ganha mídia. Mas se for um jogador da NFL, não importa qual, está em destaque nos mais variados veículos de comunicação.

Isto que Goodell quer combater.

A NFL não é “qualquer coisa”, é um negócio que rende anualmente 9 bilhões de dólares. Donos e atletas estão ganhando dinheiro como nunca e o football está no auge da popularidade nos EUA – e avançando no mundo. Então, uma prisão de um jogador da NFL não só envolve a pessoa, também traz a imagem do clube que representa e da liga.

Todo cuidado é necessário para evitar excessos. Pela parte dos clubes e jogadores.


Os anos 00’s e a atual década tem sido ruim para o Minnesota Vikings nesse sentido. Período que 39 jogadores do clube foram presos – Adrian Peterson, running back (foto acima), é a detenção mais recente.  De Janeiro de 2011 até agora, foram 10 prisões, o dobro do segundo lugar nestes meses (Detroit Lions).

Os Vikings, na tentativa de amenizar a reputação ruim, passaram a determinar posturas diferentes de seus atletas, e o próprio clube procura agir com mais prudência. O football tem novo diretor, Rick Spielman, que tomou um cuidado extra no Draft 2012 ao selecionar novos membros para formar o elenco visando o campeonato deste ano. Todas as franquias puxam a ficha criminal dos possíveis escolhidos, é praxe. Mas os Vikings foram além e buscaram traçar um perfil do caráter dos jovens atletas, com a meta de projetar o tal desvio de conduta. Dos 10 jogadores selecionados, nenhum tem problemas de caráter, segundo informação do clube.

Para evitar as tensas prisões por embriaguez ao volante, os Vikings aplicam um programa sigiloso chamado de “Táxi Sóbrio”. Não há empecilho em vista de impedir as famosas “fugidinhas” dos atletas, porém recebem conselhos para voltar ao respectivo lar de táxi e não dirigir os próprios carros – o time paga a corrida da volta, caso o jogador queira. Há sigilo absoluto, tudo com o objetivo de não vazar informação para a imprensa.

Mesmo assim, neste ano um Viking caiu na lei seca: o full back Jerome Felton.

Cortar as arestas é uma tarefa primordial para os clubes controlar seus funcionários (lembrando que a cartilha de conduta imposta por Goodell vale para todos envolvidos com a liga). Quando se trata de jogadores divas – as estrelas – sempre é mais complicado.

Neste quesito muito é posto na conta, principalmente o passado/infância do atleta, que cria a personalidade adulta do homem.


Um caso emblemático é a prisão mais atual envolvendo um jogador da NFL. Dez Bryant, wide receiver do Dallas Cowboys (time mais popular da liga), foi detido no último dia 16 de Julho por agredir sua mãe. Isto, agrediu a mãe...

Violência não se justifica. Bater em mulher então... e quando a agredida é a mãe?

Angela Bryant deu luz à Desmond Demond Bryant com 15 anos de idade. Ter uma mãe adolescente foi extremamente delicado para a formação do garoto. Ainda criança, com 8 anos, viu sua mãe ser encarcerada por tráfico de drogas – Angela ficou 18 meses atrás da grades.

Imagina uma infância desta. Acrescenta morar em sete casas diferentes na época do ensino médio...

O Dallas Cowboys sabia que Dez era problemático, mesmo assim o escolheu no Draft de 2010 – assinou um contrato de US$ 11,5 milhões/5 anos. Dias antes deste Draft, o receiver foi envolvido numa polêmica que tomou conta dos noticiários yankee: Jeff Ireland, diretor dos olheiros do Miami Dolphins, perguntou para Dez se a mãe dele era uma prostituta. A resposta foi não; e Ireland se desculpou depois pela inescrupulosa pergunta.

Quando Bryant era um jovem adolescente, ninguém da família o ajudava. Conselho era zero. Toda família e sua mãe também. Mas só foi assinar um contrato milionário que parentes apareceram “do nada”. Brigas familiares surgiram.

Bryant está fichado na polícia por violência doméstica, agressão familiar. É isso, motivos e causas também são domésticas, familiares. Compete as resolver quem está envolvido no assunto particular, que responde a pergunta: por que Dez Bryant agrediu a própria mãe?

O problema é que quando esta notícia é divulgada, seja onde for, sai assim:

“Dez Bryant, jogador do Dallas Cowboys, time da NFL, foi preso por bater em sua mãe...”

A violência em si, como dito anteriormente, é questão pessoal dos participantes, mas ter o nome da liga e de um clube envolvido na mesma frase de uma notícia tão negativa pode ser fatal para os negócios, imagem e reputação da NFL.

Por isso Goodell precisa se pronunciar.

Estão chamando a NFL de National Felon League (Liga Nacional do Criminoso).


(GL)
Escrito por João da Paz

© 1 Getty Images
© 2 AP


*Todos os logos aqui apresentados pertencem aos respectivos donos


A estratégia da NFL para atrair público aos estádios


Melhor assistir em casa.

A NFL faz tanta coisa para aperfeiçoar a experiência televisiva de seus jogos que os americanos estão abandonando a ida aos estádios – isto contando o advento das magníficas TV’s de plasma, LCD e LED.

Um balanço das últimas cinco temporadas resultou num dado preocupante para a liga: desde 2007 o público nos estádios caiu 4,7%. Para reverter este registro negativo, serão impostos novos métodos para que o torcedor não continue deixando de ir pro campo e que aqueles desistentes voltem.

A própria NFL é culpada por isso – no bom sentido. O cuidado que tem com a transmissão de suas partidas é imenso e prioritário. São tomadas de câmeras diferentes de outros esportes, edição de imagem diferente... enfim, é um show. Não é por nada que hoje a NFL é o principal produto das televisões dos Estados Unidos (grandes ligas) e que na “Fall Season - 2011” das emissoras americanas, 18 dos 20 programas mais assistidos foram jogos da liga (Diário NFL) – os intrusos nesta lista foram a estreia do nova fase do seriado “Two and a Half Men” e o jogo 7 da World Series entre Saint Louis Cardinals e Texas Rangers.

O plano da NFL é levar a experiência televisiva para o estádio; e mimos extras. Uma das ideias é criar um sistema Wi-Fi (internet sem fio) em todos os 32 campos de football. Junto com aplicativos especiais para celulares, o torcedor no estádio poderá assistir ao vivo outros jogos, vê melhores momentos de partidas que estão sendo realizadas no mesmo horário, replays do duelo que acompanha in loco... É um aprimoramento do que o fã tem quando assiste a um jogo do sofá da sala; com uma lata de cerveja na mão.

#TypicalHomer

Um dos maiores inventos que surgiu recentemente no mundo da televisão foi o canal Red Zone. Cria da NFL, este canal fica no ar 6 horas ininterruptas aos domingos, das 13h até as 19h (horário de Washington, EUA) somente colocando no ar lances decisivos que acontecem dentro da redzone – setor no gridiron entre a jarda de número 20 e a endzone (área do touchdown). Razão que fãs dizem que os mantém no conforto do lar. Mas a NFL ordenou às franquias que, neste ano, disponibilizem o canal em todos os setores de cada estádio.

Embora medidas estejam sendo aplicadas para dar um upgrade nos campos, uma palavra aqui foi citada que é difícil de copiar: conforto. O cidadão não precisa deixar o lar no domingão, pegar engarrafamento... e não tem que lidar com torcedores bêbados uma hora antes do jogo e ter que aturá-los por três horas gritando em seu ouvido palavrões e coisas piores. Levar criança e esposa num ambiente deste? Nem pensar.

Alguns clubes saíram na frente, Tamba Bay Buccaneers e San Diego Chargers, por exemplo, e fizeram seções específicas para família (a Federação Paulista de Futebol tentou fazer aqui no Brasil). Os ingressos são mais baratos e não é comercializada bebida alcoólica. Ambas as franquias têm recebido elogios por esta iniciativa.

Porém, este mais barato não é tão barato assim. Torcedores persistem em reclamar do alto custo dos ingressos e abaixá-los é fundamental para atrair público. Por mais que tenham todas essas novidades, o ingresso individual continua expressivo. Baseado na temporada passada, custou US$ 113,17/média. Os jogos do atual campeão New York Giants, no mesmo período, custaram US$ 332,82/média. Acrescentando gastos com gasolina, estacionamento e lanches, 500 obamas precisam ser desembolsados, por baixo, para assistir um único jogo.


Esses agrados tecnológicos é uma tentativa da NFL em continuar na vanguarda do esporte. Ela sabe que precisa agir e está fazendo. Contudo não larga a TV, sua mina de ouro. A receita com os novos contratos assinados junto às três emissoras abertas que transmitem a liga (CBS, FOX e NBC), vai crescer 63% até 2022. Entre 2014 e 2022, período que vigorará este novo acordo, a NFL tem US$ 27,9 bilhões garantidos na conta.

Nota (+): Com a ESPN, TV por assinatura, a NFL também renovou outro contrato lucrativo. Os jogos de segunda à noite vão continuar na emissora até 2021. O atual acordo se encerrava em 2013 e o novo vai de 2014 até 2021. A NFL vai ganhar da "líder mundial em esportes" US$ 15,2 bilhões neste período.

Todavia, a queda de público nos estádios também afetam as TV’s.

A regra, até o campeonato 2011-12, era de que se um clube não consegue vender 100% dos seus ingressos nos jogos em casa, esta partida não é transmitida para a região local. Exemplo: jogos dos Giants em casa só são transmitidos para New York se o estádio tiver a venda completa dos lugares até quinta-feira (para os jogos no domingo) – esta regra não se aplica para os monday night games.  Quando a cidade não assiste a um jogo do time local em casa, a NFL chama isto de blackout.

Nos últimos 256 jogos de temporada regular, a NFL impôs apenas 16 blackouts (só Tampa Bay teve 8, Cincinnatti 6). Porém para os padrões da liga é um alto número, visto que entendem a importância do mercado local para as franquias – quem é de Tampa Bay quer assistir os jogos do time da cidade, não de times de fora. Visando estancar o número de blackouts e impedir seu crescimento, a liga vai diminuir a exigência de venda dos ingressos para 85% da capacidade.

Ou seja, cada franquia pode escolher qual é seu limite para evitar o blackout: 100% ou 85%. Esta escolha tem de ser feita antes do início desta temporada e vai valer para ela toda, para que um clube não abaixe seu limite contra times pequenos e o aumente quando enfrentar equipes populares.

A NFL tem uma preocupação nisso tudo: satisfazer os torcedores. São eles que sustentam a liga, seja comprando um ingresso ou ligando a TV para assistir uma partida. São eles, em grande parte, que ajudam a erguer estádios, pagando taxas para injetar dinheiro público na construção dos campos. Por isso há o argumento que o blackout nem deveria existir, já que se os habitantes locais deram seus doletas para uma entidade privada fazer um estádio de football, nada mais justo permitir que eles assistem pela TV eventos neste estádio. Ou não?

Esta última proposta é discutida nas ruas, não chegou à NFL. Mas vale os argumentos e a liga vai ouvir, com certeza. O sucesso e prestígio dela não vêm por acaso e um dos alicerces é esta interação com os torcedores.

Tudo para servir bem seu patrão.

(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 FOX Property

O futebol no Brasil e o beisebol na República Dominicana


Uma criança brasileira tem o sonho de ser jogador de futebol profissional para não somente atuar em grandes times e conquistar importantes títulos, mas justamente ter uma profissão. Milhões de reais almejados para ajudar a família sair da vida precária e difícil, transformação para vida de luxo e glamour.

Um garoto da República Dominicana tem sonho parecido, as diferenças são o esporte (beisebol) e o nome do dinheiro (dólar).

No próximo dia 13 será lançado nos Estados Unidos – e também online – o documentário “Ballplayer: Peloteros”, que tem como produtor executivo o atual treinador do Boston Red Sox, Bobby Valentine, e narração do ator John Leguizamo. O filme conta a história de dois adolescentes dominicanos que buscam espaço na MLB.

Note: adolescentes. Assim como no futebol brasileiro, onde os talentos são sugados cada vez mais jovens e sendo explorados por empresários, na República Dominicana os olheiros da MLB observam meninos de 16 anos, e esta tem de ser a idade, pois mais jovem não dá devido regras da liga e mais velho é considerado isto, muito velho para ser alvo de aposta e contrato.

Surge, assim, um problema grave que acontece no país caribenho e que o documentário aborda: a falsificação de idade. Jovens que dizem ter 16 anos, mas na verdade tem 2, até 3 anos a mais. Alguns, para provar que realmente tem 16 anos, mostram fotos de recentes aniversários, sempre ao lado do bolo com as velas em cima dele representando uma espécie de contagem progressiva de idade.

“Ballplayer: Peloteros” explora este lado obscuro do beisebol na República Dominicana, mostrando os comportamentos escusos dos nativos e de representantes dos clubes da MLB. Corrupção, tudo para conseguir levar aos EUA o próximo talento do esporte, vulgo máquina de fazer dinheiro.

Não há “santinho” nesta história. Os empresários dominicanos, que recebem 30% caso seu jogador assine com um clube da MLB, forjam datas de nascimento e cometem outro ilícito: induz garotos a tomar esteroides para “bombar” o corpo. Eis então mais um problema que o documentário discute.

Por outro lado, “Ballplayer: Peloteros” mostra um lado humano fácil de identificar. Os dois garotos protagonistas, Miguel Sano e Jean Carlos Batista, são de bairros paupérrimos. Lutam para conseguir uma refeição diária, passam por dificuldades básicas. A saída da miséria é ir para os EUA e jogar beisebol. É a saída. Não atingir esta meta trará um futuro obscuro, pois deixar a escola de lado torna “fundamental” para se dedicar ao jogo e ter seu nome chamado por uma franquia.

Quantos garotos brasileiros fizeram isto? Ou fazem neste exato momento? Largam a escola, fogem de casa e tentam vaga num time grande de seu estado para poder ter uma profissão. Talvez não tenham talento para integrar um grande time e conquistar aqueles importantes títulos. Logo um contrato com uma equipe búlgara, belga, ou qualquer que seja, é a meta para juntar dinheiro e sustentar sua família, levar alivio ao bairro pobre da cidade pequena.


O documentário foi filmado em 2009 e um dos garotos está na MLB: Miguel Sano (foto acima). Ele é uma das 20 melhores promessas da liga, após receber bônus de 3,1 milhões de dólares ao assinar com o Minnesota Twins. Hoje Sano tem 18 anos.

Como no Brasil, são poucos os que conseguem se profissionalizar. Como no Brasil, são muitos os que fazem sucesso no grande palco. Isto creditado a qualidade dos jogadores e empenho necessário para ter o privilégio de receber uma grana por ser um atleta. Não é qualquer um que é chamado nas peneiras em ambos os países. Fora a habilidade, é preciso dedicação, compromisso.

A República Dominicana recebe uma atenção especial da MLB por ser um celeiro de craques. Na temporada 2012, 11% dos jogadores inscritos na liga são dominicanos. Por coincidência, 11% (8 de 70) é o número de jogadores do país que estarão atuando no Jogo das Estrelas da MLB que acontecerá no próximo dia 10 (terça) em Kansas City:

- Robinson Canó (New York Yankees)
- Adrian Beltre (Texas Rangers)
- Jose Bautista (Toronto Blue jays) – saiba mais sobre o jogador no artigo “Jose Bautista escolheu esperar
- David Ortiz (Boston Red Sox)
- Fernando Rodney (Tampa Bay Rays)
- Rafael Furcal (Saint Louis Cardinals)
- Melky Cabrera (San Francisco Giants)
- Starlin Castro (Chicago Cubs)

Destes, seis são titulares ou na Liga Americana ou na Liga Nacional, uma porcentagem de 33% (6 de 18). Número expressivo, levando também em consideração que estes seis foram escolhidos pelos torcedores em votação.

Todos têm histórias cativantes, vamos conhecer a jornada até a MLB de três deles.

DAVID ORTIZ

Ortiz enfrentou dois problemas citados aqui: acusado de usar esteroides e de mentir sobre sua idade. Nada comprovado.

Assinou com o Seattle Mariners no limite do considerado padrão, 10 dias antes de completar 17 anos. Tem um currículo rico na MLB e faz questão de ajudar jovens garotos do seu país a chegar na liga sem esquecer os estudos, tendo assim uma segunda opção se porventura o primeiro plano falhar.

Esta vontade em ajudar começou logo cedo em sua carreira e Ortiz, em 1991, conheceu uma futura estrela do seu país: Robinson Canó. Na época Ortiz estava nos Twins, com 20 e poucos anos; Canó um adolescente. Agora estão em lados opostos de uma das rivalidades mais intensas da MLB – Ortiz nos Red Sox e Cano nos Yankees – mas a amizade é forte e o Big Papi (Ortiz) mantém sua atitude e honra o apelido.

ROBINSON CANÓ

Canó desfrutou de vantagens em sua vida: pai arremessador profissional (com curta carreira na MLB) e viver/estudar por três anos nos EUA, da sétima até a nona série do ensino médio. Isso facilitou o caminho de Canó até a liga, contando com seu pai fazendo a vez de treinador, arremessando as bolas para o filho rebater.

O jogador é presença constante na periferia da sua cidade: San Pedro de Macoris. Lugar muito carente, que até pouco tempo não tinha ambulância para atender a população, por exemplo. Não tinha porque Canó recentemente doou 6 veículos para a prefeitura. San Pedro de Macoris é famosa por revelar talentos para a MLB: total de 76 jogadores nascidos na cidade jogaram/jogam na liga – a população (2012) é de 263 mil habitantes. Sammy Sosa e Alfonso Soriano são de lá.

ADRIAN BELTRE

Começou “tarde” no beisebol, com 12 anos. Logo se destacou e assinou com os Dodgers em 1994, ganhando bônus de 23 mil dólares. Mas este acordo criou um grande problema, pois o dominicano tinha 15 anos.

Beltre não forjou sua idade, apenas não sabia que existia esta regra de assinar com apenas 16 anos. Os Dodgers pensaram que Beltre estava no limite permitido. A franquia foi punida por um ano e os olheiros do clube na República Dominicana foram suspensos. Beltre nada sofreu e no ano seguinte entrou na MLB defendo o próprio Dodgers.


 (GL)
Escrito por João da Paz

© 1 Casey Becker / de “Ballplayer: Peloteros”
© 2 Tony Farlow / MiLB Media