José Bautista escolheu esperar


Não é surpresa que o jogador mais votado para o Jogo das Estrelas da MLB seja da República Dominicana, país produtor de bons jogadores de beisebol. Fora de padrão é ele ser membro do Toronto Blue Jays, passado pelos piores momentos no final da década passada e ter apenas dois anos consistentes na liga.

José Bautista em 2008 foi desprezado pelo Pittsburgh Pirates (segunda vez) e na próxima terça será titular no Jogo das Estrelas graças a impressionantes 7 milhões, 454 mil e 753 votos, o colocando a frente de qualquer outro nome da MLB nesta temporada. É um feito raro, mais um para acrescentar na lista de ensejos que cerca o camisa 19 dos Blue Jays. A franquia vê pela primeira vez um jogador de ataque, desde Carlos Delgado em 2003, receber votos para ser titular em um Jogo das Estrelas.

A paciência acompanha Bautista e ela foi usada na sua escolha no draft de 2000, nos 5 anos de perrengue para buscar seu espaço (2004-2009) e no ajuste feito para conseguir a mecânica que o faz rebater a bola para fora do campo. Ele é um adepto dos números, defensor das ciências exatas, praticante delas. Embora sua trajetória tenha traços mais que humanos.

Ele vem de uma família dominicana de classe média alta e desde a infância os estudos foram prioridade. A matemática, as contas que envolvem o beisebol atraíram o jovem Bautista. Só que não hipnotizou o garoto e um dilema criava uma batalha em sua mente. Desde os 8 anos ele fala inglês e aprimorou-se com o tempo. Quando atingiu a maioridade e a hora de entrar na faculdade chegou, Bautista decide fazer economia e almeja trabalhar com negócios internacionais graças a sua fluência em duas línguas. Porém a entrada na faculdade só foi possível pelo beisebol e ele obteve o curso através de uma bolsa.

Na PUC (Pontifícia Universidade Católica) Madre y Maestra de Santiago, as aulas se misturavam com o beisebol. Olheiros ficavam de olho, mas poucos de fato mostravam interesse. Na proposta mais séria que ele recebeu quando estava em seu país, a recusa veio prontamente. O New York Yankees ofereceu US$ 5 mil para largar a faculdade e ir aos Estados Unidos; Bautista disse não. Não valia deixar de completar os estudos por tão pouco dinheiro – quando é possível receber melhor proposta.

Mas os anos vindouros não seriam tão prazerosos para o futuro economista, a ponto de ele fazer vídeos de suas atuações no diamond e mandar para grandes universidades americanas tentando ganhar uma bolsa por lá. Método falho. Sua ida ao EUA concretizou-se graças a um programa de intercâmbio que ajuda membros da comunidade latina no país do Tio Sam. Não era sublime, porém Bautista entrou numa faculdade americana: Chipola College, universidade Junior na cidade de Marianna, Flórida.


Com um ano nos EUA, José foi escolhido no draft de 2000 pelo Pittsburgh Pirates na 20ª rodada. O clube permitiu que ele terminasse a graduação, o que ajudaria numa melhor avaliação do jogador. Teve três temporadas na Minor League (ligas de base) defendendo clubes dos Pirates e a conclusão que os scouts tiveram foi nula e em Dezembro de 2003 ele esteve disponível a qualquer clube no draft que ocorre no encontro de inverno entre os diretores de beisebol dos clubes da MLB – tem como objetivo permitir que times com muitos jogadores jovens disponibilizem estes atletas para equipes que possam utilizá-los no profissional.

A odisseia começou quando o Baltimore Orioles resolveu ficar com ele, que fez até uma boa pré-temporada para conseguir uma vaga entre os reservas; durou só 16 jogos e 11 aparições com o bastão. Dispensado, os Rays o pegaram e lá também durou pouco; 12 jogos. Vendido ao Kansas City Royals por US$ 500 mil, também durou pouco por lá; 13 jogos. Foi trocado para o New Yor Mets em 30 de julho de 2004, clube que no mesmo dia o trocou para os Pirates por um jogador chamado Kris Benson.

Essa jornada em um ano o coloca como o primeiro e único jogador da MLB a fazer parte de 5 times numa mesma temporada. De volta com o clube original, Bautista continuou no aguardo de uma oportunidade real, que demorou a aparecer.

2005: mais um ano encarando a dureza das minors. Nada de promoção porque a comissão técnica da equipe sentia pouca confiança no jogador. Em 2006 ele iniciou a temporada em Indianápolis no time – Indians – que dá acesso ao profissional (disputa o campeonato Triple-A ou AAA). Foram 26 jogos até que Jim Tracy, então treinador dos Pirates, hoje no Colorado Rockies, o chamou para a equipe principal. Valeu a intenção, mas não deu certo.

Bautista atuou em 5 posições diferentes na temporada de 2006; 4 em 2007. Até que Tracy gostava do dominicano e o queria na 3ª base, mas o plano não deu tão certo. Titular da posição em 2008, foi preterido pela chegada de Adam LaRoche e voltou às minors. Conversou com os chefões da franquia pedindo dispensa, procurava outra oportunidade. O mandaram para Toronto.

Talvez fosse melhor ter mandado para aquele lugar... Bautista reconheceu que esta era a derradeira chance, mas nem o patrão botava fé. Ao comentar a contratação com um repórter local do jornal Toronto Star, o então diretor de beisebol do time canadense JP Ricciardi disse: “Este cara não é tudo isso. Não vai vim pra cá e do nada produzir 40 home runs”.

O atual diretor de beisebol dos Blue Jays, Alex Anthopoulos, admite o ceticismo e afirmou que não imaginava que Bautista sobreviveria uma temporada. O último mês do campeonato 2009 foi o ultimato e José respondeu.


Cito Gaston, treinador dos Blue Jays, enxergava no jogador potencial para ser um grande rebatedor, mas para tanto era preciso ajuste no swing. Bautista foi incrédulo num primeiro momento, pois achava que a agressividade que mostrava com o bastão era a maneira correta. Gaston deu a dica para ele esperar um instante a mais, aguardar a bola sair das mãos do arremessador antes de iniciar o ataque com o bastão – Bautista tinha a tendência de fazer um rápido swing junto com a movimentação do pitcher. Sem muitas opções, ele resolveu ouvir a voz da experiência.

7 de Setembro de 2009 é um dia que Bautista não esquece. Jogo em casa contra o Minnesota Twins no qual ele aplicou a orientação que lhe foi dada. Um belo home run, que junto com outros nove nos 31 dias seguintes, garantiu o emprego por mais um ano.

Olhar os vídeos de Bautista com a camisa dos Pirates e comparar com o Bautista de hoje, é literalmente ver um jogador amador versus uma estrela da liga especializada em home runs. A diferença é astronômica, um swing ridículo típico de um nada contra um poderoso bastão temido pelos arremessadores top da liga.

Os 54 home runs de 2010 foram absorvidos com desdém por alguns, aqueles que duvidam de tudo (será que ele...?). A metade da temporada 2011 chegou e já são 28 home runs. Para tirar qualquer dúvida dos ranzizas, Bautista não foi reprovado em dois testes anti-doping realizados até o presente momento (tá?).

Pode ser difícil acreditar, contudo é sim possível rebater uma bola longe com técnica e aplicação. Bautista sempre teve o talento, mas o empregava de forma errada. Alguém percebeu isto e consertou. Funcionou não só porque ele ouviu e sim por ter agido conforme a ordem dada. Demorou, mas o dia chegou. O resultado positivo da espera e dedicação é latente.

Bautista diz que representa dois países (República Dominicana e o Canadá). Fazer sucesso em Toronto é uma das tarefas mais árduas no mundo do beisebol, só os grandes conseguiram. O anterior ídolo dos Blue Jays era Roy Halladay, vencedor do Cy Young em 2003 com a camisa do clube. Hoje ele está no Philadelphia Phillies, ganhou o Cy Young no ano passado e caminha para outro nesta temporada. Muitos o consideram o melhor arremessado do jogo atualmente e no último dia 2 deste mês esteve de volta em Torronto. Num duelo que empolgou os torcedores locais, agraciados com um confronto individual do mais alto nível, veja o que aconteceu:




(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Chipola Edu
© 2 Nick Laham / Getty Images

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