O Lucro e o Descrédito


A notícia primeiramente revelada na semana passada pela agência de notícias Associated Press, via sigilosos documentos oficias, informou que o Pittsburgh Pirates lucrou 29.4 milhões de dólares juntando as temporadas de 2007 e 2008, causando um furor nos torcedores do clube que não aguentam ver seu time constantemente dando vexames em campo.

Fazendo uma análise fria e apaixonada, logo se entende que os diretores/sócios/donos ficaram com boa parte desta grana feita, mesmo com o time sendo um dos piores da MLB. Porém ao estudar os números com racionalidade, levando em consideração a explicação da diretoria, é possível chegar a conclusão que nenhum dinheiro foi desviado.

Primeiro é preciso compreender que por mais que os fãs tenham uma parcela indireta nas finanças da franquia (compra de ingressos, produtos licenciados, etc.) a entidade é privada e, como qualquer outra empresa, não tem a obrigação de tornar público balanço de custos e arrecadações. Alguém de dentro da MLB vazou estes documentos para a AP e os Pirates responderam os questionamentos mais agudos acerca desta polêmica, procurando esclarecer as principais dúvidas.

Uma delas trata sobre a distribuição de 20.4 milhões de dólares para parceiros da franquia. Parte do dinheiro, cerca de US$ 11 milhões, foi destinado para pagar taxas federais e estaduais de indivíduos membros do corpo acionista (donos) referente ao ano fiscal de 2006 e 2007. Robert Nutting, dono majoritário dos Pirates, assumiu o posto em 2007 e mudou o estatuto do clube em relação ao pagamento de taxas individuais, embora o IRS (departamento do governo americano que fiscaliza a renda da população) exija que corporações paguem as taxas de seus respectivos donos. Por os Pirates serem na essência uma parceria formada com certas limitações, Nutting (foto abaixo) modificou essa obrigação dizendo que tal ação não é automática para uma empresa nesta determinada situação; a outra parte da específica distribuição, cerca de US$ 9 milhões, foi devolvida a família Nutting por empréstimos feitos ao clube em 2003.


A MLB aprovou todas as contas dos Pirates dos anos bases 2007 e 2008. Mesmo os documentos mostrando que os donos do clube não receberam nada pelo lucro produzido (desconsidere o recebimento do dinheiro emprestado, depósito automático datado na época quando ele se realizou), foi necessário também explicar de forma mais clara que isto de fato aconteceu. Os argumentos de Frank Connelly, presidente da franquia, esclareceram algumas coisas importantes sobre o mundo do clube e em qual direção a equipe se dirige.

Houve uma explanação sobre os investimentos da diretoria na reestruturação do elenco. Apesar de ser uma frase dita há muito tempo, os Pirates, segundo Connelly, está a meio caminho de se tornar um clube competitivo. Entrando no começo desta temporada o time tinha a menor folha salarial da MLB (US$ 34.9 milhões), já utilizou 46 jogadores (até 29/08), está prestes a chegar a derrota de número 100... Como assim se tornar competitivo?

Veja o San Diego Padres. Tinha no começo do ano a segunda menor folha de pagamento e é o atual líder da dificílima divisão Oeste da Liga Nacional. A projeção é que os Pirates elevem a folha salarial para próximo dos US$ 80 milhões se igualando perto do que gastam os Brewers e os Reds, rivais da divisão Central (LN). É algo que já vem sendo feito com as divisões de base e com os novatos contratados pela organização.

Os Pirates é um dos times que mais gastam com assinatura de jovens atletas. As mais recentes aquisições foram nesta frente pagando US$ 6.5 milhões de bônus para o arremessador Jameson Taillon – um valor recorde para a franquia; US$ 2.25 milhões de bônus para o arremessador Stetson Allie; e US$ 2,6 milhões de bônus para o arremessador mexicano Luis Heredia (de apenas 16 anos de idade). Outra questão surge: com todos estes bônus, os Pirates terão condições de assinar uma escolha numero 1 do draft? Conelly diz que sim e isso pode acontecer em 2011.

Claro que não é só de jovens que se faz um bom time de beisebol. Uma fonte de bons jogadores é o mercado de agentes livres e os Pirates, ao contrário da visão mais comum, não têm realizado um trabalho tão ruim assim. Se for elaborada uma lista dos jogadores que o clube perdeu para outros clubes por não ter condição ($) de assinar, dará uns dois times completos. Nestas mais recentes transações foram perdidos nomes como Jason Bay, Jose Bautista (foto abaixo, atual líder da MLB em HR), Nate McLouth e Matt Capps. Entretanto muita “bomba” foi passada para frente, evitando gastar muito com jogadores que pouco acrescentariam. O ideal é seguir os exemplos dos Texas Rangers e Tampa Bay Rays que contratam com uma precisão cirúrgica, porque não desfrutam de uma grande folha salarial; o que faz diminuir a margem de erro.


Caso seja feito um trabalho bem executado, os Pirates podem voltar a disputar vagas nos playoffs, ou ao menos vencer mais jogos do que perder. Basta continuar a levar seriamente este projeto que a diretoria tem em mãos. Talvez seja muita ingenuidade, mas é possível ver sinceridade no posicionamento de Connely e de Nutting enquanto ao processo de reformulação do clube (ambos estão juntos em Pittsburgh desde 2007), Aqueles torcedores mais otimistas estão esperando fechar a janela de seis anos, determinada pelos dois, para colocar um time forte em campo. Como dito anteriormente, meio caminho foi percorrido.

A desconfortável notícia do vazamento de documentos confidenciais causou uma reação raivosa dos que se importam com a franquia por verem números tão discrepantes. Contudo uma breve explicação dos chefes detalhou o que verdadeiramente ocorre, elucidando termos e condições que só pessoas com conhecimento fiscal e/ou administrativo conseguem destrinchar – talvez também seja este um dos motivos para que tais papéis não sejam publicados, podendo levar a uma distorção da interpretação dos números.

O que o torcedor dos Pirates quer saber é quando o time vai deixar de perder, quando o time vai voltar a ser vencedor. A diretoria aproveitou o momento e explicou a quantas anda o processo de revitalização da franquia dando sustentação a popular frase: há males que vem para o bem.




(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 por Pigiron

© 2 Doug Pensinger / Getty Images

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