Muni no Shinyuu*

Juntos nas horas boas e ruins, os tradutores dos jogadores japoneses da MLB fazem mais do que ser o mediador entre o atleta e a mídia, eles estão presentes em todos os momentos sendo responsáveis por ajudar os nikkeis não só nas atividades profissionais, mas também no dia-a-dia os auxiliando a se adaptar a uma nova cultura.

Alguns clubes contratam um intérprete profissional, geralmente um nipo-americano. Outros permitem que seus jogadores tenham um intérprete particular. Isso cria situações estranhas como o Atlanta Braves ter dois japoneses no elenco (Kenshin Kawakami e Takashi Saito) e nenhum tradutor oficial, enquanto os Rays, ao trocar Akinori Iwamura com os Pirates, mantiveram o tradutor Tateki Uchibori na organização.

Seja pessoal ou parte da franquia, o intérprete cuida apenas de um só jogador, justamente por demandar bastante tempo e atenção. Conheceremos agora aqueles que auxiliam cinco atletas da MLB e aprenderemos um pouco mais sobre estes anônimos que são importantíssimos para o desenvolvimento da carreira dentro e fora de campo dos atletas nikkeis.


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Ichiro Suzuki: Natural de Kasugai, prefeitura de Aichi na região Chūbu. Joga nos EUA desde 2001 e tem como atual intérprete Anthony Suzuki.

Anthony nasceu no Havaí e sempre sonhou em ser um jogador de beisebol profissional. Estudou em uma universidade no Japão com uma bolsa de estudo que lhe permitia fazer parte da equipe de beisebol. Apesar de não ter conseguido atingir seu objetivo, Anthony aprendeu bastante sobre os aspectos do jogo e a disciplina regular dos japoneses, lições que o ajudam no seu trabalho com os Mariners.

Ele é pago pelo clube e antes de trabalhar com Ichiro cuidava do catcher Kenji Johjima – Anthony começou sua carreira nos Padres com o arremessador Akinori Otsuka. Fazer esta ponte catcher-arremessador, arrmessador-catcher é a complicadíssima porque exige muita atenção do intérprete em passar todos os detalhes do plano de jogo como os sinais, características individuais de cada rebatedor adversário... Com Ichiro, Anthony tem um serviço tranquilo, mesmo tendo que por muitas vezes fazer companhia ao jogador nos treinos jogando a bola para ele rebater e aprimorando jogadas defensivas.

O caso Ichiro é clássico e responde a uma indagação corriqueira. Ele, com 10 anos na América, fala um bom inglês, porém não suficiente para ter uma conversa fluente com a mídia. O uso de um tradutor impede que Ichiro seja mal interpretado e torna a relação com a imprensa mais restrita, com Anthony fazendo as vias de um assessor controlando com quem e quando Ichiro vai falar.


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Hiroki Kuroda: Natural de Ōsaka, região Kansai. Joga nos EUA desde 2008 e tem como tradutor Kenji Nimura.

Os Dodgers têm um bom profissional na sua equipe. Nimura fala fluentemente três línguas (Inglês, Espanhol e Japonês), é formado em Antropologia e trabalha usando um método moderno de tradução, transmitindo o que Kuroda que falar de uma forma mais livre do que traduzir, literalmente, palavra por palavra do que diz o arremessador.

Nimura nasceu no Japão, mas foi criado em Los Angeles e estudou na Universidade Estadual de San Diego, estado da California. Ele também ajuda Kuroda nos afazeres extra campo e destaca uma dificuldade dos atletas nikkeis: “Uma coisa é ser bilíngue, outra coisa é ser bicultural”. Dentro do clube, Kuroda brinca com os companheiros e é bem quisto por todos, contando com a ajuda da linguagem universal do beisebol. Já fora deste mundo Nimura está sempre presente, inclusive para satisfazer uma paixão de Kuroda: assistir a série televisiva Prison Break. Porém Nimura não faz mais do que comprar os DVD`s dublados em japonês, é claro.


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Takashi Saito: Natural de Sendai, capital da prefeitura de Miyagi, região Tōhoku. Joga nos EUA desde 2006 e tem como tradutor Kosuke Inaji.

O salário anual de Inaji gira em torno dos 45 mil dólares, pago em sua totalidade por Saito. Para o tradutor é um bom negócio, pois ele largou um bom emprego dentro da sua área profissional para iniciar este trabalho alternativo.

Formado em Biotecnologia pela Universidade California Davis em 2009, Inaji logo conseguiu um emprego na empresa Campbell Seeds com um salário de US$ 12/hora. Ele achou melhor fazer parte da franquia Braves e almeja crescer dentro do organograma do clube. São profissões totalmente opostas, uma exata e outra humana, mas ele está gostando do trabalho até agora, só que já percebeu o quanto é desgastante ser um intérprete, tendo que acordar cedo, dormir tarde e estar com o jogador em todos os lugares. Rotina que começa em Fevereiro e vai até o final de Setembro (ou Outubro, se o time avançar até a pós-temporada).


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Hideki Matsui: Natural de Neagari, prefeitura de Ishikawa, região Chūbu. Joga nos EUA desde 2003 e tem como tradutor Roger Kahlon.

Por Matsui ter sido o MVP da World Series de 2009, Kahlon brilhou junto com seu cliente: foram entrevistas concorridas com importantes orgãos da imprensa, passeio em New York, conversa com o prefeito, conversa com o presidente...

Roger está com Matsui desde o começo da sua carreira na MLB e na troca Yankees-Angels o tradutor foi junto com o DH; Roger não faz parte da franquia. Kahlon conta que a relação entre ambos é de pura amizade e ele gosta de relatar o que aconteceu na primeira temporada deles na MLB. Nesta situação, claramente um dependia do outro, pois Matsui estava chegando a outro país e Kahlon nunca tinha feito um trabalho de intérprete antes. Então Roger ajudava Hideki na adaptação ao país e o jogador ajudava o tradutor em como lidar com pessoas acostumadas ao glamour – Matsui já era estrela na terra do sol nascente.

Kahlon nasceu no Japão e é filho de um indiano com uma filipina.

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Kazuo Matsui: Natural de Higashiōsaka, prefeitura de Ōsaka, região Kansai. Joga nos EUA desde 2004 e tinha como tradutor Yoshitaka Ono.

Antes que a dúvida surge, não há parentesco entre Kazuo e Hideki.

O tinha é porque Ono, um intérprete profissional, não trabalha mais com Kazuo, que está na divisão de base (minor) dos Rockies jogando pelo Colorado Springs Sky Socks. Ono experimentou momentos diversos com seu cliente, exemplificando a noção de participar das alegrias e tristezas.

Na sua primeira passagem pelos Rockies, Kazuo foi fundamental nos playoffs de 2007 e na classificação inédita do clube à World Series. Sempre presente estava Ono para ser o elo de ligação entre a imprensa e o jogador que era bastante requisitada para entrevistas e reportagens. Embora o sucesso tenha surgido, ao final da temporada Kazuo foi trocado para o Houston Astros e após dois campeonatos de baixa produtividade, o 2B foi dispensado. E lá estava Ono para comunicar à imprensa da saída do Kazuo da MLB e, consequentemente, sua saída também.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Dilip Vishwanat / Getty Images
© 2 e 3 Lisa Blumenfeld / Getty Images
© 4 Eric Hartline / US Preswire


*Melhor Amigo em japonês

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