Sentidos e Direções


Por que um garoto de 23 anos decidiu abandonar o football?

Esta pergunta foi formulada pelos admiradores da NFL que receberam a notícia da aposentadoria de Glenn Coffee (foto acima), ex-RB do San Francisco 49ers e promissor atleta – o clube contratou como seu substituto o RB Brian Westbrook, ex-Eagles. Para Coffee o football não é mais a sua prioridade e larga assim uma chance única que poucos conseguem. Decide voltar para a Universidade Alabama e conseguir o diploma em Direitos do Consumidor, curso que deixou no terceiro ano para ingressar na NFL. Retornar a Alabama lhe proporcionará lembranças que poderão lhe deixar mais confuso, porém certo em si de que a melhor opção foi escolhida.

Na poderosa universidade, atual campeã do BCS, ele exibiu performances correndo com a bola de um RB talentoso o suficiente para brilhar no profissional. Em Alabama ele encontrou a Cristo. Sentimentos misturados invadiram sua mente ao terminar a temporada 2008 e a chance de ir para a NFL apareceu em sua frente após números fantásticos: 1383 jardas em 233 corridas (média de 5.9) para 10 TD´s. No mais íntimo, Coffee estava em dúvida, mas ele não desperdiçaria a oportunidade esperada desde criança e entrou no draft de 2009. Os 49ers o escolheram na posição 74, 3ª rodada.

Ele não deixava as suas incertezas transparecerem, mantinha elas em particular. Seu jogo agressivo e “trombador” é a combinação ideal no estilo ofensivo do treinador Mike Singletary. Aos poucos a comissão técnica foi lhe dando mais participação no ataque da equipe. Ano passado, correu 83 vezes numa média de 2.7 jardas por tentativa e marcou 1 TD. Nesta temporada, seu segundo ano na liga, Singletary o colocaria em campo um maior números de vezes. Coffee sabia disto, porém não seria o melhor para ele.

As tais incertezas começaram a aparecer externamente e não conseguia se concentrar 100% no football. Algo lhe impedia de desempenhar com a bola oval seu talento: um chamado. O desejo de ajudar o próximo e realizar grandes coisas para o Reino de Deus fizeram que Coffee deixasse o esporte de lado para abrir os braços ao cristianismo. Ele não quer só ser um membro, quer ser um membro atuante, participativo. Enquanto isso Alabama está a sua espera e lá ele irá reviver os tempos que o levaram a conhecer Cristo. De lá muitas missões o esperam.

Coffee poderia continuar na NFL e ser ativo no trabalho cristão? Sim. Só que para ele esta não era a superior das escolhas. Al Harris, cornerback do Green Bay Packers, decidiu expandir ao mundo sua vocação cristã sem largar a NFL ou sua recuperação de uma lesão no ligamento cruzado anterior (ACL) do joelho. Harris inovou ao postar no site YouTube vários vídeos mostrando todo seu trabalho de fisioterapia e fortalecimento realizados nesta pré-temporada. No meio tempo ele finalizava outro trabalho que chegará às ruas neste mês.

Pela sua gravadora, 3irty1 Entertainment, seu amigo de infância lançará um álbum de rap gospel. Kevin Soto (apelidado Proof) é parceiro de Harris a mais de 25 anos. Os dois cresceram no mesmo bairro, mas tomaram rumos diferentes. Harris se modelava um jogador da NFL na NCAA e Soto se envolvia com o crime. Ao chegar na liga, Al não deixou seu amigo de lado e sempre o visitava, seja na prisão ou no bairro natal. Nestas conversas o jogador queria lhe apresentar outro amigo que Soto deveria conhecer, porém o encontro era adiado constantemente.

Em 2008, Soto foi aonde Harris encontrou Cristo e hoje os três se reúnem no mesmo local. O ministério Word Of The Living God ganhou um missionário; Soto visita cadeias e prisões para mostrar outra direção, palavras que tem valor para os que ouvem por saber por onde passou aquele que está falando. Junto com seu amigo famoso, o rapper vai propagar a mesma mensagem através da música e, quem sabe, conseguir mudar o rumo de quem claramente está perdido.


Ser um atleta profissional não impede de exercer sua crença. Harris entendeu isto. O mesmo acontece com Husain Abdullah (foto acima), safety do Minnesota Vikings. Muçulmano, ele está em jejum por este ser o mês do Ramadã – começou dia 13 de Agosto. Isto quer dizer que ele não se alimenta ou bebe água durante o dia; só quando o sol se põe é permitido se alimentar. Sacrifício necessário? Husain responde: “Não coloco nada antes de Deus, nada antes da minha religião. Isto é uma coisa que eu escolhi fazer, ninguém me obrigou. Por isto eu sempre irei jejuar” disse o jogador à agência de notícias AP.

Husain jejua desde os sete anos e este é mais um mês que ele ira expor o quanto o Islã e seus preceitos são importantes para sua pessoa. Mesmo sendo uma atitude ousada ele assume o risco, pois não é nada seguro nem sáudável treinar em dois períodos sem tomar um gole de água sequer. Mais do que uma demanda exterior, o importante é estar de bem consigo e Husain se sente desta forma. A comissão técnica dos Vikings entende e faz um plano especial para ele.

O departamento de nutrição do clube prepara um mega café da manhã (antes do sol nascer) para que Husain tenha energias suficientes a serem gastas no dia. O jantar é especial também, feito para recuperar os nutrientes perdidos com o suor e o desgaste. Na madrugada ele acorda para tomar um milk shake protéico, reforçando mais seu sistema.

Todos da organização respeitam o comprometimento de Husain e alguns, inclusive, vão fazer o jejum pelo menos por um dia, mostrando apoio ao companheiro.

O safety dos Vikngs, parte fundamental do time de especialistas em 2009, não esconde sua fé. Não deixa que nada atrapalhe o exercício da sua crença e mostra a todos sobre o que verdadeiramente acredita. Igor Olshansky, defensive end do Dallas Cowboys, também torna explícita sua fé, marcada com uma tatuagem na clavícula.

A Estrela de David indica que ele é um judeu e não só porque desenhou a estrela de seis pontas no corpo; Igor é um ativo em trabalhos da sinagoga e estudou numa escola tradicional em San Francisco, a Academia Hebraica que tem como base de ensino o judaísmo ortodoxo. De antigo ele não tem nada e por isto acaba sendo uma referência aos jovens judeus, os estimulando a exercer as práticas judaicas no cotidiano. Igor não que ser o modelo de judeu, entretanto ele procura obedecer rigorosamente os costumes da sua religião, não deixando que nada impeça dele fazer isto.

O mundo da NFL é rodeado de jogadores praticantes da maldade e com comportamentos dúbios. Por mais que alguém ache na religião algo de ruim, deve se considerar que pelo menos os inúmeros atletas que exercem sua respectiva fé estão buscando fazer o bem. A imagem de uma liga problemática, com atletas agindo de forma intransigente, pode ser usada como comparação a imagem de caras que fazem de tudo para cumprir os dogmas religiosos e serem bons exemplos para os que estão de fora.


Tim Tebow, quarterback do Denver Broncos, é o exemplo mais nítido de um jogador que demonstra sua fé em campo. Quando estava na Universidade da Flórida (leia: O Popular), ele usava dois adesivos pretos embaixo dos olhos. Neles Tebow escrevia versos bíblicos; o que agora é proibido pela NCAA. Ele é a capa principal do jogo eletrônico NCAA Football 11 da EA Sports, o simulador mais completo do gênero. Só que uma coisa falta nas fotos de Tebow: os versos bíblicos nos adesivos. A empresa não permitiu a escrita das siglas e números, numa atitude que não causou repercussão. Agora se Tebow se “transformar em normal” e pecar...

Este é um dos preços que pagam aqueles que não escondem sua religião: ser alvo preferido dos maldizentes. Chegar a público e dizer “Eu sou Cristão” ou “Eu sou Muçulmano” ou “Eu sou Judeu” é se colocar numa delicada posição perante os hipócritas, que se armam prontos para arremessar objetos no teto de vidro dos outros sem se preocupar com seus próprios telhados.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 ESPN
© 2 Cougfan
*Capas do jogo NCAA Football 11 pertencem a EA Sports

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