A idolatria esportiva custa caro e o Los Angeles Lakers é a vítima da vez


Clubes enfrentam um dilema quando um ídolo chega ao fim da carreira e uma dúvida surge: renovar o contrato ou não? O Los Angeles Lakers (NBA) optou por estender o contrato de Kobe Bryant até 2016 por US$ 48,5 milhões. O compromisso firmado mais pelo o que ele fez do que poderá fazer, custará ao time muito mais do que o exagero de dólares compromissados.

O jogador nada tem a ver com a direção da diretoria – como ele bem disse em entrevista coletiva. Apenas aceitou o que lhe foi oferecido. O receio de ver Bryant vestindo outro uniforme fez com que os Lakers supervalorizassem o astro da NBA, pagando um valor que se justifica apenas em performances passadas.

E quando acordos são fechados baseados no passado, eis um clamoroso erro.

Não há questionamentos sobre a qualidade de Bryant e o que ela ainda pode render em suas temporadas finais no melhor basquete do mundo. O problema é pagar um preço altíssimo como esse e comprometer toda a folha salarial do elenco, não dando brechas para que nomes relevantes cheguem em Los Angeles e ajudem a equipe a ser competitiva.

Mas a idolatria fala mais alto.

Caso similar aconteceu com o New York Yankees quando renovou com Derek Jeter no final de 2010. O contrato também foi elaborado com base no passado e o mesmo medo que sondou os Lakers visitou os Yankees – imagina Jeter com a camisa dos Red Sox?

Contudo é preciso administrar um clube com a razão ao invés da paixão, encarar as movimentações financeiras e de Recursos Humanos como fazem as grandes empresas.

Da mesma forma que há exemplos ruins existem os bons.

O Green Bay Packers decidiu não se comprometer mais com Brett Favre, um dos maiores nomes da história da NFL e super identificado com a franquia e com a cidade – nomes de rua e restaurantes têm Favre na placa. Mas enxergaram a longo prazo, o deixou partir e apostou no garoto Aaron Rodgers. O resultado? Um troféu do Super Bowl para os Packers liderados por Rodgers.

Favre passeou pela NFL, chegou a jogar no rival Minnesota Vikings, porém foi só isso.

O Indianapolis Colts, também da NFL, escolheu um novato e não se apegou ao ídolo Peyton Manning. Uma ruptura difícil, porém a ideal para a franquia. Manning está em Denver e pode levar os Broncos ao Super Bowl, só que os Colts estão mais seguros (financeiramente e em campo), com um quarterback – Andrew Luck – altamente capacitado em manter a franquia na elite da liga.

Na MLB o Saint Louis Cardinals é o exemplo mais nítido da importância em não se apegar tanto a um ídolo. Albert Pujols deixou o clube em 2012, um dos maiores nomes da franquia mais vitoriosa da liga. Até que os Cardinals ofereceram um alto contrato para renovar com o jogador – US$ 210 milhões em 10 anos –, mas Pujols não aceitou (teve ainda a sua mulher dizendo que a oferta foi um “insulto). O clube escolheu não se comprometer e não aumentou a proposta. Então veio o Los Angeles Angels e colocou na mesa US$ 254 milhões em 10 anos. Pujols aceitou.

Os Cardinals aproveitaram e reformularam o elenco. Essa ação culminou na ida à World Series neste ano (perdeu para o Boston Red Sox). Já os Angels não foram aos playoffs nem em 2012 nem em 2013.

Chega a ser constrangedor como a idolatria cega os torcedores/dirigentes, que cheios de paixão não compreendem a importância do “não dá mais”. No futebol brasileiro ocorre um fenômeno parecido com esses citados, que envolve a vista grossa pela vergonha alheia.

Rogério Ceni é tido como “mito” no São Paulo. Merece todo o reconhecimento pelo o que fez; e não pelo o que faz. Pude presenciar emoções curiosas ao estar no estádio do Morumbi acompanhando a partida entre São Paulo e Portuguesa (2 a 1). Ceni cometeu duas falhas graves, uma errando o tempo de bola tentando cabecear a bola, que resvalada por pouco não entra no gol. Foi para escanteio. Se entrasse, seria um gol contra vergonhoso.

O torcedor na arquibancada respirou fundo. Nenhuma palavra foi dita. Preferiram não enxergar a realidade e “passaram a mão na cabeça do mito”.

Bryant pode ter o mesmo fim? Provavelmente. Vem de contusões que limitam seu jogo. Os Lakers deveriam usar a perspectiva e deixá-lo partir. Assim poderia reformular completamente o elenco, entrar forte no draft de 2014 (um dos melhores da última década) e construir mais um time vencedor.

Entretanto se ajoelhou ao ídolo e terá de amargar a mediocridade nos próximos 3, 4 anos.

(GL)
Escrito por João da Paz

Parceria MTV – MLB é afirmação da crise e um grand slam


A MLB enfrenta temporada após temporada problemas com público nos estádios e audiência na TV. Se por um lado chega a perder para a MLS, por outro a World Series atinge números de jogo de temporada regular da NFL. Para recuperar o terreno perdido na corrida da popularidade dos esportes americanos, focar nos jovens é uma estratégia certeira.

A liga anunciou ontem (11) uma parceria com a MTV para exibir uma série durante a temporada 2014 que mostrará os jogadores da MLB fora de campo, destacando curiosidades e paixões dos homens que formam os elencos das 30 franquias. O método usado nas exibições será entrevistas e perfis. Andrew McCutchen e David Ortiz serão os produtores executivos do programa que será gravado na MLB Fan Cave em New York. Todas as plataformas do canal (MTV, MTV2, mtvU, MTV Hits, MTV Jams e site) vão veicular spots sobre a MLB. O programa semanal, a partir de Abril do ano que vem, vai ao ar na MTV 2.

Essa iniciativa evidencia o problema que a MLB tem em falar com o público jovem. A missão do comissário Bud Selig, no cargo desde 1998, em seu último ano no serviço, é criar um bom diálogo com essa faixa etária que são consumidores em potencial num grau elevadíssimo. Falar a linguagem deles também é fundamental para criar vínculo, fidelidade.

Hoje a MLB é um liga de “velhos”, com enorme dificuldade em ter uma linguagem mais contemporânea, ficando atrás das grandes ligas americanas (NFL, NBA e NCAA) e de outras (NHL, NASCAR e MLS) no que tange à modernidade na composição do produto.

O marketing é aquele setor básico para uma transformação que a MLB precisa. Fazer trabalho em conjunto com a MTV é um passo interessante na retomada de relevância.

A MLB se sustenta no tradicionalismo. Em contrapartida, NBA e NFL agem com agressividade andando de mãos dadas com o presente e sempre visando o futuro. A NFL, com pudor ou sem, apoia uma campanha legítima como o Outubro Rosa, mas com interesses além da filantropia na lista de prioridades. Fora vender mais produtos, a ideia é fidelizar o ávido consumismo feminino com o objetivo de não perder espaço em anos vindouros.

Funciona assim: o alvo principal da campanha ocorrida no mês passado são as mulheres entre 18 e 30 anos, faixa considerada de “mães em potencial”. Se elas passam a consumir a NFL corriqueiramente (virar fã), terão menos resistência em impedir que seus filhos não joguem football (ou admirem o esporte), isso quando bombardeados pelo debate sobre a violência e concussões do jogo.

A brilhante visão da NFL tem a meta de não perder a popularidade que tem hoje, cuidado que a MLB não teve quando desfrutava do termo “passatempo dos americanos”.

De certa forma, esse rótulo ainda está estampado na MLB, mas por ser o único esporte do verão do que qualquer outra coisa. Focar nos jovens numa plataforma que tem esse nicho como target, está no planejamento ideal na movimentação de não ficar tão atrás assim no mercado dos esportes americanos.

Os puristas fundamentalistas do beisebol clamam aos quatro cantos que o esporte está bem, que não há necessidade de mudança e outras baboseiras. Mentiras e falácias. A MLB passa por dificuldades com o publico mais jovem e reconhecer isso é um passo.

O seguinte é agir, por isso fazer parceria com a MTV é uma atitude mais do que correta.

O próximo é ter qualidade, conseguir fincar raiz no impaciente, porém rentável, público jovem.

E que não apenas sejam consumidores das marcas, cores e logos da MLB pelo simples motivo “fashion”.

(GL)
Escrito por João da Paz

Miami Dolphins, as ofensas e o ofendido


O jogador da linha ofensiva do Miami Dolphins, Jonathan Martin (foto acima), abandonou o time na semana passada. A inesperada ação causou espanto, pois só um acontecimento muito grave para um atleta tomar esse tipo de atitude. A imprensa foi atrás dos porquês e uma tormenta.

Martin deixou o clube por considerar ser vítima de bullying, de assédio moral. Ele não especificou da onde partiu as ofensas, mas reportagens apontam que seu companheiro de linha ofensiva, Richie Incognito, foi o autor dos ataques verbais e intimidações.

O apurado pela mídia mostra que Incognito abusava de Martin, exigindo que pagasse viagens e jantares, fora o tratamento inadequado no ambiente de trabalho. O que explodiu agora teve um ponto culminante em Abril deste ano, quando Incognito deixou esta mensagem na caixa postal de Martin:

E aí, seu meio-negro de m---. Vi você no Twitter, que está treinando a 10 dias. [Eu quero] c--- na sua p--- de boca. [Eu vou] bater na sua p--- de boca. Vai se f---, você ainda é um novato. Eu te mato

Um assunto tão delicado como esse tomou conta do noticiário nos últimos dias, extrapolando os limites do jornalismo esportivo, fazendo com que pessoas não familiarizadas com a NFL opinassem sobre. Entre argumentações de especialistas e leigos, um ponto extremamente básico é desprezado.

Antes de acusar Incognito de animal e Martin de delicado, tem algo fundamental que se perde nas emoções: o ofendido.

Não importa o quanto o linguajar chulo e comportamento ignorante é parte da cultura da NFL, se uma pessoa se diz ofendido por algo que fizeram contra ela, é suficiente para rotular o “brincalhão” de agressor, passível de punição civil (difamação).

Isso basta para encerrar qualquer discussão – e dar a voz da razão para Martin. Jogadores da liga disseram terem passado por situações piores, mas “encararam como homens” e seguiram em frente. A ação tomada por Martin de abandonar o elenco não faz dele menos homem nem o lado fraco da história. Ele, efetivamente, agiu com coragem e não aceitou ficar num ambiente contrário ao que entende ser o correto numa equipe de football.

(GL)
Escrito por João da Paz

David Ortiz é um herói, um herói suspeito


O dominicano David Ortiz está na história do Boston Red Sox, uma das mais importantes franquias dos esportes americanos. Ele está há 11 anos no clube e participou das últimas três conquistas da World Series (2004, 07 e 13). Nessa última foi considerado o MVP, o melhor jogador das finais. Mas uma dúvida paira a conquista do jogador de 37 anos.

Essa idade é o marco final da carreira, que tem um asterisco sim, a mancha do doping.

Nos últimos anos de MLB a performance de Ortiz não declinou como de costume, pelo contrário, atingiu números de um rebatedor no auge. Ortiz admitiu em 2009 que usou esteroides, relembrando flagra em teste no ano de 2003 (junto com Alex Rodriguez, New York Yankees), mesmo ano que entrou nos Red Sox. O Minnesota Twins o dispensou por baixa produtividade e “de repente” ele melhora seus números?

Veja que é legítimo suspeitar de Alex Rodriguez, mas não de David Ortiz.

Um erro não justifica o outro, porém a negação burra é nociva. Isso ocorre para não macular uma bela história e querer que o desfecho seja uma cópia de um conto de fadas.

Boston enfrentou momentos difíceis em 2013, principalmente pelo atentado ocorrido na tradicional maratona da cidade. O slogan Boston Strong foi abraçado pelos Red Sox e Ortiz, como um dos veteranos, liderou a equipe, que deixou o último lugar da tabela em 2012 para ser a campeã neste ano.

Dizer que Ortiz merece uma análise suspeita em relação a seu desempenho na temporada encerrada é totalmente plausível. Só quem o defende dirá ser algo sem sentido e inapropriado.

Porque o final tem de ser fantasioso.

Aí apelam para o termo acredito, misturando fato com fé – coisas diferentes.

Existe provas de Ortiz ter jogado dopado na World Series 2013? Não. Existe provas de Ortiz não ter jogado dopado na World Series 2013? Não. Logo, se acreditar no jogo limpo do rebatedor é aceitável, suspeitar (devido a seu histórico e produção) é tão quanto.

Só que ninguém quer dar o braço a torcer.

Não querem saber que Lance Armstrong, o grande mito filantrópico do esporte mundial forjou suas conquistas se escondendo atrás de substâncias estimulantes/proibidas.

Não querem saber que Michael Jordan agrediu companheiros (soco mesmo) e tinha sérios problemas com apostas ilegais.

O contrário vale também.

Afinal, A-Rod é o vilão egocêntrico. Mais um jogador dos Yankees, alvo de um ódio doente.

LeBron James “largou” Cleveland e nem quem tem interesse no assunto se doeu por ele querer uma carreira melhor e mais saudável. Será execrado sempre, mesmo que fatos comprovem diferente, pois creem no vilão e não aceitam um posicionamento oposto.

Nem o vil A-Rod, nem o herói Ortiz vão entrar no Hall da Fama da MLB. O rebatedor dos Yankees também teve uma pós-temporada suspeita, em 2009, quando foi eleito o melhor jogador dos playoffs e conseguiu números nunca antes visto em sua carreira. Levantou a taça da World Series.

Ambos são dignos de suspeita, porém é raro achar uma voz sensata sobre o assunto. Quem odeia os Yankees ou os Red Sox vai atacar o jogador respectivo. E a defesa será na base da famigerada injustiça, rechaçando com veemência o rótulo de suspeito.

Negar falhas é encobrir erros.

É errar outra vez.

(GL)
Escrito por João da Paz