David Ortiz é um herói, um herói suspeito


O dominicano David Ortiz está na história do Boston Red Sox, uma das mais importantes franquias dos esportes americanos. Ele está há 11 anos no clube e participou das últimas três conquistas da World Series (2004, 07 e 13). Nessa última foi considerado o MVP, o melhor jogador das finais. Mas uma dúvida paira a conquista do jogador de 37 anos.

Essa idade é o marco final da carreira, que tem um asterisco sim, a mancha do doping.

Nos últimos anos de MLB a performance de Ortiz não declinou como de costume, pelo contrário, atingiu números de um rebatedor no auge. Ortiz admitiu em 2009 que usou esteroides, relembrando flagra em teste no ano de 2003 (junto com Alex Rodriguez, New York Yankees), mesmo ano que entrou nos Red Sox. O Minnesota Twins o dispensou por baixa produtividade e “de repente” ele melhora seus números?

Veja que é legítimo suspeitar de Alex Rodriguez, mas não de David Ortiz.

Um erro não justifica o outro, porém a negação burra é nociva. Isso ocorre para não macular uma bela história e querer que o desfecho seja uma cópia de um conto de fadas.

Boston enfrentou momentos difíceis em 2013, principalmente pelo atentado ocorrido na tradicional maratona da cidade. O slogan Boston Strong foi abraçado pelos Red Sox e Ortiz, como um dos veteranos, liderou a equipe, que deixou o último lugar da tabela em 2012 para ser a campeã neste ano.

Dizer que Ortiz merece uma análise suspeita em relação a seu desempenho na temporada encerrada é totalmente plausível. Só quem o defende dirá ser algo sem sentido e inapropriado.

Porque o final tem de ser fantasioso.

Aí apelam para o termo acredito, misturando fato com fé – coisas diferentes.

Existe provas de Ortiz ter jogado dopado na World Series 2013? Não. Existe provas de Ortiz não ter jogado dopado na World Series 2013? Não. Logo, se acreditar no jogo limpo do rebatedor é aceitável, suspeitar (devido a seu histórico e produção) é tão quanto.

Só que ninguém quer dar o braço a torcer.

Não querem saber que Lance Armstrong, o grande mito filantrópico do esporte mundial forjou suas conquistas se escondendo atrás de substâncias estimulantes/proibidas.

Não querem saber que Michael Jordan agrediu companheiros (soco mesmo) e tinha sérios problemas com apostas ilegais.

O contrário vale também.

Afinal, A-Rod é o vilão egocêntrico. Mais um jogador dos Yankees, alvo de um ódio doente.

LeBron James “largou” Cleveland e nem quem tem interesse no assunto se doeu por ele querer uma carreira melhor e mais saudável. Será execrado sempre, mesmo que fatos comprovem diferente, pois creem no vilão e não aceitam um posicionamento oposto.

Nem o vil A-Rod, nem o herói Ortiz vão entrar no Hall da Fama da MLB. O rebatedor dos Yankees também teve uma pós-temporada suspeita, em 2009, quando foi eleito o melhor jogador dos playoffs e conseguiu números nunca antes visto em sua carreira. Levantou a taça da World Series.

Ambos são dignos de suspeita, porém é raro achar uma voz sensata sobre o assunto. Quem odeia os Yankees ou os Red Sox vai atacar o jogador respectivo. E a defesa será na base da famigerada injustiça, rechaçando com veemência o rótulo de suspeito.

Negar falhas é encobrir erros.

É errar outra vez.

(GL)
Escrito por João da Paz

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