Almejando ser diretora de beisebol, Kim Ng flui com sutileza pelos corredores da MLB


20 anos depois de começar sua carreira no beisebol, Kim Ng coleciona anel de graduação, anéis de campeã, episódios preconceituosos e conquistas alcançadas com um tremendo esforço. Ao lado do seu nome está escrito “Vice Presidente Sênior da MLB” e junto com ela está trabalhando uma das lendas do beisebol: Joe Torre – Vice Presidente Executivo da MLB. Esta é mais uma etapa que Ng (pronuncia: ang) completa para chegar aonde deseja, ser diretora de beisebol (GM) de uma franquia da MLB.

Na caminhada íngreme e espinhosa percorrida até agora, Ng conseguiu quebrar recordes e um deles foi ser a primeira mulher a ser entrevistada oficialmente por um clube para ocupar o cargo de diretora de beisebol; aconteceu com o Los Angeles Dodgers em 2005. Depois foram mais duas entrevistas, Seattle Mariners em 2008 e San Diego Padres em 2009. A fama nos bastidores crescia e sua contratação para GM estava prestes a ser concretizada por alguma franquia, mas ela optou entrar no organograma da MLB, escolha que faz parte da estratégia.

Atualmente muitos clubes buscam nos cargos diretores da MLB alguém que tenha capacidade de gerenciar as operações de beisebol. Ng aceitou também este cargo por ser extremamente importante e para estar com Torre, pessoa que confia muito nela e com quem trabalha pela terceira vez.

No campus da Universidade de Chicago, Kim só pensava em beisebol quando o assunto era o time de softball das Maroons. Estrela do elenco, jogava bem e era destaque. Na conclusão do seu curso de Políticas Públicas, resolveu fazer um TCC sobre uma lei americana conhecida por Title IX. Entre outras determinações, obriga que escolas e universidades não proíbam a participação de mulheres em qualquer esporte e incentiva as instituições educacionais a proporcionar atividades que possam ser praticados pelas garotas. Ng envolveu muito com este seu projeto e acabou criando dentro de si uma vontade grande de trabalho no meio esportivo.

Terminou a faculdade e lá estava ela conversando com os treinadores de beisebol/softball dos Maroons tentando achar um QI (quem indica). Foram muitos currículos enviados, muitas conversas até que um dos times representantes da cidade na MLB, os White Sox, decidiu contratá-la, ocupando o cargo de Analista Especial de Projetos durante quatro temporadas: 1991 até 1994, período que trabalhou com Dan Evans, seu chefe. Mais pra frente os dois iriam se encontrar novamente.

Passou três anos na diretoria da Liga Americana, uma das divisões da MLB. Exercia a função de coordenar todas as transações de jogadores, aprovando ou recusando contratos. Tal experiência acabou e a brincadeira de verdade estava para começar.

Em 1997, ao final da temporada, ela é contratada pelo New York Yankees. Brian Cashman, atual diretor de beisebol do clube, assumiu este cargo em 1998 e Ng tornou-se sua assistente e Vice Presidente de Operações. Era iniciada uma dinastia orquestrada pelos dois.

Sem estrelas e com um jovem Derek Jeter, os Yankees venceram a World Series de 98. A base foi mantida pela dupla e veio o bi em 99. 2000 marcou a conquista do tri e em 2001 disputaram à quarta final consecutiva, porém quem ganhou foi o Arizona Diamondbacks.


Ng participou ativamente na criação destes times. No seu primeiro campeonato, em menos de um ano, foram 17 importantes transações, fundamentais para os títulos que vieram na sequencia. O treinador dos Yankees era Joe Torre e a relação entre eles era muito saudável. Ng sempre foi realista com os pedidos de aquisição de jogadores por parte de Torre e o presenteava com peças de qualidade, mesmo que não tenha sido a primeira opção.

Em 2002 os Dodgers renovaram por completo sua diretoria e o então GM Dan Evans, no cargo desde 2001, comandou as mudanças. Telefonou para sua ex-companheira, dos tempos em Chicago, e perguntou se queria mudar de ares e trabalhar com ele em Los Angeles. Ng aceitou e atravessou os EUA com a missão de ajeitar o clube dos “meninos de azul”.

Com os Dodgers Kim adquiriu uma bruta experiência e passou por momentos críticos, mas seu cargo de Assistente do Diretor de Beisebol permaneceu intacto durante sua passagem. Em 2004 Evans foi demitido com a chegada do novo “dono” do clube, Frank McCourt. Aconselhado por membros da diretoria, decidiu continuar com Ng. O novo GM, Paul DePodesta, foi demitido em 2005 e Ng continuou no seu cargo. McCourt gostava muito do trabalho de Ng e colocou-a como uma das possíveis candidatas para ser GM, mas Ned Colletti ganhou o cargo. Contudo a assistente continuou firme nas suas atividades. O respeito com Ng era tão grande que, naturalmente, foi dada a chance de buscar um espaço de GM em outros clubes nas mandatórias entrevistas que estes devem fazer.

Ela sobreviveu essas tribulações e em 2008 encontrou um antigo amigo.

Felicidade total quando Torre foi nomeado o novo treinador da equipe. Mais uma vez o encontro de duas grandes personalidades do beisebol, promessa de sucesso. Chegaram à decisão da Liga Nacional por duas temporadas seguidas (‘08 e ’09, derrotados pelo Philadelphia Phillies). A última vez que os Dodgers tinham alcançada às finais da Liga Nacional foi em 1988, ano do mais recente título da World Series da franquia.

Torre em 2010 se aposentou, pendurou o boné de treinador, mas não largou o beisebol. Convidado pela MLB para trabalhar num cargo executivo, de imediato aceitou. Passou a mão no telefone e entrou em contato com sua amiga e fez uma proposta. A tal concordou e tornou-se Vice-Presidente Sênior da MLB.

O trabalho de Ng hoje é cuidar das ações internacionais da MLB: Japão, República Dominicana e etc. Ela acredita que esta experiência trabalhando nos escritórios da liga lhe trará mais bagagem ao encarar a próxima entrevista que fizer para o cargo de GM. Quando for efetivada será uma grande vitória, entretanto somente o fato de seu nome está na conversa dos donos é importantíssimo.

Ng comenta que seu episódio preferido nestes 20 anos de carreira na MLB veio embutido numa resposta de um dono a um repórter. Certa franquia, a qual Kim prefere não citar, estava procurando um diretor de beisebol. Ao ser questionado se os outros membros da diretoria iriam permanecer em seus respectivos cargos com a aquisição de um novo GM, o mencionado dono respondeu: “Isso vai depender se ele, ou ELA, vai trazer sua equipe de confiança”.

A ênfase no ELA já é um triunfo e a deixou bem lisonjeada, porque um dono tratou com respeito a possibilidade de poder contar com seu trabalho. Ng tem noção que seu nome é forte e aguarda segura uma próxima oportunidade.

No inconsciente sabe que a esperança não traz confusão.



(GL)
Escrito por João da Paz

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