Um ano depois, lei de imigração no estado de Arizona causa indiferença nos jogadores da MLB

Seja bem-vindo ao estado do Grand Canyon


O estádio dos Diamondbacks (Chase Field) na cidade de Phoenix, estado do Arizona, recebe o 82º Jogo das Estrelas da MLB. Os eventos começaram na última sexta e vai até terça (12) com o duelo entre os jogadores escolhidos pelos fãs: Liga Nacional contra a Liga Americana. Esta festividade importante é cercada de uma controvérsia fora de campo que acompanha, desde Abril de 2010, paralelamente as notícias dentro dele.

A contestação é fundamentada na polêmica lei estadual aprovada pela Governadora Jan Brewer (Partido Republicano – direita conservadora). Conhecido pelo número 1070, o “Ato de Apoio ao Exercício da Lei e Proteção à Vizinhança” tem como objetivo central intensificar uma lei federal sobre a imigração ilegal. Arizona faz fronteira com o México, uma das divisas mais perigosas dos Estados Unidos. Existem cerca de 450 mil imigrantes ilegais em seu território e o estado sofreu muito devido a batalha do país vizinho contra o tráfico de drogas, com uma invasão grande de bandidos atravessando a fronteira.

Uma lei federal americana determina que qualquer pessoa acima dos 14 anos e que está mais de 30 dias no país (visto vencido) vá até o governo para legalizar sua estadia. O documento criado deve estar com a pessoa a todo o momento. O ato assinado pela governadora Brewer criminaliza quem não estiver com o documento referido. A pena mínima é uma multa de US$ 500 e pode chegar a US$ 1000 com um adicional de 6 meses na cadeia.

Por mais que a redação da lei reafirmasse que tal cumprimento só deveria ser procedido de uma prisão ou abordagem policial rotineira (uma blitz, por exemplo), muitos grupos mostraram indignação contra este ato que poderia aumentar o estereótipo racial que os latinos sofrem.

Pesquisas nacionais e locais mostraram que a população aprovava a lei com as taxas girando em torno de 60% de avaliação positiva. Mas a voz contrária era ecoada com força. O sindicato dos atletas da MLB ameaçou a participação dos seus membros nos Jogos das Estrelas de 2011 e disse no calor da discussão que “...tomaria atitudes necessárias para garantir os direitos dos integrantes..." (por volta de 25% são hispânicos).

A questão do beisebol em Arizona é mais agravante porque lá ocorre anualmente uma liga de novatos que conta com a participação de 140 jogadores nascidos em países latinos e também é o local de um das mais importantes ligas de primavera da MLB (Cactus League), torneio importante de pré-temporada.

Durante o processo de votação, jogadores da liga se manifestaram contra a lei 1070. Veja a declaração de alguns:

Albert Pujols (Dominicano – Saint Louis Cardinals) “Como você vai dizer pra mim que eu, sendo hispânico, vou ser preso por não estar com minha identificação. Não pode ser”.

Adrián González (Mexicano com cidadania americana – Boston Red Sox) “É imoral. Estão violando os direitos humanos”.



Rod Barajas (Americano, descendente de mexicanos – Los Angeles Dodgers) “É frustrante. Tenho muitos familiares que nasceram no México. Torço para que não haja muito julgamento pela aparência, mas é difícil acreditar que não ocorra. Se eles [polícia] pararem alguém que parece ser latino, mesmo se este nasceu nos EUA, a primeira pergunta que vai ser feita é onde está o documento da imigração. Mas se um canadense loiro de olho azul for parado, você acha que vão pedir os mesmo documentos? Não”.

Yovani Gallardo (Mexicano com cidadania americana – Milwaukee Brewers) “Vou boicotar se o Jogo das Estrelas acontecer em Arizona”.

Posicionamentos como estes pararam. Talvez por indicação do próprio sindicato que bateu de frente contra a lei, mas recuou quando várias rejeições foram aplicadas. Um juiz federal, em Julho de 2010, antes do ato entrar em vigor, proibiu a sanção dos pontos polêmicos dela. A Assembleia Legislativa estadual votou emendas que ajustaram aspectos obscuros da lei 1070, uma semana depois da governadora Brewer aprová-la.

No dia 8 de Julho de 2011, o diretor executivo do sindicato dos atletas da MLB, Michael Weiner, divulgou uma nota afirmando o seguinte:

Em 30 de Abril de 2010, o sindicato expressou publicamente a oposição a lei 1070 e nossa posição não mudou. Nosso compromisso era, se a 1070 fosse aplicada em todo seu efeito, nós iríamos considerar atitudes necessárias para garantir os direitos dos integrantes. A 1070 não está em seu total efeito e termos importantes da lei foram julgados inconstitucionais por cortes federais. Diante destas circunstâncias, não pedimos aos nossos atletas que boicotem as atividades do Jogo das Estrelas”.

Parágrafos da lei 1070 sofreram mudanças substanciais, contudo habitantes de Arizona dizem ser constantes vítimas de um julgamento pela aparência infundado. Organizações a favor dos direitos dos imigrantes estão organizando protestos em toda cidade de Phoenix e nos arredores do Chase Field. Os grupos mais ativos são o Puente e Somos America. Participantes destes têm buscado a atenção dos jogadores latinos que vão estar no Home Run Derby e no Jogo das Estrelas para se posicionar a favor dos imigrantes. Ninguém respondeu, muito menos Gonzalez que se recusou a falar para a imprensa sobre o assunto – ele é o alvo principal por ser descendente de mexicano, ter dito no ano passado fortes palavras conta a lei e ser um jogador de destaque na atual temporada.

Neste final de semana nenhum jogador reafirmou ser contra o ato 1070, tão pouco surgiram novos defensores dos imigrantes. Há um silêncio questionável, ensurdecedor. Os jogadores necessariamente têm que se envolver em assuntos políticos? Ser de uma origem igual àqueles que sofrem determinada discriminação faz com que o atleta precise assumir uma ideia a favor dos semelhantes?

O individuo não é imputado de obrigação nenhuma relativo a estas questões, embora seja importante um manifesto sobre; porventura pode emergir quem esteja a fim de dizer algo.

A conferir.


(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 J. Meric / Getty Images

Nenhum comentário:

Postar um comentário